Eu Também Sonho em Voltar Para o Espaço
Olá leitor!
Segue abaixo uma interessante entrevista com o astronauta
Marcos Pontes publicada ontem (15/12) pelo site do jornal “Tribuna do Norte” onde
o mesmo fala que está trabalhando numa espécie de agenda oculta com objetivo de
formar novos astronautas brasileiros.
Duda Falcão
ENTREVISTA
Eu Também Sonho em Voltar Para o Espaço
Vinícius Menna
Repórter
Publicação: 15 de Dezembro de 2013 às 00:00
O primeiro e único astronauta brasileiro, Marcos Pontes,
esteve em Natal na última sexta-feira (13) para participar da Jornada Espacial.
Na ocasião, ele também ministrou uma palestra para alunos da Escola Antônio
Dantas, de Apodi, onde é mantido um grupo de estudo de astronomia e
astronáutica.
Sete anos após viajar para o espaço ao lado dos russos,
com a missão Centenário, Pontes revela que hoje, aos 50 anos, sua intenção é
fomentar a formação de novos astronautas brasileiros, através de uma espécie de
“agenda oculta” que ele desenvolve à revelia da Agência Espacial Brasileira
(AEB).
Com o turismo espacial sendo uma realidade cada vez mais
próxima, talvez até em 2014, e também com a expectativa de ser chamado para uma
nova missão, o astronauta brasileiro admite que a hipótese de retornar ao
espaço ainda mexe com ele. “Eu também sonho em voltar para o espaço”, disse.
Foto: Vlademir Alexandre
Marcos Pontes quer participar de outra missão no espaço. |
Qual o
motivo da sua visita a Natal?
Essa
palestra era um compromisso meu com a Agência Espacial Brasileira (AEB) e tive
também um encontro com os alunos da Jornada Espacial. A Agência Espacial tem um
programa chamado AEB Escola, que leva Ciência & Tecnologia, através de astronáutica
e astronomia, para dentro das escolas. Então tem formação de professores e isso
é acoplado na Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica. Os alunos que
são os melhores classificados nas escolas são reunidos depois em dois eventos,
um em São José dos Campos e outro aqui. Faço questão de ir nesses eventos
porque os estudantes são o futuro do programa.
Qual foi o
objetivo da sua ida ao espaço em 2006?
Foi a missão
Centenário. Eu entrei no programa em 1998. O Brasil entrou em 1997, com a participação
na Estação Espacial Internacional, através da NASA, junto com 15 países. E a NASA
obrigou que o Brasil tivesse um astronauta no grupo da NASA. Eu faço parte dos
astronautas de manutenção da estação espacial da NASA, mas carrego a bandeira
do Brasil. Entrei através de um concurso público, acabei sendo selecionado aqui
no Brasil, era capitão da Força Aérea, piloto de testes, e tive que deixar
essas atividades. A carreira é civil, deixei as atividades militares e em 2005
fui escalado pela Agência Espacial para a missão Centenário, como eles
chamaram, com a Rússia porque os ônibus espaciais estavam parados desde 2003,
com o acidente da Columbia, então fui pra Rússia, onde tive mais três meses de
treinamento. Foram sete anos e meio de treinamento. Fiz a missão, retornei após
dez dias de voo.
Quais os
requisitos para ser astronauta?
Tem que ser
graduado ou em exatas ou em biológicas, pode se engenheiro, físico, químico,
biólogo, veterinário, médico. Esse é o primeiro requisito. O segundo é que o
seu trabalho de pós-graduação, de mestrado, doutorado ou pós-doc tem que ser
voltado para a área aeroespacial. Aí começa a fase do “conta mais ponto”. Ajuda
se você tiver pesquisas na área, se você for piloto também porque acaba tendo
ritmo operacional, se você for mergulhador porque os treinamentos são feitos
dentro d’água. Se você não for piloto, acaba fazendo curso privado lá, da mesma
forma para mergulhador. Anos de trabalho na área aeroespacial também conta.
Outra coisa
que é primordial é saber lidar com pessoas porque o astronauta enfrenta
situações de risco, com estresse, sem poder errar e trabalhando num ritmo
acelerado, com o corpo alterado. Se você pegar uma pessoa que não trabalhe bem
em grupo, que não saiba lidar com críticas, que não tenha liderança, complica
muito. Essa parte psicológica conta muito, assim como a parte fisiológica. Não
é que precise ser atleta, mas tem que ter um condicional normal, mas com uma
fisiologia boa. Não pode ter problema na coluna, tem que enxergar bem, não pode
ter problema cardiorrespiratório. Tem que ser saudável porque existe um
estresse fisiológico, então a saúde tem que estar muito boa.
