Uso Espacial de Alcântara Avança, Mas Caminho é Longo

Olá leitor!

Segue abaixo um interessante artigo publicado no site revista “Época” hoje (15/03) tendo como tema as dificuldades que o Brasil terá de enfrentar para a implementação do uso comercial da Base de Alcântara.

Duda Falcão

BAIMA E MALTCHIK

Uso Espacial de Alcântara Avança, Mas Caminho é Longo

Acordo sobre Centro de Lançamento de Alcântara (CLA) deverá
ser anunciado em visita de Bolsonaro aos EUA

Por Roberto Maltchik
15/03/2019 - 12:34
Atualizado em 15/03/2019 - 16:17

(Foto: Divulgação)
Centro de Lançamento de Alcântara é a denominação da
segunda base de lançamento de foguetes da
Força Aérea Brasileira — impasse.

O mês de março de 2019 ficará na história do Programa Espacial Brasileiro pela assinatura do chamado Acordo de Salvaguarda Tecnológica (AST) com os Estados Unidos, que equivale à pedra fundamental da exploração de Alcântara como centro internacional de lançamento de satélites. Porém, há ainda um astronômico trabalho pela frente.

Tudo está pronto para que Jair Bolsonaro e Donald Trump firmem, em Washington, o compromisso de assegurar a preservação de tecnologia americana sensível em solo brasileiro, sem comprometer a soberania nacional.

Além da formalização do estratégico entendimento bilateral, outros dois projetos relevantes para o Brasil no setor ganharão visibilidade durante a visita do presidente à capital americana: o satélite SPORT, parceria entre NASA, INPE [Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais] e ITA [Instituto Tecnológico de Aeronáutica], voltado aos estudos da ionosfera e do impacto de anomalias na parte mais distante de nossa atmosfera que prejudicam instrumentos de navegação no Atlântico Sul; e a parceria entre Inpe e a NOAA, a administradora do serviço meteorológico dos Estados Unidos, para o desenvolvimento de equipamentos de observação da Terra.

Por qualquer ângulo, as parcerias em curso têm futuro promissor, caso sejam levadas a sério pelo Brasil. O acordo de salvaguardas não só cria um novo ambiente de negócios com empresas dos Estados Unidos, como abre as portas para que toda e qualquer outra nação alinhada se credencie a buscar o Brasil como base de lançamento.

Um estudo, finalizado no final de 2018 pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas [IPEA], órgão de assessoramento técnico do governo federal, explica por que o Brasil sempre é lembrado como sítio de lançamento de foguetes, apesar da falta de orçamento e prioridade que marcaram até hoje a gestão do programa espacial.

Além da economia relacionada à localização privilegiada, próxima à Linha do Equador, que resulta em consumo menor de combustível a cada lançamento, os autores do estudo listaram "maior capacidade de satelização; maior segurança para a realização de lançamentos em uma ampla faixa de azimutes [medida de abertura angular horizontal]; baixa densidade populacional na região; e condições climáticas favoráveis".

As Ameaças

Porém, apesar da lista invejável de vantagens naturais atribuídas ao Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), uma série de desvantagens politicas e burocráticas, potencializadas por obstáculos técnicos e derrapadas diplomáticas, mostra que o caminho para o uso do CLA como plataforma internacional de lançamentos é longo e complicado.

Não à toa, o ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, não se arrisca a estipular uma data para o início da empreitada espacial. O astronauta conhece bem os desafios do setor, como demonstrou em recente entrevista ao Globo .

No campo político, o Congresso Nacional deverá votar o acordo de salvaguarda tecnológica. A atual legislatura, na qual o PSL de Bolsonaro detém a segunda maior bancada, tem tudo para aprovar a proposta. Trapalhadas diplomáticas, no entanto, criam ambiente hostil, sobretudo quando existe o precedente da rejeição pelo Congresso de acordo semelhante, proposto 17 anos atrás.

No dia 11 de março, por exemplo, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo , o embaixador do Brasil em Washington, Sérgio Amaral, resolveu mencionar que o acordo espacial trata do lançamento de "mísseis".

