Operação Brasil


E agora farei uma cronologia histórica das três operações de lançamento até o momento do Veículo Lançador de Satélites - VLS-1 realizadas no Brasil.

Duda Falcão

OPERAÇÃO BRASIL
Descrição da Campanha
Operação: Brasil
Foguete: Veículo Lançador de Satélites - VLS-1
Numero do vôo do foguete: 1
Data de lançamento: 02/11/1997
Horário: 9h25 (hora local - 10h25 (hora de Brasília)
Local: Centro de Lançamento de Alcântara-MA
Apogeu do vôo: 3.230 metros
Tempo de Vôo: 65 segundos
Objetivo: 1o de teste de qualificação do foguete e colocação em órbita do satélite brasileiro SCD-2ª
Resultado: O foguete teve de ser destruído a 65 segundos de vôo

Carga Últil Embarcada
- Satélite de Coleta de Dados 2A - SCD-2ª

Instituições Envolvidas

AEB - Agência Espacial Brasileira
CTA - Centro Técnico Aeroespacial
IAE - Instituto de Aeronáutica e Espaço
INPE - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
DEPED - Departamento de Pesquisas e Desenvolvimento
CLA - Centro de Lançamento de Alcântara - Alcântara-MA
CLBI - Centro de Lançamento da Barreira do Inferno - Natal-RN

No dia 02 de novembro de 1997, exatamente às 10:25 h, no Centro de Lançamento de Alcântara - MA, foi dada a ignição nos quatro motores-foguetes do primeiro estágio do Veículo Lançador de Satélites, designado VLS-1.

Em Brasília, a audiência presente à sala Alberto Nepomuceno - Teatro Nacional, com aplausos espontâneos, emocionou-se ao observar o vôo do primeiro protótipo do veículo que colocaria em órbita um satélite nacional.

Reportagem da Rede Globo - 02/11/1997


Pouco mais de um minuto depois, não foi possível avistá-lo devido à base das nuvens, que encobria os céus de Alcântara naquela manhã de domingo; ficando apenas o ruído dos propulsores e a expectativa das informações a respeito do resultado do lançamento.

Após alguns minutos, foi restabelecido o contato com o Centro de Lançamento e obtida a informação que, infelizmente, aos 65 segundos de vôo foi acionado o sistema de teledestruição do veículo, devido ao não acionamento de um dos quatro propulsores do primeiro estágio, dificultando o controle direcional do veículo, fugindo aos padrões de segurança estabelecidos, não deixando outra opção á equipe que coordenava a operação.

Ao contrário do que foi noticiado, a falha com o primeiro protótipo do VLS-1 não significou um "fiasco" ou uma condenação de nossa tecnologia.
Depois do acidente, certos profissionais de imprensa apressaram-se em difundir uma imagem falsa de que o Brasil é incapaz de atingir objetivos importantes na área espacial. Tentaram induzir que devemos apenas continuar a comprar serviços de lançamento no exterior ( com enormes dispêndios em divisas ). Pior ainda, determinado jornalista procurou associar, leviana e jocosamente, o ensaio do VLS-1 às condenáveis fraudes no INSS.

Outros países como os Estados Unidos, a Rússia, a Ucrânia, a China, a Índia, o Japão, a França e Israel passaram também por insucessos sem esmorecer, sendo que a imprensa, lá, soube compreender e incentivar a continuação do esforço. Há diversos exemplos marcantes a esse respeito, alguns bens recentes, corno a destruição do enorme veículo ARIANE V logo após a decolagem, no ano passado. Contudo, continuaram o desenvolvimento e houve o lançamento, com sucesso ainda parcial, do segundo protótipo do mesmo veículo em 30 de outubro de 1997. Segundo a imprensa, o custo do projeto ARIANE para a Europa alcança o montante de US$ 7 bilhões.

A falha no primeiro vôo do protótipo de um lançador de satélites tem quase a mesma importância para o avanço técnico como aquele que seria obtido com o funcionamento normal. A diferença está mais no aspecto emocional, derivado de um ou outro resultado. O importante é avançar no processo de qualificação em vôo e, após os necessários ensaios, comprovar o bom funcionamento do sistema como um todo.O leigo imagina que o insucesso em um experimento é algo definitivo. É preciso esclarecer que o desenvolvimento de qualquer produto de engenharia, em particular de veículos espaciais, tem a característica de conviver com resultados algumas vezes negativos. Passa-se por várias fases que vão desde as primeiras idéias, ainda bastante gerais, até os ensaios de qualificação e aceitação no solo e, finalmente, testes em vôo.

