Blog Entrevista Coordenador do Projeto do Nanosatélite 14-BISat
Olá
leitor!
Uma
vez mais no intuito de manter nossos leitores sempre bem informados sobre as atividades
espaciais em curso em nosso país, trazemos para você mais uma entrevista da série
“Personalidades do Programa Espacial Brasileiro (PEB)”.
Desta
vez o leitor poderá conferir uma interessante entrevista com o Prof. Cedric
Salotto, coordenador do “Centro de
Referência em Sistemas Embarcados e Aeroespaciais (CRSEA)” do Instituto Federal
Fluminense (IFF) da cidade de Campos dos Goytacazes (RJ).
Nesta entrevista o Prof.
Cedric nos fala sobre a sua carreira e os projetos espaciais em curso no CRSEA,
como por exemplo, o Projeto do Nanosatélite 14-BISat, o Projeto da Câmara
Termo-Vácuo para Teste de Nanossatélites, o Projeto do Foguete de Sondagem
Atmosférica, o Projeto de Um Sistema GPS, entre outros. Vale a pena conferir.
Aproveitamos
para agradecer de público a atenção dispensada pelo Prof. Cedric Salotto e pelo
Instituto Federal Fluminense ao Blog BRAZILIAN SPACE desde o nosso primeiro
contato. Muito obrigado Prof. Cedric e sucesso sempre.
Duda
Falcão
Prof. Cedric Salotto |
BRAZILIAN SPACE: Prof. Cedric, para aqueles leitores que não o
conhecem e ao seu trabalho, nos fale sobre o senhor, sua idade, formação, onde
nasceu e desde quando está atuando como docente no Instituto Federal Fluminense
(IFF)?
PROF. CEDRIC SALOTTO: Iniciei minha vida profissional em 1985 numa Central
IBM no Rio de Janeiro enquanto cursava Engenharia Elétrica. No ano seguinte me
tornei empresário montando uma indústria de equipamentos eletrônicos no ramo
biomédico. Segui fabricando até 1991 tendo superado o Primeiro Plano Collor,
porém, decidi fechar a firma após o início do Segundo Plano Collor para evitar
uma possível abertura de falência. Toda vida teve de ser alterada e recomeçada.
Em fim, passei minha carreira para o ramo do petróleo, com base na cidade de
Macaé em uma multinacional, onde trabalhei tanto em poços de petróleo no mar e
em terra como nos laboratórios de eletrônica com equipamentos para prospecção
de petróleo com tecnologia de ponta na época. Após essa odisséia fiz o concurso
público para o cargo de professor de eletrônica do atual Instituto Federal
Fluminense (IFF) onde atuo há 18 anos. Nascido em Campos dos Goytacazes há 51
anos, pude retornar a cidade natal para desenvolver minhas habilidades como
Educador, Investigador tecnológico e Empreendedor no IFF, além da oportunidade
de concluir a formação acadêmica em Analista de Sistemas e aguardando o início
do doutorado. No IFF tenho o cargo de Coordenador do Centro de Referência em
Sistemas Embarcados e Aeroespaciais (CRSEA).
Na imagem abaixo estou explicando
para a repórter da Rede Globo de Cuiabá as funções do painel de telemetria do
nosso Quadricóptero.
BRAZILIAN SPACE: Prof. Cedric, como e quando surgiu à idéia da criação
do Centro de Referência em Sistemas Embarcados e Aeroespaciais
(CRSEA) do IFF?
PROF. CEDRIC SALOTTO: O CRSEA foi resultado de uma confluência de fatores
que se deu em 2012. De um lado eu já vinha atuando em projetos diversos como do
foguete de sondagem atmosférica, do quadricóptero, sistemas embarcados com GPS,
FPGAs e outros de eletrônica e eletromecânica
voltada para sistemas aeroespaciais. Complementarmente, a equipe do
prof. Rogério Atem, coordenador do Núcleo de Pesquisa em Sistema de Informação
do IFF (NSI), vinha atuando também por uma década em sistema de informação
industrial e cooperação internacional. Desta forma eu e Rogério vislumbramos
criar o Centro de Referência agregando outros pesquisadores das áreas de
Controle e Automação, Elétrica e Mecânica, onde o NSI poderia apoiar com a
sólida experiência em software e rede de computadores. Com o apoio da
Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica do Ministério da Educação
(Setec/MEC), decidimos então criar uma experiência pioneira dentro da Rede
Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (EPCT), que seria o
Centro de Referência em Sistemas Embarcados e Aeroespaciais. Preparamos o
projeto, que foi aprovado em todas as instâncias e iniciou sua atuação em 2013,
com apoio da Setec/MEC e da AEB.
