Ilusão de Ótica Distorce Visão de Satélite Sobre a Amazônia
Olá leitor!
Segue abaixo uma nota postada ontem (25/02) no site da “Agência
Espacial Brasileira (AEB)”, destacando que um estudo publicado na Revista Nature mostra que a Ilusão de Ótica distorce visão de
satélite sobre a Amazônia.
Ilusão de Ótica Distorce Visão
de Satélite Sobre a Amazônia
Site Em.com
Brasília, 25 de fevereiro de 2014 – Entender como a Amazônia se comporta diante das oscilações
climáticas tem sido um desafio para a ciência. O imenso espaço que o bioma
ocupa – metade de toda a área de vegetação tropical no mundo – torna o
monitoramento uma tarefa extremamente complicada. Para cumprir a missão,
cientistas recorrem a satélites, mas até mesmo esses modernos equipamentos de
imagens podem ser enganados pela floresta.
Segundo um estudo publicado este mês na revista Nature
por pesquisadores da agência espacial dos Estados Unidos, a NASA, o satélite
ModisS/Terra, um dos mais importantes olhos da ciência no espaço, tem enviado
informações imprecisas sobre a Amazônia durante a seca. E a responsável pelo
erro é a ilusão de ótica: o comportamento da luz em períodos de estiagem acaba
dando a falsa impressão de que há mais verde do que realmente existe.
Em análises anteriores, cientistas tiveram a impressão de
que a Amazônia reagia de uma forma extraordinária à seca, inclusive aumentando
a cobertura vegetal nos períodos de estiagem. A nova pesquisa, contudo, mostra
que isso não ocorre. “Nosso estudo demonstra que a floresta mantém uma
estrutura consistente na estação seca, indicando que não há nenhuma evidência,
por satélite, de resposta positiva a condições de seca”, afirma Douglas Morton,
principal autor do trabalho e estudioso da floresta tropical desde 2001.
Resistência –
Para Lênio Soares Galvão, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (INPE), o estudo é importante por trazer dados que colaboram para a
discussão sobre o grau de resistência da floresta a eventos de secas
prolongadas. “Na visão de alguns cientistas, essas secas provavelmente se
tornarão cada vez mais frequentes e severas, devido a mudanças climáticas”,
lembra.
Galvão, que não participou da nova análise, conta que já
havia percebido o problema de leitura de satélites em 2011. “Esses resultados
são concordantes com estudos já realizados pelo INPE. O índice da vegetação
parece aumentar porque sua formulação matemática o torna muito dependente da
resposta da floresta ao infravermelho próximo e do sombreamento. Esse fenômeno
é resultado da geometria de aquisição de dados no satélite”, afirma.
Ele conta que a primeira vez que o suposto verdejamento
fora de época apareceu nas revistas especializadas foi em 2007, quando um
artigo publicado na revista Science sugeriu que a floresta, ao contrário do que
poderia se esperar, estava mais verde durante a seca. Os estudos se baseavam em
uma das piores estiagens da região, registrada em 2005.
Na época, os autores sugeriram que a “onda verde” teria
sido causada pelo aumento da disponibilidade de luz – menos nuvens no céu
teriam ajudado as plantas a se proliferarem. “Com base nesses resultados, os
autores sugeriram que a floresta poderia ser mais resistente às anomalias
climáticas do que imaginado, pois apresentava valores anômalos do índice de
vegetação justamente no período de maior estresse hídrico”, diz Galvão.
Solução - No
estudo publicado agora, Douglas Morton e pesquisadores de diversas
universidades norte-americanas analisaram tanto as propriedades óticas de
folhas e de copa de árvores como as mudanças na incidência da luminosidade
solar em diferentes épocas do ano. Usando uma reconstrução tridimensional da
floresta e um modelo de rastreador de raios de luz, os autores demonstraram que
o aumento de verdor não ocorre porque nascem mais folhas, mas devido ao aumento
da reflexão de radiação na estação seca. Isso significa que o fenômeno é apenas
um “ruído” nas imagens colhidas pelos satélites.
Também pesquisador do INPE, Luiz Eduardo de Aragão
considera que uma das principais contribuições dos resultados de Morton é a
proposta de correção dos dados a partir de uma calibragem das informações que
chegam à Terra. “Corrigidos, esses dados teriam menos interferência do Sol no
sensor e, consequentemente, no alvo, que é a floresta. Isso possibilitaria
novas avaliações. Esse satélite está em uma posição que, principalmente na
seca, é influenciada pela incidência do Sol. Uma padronização na posição do
satélite e do Sol em relação aos alvos eliminaria a confusão e poderia gerar
dados mais limpos”, explica Aragão.
Ameaça - Em
outro estudo publicado na Nature, um grupo de cientistas liderado pela
brasileira Luciana Gatti, do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares
(IPEN), em São Paulo, revela que os extremos climáticos observados na Amazônia
nos últimos anos têm um grande impacto sobre a capacidade de absorção de
carbono do bioma. Caso persistam as variações climáticas radicais – fortes
secas seguidas por períodos de muita chuva –, a floresta pode chegar ao ponto
de liberar mais CO² do que consegue absorver, alertam os especialistas.
Os pesquisadores centraram as análises em 2010 e 2011. No
primeiro ano, uma estiagem intensa atingiu a Amazônia, que, no ano seguinte,
registrou uma quantidade de chuva maior do que o normal. Na época chuvosa, a
liberação e o resgate de carbono empataram. A floresta absorveu uma quantidade
maior do gás de efeito estufa do que a lançada, mas as queimadas acabaram
influenciando para o resultado neutro. Em 2010, todavia, foi vista uma grande
queima de biomassa, fazendo com que o CO² lançado para a atmosfera fosse maior.
Os resultados sugerem, portanto, que há risco de a floresta deixar de ser uma
combatente do aquecimento global para se tornar uma colaboradora.
Para medir a respiração da floresta, os cientistas
avaliaram a qualidade do ar em sobrevoos na região, além de fazer medições em
terra. No ano mais quente, os incêndios soltaram cerca de dois terços mais
carbono do que no período mais úmido. “Em 2010, foram absorvidos apenas 30
milhões de toneladas dos 510 milhões emitidos, e essa é uma notícia triste. Descobrimos
que não é só a temperatura que influencia o comportamento da floresta, mas
principalmente a umidade no solo”, diz Luciana. Para ela é preciso prosseguir
com as análises, pois “ainda é muito cedo para prever tendências”.
Antônio Manzi, pesquisador do Instituto Nacional de
Pesquisas da Amazônia (INPA), concorda com Luciana. “O tempo (analisado) é
muito curto, e, por isso, é importante continuar o trabalho”, diz. Segundo ele,
desde a década de 1990, a Amazônia passa por uma frequência maior de eventos
extremos. “Uma coisa interessante é o que ocorre com o Rio Negro, em Manaus.
Uma série de 110 anos mostra uma variabilidade de 10,2m na profundidade durante
a seca e nos períodos chuvosos. No entanto, nos últimos 30 anos, essa variação
saltou para 12m. Isso significa seca mais seca e chuva mais intensa”, destaca.
A proposta de Luciana é continuar o estudo por mais seis
anos, pelo menos, a fim de produzir uma série histórica de 10 anos.
Fonte: Site da Agência Espacial Brasileira (AEB)
Comentários
Postar um comentário