As Inspiradoras Histórias de Brasileiros Que Ajudam a Manter Vivo Sonho de Exploração de Marte
Olá leitor!
Segue abaixo uma matéria postada ontem (12/03) no site da
“BBC News Brasil” tendo como destaque as inspiradoras histórias de brasileiros que ajudam a manter vivo sonho de exploração de Marte.
Duda Falcão
BRASIL
As Inspiradoras Histórias de Brasileiros
Que Ajudam a Manter Vivo Sonho
de Exploração de Marte
Mariana Alvim - @marianaalvim
Da BBC News Brasil em São Paulo
12 de março de 2019
Ivair Gontijo, Thais Russomano e Sandra Feliciano têm em
comum um encantamento pelo espaço que remonta à infância.
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Muitos nomes célebres já levaram a bandeira verde amarela
do Brasil para
o mundo mas, se depender de alguns brasileiros, um dia chegará a hora de levar
o país para... Marte.
A cada dia surgem novas notícias sobre iniciativas de
exploração humana do Planeta Vermelho e, por trás delas, estão brasileiros que
se dedicam diariamente a estudar este corpo celeste que está a milhões de
quilômetros de distância da Terra.
Em comum, eles tiveram o interesse pelo que está além da
Terra despertado pela chegada do homem à Lua em 1969 e enxergam na exploração
de Marte uma prova das capacidades humanas. Também desejam que, um dia,
brasileiros como eles possam ter mais oportunidades na exploração espacial -
campo no qual o país está longe da elite mundial.
Ivair Gontijo: 'Se cheguei à NASA, qualquer um no
Brasil também pode'
Ivair Gontijo ao lado do Curiosity; o mineiro foi estudar
nos Estados Unidos e acabou fazendo carreira na NASA.
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Falando à BBC News Brasil diretamente da Califórnia, em
meio a uma agenda cheia de teleconferências e viagens, Ivair Gontijo, 58, exibe
resquícios do sotaque mineiro falando do caminho que o levou do interior do
Estado brasileiro à NASA, a agência espacial americana, em 2006.
Nos Estados Unidos desde 1998, para onde se mudou para
cursar o pós-doutorado, Gontijo integra hoje a equipe do Jet Propulsion
Laboratory (Laboratório de Propulsão a Jato, em tradução livre) da agência.
Entre muitas outras realizações, o grupo equipou o robô Curiosity para sua até
agora bem-sucedida jornada em Marte, onde colocou seus "pés" - em uma
ação milimetricamente planejada - pela primeira vez em 2012.
Foi precisamente nesta etapa, a da aterrissagem, que
Gontijo viveu os minutos mais tensos e felizes de sua vida.
"Liderei o grupo que construiu os transmissores e
receptores do radar que controlaria a descida final em Marte. Imagina você
fazer o trabalho todo de construir e lançar esse veículo, que então faz uma
viagem de mais de nove meses para Marte. Os últimos sete minutos são cruciais
(para o sucesso da missão). O radar era essencial para os últimos três
quilômetros da descida", lembrou o engenheiro em entrevista à BBC News
Brasil por telefone.
"Não tinha imagem, a gente só tinha as linhas do
software (com dados enviados pela sonda). E isso chegando à Terra 14 minutos
depois, então tudo já tinha acontecido. Quando ouvi meu colega dizer 'nós
achamos o solo com o radar', foi muito emocionante".
Mas, antes destes minutos cruciais, foram anos até que
Gontijo deixasse de ser apenas mais uma criança encantada diante da TV com a
chegada do homem à Lua para, de fato, acessar a elite mundial das empreitadas
espaciais.
Nascido em Moema (MG), o mineiro estudou em escolas
públicas no interior de Minas até, após um hiato de alguns anos trabalhando em
uma fazenda, prestar vestibular. Ele se graduou em física e fez mestrado em
ótica na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
"Vim de escolas públicas, de uma família numerosa,
meu pai morreu quando eu tinha 5 anos... Isso tudo torna importante dizer que,
quando a gente é jovem, quase tudo é possível: o preço é alto, tem que
trabalhar muito, mas alguma coisa vai dar certo no final. Se eu consegui chegar
à NASA, qualquer um no Brasil também pode", aconselha Gontijo.
A partir do doutorado, o mineiro foi para o mundo:
estudou em universidades da Escócia e dos EUA.
A experiência profissional de Gontijo com lasers
catapultou sua ida à NASA, e o tempo e alcance da sua trajetória na agência
espacial foram muito mais longe do que ele podia imaginar inicialmente. Agora,
o mineiro e sua equipe olham para 2020, quando a NASA lançará sua próxima
missão com destino a Marte.
O mineiro tem trabalhado na preparação de um veículo
semelhante ao Curiosity, mas com instrumentos desenhados para coletar materiais
orgânicos e inorgânicos que um dia serão trazidos e estudados na Terra.
