Equipe de Internacional Astrônomos Liderada Por Brasileiro, Descobre 'Anel' Que Não Deveria Existir em Torno do 'Planeta-Anão Quaoar'
Olá leitores e leitoras do BS!
Segue agora uma interessantíssima notícia postada ontem (08/02) no
site ‘Olhar Digital’ destacando que um
estudo de uma equipe de astrônomos liderada
pelo brasileiro ‘Bruno Morgado’ realizou a descoberta de um ‘Anel’ que não deveria existir em um
dos mundos gelados mais afastados do nosso Sistema Solar, o Planeta-Anão Quaoar. Saibam mais dessa história pela
matéria abaixo.
Sensacional, parabéns a equipe do astrônomo brasileiro 'Bruno Morgado', em mais um gol da Comunidade Astronômica Brasileira.
Brazilian Space
CIÊNCIA E ESPAÇO
Equipe Liderada Por Brasileiro Descobre Anel
“Impossível” em Torno de Asteroide
Descoberta pode mudar a forma como acreditamos que se
formam os sistemas de anéis e luas
Por Marcelo Zurita
Editado por Lucas Soares
08/02/2023 - 13h06
Atualizada em 08/02/2023 - 20h34
Via: Website Olhar Digital - https://olhardigital.com.br
Uma equipe de
astrônomos realizou uma importante descoberta em um dos mundos gelados mais
afastados do nosso Sistema
Solar. O estudo liderado pelo brasileiro Bruno Morgado, descobriu um anel
em torno Quaoar, um pequeno corpo celeste localizado além da órbita de Netuno.
A descoberta foi publicada nesta quarta-feira (8) na Revista Nature e
chama a atenção pelo fato de que esse anel não deveria existir. Ao menos não de
acordo com o que conhecemos da natureza destas estruturas.
Quaoar
Oficialmente
chamado de (50000) Quaoar, o objeto tem cerca de 1110 km de diâmetro é
considerado um planeta-anão, localizado no Cinturão de Kuiper e orbitando a uma
distância entre 41.9 e 45.5 UA do Sol (1 UA equivale a distância média entre a
Terra e o Sol). Quaoar foi descoberto em 2002 pelos astrônomos americanos Chad
Trujillo e Michael Brown e por estar em uma região além da órbita do planeta
Netuno (a 30 UA do Sol), ele é classificado como Objeto Transnetuniano ou TNO.
Fonte: JPL
Horizons
[A órbita do TNO
(50000) Quaoar em comparação com as órbitas dos planetas gigantes: Júpiter,
Saturno, Urano e Netuno.] |
Os TNOs são fósseis praticamente intactos da formação do
Sistema Solar e seu estudo é fundamental para o entendimento de como o sistema
se formou e evoluiu até os dias atuais. Isso já seria o suficiente para atrair
os olhares dos astrônomos para Quaoar. Tanto que, em 2006, ele foi alvo do
Telescópio Espacial Hubble, e analisando suas imagens, Michael Brown descobriu
que Quaoar tem uma pequena lua chamada de Weywot, com cerca de 80 km. Agora, a
equipe liderada por Bruno Morgado, descobriu que Quaoar também tem um anel,
mais um motivo para olharmos com atenção para ele. Mas o que faz do anel de
Quaoar algo tão especial?
Créditos:
HST/Michael Brown
Anéis em Pequenos Corpos
Primeiramente, porque a presença de anéis ao redor de
pequenos corpos é uma descoberta recente na história da Astronomia. Até 2013,
os anéis só haviam sido observados em torno dos planetas gigantes. Foi uma
grande surpresa quando uma equipe internacional, liderada pelo Professor Felipe
Braga Ribas (PPGFA/UTFPR-Curitiba) descobriu os anéis em torno do
asteroide (10199) Chariklo. Foram os primeiros anéis observados em torno de
pequenos corpos. Em 2017 a mesma equipe, que é formada principalmente por
pesquisadores brasileiros, franceses e espanhóis, descobriu que o planeta-anão (136108) Haumea
também possui ao menos um anel.
Dessa forma, o
anel de Quaoar é apenas o terceiro descoberto em torno de pequenos corpos do
Sistema Solar. Só que ele tem uma particularidade ainda mais incrível: o anel
de Quaoar simplesmente não deveria estar ali.
Limite de
Roche e a Formação de Anéis
Desde que os
anéis de Saturno foram vistos pela primeira vez por Galileu Galilei em 1910, a
sua beleza e seu mistério intrigam os astrônomos. Foi preciso décadas de
observação para que o holandês Christiaan Huygens compreendesse a natureza
daqueles anéis. E somente no século XIX, o cientista francês Édouard Roche
desenvolveu uma hipótese para explicar como se formaram os anéis de Saturno.
Imagem Original:
Theresa Knott no English WikipediaSVG: Rehua – Esta imagem foi derivada de: Roche limit
(ring). PNG, CC BY-SA 3.0
Segundo Roche, eles foram formados por fragmentos de uma
uma grande lua gelada que chegou muito perto do planeta e foi destruída
por forças gravitacionais. Essa teoria foi embasada em uma fundamentação
matemática desenvolvida por ele, que permite calcular uma distância limite em
que um objeto, mantido coeso pela força da gravidade, pode se aproximar de um
outro objeto maior sem ser destruído pelas forças de maré. Essa distância ficou
conhecida como “limite de Roche” e a teoria desenvolvida por ele é considerada
fundamental para a compreensão da formação e da existência dos sistemas de
anéis.
