Programa Espacial em Busca da Autonomia


Segue abaixo na íntegra a matéria que foi publicada na Revista Espaço Brasileiro de número 5 de 2009, sobre as tecnologias espaciais que estão em desenvolvimento para os projetos do Instituto de Aeronáutica e Espaço - IAE.

Duda Falcão

Em Busca da Autonomia
Instituto de Aeronáutica e Espaço
busca independência tecnológica para
importantes insumos aeroespaciais

Comunicação Social do IAE

O domínio da tecnologia do processamento de materiais termoestruturais, como os compósitos carbono-carbono (C/C) e carbono-carbeto de silício (C/SiC), permitirá a conquista da independência para a fabricação de importantes insumos aeroespaciais, como a garganta da tubeira do Veículo Lançador de Satélites (VLS-1), escudos térmicos ablativos para veículos de reentrada, câmaras de combustão ablativas de propulsão sólida e estruturas para satélites, entre outras.

Esses materiais são indicados para aplicações em meios de extrema agressividade térmica (calor excessivo), associada às elevadas exigências mecânicas e químicas – a exemplo de quando os veículos espaciais sofrem a reentrada na atmosfera terrestre ou no acionamento dos foguetes. Nessas condições, a temperatura na superfície do artefato alcança 2000°C. Nos casos de reentrada, o escudo térmico deve manter a integridade mecânica e ainda evitar que o calor comprometa os dispositivos internos dos veículos e de sua carga-útil. Nos casos de foguetes, devem suportar o desgaste sem comprometer o desempenho do motor.

O custo de aquisição desses materiais no mercado internacional, quando ela é permitida pelos países detentores da tecnologia, é de cerca de US$ 1.500 por quilo. Quando fabricadas no Brasil, esse valor deverá cair em 80%, segundo estimativa da Divisão de Materiais do Instituto de Aeronáutica e Espaço, que trabalha para a viabilidade do projeto.

A divisão possui a capacitação necessária para o desenvolvimento da tecnologia de manufatura desses compósitos e de produção de seus insumos, como explica Carlos Alberto Alves Cairo, chefe da Divisão de Materiais/IAE: “São cerca de 10 doutores com conhecimento em áreas complementares, que formam uma equipe multidisciplinar com experiência na condução de projetos de pesquisa, orientações de mestrado e de doutorado desenvolvidos nas universidades da região e que contam com parcerias de instituições no exterior, como a Universidade de Bordeaux, na França, e a agencia espacial alemã (DLR)”.
Convênio com a FINEP
A partir de 2008, os projetos desse setor têm sido apoiados pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), que os custeia por meio dos recursos oriundos dos Fundos Setoriais. A idéia é constituir um programa de ações que vão resultar numa infra-estrutura apropriada para dar suporte às atividades específicas na área de materiais, e que ainda hoje não está disponível em outros institutos do país.

São projetos que prevêem a utilização de R$ 1,5 milhão para a aquisição de uma hiperclave para o trabalho em até 1000 atm de pressão - equipamento específico para a produção de gargantas da tubeira de foguetes. Outros R$ 4,5 milhões serão utilizados na implementação de laboratórios para avaliação e homologação das gargantas, além de R$ 900 mil destinados ao desenvolvimento de técnicas de fabricação de compósitos e de metodologias de ensaios mecânicos a quente, este já iniciado em janeiro de 2008.

Outros laboratórios estão em processo de modernização, como o de Caracterização por Difração e Fluorescência de Raios-X e o de Microscopia Eletrônica de Varredura, com recursos cedidos pela Divisão de Propulsão Espacial (IAE/APE), em uma parceria interna para viabilizar a produção de tanques de combustível de propulsão líquida.

Toda essa infra-estrutura servirá de apoio ao desenvolvimento de outras tecnologias e produtos de uso espacial, como a produção de tubeiras de lançadores, de proteção térmica para veículos de reentrada e de ligas metálicas para estruturas espaciais, dentro da perspectiva do Programa Nacional de Atividades Espaciais (Pnae).

As aplicações se ampliam com a possibilidade de fabricação de insumos para os setores civis, como a produção de pastilhas de transportes pesados (trens, ônibus e aviões) e para setores aeronáuticos, como a produção de freios de aeronaves, atualmente importados pela Embraer e pela Força Aérea Brasileira. O domínio dessas tecnologias representa uma importante economia de divisas ao País, por meio da transferência de tecnologia para a fabricação desses insumos na indústria nacional.


Fonte: Revista Espaço Brasileiro - número 5 (Jan/Fev/Mar de 2009) - págs - 32 e 33

Comentário: Esta claro pela matéria que essas tecnologias não estão só sendo desenvolvidas para o projeto do VLS e para os projetos dos novos satélites do Programa Espacial, mas também para o projeto da plataforma SARA Suborbital que esta com seu cronograma de lançamento previsto para o final de 2010. Uma notícia como essa, demonstra que apesar das dificuldades, o programa espacial continua desenvolvendo as tecnologias necessárias para seus projetos. É certo que houve erros no planejamento e definição das tecnologias estratégicas a serem desenvolvidas para o programa espacial durante os últimos 10 anos, e o caso do ACDH - sistema de controle e atitude em órbita do INPE, que foi contratado a INVAP argentina, é um grande exemplo disso. Entretanto, erros são cometidos e servem para que venhamos aprender com eles. Dizia um sábio que eu conheci certa vez: “Errar é humano, persistir no erro é no mínimo um bloqueio ao alto conhecimento”.

Comentários

  1. Neste contexto o que significa ablativo? Hoje o Brasil já possui domínio da tecnologia do processamento de materiais termoestruturais?

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    1. Luiz Carlos!

      Tudo ou quase tudo que foi escrito ou reportado por mim nesse período infelizmente não se realizou. Esse texto é de 2009, e teve como origem a Comunicação Social do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE). O objetivo não era informar a sociedade e sim desinformar, me desiludi muito na época com textos como esse, mas hoje estamos mais antenados. Esqueça essa matérias antigas, se limite ao que estamos escrevendo hoje em dia, para entender melhor o que está realmente acontecendo com o nosso 'Patinho Feio' e se vacinar contra as falácias e mentiras propagadas por esses incompetentes e oportunistas.

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