Foto: NASA/JPL-CALTECH/MSSS VIA REUTERS
O Curiosity faz uma 'selfie'; robô aterrissou em Marte em
2012.
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Falando em material "orgânico", estamos falando
de... vida em Marte?
Em seu livro A caminho de Marte -
lançado em 2018, onde o cientista conta sua trajetória e, em paralelo, um pouco
da história da exploração espacial - Gontijo explica que, embora tenha
fascinado a humanidade por séculos, a possibilidade de vida no Planeta Vermelho
"caiu de 100% para essencialmente zero" na década de 60. O balde de
água fria foi jogado pela espaçonave Mariner 4 que, ao fotografar Marte,
registrou um planeta frio e sem vegetação - sem água corrente e líquida, como
era aventado. Esta primeira impressão foi corroborada por missões e estudos
posteriores.
O interesse da NASA hoje, diz Gontijo, não está em
responder diretamente se há ou já houve vida em Marte, mas entender suas
condições de "habitabilidade" - conhecimento que soma ao entendimento
da formação da vida na Terra e quem sabe, em outras partes do universo.
Também não se trata, segundo o cientista, de preparar
terreno para colonizar Marte em um futuro próximo. Ainda há obstáculos, em suas
palavras "gigantescos", para que seja minimamente possível para um
humano viver lá: é preciso encontrar soluções para sobreviver quase sem
oxigênio e com muito gás carbônico (mais de 95% do ar), vento solar e uma
atmosfera rarefeita.
"O lugar mais inóspito, mais terrível no planeta
Terra, ainda é um paraíso comparado com qualquer lugar em Marte", diz.
"Mas toda essa exploração contribui para o acúmulo
de conhecimento para o futuro. Imagina se Santos Dumont tinha ideia de para que
suas invenções serviriam? Ou, há milhares de anos, se aqueles malucos que
começaram a brincar com aquela coisa perigosa, o fogo, tinham ideia de que nos
tornaríamos uma criatura tecnológica?", provoca Gontijo.
Thais Russomano: 'O interesse no espaço é parte de mim
como é um braço, uma perna'
'O interesse no espaço é parte de mim como é
um braço,
uma perna', conta a gaúcha.
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A "habitabilidade" de Marte apontada por
Gontijo entra na área que há anos é estudada por uma conterrânea sua: a
especialista em medicina espacial, a gaúcha Thais Russomano, de 55 anos.
"O que nos impede de ir a Marte é exatamente a minha
área: o desconhecimento na área da fisiologia espacial, ou seja, como manter
uma pessoa saudável e segura na viagem até o Planeta Vermelho, e depois, ficar
lá", diz Russomano, que hoje vive em Londres e é professora na
universidade King's College.
"O ser humano é terrestre: não somos aquáticos ou
aéreos. A Terra nos molda e, à medida que a gente sai desse ambiente, o
organismo começa a sofrer. Por isso, estamos sempre tentando simular a Terra
nesse lugares. Estamos buscando comprimir a nossa evolução no espaço de
décadas."
Exemplos de dificuldades são abundantes, e já começam na
viagem de meses para o Planeta Vermelho: exposição a radiação cósmica, efeitos
da microgravidade nos sistemas circulatório e imunológico, nos músculos e nos
ossos e possíveis emergências à bordo.
Em solo marciano, os contratempos iriam da respiração à
alimentação, passando pela variação de temperatura e tempestades de areia.
"Também tem todo o aspecto psicológico: o que vai
acontecer com uma pessoa vendo a Terra como apenas um pontinho de luz?",
questiona.
"Acredito que vamos chegar lá, mas temos que
construir esse chegar lá. Nós já chegamos a Marte, temos robôs na superfície,
isso não é um mistério. O mistério é como manter o ser humano viável",
diz.
Russomano dedicou boa parte de sua vida a viagens pela
Terra na busca por respostas a essas perguntas. Formada em medicina na UFPel
(Universidade Federal de Pelotas), a gaúcha se tornou mestre em medicina
aeroespacial nos Estados Unidos e PhD na Inglaterra. No Brasil, também fundou
em 1999 o Centro de Microgravidade na PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica
do Rio Grande do Sul).
Nessa trajetória, tentou conciliar uma carreira que
representava para ela e a família um chão mais seguro - a medicina - com o
grande interesse pelo espaço.
"Quando Neil Armstrong pousou na Lua, minha mãe
conta que fui a única pessoa a ficar acordada na casa até tarde para ver (pela
televisão). Eu era muito pequena, ela achou estranho", conta.
"Criança, eu queria ser astronauta. Era uma coisa que nem minha família
entendia direito. O interesse no espaço é parte de mim como é um braço, uma
perna."
Foto: USGS HANDOUT VIA EPA
Segundo Thais Russomano, maior desafio para a exploração
de Marte por humanos é justamente a área da fisiologia espacial.
