Ciência Brasileira Ressurge na Antártida, 2 Anos Após Incêndio
Olá leitor!
Segue abaixo uma reportagem especial publicada dia (24/02) no site
do jornal “O Estado de São Paulo” dando destaque ao ressurgimento da Ciência
Brasileira na Antártida dois anos após o incêndio na Base Comandante Ferraz.
Duda Falcão
ANTÁRTICA
Reportagem Especial
Ciência
Brasileira Ressurge
na Antártida, 2 Anos Após Incêndio
Herton Escobar
O Estado de S. Paulo
24
de fevereiro de 2014 - 07:00:58
INFOGRÁFICO:
Rubens Paiva/Estadão
Dois
anos depois do incêndio que destruiu a Estação Antártica Comandante Ferraz
(EACF), em 25 de fevereiro de 2012, a ciência brasileira não só se recuperou da
tragédia como vive seu melhor momento no continente gelado. “Matamos o mito de
que o programa antártico brasileiro ia parar”, diz Jefferson Simões,
pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e coordenador-geral do
Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia da Criosfera. “O impacto foi mais
psicológico do que científico.”
Segundo ele, as pesquisas já estão “100% normalizadas”,
com o apoio dos dois navios antárticos da Marinha – o Almirante Maximiano e o
Ary Rongel – e da base provisória que foi montada sobre o heliponto da antiga
estação, no início de 2013, já totalmente operacional, com cerca de 1 mil
metros quadrados de área útil.
“As instalações provisórias estão funcionando muito bem,
com boa infraestrutura para alojamento e necessidades básicas de pesquisa”,
disse ao Estado por e-mail a pesquisadora Rosalinda Montone, da Universidade de
São Paulo, vice-coordenadora do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Antártico de Pesquisas Ambientais, que está agora na Antártida.
Segundo o contra-almirante Marcos Silva Rodrigues, que
coordena o Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR), 25 projetos de pesquisa
estão em curso na Antártida neste verão (período de outubro a março, quando é
possível operar na região): 12 a bordo do Almirante Maximiano, 7 no Ary Rongel
e 6, na base provisória. “A ciência nunca parou. Tudo que era feito na estação
foi transferido para os navios”, diz.
A expectativa é de que o volume de pesquisas cresça nos
próximos anos. O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq) lançou em setembro o primeiro edital específico para o PROANTAR em quase
cinco anos (chamada 64/2013), no valor de R$ 13,8 milhões. Vinte projetos foram
aprovados, entre 63 que foram submetidos.
Nos próximos meses deverá ser publicado também um plano
de ação oficial, denominado Ciência Antártica para o Brasil, que vai nortear as
pesquisas do País no continente até 2022. O documento, elaborado por um grupo
de cientistas, já foi aprovado pelo Comitê Nacional de Pesquisas Antárticas (CONAPA) e aguarda apenas por uma revisão editorial e a assinatura do ministro
Marco Antonio Raupp para ser oficialmente divulgado – o que deverá ocorrer na
37ª Reunião Consultiva do Tratado da Antártica, marcada para abril, em Brasília.
“Estamos trabalhando para tornar o Brasil um país de
vanguarda em pesquisa na Antártida”, disse ao Estado a coordenadora-geral de
Mar e Antártica do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Janice
Trotte Duhá. “Em 30 anos de PROANTAR, nunca tivemos um plano de ação como
esse.”
VIDEOGRÁFICO: Eduardo Asta/Estadão (http://migre.me/i1fMs)
Futuro - A construção da nova estação Comandante
Ferraz está prevista para começar no verão antártico de 2014-2015 e terminar no
de 2015-2016, conforme estipulado na licitação que foi aberta para a execução
do projeto. A abertura dos envelopes com as propostas está marcada para hoje
(24/2), em Brasília, e a expectativa da Marinha é anunciar o vencedor logo após
o carnaval. A seleção será pelo menor preço, após qualificação técnica.
A licitação já deveria ter sido concluída em dezembro,
mas a abertura dos envelopes foi suspensa um dia antes da data, por causa de
questionamentos técnicos levantados pelas empresas interessadas. O prazo para
conclusão da obra, que era de um ano, foi estendido para dois, “divididos em
300 dias de trabalho efetivo no local de construção da nova EACF, durante dois
verões antárticos”, segundo o edital. “Não há previsão de novos adiamentos”,
afirma Rodrigues, secretário da Comissão Interministerial para os Recursos do
Mar (Cirm).
