Satélite Meteorológico: Um Próximo Passo
Olá leitor!
Segue abaixo um interessante artigo escrito pelo companheiro
André Mileski para Revista Tecnologia e Defesa (T&D) e publicado dia (07/07)
em seu blog “Panorama Espacial”, tendo como destaque o desejado Projeto do Satélite
Meteorológico Brasileiro.
Duda Falcão
Satélite Meteorológico: Um
Próximo Passo
Após contratar um satélite de comunicações, o Brasil
começa
agora a planejar uma missão meteorológica própria
André M. Mileski
Revista Tecnologia & Defesa
N.º 137, junho de 2014
Em qualquer apresentação sobre a importância da
exploração espacial para a Humanidade, é quase certo que os satélites
meteorológicos venham a ser mencionados como um dos grandes benefícios gerados
a partir do espaço. Afinal, seus dados são hoje largamente usados para uma
imensa variedade de aplicações, do cotidiano a questões de forte cunho
comercial e estratégico, como no planejamento, estimativa e controle de safras,
prevenção a desastres naturais, rotas aéreas, missões militares, apenas para
citar algumas.
Não faltam exemplos da
importância da meteorologia para as atividades atuais. No teatro militar, um
caso conhecido, que demonstra o risco oferecido pela não autonomia na geração
de seus próprios dados a partir do espaço, aconteceu no Atlântico Sul, durante
a Guerra das Falklands/Malvinas, em 1982. Um dos satélites geoestacionários da
série GOES, operados pelos Estados Unidos, foi reposicionado, causando
prejuízos no fornecimento de imagens utilizadas para as previsões brasileiras
ao longo de um período de dois meses.
A história recente também tem
outros casos envolvendo a América do Sul. Em 2010, o Brasil se viu novamente em
cheque. Com a desativação do satélite norte-americano GOES-10, operado pela
Administração Nacional do Oceano e Atmosfera (NOAA), as imagens do
subcontinente, antes produzidas a cada 15 minutos, passaram a ser geradas a
cada 30 minutos por seu sucessor, o GOES-12. Eventualmente, por necessidades
internas dos Estados Unidos para o monitoramento de tornados, furacões ou
tempestades severas, como aconteceu em 2005 com o furacão Katrina, em New
Orleans, os satélites da série GOES podem ser reposicionados, reduzindo a
frequência de imageamento de sua área inicial de cobertura.
Por um acordo internacional no
âmbito da Organização Mundial de Meteorologia (WMO), da qual o Brasil faz
parte, a geração e disponibilização de imagens meteorológicas por satélite no
período mínimo de cada três horas está garantida, sem custos. Mas, muitas das
previsões e aplicações hoje existentes para dados espaciais demandam
frequências maiores de imageamento, o que coloca os países que não contam com
meios próprios em relativa situação de vulnerabilidade.
A Situação Atual
Atualmente, o Brasil conta com
duas instituições governamentais principais responsáveis por receber dados,
processá-los e disponibilizar previsões meteorológicas para os usuários, que
atuam de forma coordenada em seus propósitos: o Centro de Previsão de Tempo e
Estudos Climáticos (CPTEC), ligado ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(INPE), do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, e o Instituto Nacional
de Meteorologia (INMET), com sede em Brasília (DF) e subordinado ao Ministério
da Agricultura.
Para a produção de previsões, o
sistema de computação do CPTEC é alimentado por informações de média resolução
oriundas dos satélites estrangeiros GOES (norte-americano) e METEOSAT
(europeu), da rede de dados da WMO e das redes nacionais sob a responsabilidade
do INMET, além de outras fontes como sensores dos Comandos da Aeronáutica e da
Marinha, entre outros.
No caso dos METEOSAT, operado
pela organização intergovernamental europeia EUMETSAT, o Brasil tem acesso a
seus dados, mas, em razão de suas localizações em órbita, na intersecção entre
o Meridiano de Greenwich com a Linha do Equador, sobre a costa africana, suas
imagens são geralmente adequadas apenas para o imageamento de fenômenos e intempéries
no nordeste do País.
