Brasil e Argentina Iniciam Construção de Observatório de Radioastronomia
Olá leitor!
Segue abaixo uma matéria postada hoje (22/07) no site da
“Agência FAPESP”, destacando que o Brasil e a Argentina iniciaram a construção
do observatório de radioastronomia “Long Latin American Millimetric Array (LLAMA)”.
Duda Falcão
Especiais
Brasil e Argentina Iniciam Construção
de Observatório de Radioastronomia
Por Elton
Alisson
22/07/2014
(Foto: divulgação)
Radiotelescópio
será instalado
nos Andes argentinos a quase 5 mil metros de altitude. Projeto é financiado pela FAPESP e pelo
Ministério de Ciência e Tecnologia
da Argentina. |
Agência
FAPESP – Na
Astronomia, diferentemente do futebol, não há sinal de rivalidade entre o
Brasil e a Argentina. Os dois países estão reunindo esforços para instalar nos
próximos anos um radiotelescópio com antena paraboloide de 12 metros de
diâmetro nos Andes argentinos, próximo da fronteira com o Chile e a 4.825
metros de altitude.
Previsto
para começar a entrar em operação em 2017, o equipamento de observação
astronômica faz parte do projeto LLAMA – sigla em inglês de Long Latin
American Millimetric Array e um trocadilho com o nome na língua indígena
quíchua do mamífero ruminante encontrado na América do Sul.
O projeto
tem apoio da FAPESP, do Ministerio de Ciencia, Tecnología e Innovación
Productiva da Argentina e da Universidade de São Paulo (USP), por meio de um convênio entre as
instituições que estabelece as condições para a sua execução.
O projeto é coordenado pelo professor Jacques Raymond Daniel
Lépine, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da
USP e conta com a participação de pesquisadores do Instituto Argentino de
Radioastronomía (IAR).
“A FAPESP
destinará aproximadamente [o equivalente em reais a] US$ 9,2 milhões
para a construção do radiotelescópio e, em contrapartida, o ministério
argentino aportará volume semelhante de recursos para a construção do
observatório e para a realização de obras de infraestrutura, como adequação do
terreno onde o radiotelescópio será instalado”, disse Lépine à Agência
FAPESP.
O
radiotelescópio será instalado em uma montanha nos Altos de Chorrilos, na
província argentina de Salta (a 1.600 quilômetros a noroeste de Buenos Aires).
Irá operar em comprimentos de ondas milimétricas e submilimétricas, entre a
radiação infravermelha e as ondas de rádio do espectro eletromagnético, em
frequências entre 100 e 900 Ghz (gigahertz).
O
equipamento permitirá a realização de estudos em praticamente todas as áreas da
Astronomia, incluindo a evolução do Universo, buracos negros, a formação de
galáxias e estrelas e o meio interestelar.
“Há muitos
objetos e regiões astronômicas que podem ser observados nas frequências entre
100 e 1 mil Ghz que não são possíveis de serem vistos nas faixas abaixo de 100
Ghz. No entanto, há diversos radiotelescópios no mundo operando com frequências
de rádio abaixo de 100 Ghz, mas poucos nas faixas entre 100 e 1 mil Ghz”, disse
Lépine.
Entre esses
objetos e regiões astronômicas que poderão ser observados pelo LLAMA estão
nuvens frias de gás e poeira onde se formam novas estrelas e galáxias, como a
Via Láctea.
Com
temperaturas de apenas alguns graus acima do zero absoluto, essas nuvens frias
no meio interestelar formam “cortinas blackout” que tornam escuras e
opacas as regiões do Universo onde são formadas as estrelas e galáxias à
radiação no espectro visível, captada pelos telescópios ópticos.
Por meio da
radiação milimétrica e submilimétrica captada pelo radiotelescópio do LLAMA será
possível atravessar essas nuvens frias de gás e poeira, enxergar o que está por
trás delas e observar objetos de brilho cada vez mais baixo, além de explorar
detalhes das fontes de radiação, contou Lépine.
“As ondas de
rádio nas frequências de radiação milimétrica e submilimétrica são absorvidas
pelo vapor d’água da atmosfera. Por isso, os radiotelescópios precisam ser
instalados em locais com alta altitude e baixa umidade”, explicou.
Próximo do
ALMA
O LLAMA será
um dos observatórios astronômicos mais altos do mundo, ao lado do ALMA (sigla
em inglês de Atacama Large Milimeter/Submilimeter Array), localizado no
planalto de Chajnantor a 5 mil metros de altitude, no deserto do Atacama, no
Chile, e do Atacama Pathfinder Experiment Telescope (APEX) – o mais alto
observatório da Terra, situado a 5.100 metros de altitude, também no planalto
de Chajnantor, e precursor do ALMA.
O
radiotelescópio do LLAMA estará localizado a 150 quilômetros de distância em
linha reta do Alma e também será construído por uma das empresas que forneceu
metade das 66 de antenas de rádio de alta precisão – também com 12 metros de
diâmetro e operadas nos comprimentos de onda do milímetro e do submilímetro –
do observatório chileno, considerado um dos maiores projetos em radioastronomia
em andamento no mundo.
As
similaridades da antena do LLAMA com as do observatório chileno – financiado
por países membros do Observatório Europeu do Sul (ESO), além dos Estados
Unidos, Canadá, Japão e Taiwan – e a proximidade dos dois observatórios
possibilitarão que operem em conjunto no modo interferométrico, apontou Lépine.