O tamanho da estação também aumentou em relação ao
projeto original, de 2,8 mil m2 para 4,5 mil m2, com acréscimo de laboratórios
e mais infraestrutura de segurança e geração de energia. “Vamos ter uma estação
que será o estado da arte, entre as mais modernas do mundo”, promete Rodrigues.
O custo estimado do plano, consequentemente, também
cresceu: de R$ 72 milhões, no início de 2013 (quando o projeto arquitetônico
foi escolhido), para R$ 110 milhões, em outubro (quando o projeto executivo foi
finalizado), e agora, para R$ 145 milhões. Segundo Rodrigues, a variação
deve-se ao aumento da estrutura física da base e à variação cambial do euro.
“Desde o início dissemos que a estação custaria por volta de 40 milhões de
euros”, diz.
Foto crédito: www.naviosbrasileiros.com.br
Navio de Pesquisa Oceanográfica Almirante Maximiano.
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HORIZONTE ABERTO
Se por um lado o Brasil perdeu uma estação de pesquisa
fixa no solo, por outro ganhou um navio de pesquisa oceanográfica bem equipado
– o Almirante Maximiano -, com capacidade para levar a ciência antártica
brasileira muito além da Baía do Almirantado (onde fica a base), e um módulo de
pesquisas remotas no interior do continente – o Criosfera 1, instalado 2,5 mil km ao
sul da EACF.
“O programa antártico é muito mais do que a estação;
estamos ampliando cada vez mais nossa área geográfica de atuação”, diz o
glaciologista Jefferson Simões, que planeja a instalação de um segundo
Criosfera para o fim deste ano. O módulo monitora continuamente uma série de
parâmetros climáticos e envia os dados para os pesquisadores via satélite.
Leia
também: Criosfera renovado
“Não vejo que houve piora (após o incêndio). Na
verdade, melhoramos em vários aspectos, especialmente na infraestrutura para
oceanografia”, diz a bióloga Vivian Pellizari, do Instituto Oceanográfico da
USP, que acabou de voltar de uma expedição de 30 dias a bordo do Almirante
Maximiano.
O navio, incorporado em 2009 pela Marinha, recebeu uma
série de melhorias nos últimos dois anos. Entre elas, um guincho essencial para
a realização de pesquisas geológicas, até em águas profundas, como as da
Passagem de Drake, entre a América do Sul e a Antártida — onde foram feitas
coletas com ele recentemente, a quase 4 mil metros de profundidade. “O navio
foi sendo equipado aos poucos e agora está maravilhoso”, elogia Vivian.
“Estamos avançando de vento em popa, e devemos deslanchar mais ainda uma vez
que a nova estação estiver pronta.”
Sem Parar - “A reconstrução vai drenar recursos,
mas serão instalações muito melhores do que as que tínhamos antes, sem dúvida”,
diz o pesquisador João Paulo Machado Torres, da Universidade Federal do Rio de
Janeiro, um dos que estava na EACF em 2012, quando a estação pegou fogo. Assim
como outros pesquisadores, ele perdeu amostras e outros materiais de pesquisa que
estavam na base naquele momento, mas pediu uma prorrogação de prazo no projeto
para refazer o trabalho, e conseguiu. Ele deu sequência ao projeto (sobre
acúmulo de poluentes orgânicos em animais marinhos) com apoio da base de
pesquisa chilena e de acampamentos temporários montados nas áreas de coleta,
apoiados logisticamente pela Marinha. “Em nenhum momento a pesquisa parou”,
ressalta Torres. “A perda dos oficiais foi a coisa que marcou mais a gente; a
questão do material de pesquisa perdido foi de menor monta.”
“Com exceção das duas vidas que foram perdidas, eu diria
que conseguimos apagar da história qualquer sentimento de perda relacionada ao
incêndio”, diz a coordenadora-geral de Mar e Antártica do MCTI, Janice Duhá,
lembrando, também, os dois militares da Marinha que morreram no combate ao
fogo. A tragédia, segundo ela, criou um “momento de reflexão muito oportuno”,
que acabou se revertendo a favor do Proantar, injetando vida nova no programa.
Todos os equipamentos de pesquisa perdidos no incêndio já
foram repostos pelo ministério, num investimento de R$ 4,5 milhões.
Fonte: Centro Polar e Climático (UFRG)
http://blogs.estadao.com.br/herton-escobar/ciencia-brasileira-ressurge-na-antartida/
Fonte: Site do Jornal O Estado de São Paulo
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