Há chances
para novas seleções? Quais oportunidades existem hoje para se tornar um
astronauta?
Nos Estados
Unidos, as seleções ficaram suspensas por um bom tempo com a parada dos
ônibus aeroespaciais, aí reabriu e ano que vem vai ter uma turma nova, em
Houston [Texas]. Já foi realizada a seleção. Lá, abrem turmas com mais
frequência. No Brasil, só teve uma seleção, a que eu entrei. E não teve mais
porque o Brasil o programa espacial não teve mais interesse em ter outros
astronautas, infelizmente.
Mas existem
outras formas de trabalhar na área?
Eu tenho uma certa agenda oculta com relação a isso. Em 2001, eu elaborei um
processo de seleção para a Agência Espacial, mas ele ficou engavetado. Aí eu vi
que através da agência ia ser difícil de ter isso. Passado um tempo, com a
mudança do programa espacial americano, surgiu o desenvolvimento do setor
privado nos Estados Unidos, que vai começar agora a levar turistas para o
espaço. Para isso, é preciso de astronautas profissionais para pilotar, testar
e montar os sistemas no espaço, o que tem gerado uma procura por esses
profissionais. Por enquanto, a NASA tem suprido essa demanda. Eu mesmo já
recebi convites para isso e estou com um pé cá, um pé lá.
Acontece que
aqui no Brasil a gente precisa motivar a garotada, por isso converso com os
estudantes com frequência. Outro ponto extremamente necessário é formar
professores. O terceiro ponto é que faltavam cursos de formação para a área
aeroespacial. Por isso, minha primeira ação ao voltar do espaço foi ir até o
ITA [Instituto Tecnológico de Aeronáutica] e começar a picotar um curso de
Tecnologia Aeroespacial. No início, pensaram que não tinha demanda, mas
acabaram montando e hoje já está na terceira ou quarta turma lá. A federal do
ABC também já tem, assim como na federal de Minas Gerais já está começando. Na
estadual de São Carlos, em São Paulo, eu criei o currículo de Engenharia
Espacial, que estava para entrar no vestibular agora, mas ainda não entrou.
Eu consegui
uma centrífuga da Força Aérea que estava parada para colocar lá em São Carlos e
assim treinar os alunos, aviões para fazer voos parabólicos. Então já quero dar
um treino operacional para começar a selecionar alguns alunos para encaixar ou
em alguma agência de algum programa ou nessa parte privada.
Você
pretende trabalhar com o turismo aeroespacial?
Todo
professor quer que o aluno vá mais acima e eu, para falar a verdade, prefiro que
um aluno meu vá do que eu. Mas eu também sonho em voltar para o espaço. Eu
penso em duas possibilidades, uma é que, hoje em dia, tenho casa em Houston e
em São Paulo, esperando que a agência me escale novamente. Como existe essa
indefinição, você fica sempre nessa expectativa. Por outro lado, tem amigos
meus que saíram da NASA, que estão nas empresas privadas e muitas vezes me
convidam. Eles precisam de pilotos de teste, de manutenção.
Quando os
voos aeroespaciais começam?
A estimativa
mais otimista é final de 2014, mas isso pode se estender até 2016 porque no
momento, a Virgin Galactic ainda estão fazendo os voos de teste, mas sempre se
acha algumas coisas para corrigir. Outra situação é que ainda não tem lei
específica, por isso esse prazo. Mas os testes já começaram.
Quem
Marcos César
Pontes nasceu em Bauru (SP), em 11 de março de 1963. É tenente-coronel da Força
Aérea Brasileira (FAB), atualmente na reserva. Em 30 de março de 2006, partiu
em direção à Estação Espacial Internacional (ISS) a bordo da nave russa Soyuz
TMA-8, com oito experimentos científicos brasileiros para execução em ambiente
de microgravidade. Retornou no dia 8 de abril a bordo da nave Soyuz TMA-7. É
embaixador das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial, mantém a
Fundação Astronauta Marcos Pontes, é diretor técnico do Instituto Nacional para
o Desenvolvimento Espacial e Aeronáutico e atua como professor, pesquisador,
palestrante e consultor.
Fonte: Site do Jornal Tribuna do Norte - 15/12/2013
Comentário: Veja você leitor como são as coisas. A falta de atitude, de responsabilidade e de comprometimento com o PEB de diversos governos subsequentes estimula pessoas como o nosso astronauta a buscar soluções para ajudar o Brasil em seu desenvolvimento espacial. Parabéns Marcos e torço para que você consiga formar novos astronautas brasileiros como também voltar ao espaço como deseja, e desde já conte com o Blog BRAZILIAN SPACE para divulgar suas atividades quando assim você achar necessário. Sucesso sempre.
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