Clorovale - Trajetória Vitoriosa
Olá leitor!
Segue abaixo uma matéria publicada na “Revista Pesquisa
FAPESP” (edição 192) destacando que a empresa brasileira Clorovale exporta diamantes
sintéticos (brocas odontológicas - spin offs) desenvolvidos inicialmente para a
área espacial (satélites) através de projeto de pesquisa do INPE e ganha prêmio
FINEP.
Duda Falcão
Tecnologia | Empreendedorismo
Trajetória Vitoriosa
Vladimir Airoldi, da Clorovale, exporta brocas
de diamante sintético e ganha Prêmio FINEP
Dinorah Ereno
Edição Impressa 192
Fevereiro 2012
© EDUARDO CESAR
Vladimir Airoldi ao lado do reator de fabricação de diamantes |
Desde que retornou ao Brasil no início de 1991,
após o término de um pós-doutorado no Laboratório de Propulsão a Jato da agência
espacial norte-americana (NASA), o físico Vladimir Jesus Trava Airoldi decidiu
conduzir seus projetos de pesquisa com um propósito muito bem definido – o de
que eles tivessem ao mesmo tempo um alto nível científico e alto potencial de
aplicação.
Ao retomar o trabalho no Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (INPE), em São José dos Campos, no interior paulista, seu
primeiro projeto foi o desenvolvimento de diamantes sintéticos para aplicações
no espaço e na indústria. “Na época os estudos de diamantes sintéticos ainda
eram muito teóricos, não dava para ter a dimensão exata do que eles
representariam”, diz Airoldi. O que se sabia é que era um material com
compatibilidade biológica e química, com o menor coeficiente de atrito entre os
materiais sólidos e, por isso, seria possível usá-lo como lubrificante sólido
em dobradiças de painéis solares de satélites.
Além disso, era um material com condutividade
térmica mais elevada do que todos os outros materiais e com um grande intervalo
de transmissão óptica, que abrange desde o infravermelho até o raio X,
possibilitando aplicações em ferramentas de corte e abrasão, protetores de
superfícies contra corrosão química, ferramental médico-odontológico e outras.
A ideia inicial era desenvolver diamantes sintéticos para a área espacial, como
dissipadores de calor, lubrificantes sólidos e protetores ópticos. Mas isso era
considerado pouco para o pesquisador. “Desde o início o projeto foi lançado
como um gerador de spin-offs, empresas que utilizassem a tecnologia”,
disse Airoldi.
Duas décadas depois, em dezembro do ano passado,
Airoldi recebeu o Prêmio Finep de Inovação 2011 na categoria Inventor Inovador,
da Financiadora de Estudos e Projetos, como reconhecimento pelo seu trabalho.
Atualmente, o pesquisador tem 12 patentes depositadas e os artigos científicos
publicados pelo seu grupo de pesquisa somam mais de uma centena e meia. O grupo
agrega 30 pessoas, entre pesquisadores, alunos e pós-doutorandos.
Um dos desdobramentos do projeto inicial foi a
criação da empresa Clorovale Diamantes, em 1997, para produzir pontas de
diamante sintético destinadas a brocas odontológicas. Essas brocas, acopladas a
aparelhos de ultrassom em substituição aos tradicionais de rotação, são
vendidas para o mercado interno e externo. “Somos a única empresa no mundo a
empregar o diamante CVD na área de odontologia”, diz Airoldi. O diamante CVD (chemical
vapor deposition, ou deposição química na fase vapor) é produzido com gases
como hidrogênio e metano. A patente já foi concedida nos principais mercados do
mundo, a exemplo dos Estados Unidos, Europa, Austrália, Japão e China.
Airoldi relata que no início enfrentou a
desconfiança de institutos financiadores de pesquisa, que não queriam apoiar
projetos com teor de aplicação elevado, e a decepção com os empresários de
indústrias das áreas médica, odontológica e de metalurgia, procurados por ele
para a apresentação da tecnologia que necessitava de investimentos para seguir
em frente. “O período de 1991 a 1997 foi muito sombrio, mas continuei firme e
tivemos a aprovação do projeto Pipe pela FAPESP que deu início à Clorovale”,
relata. O projeto na modalidade Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas
Empresas (Pipe), na sua avaliação, foi o grande catalisador de todo o processo,
já que permitiu criar a empresa. Desde então teve aprovados outros quatro
projetos pela FAPESP na mesma modalidade, além de dois projetos temáticos e
três auxílios regulares a pesquisa para sua área de pesquisa no INPE.