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Russomano estudou em uma escola particular no curso
primário e em uma pública no segundo grau. Conta sempre ter sido muito
estudiosa e que figurou entre os primeiros da turma.
"Minha mãe costumava dizer: estudar é um prêmio,
pois nem todas as crianças têm essa chance", lembra.
Russomano, como Gontijo, diz esperar que mais crianças
brasileiras possam ter no espaço uma oportunidade de conhecimento e carreira.
"Sei muito bem o que é vir de um país não tão
estabelecido. Não podemos nos comparar com uma Rússia, Estados Unidos, ou
Alemanha. São países com uma tradição de décadas, que acumulam grandes
feitos."
A nomeação do astronauta Marcos Pontes como ministro da
Ciência e Tecnologia representou para os cientistas uma esperança de que este
tipo de investimento no país possa finalmente decolar.
O sonho da colonização
Se estudos acadêmicos ajudaram a abrir as portas do
espaço para Gontijo e Russomano, há brasileiros de olho em Marte apostando em
caminhos diferentes.
É o caso da advogada e professora Sandra Feliciano, de 55
anos. Todo dia, ela dedica três horas de seu tempo para estudar inglês e
diversos assuntos ligados ao Planeta Vermelho.
Sua dedicação é voltada para um objetivo distante -
literalmente. Ela quer se mudar para Marte. Ela foi a única brasileira entre
100 candidatos a passar na mais recente etapa do Mars One, um projeto de
colonização humana do Planeta Vermelho liderado pelo engenheiro holandês Bas
Lansdorp. Pelo cronograma, apenas 24 serão selecionados para a viagem - sem
volta.
No entanto, os planos do Mars One, além de serem vistos
com desdém e ceticismo por cientistas que acompanham a ideia desde seu anúncio,
sofreram, em fevereiro, um duro baque: a empresa declarou falência.
Mas Sandra acredita que a dificuldade será superada com a
chegada de novos investidores, o que, segundo um comunicado no site do Mars
One, está em negociação.
"São muitos fatores, muito dinheiro é
necessário", diz a paulista nascida em Bauru e que há décadas vive em
Porto Velho (RO). "O tempo de espera faz parte do processo seletivo. O
perfil (de colono) exigido inclui a resiliência."
Se a missão for concretizada, os 12 homens e 12 mulheres
selecionados seriam enviados ao espaço em pequenas cápsulas a cada dois anos.
O projeto prevê ainda o envio de veículos espaciais a
Marte para estabelecer a estrutura da colônia: satélites para garantir a
comunicação, módulos habitacionais e unidades que produzirão água e oxigênio,
além de uma estufa para plantas terrestres.
Críticos apontam para a dificuldade do projeto em
conseguir grandes financiadores e o fato de que os módulos necessários à
sobrevivência dos colonos ainda não estão em produção. Engenheiros do
prestigioso MIT, nos EUA, afirmaram que, sem um equipamento para equilibrar os
níveis de oxigênio e gás carbônico produzidos por plantas na estufa, os colonos
podem sufocar em 68 dias.
Apesar do ceticismo e críticas ao projeto, a brasileira
continua tocando sua rotina que inclui a pesquisa de formas de produzir
proteína em ambiente marciano. Sandra faz atualmente testes com branchonetas,
um crustáceo minúsculo de água doce que existe no Brasil. A candidata a colona
diz que é promissora a produção deles em ambientes internos a serem
eventualmente instalados em solo marciano.
"Muitos projetos científicos serão realizados em
Marte. Quero ajudar a levar projetos do Brasil", conta.
Sandra é fascinada por ciência desde criança e ela também
ficou encantada com os passos de Neil Armstrong e conta ter escrito mais de 10
livros de ficção científica.
Para Sandra, o consumo intenso de recursos na Terra e
riscos externos, como de um meteoro, devem forçar os homens a se tornarem uma
"espécie multiplanetária".
"Faz parte da natureza humana enfrentar, desbravar.
Nossa espécie é curiosa."
Fonte: Site da BBC Brasil - http://www.bbc.co.uk/portuguese/
Comentário: Pois é, exemplos que podiam estar trabalhando
no Brasil em prol do Programa Espacial Brasileiro se aqui este programa fosse
conduzido com seriedade e comprometimento por parte do governo. Agora a esperança
é que o novo Governo Bolsonaro tendo a frente o Ministro-Astronauta Marcos
Pontes venha definitivamente dar a importância que este programa precisa, é o
que todos nós esperamos. Aproveitamos para agradecer ao nosso leitor Rui
Botelho pelo envio dessa notícia.
Se eles foram e por que foram, cabe a eles e somente a eles ponderar a respeito. Só acho que quem se capacita em universidade pública às nossas custas e cai fora logo em seguida deveria, ao menos, pagar os gastos que tivemos com seus estudos.
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