Raupp Promete Fortalecer Programa Espacial Brasileiro
Olá leitor!
Segue abaixo uma entrevista como o ministro Marco Antônio
Raupp publicada dia (07/02) no site da "Revista VEJA” destacando que o mesmo
promete fortalecer o Programa Espacial Brasileiro.
Duda Falcão
Ciência
Novo Ministro da Ciência e Tecnologia
Promete Fortalecer Programa
Espacial Brasileiro
Marco Antonio
Raupp, novo ministro de Ciência, Tecnologia
e Inovação fala a
VEJA como pretende acelerar o
processo
de inovação do
país e fazer decolar a política espacial
Marco Túlio Pires, de Brasília
07/02/2012 - 07:32
Raupp: "Vamos concluir o acordo com o ESO"
(Cristiano Mariz)
O físico Marco Antonio Raupp chegou ao Ministério de
Ciência, Tecnologia e Inovação com alguns problemas para resolver a curto
prazo. A começar pela retomada da relação com a maior comunidade astronômica do
mundo, o Observatório Europeu do Sul (ESO). Durante a gestão de seu antecessor,
Aloizio Mercadante, houve um inexplicável silêncio que quase pôs a perder
a participação brasileira em um dos mais importantes projetos científicos da
atualidade. O Brasil deveria ter dado uma resposta ao consórcio até 21 de
dezembro de 2011, mas de
acordo com o diretor da organização europeia, Tim de Zeeuw,
as negociações foram completamente ignoradas. Raupp diz ter o aval da
presidente Dilma para concluir as negociações.
Raupp também será responsável por fazer decolar a
Embrapii (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial), criada em 2011
para melhorar a relação entre empresas e pesquisadores, uma forma de estimular
a inovação do país e o registro de novas patentes, duas áreas ainda muito
imaturas no Brasil.
O novo ministro também pretende melhorar a relação entre
a AEB (Agência Espacial Brasileira) e o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais). As duas instituições deveriam atuar de modo complementar, mas
acabam batendo a cabeça e desperdiçando dinheiro em projetos que não se
integram. De acordo com Raupp, falta delegar responsabilidades complementares
para as duas instituições. "Proponho um Conselho Nacional de Políticas
Espaciais presidido pela presidente da República." Segundo o novo ministro,
as demandas espaciais do Brasil virariam "assunto de gente grande",
com a participação de outros ministros e nutrido por diferentes fontes de
recursos, não apenas pelo minúsculo cofre da AEB.
Raupp assume a pasta com a confiança de grande parte da comunidade científica.
O novo ministro tem vasta experiência acadêmica. É físico com doutorado em
matemática pela Universidade de Chicago, nos EUA. De 1980 a 1985 foi
pesquisador titular no Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), do
qual se tornaria diretor no período 2001-2006. De 1985 a 1989 foi diretor geral
do Inpe. Foi presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência
(SBPC) entre 2007 e 2010, e foi nomeado presidente da Agência Espacial
Brasileira em 2011.
O senhor assumiu dizendo que quer dar continuidade a políticas da gestão
anterior, mas “fazendo a roda girar mais rápido”. Como isso será feito?
O que eu quis dizer é que não vamos desenhar uma política
completamente nova. Passamos um ano construindo uma estratégia de ciência,
tecnologia e inovação (CTI) para o Plano Plurianual de Planejamento, entre 2012
e 2015. Vamos acelerar o passo. O desafio é fazer a articulação dos focos que
achamos importantes com a viabilidade dos projetos. Não é uma tarefa de
salvador da pátria. É tarefa de operário na construção dessas políticas.
Que ideias o senhor vai levar para o ministério?
Existem várias coisas que podemos fazer. Temos que nos debruçar
definitivamente sobre a questão da Amazônia — e temos políticas bem definidas.
Vamos aumentar os investimentos na região. Para que isso aconteça, existem dois
aspectos que posso impulsionar: o primeiro é a estrutura de comunicações na
região amazônica. Isso será feito com o projeto do satélite geoestacionário de
comunicações. Ele poderá ser base para o projeto nacional de banda larga, pois
não há estrutura de internet com velocidade requerida para atividade científica
na Amazônia. É uma questão de infraestrutura. Se quisermos envolver o país todo
nas pesquisas da Amazônia, temos que conectar a região.
Qual é o segundo aspecto?
A iniciativa privada. O governo deverá trabalhar no
sentido de criar mais oportunidades para agentes privados de modo que sejam
gerados produtos a partir da nossa riquíssima biodiversidade. Isso será
articulado com um sistema de parques tecnológicos na Amazônia. Eles vão criar
um ambiente para empreendedores se envolverem nesses processos. Serão passos
dados pelos governos federal e estaduais.
