Radiação Cósmica Preocupa Cientistas Brasileiros
Olá leitor!
Segue abaixo uma matéria publicada hoje (18/05) no Jornal “Valor Econômico” destacando que cientistas brasileiros estão preocupados com os efeitos destrutivos que a radiação cósmica pode causar a componentes eletrônicos instalados em satélites e aeronaves.
Duda Falcão
Radiação Cósmica Preocupa Cientistas
Virgínia Silveira
Valor Econômico
18/05/2010
Cientistas preocupados com os efeitos da radiação cósmica podem parecer coisa de filme de ficção científica, mas o problema é real e tem atraído uma atenção cada vez maior de especialistas brasileiros. Eles querem saber mais especificamente quais são os efeitos destrutivos que a radiação cósmica, proveniente do espaço, pode provocar nos componentes eletrônicos instalados nos satélites e aeronaves que operam no território brasileiro. A preocupação é decorrente do fato de que ainda não foi possível quantificar a intensidade dessa radiação e definir os meios para minimizar as conseqüências desses fenômenos na segurança dos equipamentos e das tripulações à bordo das aeronaves.
Segundo os cientistas, o fato de o Brasil estar situado bem no centro da região de influência de um fenômeno conhecido como Anomalia Magnética do Atlântico Sul (AMAS), reforça a necessidade urgente desses estudos. Na região, as linhas do campo magnético estão mais fracas, permitindo que raios cósmicos e partículas carregadas penetrem mais profundamente na atmosfera terrestre.
"O campo magnético da Terra desvia as partículas de alta energia que vêm do espaço e serve como escudo de proteção. Na região da AMAS, as linhas do campo magnético se aproximam mais da superfície da Terra e, dessa forma, os raios cósmicos atingem de forma mais intensa a atmosfera", diz Odair Lelis Gonçales, pesquisador da divisão de física aplicada do Instituto de Estudos Avançados (IEAv), órgão de pesquisa do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA).
Com apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), Gonçales lidera, desde o ano passado, uma iniciativa de pesquisa inédita no Brasil, sobre os efeitos da irradiação de componentes eletrônicos e fotônicos de uso aeroespacial (PEICE). O projeto conta com a colaboração de pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), do Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer (CTI) e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
"Os efeitos da radiação devem ser conhecidos para que medidas corretivas possam ser consideradas durante a fase de projeto dos equipamentos, que deverão operar por tempo prolongado em um ambiente sujeito à radiação permanente", ressalta Gonçales. Tais informações, segundo o pesquisador, têm caráter estratégico já que, na maioria das vezes, não estão disponíveis na literatura ou no mercado.
"A participação efetiva do Brasil no mercado internacional de produtos aeronáuticos e espaciais de alta tecnologia está diretamente relacionada com sua capacitação para desenvolver e qualificar novos materiais e produtos, que operem de forma segura no espaço e em grandes altitudes de vôo". O projeto PEICE, de acordo com o pesquisador, também tem o objetivo de formar e consolidar a capacitação do Laboratório de Radiação Ionizante (LRI), do IEAv, na execução de testes que avaliam a tolerância dos componentes à radiação.
Para avaliar os efeitos dessa radiação nas tripulações de aviões e nos equipamentos aviônicos de aeronaves comerciais, o IEAv está propondo ao Fundo Aeronáutico o projeto dosimetria da radiação ionizante no espaço aéreo brasileiro. A iniciativa, segundo Gonçales, já despertou o interesse do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), do Instituto de Radioproteção e Dosimetria (IRD), além da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) e da Embraer.
Um acelerador de elétrons de alta potência já começou a ser instalado no IEAv. A expectativa do pesquisador é de que até o fim do ano o equipamento comece a ser utilizado. Gonçales explica que um acelerador de elétrons dessa categoria custa em torno de US$ 2 milhões. O equipamento vai gerar elétrons acelerados com energia de 23 megavolts, condição que simula a radiação no espaço. Ele vai complementar os testes de ionização total, que já estão sendo feitos com bomba de cobalto.
Algumas empresas precisam recorrer ao mercado externo para fazer esse tipo de teste, pagando muito caro por isso. Segundo Gonçales, o preço pode chegar a US$ 500 por componente, no caso de um teste de ionização total feito no acelerador de elétrons, até US$ 2 mil por componente em um teste para avaliar o efeito instantâneo que ocorre quando as partículas ionizantes atravessam uma região sensível do componente eletrônico, causando um sinal espúrio ou até mesmo uma falha completa no sistema.
O pesquisador ressalta que o interesse estratégico do Brasil em desenvolver componentes espaciais críticos resistentes à radiação é motivado, também, pelos constantes embargos internacionais que tornam mais difícil a algumas empresas, especialmente as que participam do programa de desenvolvimento de satélites brasileiros, adquirir componentes eletrônicos no mercado externo. "O país tem registrado inúmeros casos de embargo no programa do satélite CBERS, feito em parceria com a China", afirma Gonçales.
Fonte: Jornal Valor Econômico - 18/05/2010
Comentário: O caminho existe, o material humano existe o que falta é a necessidade de entendimento do governo que não existe sociedade moderna desenvolvida sem investimentos em educação e em ciência e tecnologia. O projeto PEICE, já abordado anteriormente aqui no blog de forma discreta (veja a nota IEAv Promove Workshop Sobre Radiações Ionizantes) é um bom exemplo do que se pode fazer neste país quando se tem o apoio necessário. Se for o intuito deste país um dia torna-se uma nação desenvolvida, não tem outra solução do que apostar firmemente na educação de qualidade em todos os níveis e no desenvolvimento científico e tecnológico.
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