Os dados obtidos são então
processados pelo CPTEC, em Cachoeira Paulista (SP), por meio de um
supercomputador, o Tupã (trovão, na língua indígena Tupi). Instalado em
dezembro de 2010 ao custo de cerca de R$50 milhões, o Tupã é um modelo XT6, da
Cray, capaz de realizar 258 trilhões de cálculos por segundo, sendo considerado
um dos mais poderosos do mundo para previsão de tempo e estudos em mudanças
climáticas.
As informações geradas
diariamente pelo CPTEC são indispensáveis para muitos setores socioeconômicos,
tais como agricultura, defesa civil, geração e distribuição de energia
elétrica, transporte e meio ambiente. Ainda, cabe ao CPTEC realizar o
monitoramento de ocorrência de tempo severo e fornecer imagens de satélites
meteorológicos e ambientais para usuários brasileiros e estrangeiros.
Um Satélite Próprio
De tempos em tempos, a busca
brasileira por relativa autonomia no imageamento espacial para finalidades
meteorológicas ganha um novo ímpeto e, de fato, uma missão geoestacionária
consta formalmente da última versão do Programa Nacional de Atividades
Espaciais (PNAE), referente ao período de 2012 a 2021. Tratou-se da primeira
versão do documento, basilar para as atividades espaciais brasileiras, que
conta com uma missão geoestacionária específica de meteorologia, fato que, por
si só, já indica o caráter estratégico outorgado a esta demanda.
Segundo a descrição do PNAE, a
missão do Satélite Meteorológico Brasileiro (GEOMET), como é conhecida, será
destinada à “produção de imagens da atmosfera terrestre a partir do espaço para
gerar dados indispensáveis aos sistemas de previsão do tempo”, tendo os
seguintes objetivos estratégicos: (i) tornar o País capaz obter dados e
informações meteorológicas do território nacional e outras regiões da Terra, de
forma autônoma; e (ii) tornar a indústria nacional tecnologicamente mais
competente, inovadora e competitiva nos mercados interno e externo. Segundo o
programa, o GEOMET deverá estar operacional em 2018, data alvo bastante
arrojada e que muito provavelmente não será cumprida.
O documento relaciona ainda
alguns dos potenciais usuários dos dados gerados pelo futuro GEOMET, como o
INPE e os ministérios da Agricultura, Integração Nacional, e Defesa, revelando
o caráter multiministerial adotado para a estruturação de projetos complexos,
seguindo o caminho trilhado com o Satélite Geoestacionário de Defesa e
Comunicações Estratégicas (SGDC), contratado no final de 2013.
“A percepção da necessidade é
antiga. É uma unanimidade”, afirmou à reportagem Petrônio Noronha de Souza,
diretor de Política Espacial e Investimentos Estratégicos da Agência Espacial
Brasileira (AEB). No entanto, ainda que a ideia de uma missão esteja capturada
no PNAE, neste momento não existe nada de muito concreto, como a definição de
requisitos, do cronograma e da arquitetura industrial, passos iniciais para o
lançamento de uma missão espacial. “Não está indo na velocidade que todos
gostariam”, disse Souza, que citou outros projetos em andamento no Programa
Espacial, que consomem recursos humanos e financeiros – ambos escassos, como o
lançamento do CBERS-4, previsto para dezembro deste ano, o SGDC e o satélite de
observação Amazônia-1.
Segundo o dirigente, “será um
desafio na hora de desenvolver os requisitos deste satélite”, considerando-se
especialmente os aspectos técnicos, como as especificações dos sensores,
conciliando-se as necessidades nacionais, em busca de alguma autonomia, com a
continuidade do País no âmbito da rede meteorológica internacional já
existente. “Não deve haver um passo atrás”. Para superar este desafio, a
Agência reunirá todas as partes interessadas, desde o governo, usuários,
indústria e academia, em linha com os projetos que têm sido lançados.
Outro aspecto desafiador será a
busca por alguma participação da incipiente indústria espacial brasileira, que
reúne certa capacidade em determinados elementos, como em sensores de
imageamento. Invariavelmente, será colocada sobre a mesa a escolha entre a
transferência tecnológica e/ou a efetiva participação e capacitação industrial.