A parceria do Brasil com o consórcio europeu de observatórios, o ESO, tem
o aval da presidente Dilma?
Sem dúvida alguma. Ela disse que o MCTI tem que fazer
isso. No momento em que as condições se viabilizarem, esse projeto será tocado.
A carta está pronta para ser enviada ao Congresso para ratificação. Só estamos
aguardando a questão orçamentária para ser uma coisa responsável. Vamos dar
continuidade ao processo.
Críticos da entrada do Brasil no ESO dizem que vai faltar dinheiro para
outros projetos. De onde vão sair os 250 milhões de euros que garantem a
participação brasileira?
No momento em que ele for plenamente aprovado, não vai
faltar dinheiro. Na minha experiência, o Brasil mantém muito bem esses acordos
internacionais. Não vamos deixá-lo cair, apesar dos prazos. Vamos encontrar um
caminho para viabilizá-lo.
Em sua gestão, o que será feito com a Agência Espacial Brasileira para
que o nosso programa espacial decole de vez?
Faremos as alterações possíveis na parte institucional e
financeira. Como unidade de planejamento, a agência precisa atender todas as
demandas de setores do governo e da sociedade. Tenho proposto e vou continuar
propondo que a política espacial seja decidida por um Conselho Nacional de
Políticas Espaciais, com a participação do alto escalão do governo. Hoje, o
conselho superior da AEB é presidido pelo presidente da agência. O Conselho
Nacional de Políticas Espaciais deveria ser presidido pelo presidente da
República.
Quais outras alterações seriam feitas na AEB?
A agência, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE)
e o Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA) não podem atuar
separadamente. É preciso harmonizar a operação conjunta dos três órgãos, para
que se estabeleçam vínculo e relações formais entre eles.
Como essa harmonia será estimulada?
A história das duas instituições muitas vezes as coloca
em posições antagônicas, mas isso tem que acabar. Cada instituição precisa
seguir responsabilidades diferentes e complementares. Proponho que a AEB e
o INPE integrem um mesmo sistema com responsabilidades diferentes. O INPE seria
o elemento tecnológico do organismo, e a agência faria o planejamento. Sobre o
orçamento da agência, a questão não é pedir mais dinheiro para o programa
espacial. Só podemos pedir quando tivermos projetos bons que se justifiquem
perante a sociedade.
Na opinião do senhor, o governo estimula a inovação suficientemente?
De um modo geral o governo tem políticas econômicas que
contemplam certo apoio, para criar infraestrutura para as empresas. Algumas
áreas são fundamentais para estimular a inovação nas empresas, por exemplo, a
área de defesa. Já temos isso no Brasil, não estamos no zero. Não temos uma
tradição disseminada de inovação, mas temos bons exemplos de coisas que
funcionaram.
Por que a inovação ainda não tem força no Brasil?
A nossa cultura é diferente. Nosso desenvolvimento
industrial se deu sob um regime protecionista. O mercado agora é globalizado,
inclusive o nosso. Temos que ter empresas competitivas no mercado mundial e aqui
dentro também. Se não estimularmos a inovação e se não fizermos com que as
empresas se dediquem a isso, não tem jeito.
O que o ministério pode fazer para estimular as empresas a inovar?
Os parques tecnológicos, como já mencionei, podem
contribuir grandemente para geração de novas empresas e inovação. Também temos
que aproximar a produção de conhecimento com o setor produtivo. A Embrapii
(Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial), uma iniciativa do
Mercadante, vem fazer a associação da nossa rede de institutos tecnológicos com
empresas. Ela vai prestar serviço de consultoria, ajudar no desenvolvimento de
novas ideias e tocar projetos junto com as empresas. É mais ou menos o que a
Embrapa fez com a agricultura, mas faremos com a inovação. Não é um instituto
que vai ficar fechado fazendo o que dá na cabeça dele. Esse sistema só vai
trabalhar com empresas e temas que as elas acreditam. Temos que agora, com a
introdução da Embrapii, chamar o setor privado para contribuir. O
desenvolvimento não é responsabilidade só do governo, mas da sociedade também.
O senhor acha que o orçamento do ministério, cerca de nove bilhões de
reais, é suficiente?
Já vivi momentos em que investíamos muito mais. Hoje não
investimos tudo que deveríamos, mas investimos tudo que é possível. Existem
países que investiram muito menos e conseguiram crescer aos poucos. Nós mesmos
temos excelentes exemplos sobre como levar tecnologia e conhecimento para as
indústrias (como a capacitação tecnológica para tirar petróleo a sete mil metros
de profundidade, com a Petrobrás), assumimos o primeiro lugar na exportação de
alimentos, criamos empresas como a Embraer. Temos feito isso e estamos
crescendo.
Fonte: Site da Revista VEJA - 07/02/2012
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