Seria ideal que fosse possível fazer todos os testes somente no solo. Entretanto, existem condições específicas que só podem ser reproduzidas em vôo. Essa seqüência de atividades pode ser longa, como aconteceu no Brasil, que demorou dezessete anos por causa dos embargos dos países já desenvolvidos na área espacial, bem como da forte tendência de asfixia nos recursos orçamentários, da evasão de recursos humanos devido aos baixos salários e das medidas restritivas impostas aos funcionários.

O VLS-1 fez seu primeiro vôo de qualificação dentro da maior transparência possível, com a transmissão de TV, ao vivo, para todo o País, independentemente da probabilidade de êxito. A presença no Centro de Lançamento de Alcântara foi restrita apenas por questão de riscos e de carência de apoio logístico para atender adequadamente a maior quantidade pessoas e equipamentos na área.

Para se chegar àquela fase dos ensaios, foram necessários inúmeros desenvolvimentos de tecnologias, bem como a concepção, a edificação, a aquisição e integração de equipamentos e a capacitação de recursos humanos nos laboratórios e indústrias, muitos ensaios, revisões de projetos e exaustiva preparação para o lançamento. É claro que, de sã consciência, ninguém poderia afirmar previamente que esse primeiro vôo seria bem sucedido. Contudo, do ponto de vista daqueles que conduzem o projeto, não existia dúvida de que haviam sido preenchidos todos os requisitos. A confiança de todas as equipes envolvidas era total.

O Brasil chegou à situação atual de seu programa espacial pela coragem, persistência e pelo alto moral das pessoas que integram as equipes. Este é o fator que tem levado a grandes resultados, apesar de o nosso programa ser modesto, se comparado àqueles de outros países de porte econômico superior ao nosso.

Desde 1980, foram despendidos, no Brasil, em diversos projetos, laboratórios, recursos humanos, capacitações de indústrias e inúmeras outras atividades contribuintes para o VLS o total equivalente a apenas US$ 297 milhões, com benefícios imediatos para produtos civis. Obviamente, o acidente ocorrido não significa, como publicado, a perda de todo esse investimento. O custo unitário do VLS é muito baixo ( US$ 6,5 milhões ), comparado com o de outros engenhos estrangeiros da mesma classe.

O VLS é um projeto conduzido pelo Ministério da Aeronáutica, através do Departamento de Pesquisas e Desenvolvimento - DEPED - e do Centro Técnico Aeroespacial - CTA -, de enorme complexidade, com avançada tecnologia em suas redes elétricas, sensores inerciais, computador de bordo, rede pirotécnica, tubeiras móveis, sistemas de teledestruição e "software" embarcado, produtos estes que foram fabricados por quase 120 empresas brasileiras, significando uma participação da indústria nacional superior a 80%. O projeto VLS já desenvolveu e deixou o benefício de conquistas que estão trazendo riquezas para o Brasil e aplicações em inúmeros outros produtos já em uso pela sociedade, tais como: tubos sem costura de ligas de alumínio; guias de válvulas de motores; laminados de aço de alta resistência ( 4130, 4140, 4340 e 300M); materiais ablativos e isolantes; resinas aglutinantes; resinas líquidas reativas de polibutadieno; processos de soldagem; grandes fornos de tratamento térmico; estruturas de baixo peso e alta resistência; técnicas de produção de cascas finas estruturais; laminação não plana de anéis em ligas de alumínio; formação e aperfeiçoamento de milhares de pesquisadores e técnicos; a introdução de alta qualidade, indispensável à área espacial, em várias indústrias brasileiras; e muitos outros benefícios.

Temos certeza que está sendo alcançado o sonho de produzirmos riqueza para o Brasil por meio da pesquisa espacial. O povo brasileiro pode se orgulhar do estágio tecnológico alcançado e, sem perceber, já está usufruindo de todos os conseqüentes benefícios sócio-econômicos que estão transformando o Brasil em um país desenvolvido.

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