A escolha da odontologia como primeira aplicação
industrial para o diamante sintético foi fruto de uma estratégia baseada no
grau de instrução elevado dos dentistas e do fato de que eles precisam de
produtos com tecnologia agregada para ter um diferencial no consultório. “Mesmo
assim, quando começamos a vender o nosso produto em 2003 enfrentamos muitas
dificuldades”, diz Airoldi. “Vendemos o suficiente para sobreviver até 2011,
quando conseguimos dobrar o nosso faturamento.” Até então o faturamento se
mantinha constante na casa dos R$ 700 mil. Os ventos favoráveis só começaram a
soprar efetivamente em 2009, quando a Clorovale começou a exportar o produto
após receber a aprovação da União Europeia.
Em 2010, a empresa ganhou um novo fôlego no modelo
de negócios com o apoio do Criatec, um fundo de investimentos de capital
semente criado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES) em parceria com o Banco do Nordeste do Brasil. O Criatec entrou como
sócio e detém 35% do capital da empresa. Atualmente a Clorovale conta com nove
sócios, três dos quais são sócios investidores, e 23 funcionários. Na avaliação
de João Furtado, membro da Coordenação Adjunta de Pesquisa para Inovação da
FAPESP e professor da Escola Politécnica da USP, as principais qualidades de
Airoldi são a tenacidade e a determinação. “Ele não esmoreceu nem mesmo em
alguns momentos muito difíceis.”
Para Furtado, não basta apenas uma boa ideia. “Um empreendimento é feito
por um trabalho árduo, sistemático e planejado.” Além disso, outra qualidade
que contribuiu para o sucesso do empreendimento foi colocá-lo em outra
perspectiva, além da científica e tecnológica. “Ao longo do tempo, Airoldi
conseguiu entender melhor o mercado e sua dinâmica e compreendeu que a
abordagem envolvia diversas dimensões.”
Adesão Metálica
© EDUARDO CESAR
Pontas de diamante sintético recebem tratamento de gás plasma dentro do reator |
O
pesquisador diz que as vantagens do uso do diamante em aparelhos de ultrassom
não foram criadas pelo seu grupo de pesquisa. “Dentistas já haviam relatado na
década de 1950 que o uso de brocas em aparelho de ultrassom para fazer o
preparo de cavidades do dente era mais indolor que o método tradicional e não
provocava sangramentos”, diz.
Mas
a técnica relatada não evoluiu porque não havia na época uma ponta de diamante
que pudesse suportar a ação do ultrassom quando este colide com o tecido duro,
composto pelo esmalte e dentina. “Essa foi a grande sacada nossa e meu trabalho
foi justamente fazer o diamante sintético nascer e crescer em uma superfície
metálica”, relata. Mas isso não bastava. Era necessário que ele estivesse
extremamente aderente. “A adesão do diamante à área metálica é a parte mais
importante do invento, o objeto da patente.” Por trás do segredo estão vários
desenvolvimentos, como densidade do gás utilizado, preparação da superfície no
substrato, temperatura, composição e pressão interna dos reatores.
Hoje
são mais de 30 modelos de pontas odontológicas desenvolvidas a pedido de dentistas
e professores. Elas podem ser usadas em remoção de cáries, no desgaste e
acabamento de dentes, em processos de corte ósseo para implante de dentes.
Vários laboratórios dentro de universidades ensinam os alunos a trabalhar com a
tecnologia de pontas de diamante CVD com ultrassom. “O primeiro curso de
odontologia ultrassônica do planeta foi criado na Universidade de São Paulo em
Bauru”, diz Airoldi. Atualmente, a USP de Bauru conta com dois cursos, um para
a área de dentística e outro para a de odontopediatria. A Faculdade de
Odontologia da USP de São Paulo e a Faculdade de Odontologia da Universidade
Estadual Paulista (Unesp) em Araraquara e São José dos Campos também têm cursos
similares.
O
diamante sintético não se limita apenas a aplicações odontológicas. Outra linha
de pesquisa na empresa, feita em colaboração com o INPE, são os diamantes
sintéticos amorfos, cuja estrutura de carbono não é tão bem organizada como os
cristalinos. Os amorfos não têm a mesma dureza que os cristalinos, mas ainda
assim são mais duros do que todos os metais conhecidos. A vantagem é que,
enquanto o diamante cristalino cresce no máximo até centímetros, portanto pode
ser usado apenas em peças muito pequenas, o amorfo atinge proporções da ordem
de metros. Excelente bactericida, ele pode ser empregado tanto em ferramentas
usadas em cirurgias ortopédicas como para revestimentos em prótese de joelho e
de válvulas do coração.