Os cálculos de Roche mostram não só que seria impossível
que um corpo permaneça coeso quando está dentro desse limite, como também que
seria igualmente impossível que um disco de partículas se mantivesse em
equilíbrio fora desse limite. A tendência nesse caso, é que as partículas se
acumulem e, em poucos anos, formem uma lua. Só que esta nova descoberta
contraria esse cenário.
O anel
“Impossível” de Quaoar
Isso porque o
anel em torno de Quaoar está localizado a uma distância de 4.100 km do
asteroide, bem além do seu Limite de Roche, ou seja, ele não poderia ter sido
formado pela fragmentação de um corpo por ação das forças de maré de Quaoar. E
isso é algo inédito na Astronomia. Todos os outros anéis observados, seja nos
planetas gigantes, seja em pequenos corpos do Sistema Solar, estão localizados
dentro ou próximos do Limite de Roche, o que faz com que a hipótese
desenvolvida por ele para explicar a origem dos anéis de Saturno, também se
aplique a estes casos, mas não no caso de Quaoar.
Créditos: ESA,
CC BY-SA 3.0 IGO
Com isso, a descoberta desencadeou estudos numéricos
originais apresentados no mesmo artigo. Simulações numéricas foram realizadas
utilizando os parâmetros do anel de Quaoar. As leis de colisão classicamente
usadas para descrever os anéis de Saturno resultaram em um rápido acúmulo de
partículas, como esperado. Porém, outras leis de colisão como as obtidas para
baixas temperaturas mostram o oposto. Assim, enquanto o critério de Roche parece
robusto para explicar como um satélite se quebra por forças de maré para formar
um anel, o processo inverso – o acúmulo de partículas em um satélite – envolve
mecanismos mais complexos, que foram anteriormente negligenciados.
Técnica da
Ocultação Estelar
As descobertas
dos anéis em torno de Quaoar, Chariklo e Haumea foram feitas utilizando a
técnica da ocultação estelar, que consiste em medir a variação de brilho de uma
estrela no momento em que um asteroide passa exatamente em frente a ela. É uma
espécie de “micro-eclipse”, que permite medir com precisão o tamanho e a forma
do asteroide, além de descobrir a presença de luas e anéis em torno dele. Para
observar ocultações estelares, colaborações globais são necessárias, uma vez
que o fenômeno é visível apenas em uma estreita faixa que pode atravessar diferentes
localidades da Terra.
Fonte: Revista
Brasileira de Astronomia, Volume 4, Número 16
No caso de
Quaoar, a descoberta de seu anel se deu através da detecção de pequenas quedas
de brilho na luz das estrelas ocultadas, momentos antes e depois do próprio
Quaoar passar na frente das estrelas. Estas quedas de brilho ocorreram em
ocultações observadas entre 2018 e 2021, e juntas, revelaram a presença do
anel. A partir da medida destas quedas, as propriedades físicas do anel foram
determinadas, como a largura e quantidade de material presente. Além da
detecção de uma estrutura muito mais densa que as demais partes do anel, algo
já visto em alguns anéis de planetas gigantes, mas nunca em pequenos corpos.
Cooperação Internacional
A descoberta do
terceiro sistema de anéis ao redor de um pequeno corpo, o TNO (50000) Quaoar,
foi publicada neste dia 08 de fevereiro na revista Nature, tendo como autor
principal o brasileiro Dr. Bruno Eduardo Morgado, professor do Observatório do
Valongo, UFRJ. Este estudo foi desenvolvido como parte da colaboração Lucky
Star, sob a liderança do Dr. Bruno Sicardy do Observatório de Paris (Paris,
França) e só foi possível graças à colaboração entre dezenas de astrônomos profissionais
e amadores.
O estudo contou
com a participação de pesquisadores em diversos institutos ao redor do globo,
como o Observatório de Paris (Meudon, França), Universidade Tecnológica Federal
do Paraná (Curitiba, Brasil), Instituto de Astrofísica de Andalucía (Granada,
Espanha), Observatório Nacional (Rio de Janeiro, Brasil), Laboratório
Interinstitucional de e-Astronomia (Rio de Janeiro, Brasil), Universidade de
Oulu (Oulu, Finlândia) entre outros. O trabalho também contou com a
participação de grandes telescópios profissionais como o Gran Telescópio das
Canárias, telescópios robóticos, pequenos telescópios da comunidade amadora e
até mesmo o telescópio espacial CHEOPS da Agência Espacial Europeia (ESA).
Descoberta
Deve nos Ajudar a Compreender Essas Estruturas
Novos estudos
ainda são necessários para melhor entender o anel de Quaoar e como ele existe
fora do limite de Roche. Porém, uma coisa é clara: esta descoberta mostra que
os anéis em pequenos corpos devem ser mais comuns do que se pensava, e devem se
apresentar em variadas formas, desafiando os cientistas a entendê-los. O estudo
destas estruturas pode auxiliar os cientistas a responderem questões
fundamentais sobre os mecanismos de formação de luas em torno de planetas do
Sistema Solar e de outros sistemas estelares.
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