Para quem gosta de aeronaves,
segue abaixo uma foto tirada na Olimpíada do Conhecimento, Anhembi SP 2012, do
Quadricóptero do IFF onde foram feitas inúmeras apresentações de voos dentro do
pavilhão. Vemos nesta foto ilustres representantes da Setec/MEC e de Institutos
Federais.
BRAZILIAN SPACE: Prof. Cedric, quantos
pesquisadores entre professores e alunos desenvolvem pesquisas hoje no CRSEA?
PROF. CEDRIC SALOTTO: Atualmente somos oito pesquisadores e dez alunos;
temos ainda o pessoal associado de outras instituições como da UENF e do IFMT e
de outros núcleos de pesquisa do próprio IFF.
BRAZILIAN SPACE: Prof. Cedric, dentre os diversos projetos em curso no
CRSEA talvez o mais conhecido deles pelo público em geral seja o projeto de
integração e montagem do nanosatélite “14-BISat” para a missão multinacional
QB50. Como surgiu a oportunidade do IFF participar dessa missão internacional?
PROF. CEDRIC
SALOTTO: O Projeto da Missão QB50, liderado pelo Von Karman Institute for Fluid
Dynamics (VKI)-Bruxelas, Bélgica, iniciou atividades realizando Workshops para
as instituições que desejavam participar deste projeto. Fui enviado pela
direção do IFF para participar do 2º Workshop, quando então, tive a
oportunidade de conhecer representantes de muitas instituições de ensino de
diversas partes do mundo. Nesta ocasião iniciamos as parcerias com a Tekever SA
e a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto que lá estavam com o
projeto do GAMASAT, o nanosatélite 3U deles. Assim, decidimos percorrer juntos
a maior parte das fases de construção de 14-BISat.
BRAZILIAN SPACE: Prof. Cedric, existe
alguma outra instituição envolvida no desenvolvimento do 14-BISat além do IFF?
PROF. CEDRIC SALOTTO: Sim, o nanosatélite 14-BISat
está sendo projetado e desenvolvido em parceria com a Tekever SA e a Faculdade
de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), Portugal.
BRAZILIAN SPACE: Prof. Cedric, qual será as dimensões deste
nanosatélite e as suas cargas úteis?
PROF. CEDRIC SALOTTO: O 14-BISat é um CubeSat 2U, assim, ele possui
20x10x10cm de dimensões. Suas cargas úteis são duas:
- Fipex (Flux-(Phi)-Probe-Experiment): desenvolvido pela Universidade de Dresden, é uma das
três cargas padrões do Projeto Missão QB50. Basicamente é um sensor empregado
para medir concentrações de Oxigênio Atômico e Molecular em LEO.
- GAMALink:
desenvolvido pela Tekever SA, FEUP e IFF, é um link em Banda S, implementado em
Software Defined Radio, com funcionamento de forma ad-hoc, que fará
conexão para trocas de dados em alta velocidade entre satélites e entre estes e
as estações terrestres. O GAMALink possui também o segmento terrestre, chamado
de Gamanet.
A figura exemplifica uma
comunicação entre satélites cubesats e o segmento terrestre.
BRAZILIAN SPACE: Prof. Cedric, quando e como o nanosatélite 14-BISat deverá
ser lançado ao espaço?
PROF. CEDRIC SALOTTO: O 14-BISat será lançado junto
com os outros 49 satélites integrantes do QB50 em janeiro de 2016, por um
foguete Ciclone 4, a partir do Centro de Lançamento de Alcântara.
BRAZILIAN SPACE: Prof. Cedric, qual a
origem do nome desse nanosatélite e quantos
pesquisadores estão hoje envolvidos com este específico projeto?
PROF. CEDRIC SALOTTO: A
ideia foi homenagear Santos Dumond, um brasileiro inovador, criador de
tecnologia, que colocou suas ideias em prática e fez História. Neste projeto
específico, no CRSEA somos cinco pesquisadores e seis alunos diretamente
envolvidos.
BRAZILIAN SPACE: Prof. Cedric, existe a
pretensão no IFF de dar continuidade após o lançamento do 14-BISat, ou seja,
haverá um 14-BISat-2?
