Plasma de Quarks e Glúons Pode Ter Sido Criado em Colisões de Partículas Mais Leves
Olá leitor!
Segue abaixo uma nota publicada ontem (03/07) no site da
Agência FAPESP, destacando que um Experimento realizado no LHC (Grande Colisor
de Hádrons) e estudado por pesquisador brasileiro, encontrou sinais muito
similares ao do plasma a partir da colisão de prótons com núcleos atômicos de
chumbo.
Duda Falcão
Notícias
Plasma de Quarks e Glúons Pode Ter Sido Criado em
Colisões de Partículas Mais Leves
Por José Tadeu Arantes
Agência FAPESP
03 de julho de 2019
(Imagem: LHC / CERN)
Experimento, realizado no LHC e estudado por pesquisador
brasileiro, encontrou sinais muito similares ao do plasma a partir da colisão
de prótons com núcleos atômicos de chumbo. Estudos anteriores foram baseados na
colisão de dois núcleos pesados.
Uma ínfima fração de segundo após o Big Bang, o universo
material era constituído por um plasma composto pelas partículas elementares
conhecidas como quarks e glúons. É o que propõe o chamado modelo padrão sobre a
origem do Universo.
Com a rápida expansão e o consequente resfriamento,
aquele meio informe e intensamente dinâmico se fragmentou e cada pequeno
conjunto de quarks e glúons deu origem a uma partícula composta, o hádron.
Assim foram formados, por exemplo, os prótons, cada qual constituído por dois
quarks do tipo up e um quark do tipo down (os dois tipos com as menores massas
entre todos os quarks), interagindo por meio de glúons.
Essa situação primordial tem sido reproduzida no LHC,
o Grande Colisor de Hádrons instalado no CERN, a Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear,
na fronteira entre a França e a Suíça, e também no RHIC, o Colisor
Relativístico de Íons Pesados, instalado no Brookhaven National Laboratory, nos
Estados Unidos.
As primeiras detecções do plasma de quarks e glúons foram
feitas a partir da colisão de dois núcleos atômicos de elementos pesados, como
chumbo e ouro. Agora, a colaboração ALICE, um
dos grupos internacionais de pesquisadores que atua no LHC, obteve uma das
“assinaturas” características do plasma de quarks e glúons por meio da colisão
de prótons com núcleos de chumbo.
Esse resultado, conseguido a partir de precursores muito
mais leves, foi alcançado graças ao altíssimo patamar de energia das partículas
durante a colisão, de 5,02 teraelétrons-volt (5,02 TeV ou 5,02 x 1012 elétrons-volt).
O físico brasileiro Henrique Zanoli, que participa da colaboração ALICE,
estudou essa colisão em seu trabalho de doutoramento e os resultados foram
publicados na Physical Review Letters.
Zanoli, que atualmente faz pós-doutoramento na
Universiteit Utrecht, nos Países Baixos, doutorou-se na Universidade de São
Paulo, com orientação do professor Alexandre
Suaide, e contou com Bolsa de
Doutorado Direto e Bolsa Estágio de
Pesquisa no Exterior (BEPE) da FAPESP.
“O experimento apresentou uma anisotropia azimutal na
distribuição das partículas geradas pela colisão. Isso quer dizer que as
partículas resultantes da colisão não foram produzidas nas mesmas quantidades
em todas as direções. O padrão de distribuição dos elétrons que observamos é
característico da assinatura do plasma de quarks e glúons”, disse Zanoli
à Agência FAPESP.
Para entender a afirmação, é preciso considerar o passo a
passo do processo, demonstrado graficamente pelo próprio pesquisador na imagem
a seguir.
O primeiro quadro mostra o próton (p) e o núcleo de
chumbo (Pb) instantes antes da colisão. Nos momentos iniciais da colisão, são
produzidos quarks pesados e, ao redor deles, forma-se o plasma de quarks e
glúons, como se vê no segundo quadro.
Com a rápida queda da temperatura, o plasma se desintegra
e os quarks pesados combinam-se com outros quarks para formar vários tipos de
hádrons, entre eles, partículas efêmeras conhecidas como mésons D e B. É o que
se vê no terceiro quadro. O quarto e último quadro mostra o decaimento dos
hádrons.
“Algumas vias de decaimento produzem elétrons. E foi
justamente a anisotropia na distribuição das trajetórias dos elétrons
resultantes que indicou a possível produção do plasma de quarks e glúons. Essa
é uma assinatura que é associada à produção do plasma”, disse Zanoli.
“O grande diferencial do experimento que estudei foi que,
nele, os resultados finais da colisão permitem concluir que os quarks pesados
foram produzidos na etapa inicial do processo, e não em etapas posteriores,
como ocorre em outras medidas com quarks leves”, acrescentou.
Segundo Zanoli, essa produção de quarks pesados ocorreu
em um momento em que a densidade de energia do sistema ainda estava
extremamente alta, e sua evolução é uma interessante ferramenta para estudar a
presença do plasma de quarks e glúons.
“Esses quarks pesados, que são produzidos antes do plasma
e o atravessam, fornecem informações sobre o plasma, assim como uma emissão de
pósitrons, que atravessa o corpo humano, fornece informações sobre esse corpo
em uma tomografia. Se as partículas estudadas tivessem sido produzidas no fim
do processo, essa analogia não seria válida e não poderíamos afirmar, com base
no resultado final, quais são as características do plasma de quarks e glúons
formado. Mas, como foram produzidos no início, os quarks pesados se tornam
marcadores muito confiáveis”, disse.
Universo Primordial e Objetos Astrofísicos
O plasma de quarks e glúons é tema de muita pesquisa na
atualidade. E isso principalmente por dois motivos. Primeiro, porque agora é
possível produzir o plasma experimentalmente em colisores, como o LHC e o RHIC.
Segundo, e essa é a maior motivação dos experimentos, porque possibilita
compreender o Universo primordial e também o que ocorre em objetos astrofísicos,
como as estrelas de nêutrons.
“A produção do plasma de quarks e glúons em laboratório
se tornou possível devido à altíssima densidade de energia alcançada nos
grandes colisores da atualidade”, disse Zanoli.
Um patamar de 5 TeV não é tão alto quando se pensa em um
objeto macroscópico, constituído por uma quantidade enorme de partículas
distribuídas em um grande volume. Mas, quando se divide 5 TeV pelo volume de um
próton, o resultado é uma densidade energética a que somente agora a humanidade
teve acesso em escala de laboratório.
O artigo Azimuthal Anisotropy of Heavy-Flavor
Decay Electrons in p-Pb Collisions at √ sNN = 5.02 TeV pode ser
lido na íntegra em https://journals.aps.org/prl/abstract/10.1103/PhysRevLett.122.072301.
Fonte: Site da Agência FAPESP - http://agencia.fapesp.br
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