Telescópios Investigam Relação Entre Ciclo do Sol e Clima
Olá leitor!
Segue abaixo uma matéria postada hoje (17/07) no site da
“Agência FAPESP”, destacando que dois telescópios construídos por pesquisadores
brasileiros irão funcionar de forma sincronizada na detecção contínua de partículas
derivadas da radiação do Sol para assim investigar possíveis relações entre os
ciclos solares e as variações climáticas da Terra.
Duda Falcão
Especiais
Telescópios Investigam Relação
Entre Ciclo do Sol e Clima
Por Diego Freire
17/07/2014
(Foto:divulgação)
Equipamentos serão sincronizados
para monitorar a
atividade solar de
forma ininterrupta e registrar
informações que podem ser
associadas à variação climática.
|
Agência
FAPESP –
Pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Universidade
Federal Fluminense (UFF) construíram dois telescópios que vão funcionar de
forma sincronizada na detecção contínua de partículas derivadas da radiação do
Sol para investigar possíveis relações entre os ciclos solares e as variações
climáticas da Terra.
O trabalho é
resultado da pesquisa “Detecção e estudo de eventos solares transientes e variação climática”,
realizada no âmbito de um acordo de
cooperação entre a FAPESP e a Fundação Carlos Chagas Filho de
Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) que tem como objetivo
apoiar projetos cooperativos e intercâmbio de pesquisadores e estudantes em
áreas ligadas às mudanças climáticas globais.
De acordo
com o coordenador da pesquisa na Unicamp, Anderson Campos Fauth, professor
associado do Instituto de Física Gleb Wataghin, já se sabe que os ciclos
solares e suas flutuações apresentam alguma relação com a intensidade com que
os raios cósmicos atingem a Terra, apesar de não serem considerados uma das
principais causas das mudanças climáticas globais.
“Não existe
um consenso sobre o mecanismo que relaciona a atividade solar e as mudanças climáticas.
Há uma hipótese de que o aumento do fluxo de raios cósmicos pode estar
associado ao surgimento de nuvens baixas, que globalmente exercem um efeito de
resfriamento e, nas regiões polares, onde a incidência da radiação solar é
baixa, têm impacto contrário, provocando aquecimento”, disse.
Fauth
explica que cientistas têm observado que certos fenômenos climáticos – oceanos
mais quentes, maior quantidade de chuvas tropicais, menos nuvens subtropicais,
circulação mais intensa de ventos – parecem estar em parte associados ao ciclo
de atividade solar, que dura em média 11 anos.
“Entretanto,
esses estudos estão em fase inicial e é necessário fazer novas observações das
radiações emitidas pelo Sol, principalmente quando surgem atividades como as
explosões solares, e monitorar suas variações sazonais”, ponderou.
Diante
disso, o trabalho da Unicamp e da UFF com os telescópios foca em um dos sinais
do ciclo solar: a presença e o comportamento das partículas múons na atmosfera
terrestre.
O múon é a
mais abundante partícula com carga elétrica presente na superfície da Terra,
representando cerca de 80% dos raios cósmicos com carga elétrica em altitudes
próximas ao nível do mar. A cada segundo surgem, aproximadamente, 140 múons por
metro quadrado.
O fato de a
partícula quase sempre possuir trajetória retilínea facilita sua detecção com
um arranjo de poucos detectores. “Essas partículas permitem estudar os eventos
solares em uma região de energia que os satélites e os monitores de nêutrons
posicionados na superfície terrestre não observam”, explicou Fauth.
O ano de
2014 é propício à detecção de múons pelos telescópios da Unicamp e da UFF. Ao
longo deste período, o ciclo atual do Sol atinge sua máxima atividade: o número
de manchas solares observadas aumenta consideravelmente e os flares –
explosões que ocorrem na superfície do Sol – irrompem com grande intensidade,
libertando milhões de toneladas de gás magnetizado.
Além disso,
Campinas e Niterói, onde os telescópios estão instalados, têm localização
privilegiada para a detecção de partículas derivadas da radiação solar, pois
estão próximas à região central da Anomalia Magnética do Atlântico Sul (SAA, da
sigla em inglês), onde a resistência magnética para entrada de partículas
carregadas vindas do espaço é muito baixa.
A maioria
dos detectores de partículas solares energéticas está instalada próximo às
regiões dos polos porque, nas outras regiões, o campo magnético da Terra desvia
as partículas carregadas. Mas na região da SAA há uma intensidade magnética
muito inferior, uma espécie de buraco na magnetosfera que se comporta como um
funil.
Muonca
O telescópio
construído na Unicamp, que recebeu o nome Muonca, iniciou em abril a tomada de
dados contínua, utilizando quatro detectores de partículas. Os detectores da
UFF entraram em funcionamento em junho, no modo monitor – quando se realiza a
contagem dos múons, sem determinar ainda sua direção de chegada.
O Muonca
utiliza quatro detectores de partículas idênticos. A partícula múon, ao
atravessar o cintilador do detector, produz uma luz que permite o registro de
sua passagem. Um computador é utilizado no sistema de aquisição de dados, e as
informações brutas são registradas em arquivos diários.
O telescópio
da Unicamp foi construído em dois anos, incluindo o tempo para os processos de
importação, realização dos projetos, desenhos técnicos das peças, execução por
técnicos da universidade e de empresas privadas, montagem por membros do grupo
de pesquisa, desenvolvimento do software de aquisição de dados e calibração dos
detectores, além da programação dos códigos de análise dos dados.
O
experimento opera continuamente, 24 horas por dia, e os pesquisadores
desenvolvem agora um sistema que alerte por e-mail e SMS quando ocorrer algum
problema ou possível evento solar na aquisição dos dados.
Recentemente,
os detectores instalados em Campinas e Niterói registraram simultaneamente uma
tempestade geomagnética. De acordo com Fauth, os dados estão sendo avaliados
para publicação e os primeiros resultados conjuntos dos dois telescópios serão
apresentados em setembro no 34º Encontro Nacional de Física de Partículas e
Campos, organizado pela Sociedade Brasileira de Física em Caxambu (MG).
Fonte: Site da Agência FAPESP
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