Mais Durável e Estável
Os
diamantes sintéticos amorfos também foram utilizados em brocas de perfuração
para poços de petróleo testadas pela Petrobras. As brocas tradicionais de
perfuração já usam um pó de diamante nas pontas. Na pesquisa desenvolvida pela
Clorovale, pequenos tarugos (pedaços) de diamante sintético são incorporados à
ponta da broca. No primeiro ensaio, uma broca de pequenas dimensões, feita com
tarugos de diamante de até 20 milímetros de comprimento por 2 milímetros, foi
testada na perfuração de poços de água.
Os
resultados foram alentadores. A broca mostrou ter durabilidade duas vezes e
meia maior, além de cortar 30% mais rápido e dar maior estabilidade ao eixo de
perfuração do que a convencional com pó de diamante. A Petrobras decidiu testar
a tecnologia para perfuração em poços profundos de petróleo e ficou satisfeita
com o resultado. Diante disso, encomendou outros dois protótipos de brocas à
Clorovale e está se preparando para fazer testes mais conclusivos ainda no
primeiro semestre deste ano.
Os
diamantes amorfos podem ser depositados também em grandes superfícies. A sua
aplicação enriquece as propriedades químicas, físicas e mecânicas de materiais
como o aço, por exemplo. A criação de outros produtos além das brocas
odontológicas é, na avaliação de Furtado, a terceira grande qualidade do
empreendimento, acompanhada da determinação e da visão de mercado. “O
pesquisador compreendeu que o programa Pipe pode ser um auxílio permanente e,
por meio dele, é possível alargar os horizontes tecnológicos da empresa com
novos desafios e novas competências.
Os Projetos
1.
Desenvolvimento de dispositivos em diamante CVD para aplicações de curto prazo
– nº 1997/07227-6
2.
Novos materiais, estudos e aplicações inovadoras em diamante CVD e diamond-like-carbon (DLC) – nº 2001/11619-4
3.
Diamante CVD para um novo conceito de ferramentas de alto desempenho para
perfuração e corte – nº 2006/60821-4
4.
Filmes de DLC para aplicações em superfícies antibacteriana, antiatrito,
espaciais, industriais e para tubos de perfuração de poços de petróleo – nº
2006/60822-0
Modalidade
1.
3 e 4. Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (Pipe)
2.
Projeto Temático
Coordenadores
1.
Kiyoe Umeda (Clorovale)
2.
Vladimir Airoldi (INPE/Clorovale)
3.
Leônidas Lopes de Melo (Clorovale)
4.
Alessandra Venâncio Diniz (Clorovale)
Investimento
1.
R$ 329.585,13 (FAPESP)
2.
R$ 576.456,12 (FAPESP)
3.
R$ 550.661,41 (FAPESP)
4.
R$ 505.917,65 (FAPESP)
Fonte: Revista Pesquisa FAPESP - Edição 192 - Fevereiro
2012
Sem que se saiba quanto o negócio rendeu até hoje, a "vitória" da trajetória é apenas pessoal, do Sr. Airoldi, às custas de um bocado de dinheiro público - de impostos. Não é pecado informar o quanto a empresa (Clorovale) tem faturado. Do contrário, pode-se pensar que esta não passa de mais um arranjo pseudo-empreendedorístico, à moda brasileira, para "transferir" dinheiro público para pseudoempreendedores. Uma pena, se for o caso.
ResponderExcluirSr Anônimo, me chamo Bianca e posso lhe garantir que a vitória é pessoal sim, mas mais que isso é da sociedade brasileira e quem sabe de todo o mundo num futuro próximo. O Brasil ainda insiste em não valorizar pesquisas e profissionais de qualidade (reconhecidos internacionalmente), e quando é feito os próprios cidadãos não valorizam os produtos.
ResponderExcluirJá li muito sobre o projeto, diferentemente de você com certeza, e admiro pessoas como o Dr. Airoldi, muito reconhecido pela sua competência, caráter e espírito empreendedor, afim de aplicar para a sociedade o que "morre" em laboratórios após $ muito investido. A sua história é árdua e pouco se sabe da luta que ainda vem enfrentando. Ele é uma pessoa acessível e transparente. Faça como eu, entre em contato e lute por causas nobres como esta. Fico à disposição para fomentar discussões produtivas também, tenho muitas informações que esclareça suas dúvidas!!! meu e-mail biaut@yahoo.com.br