PROF. CEDRIC SALOTTO: Sim, estamos firmando acordos
com outras instituições que desejam compartilhar missões. Também fazemos parte
da missão SERPENS da AEB. Certamente destas parcerias surgirão novas missões e
novos satélites. Também temos conversações para realização de missões
exclusivas do IFF que atendam demandas do Brasil.
BRAZILIAN SPACE: Prof. Cedric, com o desenvolvimento dessa tecnologia
de nanossatélites no IFF, existe a pretensão de se explorar esse conhecimento
no desenvolvimento de projetos mais significativos, como por exemplo, uma missão
em Órbita Lunar?
PROF. CEDRIC SALOTTO: Certamente o conhecimento obtido na missão QB50, com o
14-BISat, será empregado em outras aplicações. Ainda não vislumbramos nenhuma
missão como a que você se referiu, mas uma série de outras típicas de nanosatélites,
como observação terrestre, rastreamento de veículos, comunicação em Rede
Espacial,... É importante ressaltar que a tecnologia espacial tem também
aplicação em outras áreas em terra ou mar.
BRAZILIAN SPACE: Prof. Cedric, voltando
aos outros projetos do CRSEA menos conhecidos do público em
geral, um dos que mais chama atenção do Blog BRAZILIAN SPACE é o projeto de
implementação da “Rede Integrada Brasileira de Rastreamento de Satélites
(RIBRAS)”. O que o senhor pode nos dizer sobre esta iniciativa?
PROF. CEDRIC SALOTTO: Este projeto originou-se com uma iniciativa do IFF
junto a Setec/MEC, que visava implantar estações de rastreamento em seis
Institutos Federais distribuídos pelo território nacional tendo dentre outras
finalidades a disseminação do conhecimento em aeroespacial entre Instituições
Brasileiras e integrar ainda mais os Institutos Federais em um trabalho comum
de pesquisa aeroespacial. A AEB diante da importância de se ter uma rede de
estações educacionais cobrindo todo o território nacional, tanto em termos
operacionais, quanto em termos educacionais e científicos nos solicitou que a
mesma fosse ampliada adicionando-se quatro Universidades Federais, formando
assim uma rede de 10 estações. Assim, a AEB decidiu financiar a RIBRAS além de
apoiar ao 14-BISat. Com estas ações, nós na posição de educadores e
pesquisadores passamos a vivenciar uma atividade muito agradável por termos a
Setec/MEC financiando o 14-BISat apoiado pela AEB e a RIBRAS financiada pela
AEB e apoiada pela Setec/MEC.
Esta rede operará em modo
Duplex nas 3 bandas: S, UHF e VHF, podendo funcionar em modo “manual”, onde
pesquisadores e alunos comandarão os equipamentos, ou automático, onde, através
do Centro de Controle do IFF ou o Centro de Controle do IFMT, empregando softwares
de orquestração e automação por nós desenvolvidos, serão comandadas remotamente
e de maneira automática, visando a otimização da comunicação entre os segmentos
terrestre e espacial.
Esta figura ilustra a
configuração funcional da RIBRAS. Pode-se notar que as dez estações estarão
integradas pela internet com dois servidores unindo-as.
Com a RIBRAS será possível a
participação conjunta de instituições Brasileiras com instituições estrangeiras
em missões internacionais, além da grande possibilidade de comunicações com
satélites educacionais funcionando em modo “Constelação”.
No mapa abaixo temos a
localização de onde serão instaladas as 10 estações da RIBRAS. Os círculos
representam o raio de ação de cada estação para uma condição extrema de órbita
baixa, quando, por exemplo, os satélites do QB50 estiverem a 200 km de altitude
e levando em consideração a comunicação a partir de 12 graus de elevação acima
do horizonte.
BRAZILIAN SPACE: Prof. Cedric, outros
projetos de interesse espacial estão em curso no CRSEA e dentre eles citamos o
Projeto de Hardware e Software de Comunicação, o Projeto da Câmara Termo-Vácuo
para Teste de Nanossatélites, o Projeto do Foguete de Sondagem Atmosférica, o
Projeto de um Sistema GPS e o Projeto de um Sistema de Rastreamento Solar. O
que o senhor pode nos dizer sobre esses projetos e quais são hoje os seus
estágios de desenvolvimento?
PROF. CEDRIC SALOTTO: Na parte de Hardware e
Software de Comunicação, desenvolvemos e integramos hardware e software para
implementação de protocolos de comunicação empregados em outros projetos nossos
e colaboramos com nossos parceiros portugueses no desenvolvimento de partes do
GAMALink.