"Essa negociação encerra quase 20 anos em que estamos tentando lançar da base de Alcântara mísseis de maior capacidade, de maior porte e que podem ser utilizados no uso comercial, sobretudo de lançamento de satélite", afirmou o experiente embaixador, que deverá sair do posto para o ingresso de outro diplomata "alinhado" com a administração Bolsonaro.

"Mísseis" alimentam a especulação, fermentada pela oposição no debate parlamentar, de que Brasil e Estados Unidos caminham para um acordo militar. Mais: Alcântara poderia servir, segundo esse raciocínio, como uma base para ogivas americanas.

Na indústria americana, a fala do embaixador não caiu bem. Provocou desconfiança. Entre os militares, o problema foi maior: o Ministério da Defesa se viu obrigado a esclarecer o mal-entendido. De fato, o AST só trata do uso civil e comercial do espaço. Não é arma de guerra.

No estudo do IPEA, que teve a colaboração de ex-servidores da Agência Espacial Brasileira, Israel de Oliveira Andrade, Rogério Luiz Veríssimo Cruz, Giovanni Roriz Lyra Hillebrand e Matheus Augusto Soares apontam quatro ameaças ao uso comercial do Centro de Alcântara.

As duas primeiras da lista são justamente "dificuldades para aprovação de projetos de cooperação no Congresso Nacional e linha tênue entre comercialização do CLA e manutenção da soberania nacional".

Como ameaça os pesquisadores também reconhecem "possíveis interferências estrangeiras, desestimulando o desenvolvimento de tecnologia nacional e questões fundiárias na região de Alcântara".

A interferência estrangeira é silenciosa, porém não é desprezível, ainda mais considerando que apenas o mercado de lançamento de satélites movimentou US$ 5,5 bilhões em 2016, de um total de US$ 260,5 bilhões movimentados por toda a cadeia da indústria espacial naquele ano, valor que envolve investimentos na Terra e no espaço.

A França, por exemplo, explora a consolidada base de Kourou, na Guiana. Partindo de lá, o satélite geoestacionário brasileiro de defesa e comunicações [SGDC] chegou ao espaço. Alcântara seria concorrente de Kourou.

Foto: Divulgação / Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE)/DCTA
Veículo Lançador de Satélites (VLS) no Centro de Lançamento
de Alcântara. Missão começou em 1979, porém ainda não
houve lançamento bem sucedido do foguete.

O Marco Regulatório

As questões fundiárias são ainda mais palpáveis. Os órgãos do governo confiam no entendimento com as populações quilombolas que vivem na região do Centro de Lançamento. Ela aceitariam a remoção, desde que mantenham o acesso ao mar.

Ali há, contudo, um histórico de conflitos e experiências de remoções malsucedidas para vilas encravadas no meio de Alcântara — e sem acesso ao mar. Essa experiência segue na memória daquela comunidade.

O novo capítulo do enredo com as comunidades locais está por ser escrito, ainda mais que a efetiva exploração comercial do Centro de Alcântara envolve a ampliação da área hoje disponível — e o único caminho territorial existente invade a residência dessas famílias.

Mas, acima de tudo, existe uma ameaça que não foi relacionada pelos pesquisadores do Ipea e que preocupa Marcos Pontes e os atuais negociadores do programa espacial: a urgente regulamentação do setor.

Só com um marco regulatório moderno a indústria de lançamentos poderá ser funcional e competitiva. O Código Brasileiro do Espaço está em discussão no presente momento dentro do governo.

A indústria demanda regras que permitam a autorização de lançamentos com agilidade compatível às exigências do mercado, o que foge ao atual arcabouço jurídico do Brasil. Os desafios ambientais também precisam ser amplamente contemplados, e eles não são pequenos na atividade espacial, que lida com materiais altamente tóxicos.

Antes de preencher todas essas etapas, que exigirão empenho do governo, da Aeronáutica e também da indústria brasileira, não há como pensar em geração de receita com lançamentos comerciais em Alcântara.