Estudo de Caracterização
Apesar de o diretor da Agência
reconhecer que a velocidade dos avanços do GEOMET não é a ideal, já existem
algumas ações planejadas para os próximos anos. Antes da falha no lançamento do
CBERS-3, na China, em dezembro de 2013, a AEB trabalhava com o plano de iniciar
o chamado estudo de caracterização do GEOMET ainda em 2014. Com os esforços
agora concentrados principalmente no voo do CBERS-4, o início dos estudos deve
escorregar algo como um ano. “Não pode passar de 2015”, destacou.
O estudo de caracterização
seria nada mais do que um primeiro passo em direção à especificação e definição
da missão meteorológica, etapa precedente à definição da modelagem de
contratação, possivelmente seguindo o conceito de prime contractor adotado no
SGDC, em que uma empresa principal é contratada para a construção do sistema –
no caso do satélite de comunicações, a Visiona Tecnologia Espacial. “No nível
industrial, não se contempla possibilidade em que não haja um prime
contractor”.
Em alguns pontos, o GEOMET se
assemelha ao SGDC, como na modelagem industrial pretendida e no caráter
multiministerial do projeto que envolve as Comunicações, Defesa e Ciência,
Tecnologia e Inovação. No caso do GEOMET, o número de ministérios envolvidos
será ainda maior, dada a quantidade de usuários de dados meteorológicos no
governo, o que abre também maiores e melhores oportunidades para o seu
financiamento. Destaque-se ainda a sua provável conexão com outras iniciativas
espaciais, como o Programa Estratégico de Sistemas Espaciais (PESE) (ver
T&D n.º 136), que contempla missões meteorológicas de órbita polar,
complementares à órbita geoestacionária, como é o caso do GEOMET. Para a sua
viabilização, o Brasil também não descarta parcerias com países amigos,
seguindo a estratégia adotada noutras missões espaciais, como o programa CBERS,
com a China, e o SABIA-MAR, com a Argentina.
Um destes parceiros pode vir a
ser a China, com quem o Brasil já colabora no campo espacial há mais de 25
anos. Em novembro de 2013, durante a Terceira Sessão Plenária da Comissão
Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (COSBAN), em Cantão,
na China, um dos pontos incluídos para discussão futura na agenda de cooperação
espacial para os próximos dez anos foi o desenvolvimento de um satélite geoestacionário
meteorológico. À época, consultado por Tecnologia & Defesa, o presidente da
AEB, José Raimundo Coelho, esclareceu que uma nova missão com os chineses
estaria sujeita a discussões internas, deixando aberta a possibilidade de
cooperações com outros países.
Fonte: Blog Panorama Espacial - 07/07/2014
Comentário: Bom primeiramente é preciso dizer que este
satélite meteorológico é um desejo da Comunidade Meteorológica Brasileira há
mais de 20 anos, e sinceramente não acredito que estejamos mais perto agora de
um projeto assim do que estávamos há 20 anos atrás, afinal já estamos no último
ano do desgoverno DILMA ROUSSEFF e tudo pode mudar após as eleições. Além
disso, o fato do projeto do mesmo ser previsto no PNAE (como sabemos pelo
histórico desse documento) não representa nenhuma garantia de que sairá do
papel. Vale lembrar também que, o que o Sr. José Raimundo Braga Coelho diz não
se deve dar a mínima credibilidade, não só pelo seu irresponsável e visível amor
para com esse governo desastroso, mas também porque o cargo de presidente de nossa
Agência Espacial de Brinquedo (AEB) não tem qualquer poder para definir se o satélite
será construído o não. Esta decisão vem de cima, dos mesmos energúmenos que nas
últimas décadas tem ajudado a sucatear o PEB. Entretanto, se essa gente enxergar
uma boa oportunidade nessa iniciativa (como começo a ‘desconfiar’ que tenha
ocorrido no projeto do SGDC) é possível que no próximo governo esse projeto venha
ganhar vida, porém o povo pagará o alto preço dessa conta. Estaremos
acompanhando, e se realmente houver qualquer indício nesta direção, esteja
certo leitor de que o Blog BRAZILIAN SPACE novamente apontará (como fizemos exitosamente
no Projeto do SGDC) com grande antecedência e antes mesmo do lançamento do
edital, o vencedor da concorrência para construção deste satélite que será possivelmente
internacional.
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