A Câmara Termo-Vácuo (CTV)
para Teste de Nanossatélites é um projeto aprovado em edital de inovação do CNPq,
onde temos a possibilidade de desenvolver e integrar hardwares e softwares para
controle e automação dela. Ela será de pequeno porte, voltada para testes de
nanosatélites. O projeto é realizado em parceria com a Tekever Brasil e a UENF.
O
Foguete de Sondagem Atmosférica possui sistemas embarcados desenvolvidos por
nós capazes de coletar e armazenar informações atmosféricas durante o voo,
enviar sinais de telemetria e acionar seu paraquedas de recuperação no momento
mais adequado, foi projetado e construído no IFF, estando plenamente
operacional desde 2009.
O Sistema GPS envolveu
projeto, construção e programação de Sistema de Rastreamento, empregando
sistemas próprios de rádio comunicação e posicionamento em mapa digital. Está
operacional desde 2012 para usos em até 18 km de altitude.
Finalmente, o Sistema de
Rastreamento Solar é composto por um algoritmo em microcontrolador para
determinação contínua da direção do sol e comando de servomotores para
apontamento de painel fotovoltaico, também operacional desde 2012.
Existem ainda outros
projetos, que desenvolvemos na área de sistemas embarcados, todos funcionais.
BRAZILIAN SPACE: Prof. Cedric, como o
senhor avalia o atual estágio de desenvolvimento do Programa Espacial
Brasileiro?
PROF. CEDRIC SALOTTO: Faço minha avaliação fundamentada e focada na
experiência vivenciada em prol do desenvolvimento do Programa Espacial do
Brasil.
Conforme acordo com a AEB e a
Setec/MEC, fiz durante o ano passado muitas palestras para alunos e professores
em diversas cidades dos estados do Acre, Roraima, Maranhão, Bahia, Mato Grosso,
com o intuito de fomentar o interesse pela área aeroespacial, disseminando os
assuntos de Mecânica Celeste, satélites, foguetes e aplicações desses...
Durante todas as dificílimas
barreiras burocráticas que enfrentamos para a aquisição de materiais básicos
para desenvolvimento do 14-BISat e da RIBRAS, vivenciei o enorme apoio e
incentivo da Setec/MEC e da AEB, tendo sobre este aspecto o fato muito
interessante de poder perceber que diversas formas de procedimentos começaram a
ser repensadas, culminando em propostas de alterações de leis que facilitariam
os mecanismos de execução de projetos de inovação tecnológica.
Outro fato que considero
importante é a valorização da indústria nacional. Temos, de comum acordo,
buscado ao máximo fabricar dentro do Brasil os itens que necessitamos em nossos
projetos e aqui me refiro especificamente o segmento espacial e o terrestre que
o CRSEA está envolvido. Em paralelo, temos feito parcerias no exterior com o intuito
de nossos alunos se envolverem com outras tecnologias e metodologias na
expectativa de que em um futuro próximo eles empreendam em nosso parque
industrial com a construção de fábricas que atendam as nossas demandas.
BRAZILIAN SPACE: Finalizando Prof.
Cedric, o senhor teria algo a mais a dizer para os nossos leitores?
PROF. CEDRIC
SALOTTO: Em
primeiro lugar agradeço a oportunidade de poder apresentar nosso trabalho aqui
no Blog BRAZILIAN
SPACE.
Pelo
fato dos nossos assuntos em aeroespacial serem quase infindáveis, seja pela
maravilha do Universo, seja por causa das tecnologias envolvidas, seja pela
empolgante arte de sonhar e buscar executar, em fim, gostaria de deixar aqui o
meu e-mail para que todos possam ficar a vontade para me escrever. Fiquem a vontade
para anotar: cedric.salotto@iff.edu.br
Olá Paulo!
ResponderExcluirVerdade amigo, mas a existência da ACS em si já é uma vergonha, e a iniciativa que gerou esta empesa é só o resultado de toda esta situação, fruto de uma acordo irresponsável de compensação política do PT para com o PSB que jogou por terra os nossos sonhos de fazermos parte do Clube Espacial. As pessoas envolvidas com esse desatino num país sério estariam presas e virando meninas e meninos em algum buraco do sistema carcerário, mas enfim... Brasil SIL SIL SIL.
Abs
Duda Falcão
(Blog Brazilian Space)