Fonte: Site da Revista Época – 15/03/2019 - https://epoca.globo.com

Comentário: Pois é leitor, realmente haverá grandes dificuldades para o Governo Bolsonaro concretizar o uso comercial da Base de  Alcântara após a assinatura do tal AST, porém já eram esperadas e nada, absolutamente nada, no que diz respeito a este Território de Piratas vem com facilidade, pois na grande maioria da vezes, o que impera não são os interesses do país e sim os interesses de grupos políticos nefastos que militam nos bastidores da politica brasileira, gente da pior espécie, vagabundos de carreira, que lutam pela manutenção de seus próprios interesses estimulando a idiotização do povo, para assim colher frutos e manipular os resultados a seu bel prazer. O uso comercial da Base de Alcântara diferentemente do que pensa (ou diz pensar) a esquerdopatia militante brasileira e seus alienados seguidores, não há nada de errado desde que seja vantajoso comercialmente para o país e não haja o risco de perda de soberania, coisa que pode ser evitada perfeitamente caso os negociadores da parte brasileira deste acordo o tenha realmente conduzido em prol dos interesses do país, coisa que em breve saberemos quando o mesmo for divulgado na íntegra para Sociedade Brasileira. Só Peru morre de véspera, e enquanto a Comunidade Espacial não conhecer o texto deste acordo, não poderá fazer uma analise embasada sobre o mesmo. Em outras palavras, até lá teremos de aguardar para podermos opinar, o resto é conversa fiada para boi dormir. É preciso lembrar aos menos antenados com os bastidores da politica nacional e internacional de que, a assinatura deste acordo não significa que o mesmo será implementado, pois ele terá ainda de ser tanto aprovado pelo Congresso Nacional como pelo Congresso Americano, assim como ocorre com todos os acordos internacionais assinados entre nações.

Comentários

  1. Duda, eu sempre me perguntei o seguinte: por que os EUA gostariam de usar Alcântara? Eles têm lugares no mundo -que lhes pertencem- em latitudes muito melhores para lançamentos... e eles ainda sempre preferiram lançar da Flórida ou da Califórnia! Mesmo os franceses admitem que a principal razão pela qual começaram a ser lançados seus foguetes na Guiana foi porque o lançamento da Europa é impossível devido à alta possibilidade de um foguete acabar caindo numa cidade, e não só por causa da latitude da Guiana. Hoje, até mesmo Elon Musk admite que o custo do combustível num lançamento LEO ou GEO é insignificante! Então, novamente, por que diabos eles gostariam de usar Alcântara se não é apenas para agradar a cada presidente brasileiro que lhes implora para assumirem o contrôle da base? Verdade? Ou estou esquecendo de alguma coisa? Um grande abraço.

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    1. Olá MarcTeen!

      Rsrsrsrs, desculpe-me, mas não é bem assim. A base brasileira tem um custo mais em conta para lançamentos de satélites de qualquer local do planeta devido a mesma ser a mais próxima existente no mundo da Linha do Equador (2 graus e 18 minutos de latitude sul: a velocidade de rotação da Terra na altura do Equador, auxilia o impulso dos lançadores e assim favorece a economia do propelente utilizado nos foguetes sendo estimada uma economia em até 30 % de combustível), possibilitando lançamentos em todos os tipos de órbita, desde as equatoriais (em faixas horizontais) às polares (em faixas verticais), e a segurança das áreas de impacto do mar que foguetes de vários estágios necessitam ter. Além disso o Brasil precisa realizar esse AST (Acordo de Salvaguardas Tecnológicas) para tornar a Base de Alcântara comercialmente viável. É apenas uma troca de interesses, onde também as empresas americanas entre outras de nações diversas poderão realizar seus lançamentos de forma mais barata caso assim desejem, porém só após assinatura de um acordo especifico. A questão dos misseis citada pelo desorientado Embaixador Sérgio Amaral não existe, não consta do acordo, e inclusive se não me engano, exigiria uma mudança na constituição brasileira. Tá ok amigo?

      Abs

      Duda Falcão
      (Blog Brazilian Space)

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  2. Tudo bom, mas nas últimas décadas o argumento das economias de combustível tornou-se algo quase insignificante. Hoje, o SpaceX gasta menos de U$ 400 mil em combustível para lançar um foguete Falcon que custa U$ 70 milhões (fonte Elon Musk). Uma economia de 30% num custo tão pequeno, não é para pular da alegria. Eu só vejo muito esforço dos políticos brasileiros para oferecer Alcântara aos EUA, e não tanto interesse nos EUA para usar algo que eles realmente não precisam. Só isso. Un abraço.

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