“As antenas
do ALMA funcionam como um interferômetro, com todas elas interligadas, operando
de forma conjunta. Os sinais captados pelas 66 antenas são reunidos, combinados
e dão origem a imagens em alta resolução das regiões observadas, similares às
que poderiam ser obtidas com um telescópio com 16 quilômetros de diâmetro”,
disse.
Segundo o
professor do IAG-USP, o posicionamento da antena do LLAMA a 150 quilômetros de
distância das do ALMA permitirá que ela opere como mais uma antena do
observatório chileno.
Como estará
localizado a uma distância maior em relação às 66 antenas do ALMA, o
radiotelescópio do LLAMA poderá produzir imagens do Universo com uma resolução
angular de imagem muito maior, estimou Lépine. “Quanto maior o espaçamento
entre as antenas, maior é a definição de imagem”, disse.
Inicialmente,
contudo, as observações astronômicas do LLAMA serão realizadas no modo “antena
única”. Isso porque a ideia é começar a fazer observações astronômicas mais
simples, com uma antena única, mas que podem ser auxiliares às realizadas no
modo interferométrico.
“Há muita
ciência astronômica que pode ser feita com uma única antena. Ela pode ser
utilizada para realizar mapeamentos de regiões do Universo a fim de identificar
potenciais alvos a serem observados posteriormente por meio do ALMA”, apontou
Lépine.
O LLAMA
também poderá contribuir para credenciar os astrônomos brasileiros e argentinos
a utilizar o ALMA e a competir pelo tempo de observação nos radiotelescópios do
observatório chileno em melhores condições.
Como a
competição internacional por tempo de observação nos radiotelescópios do ALMA é
muito alta, os astrônomos postulantes a utilizar o observatório chileno para
suas pesquisas precisam ter uma certa experiência em radioastronomia de altas
frequências e conhecimento da região do Universo que pretendem observar.
O LLAMA possibilitará
que astrônomos do Brasil e da Argentina ganhem maior experiência com
radioastronomia de altas frequências e apresentem propostas de observações mais
fundamentadas ao ALMA, indicou Lépine.
“Além disso,
também poderão observar previamente com o radiotelescópio do LLAMA regiões do
Universo que pretendem explorar com os radiotelescópios do ALMA e embasar
melhor suas propostas de observação”, apontou.
A primeira
chamada de projetos lançada pelo observatório chileno, inaugurado em março de
2013, depois de 15 anos de planejamento e construção, e ao custo de US$ 1,4
bilhão, recebeu mais de mil propostas.
Um dos
projetos de pesquisa contemplados foi da professora Zulema Abraham, do IAG-USP,
uma dos pesquisadores principais do Projeto Temático apoiado pela FAPESP para a
construção do LLAMA.
“Há
interesse dos astrônomos do ALMA em colaborar com o LLAMA, levando-se em conta
que, se as antenas dos dois observatórios operarem pelo modo interferométrico,
a resolução será muito maior”, estimou Lépine.
Rede Latina
de Radiotelescópios
De acordo
com Lépine, a intenção é que o LLAMA seja a semente para a formação de uma rede
latino-americana de radiotelescópios, situados em diferentes lugares e países
da região, operando no modo de Interferometria de Longa Linha de Base (VLBI, na
sigla em inglês).
O hemisfério
Norte tem uma série de redes de radiotelescópios, estabelecidos por países como
os Estados Unidos – onde há o Very Large Array (VLA), com 27 antenas de 25
metros de diâmetro interligadas e dispostas em uma extensão máxima de 21
quilômetros – e pela Europa – que opera o European VLBI Network (EVN), com
antenas espalhadas pelo continente europeu e na África do Sul. Já o hemisfério
Sul ainda não conta com uma rede de radiotelescópios.
Por meio do
ALMA e de projetos como o LLAMA, além de outras iniciativas recentes de
construção de radiotelescópios na América Latina – como de um equipamento com
30 metros de diâmetro e frequência de 43 Ghz que será instalado na Argentina
pela China e de radiotelescópios como o de Itapetinga, em São Paulo, e de outro
existente no Peru –, será possível começar a estabelecer uma rede de
radiotelescópios para explorar regiões do Universo que são melhor observadas no
hemisfério Sul. Entre elas, o centro da Galáxia, que está situado abaixo da
Linha do Equador, apontou Lépine.
“Há um
grande potencial para estabelecer uma rede de radiotelescópios operando por
interferometria na América Latina e há grupos de pesquisadores em
radioastronomia que pretendem instalar no futuro novas antenas na região, com
distâncias da ordem de centenas de quilômetros, para constituir uma rede”,
disse Lépine.
“O LLAMA
pode servir como uma ponte para a integração científica e tecnológica em radioastronomia
na América Latina”, avaliou o pesquisador.
Fonte: Site da Agência FAPESP
Comentário: Vale lembrar que para que o Radiotelescópio
do Itapetinga (Atibaia-SP), gerenciado pelo INPE, possa colaborar efetivamente e com
eficiência nessa desejada Rede Latina de Radiotelescópios será necessário se
investir neste equipamento, já que até onde eu sei ele está completamente obsoleto (veja aqui nesta reportagem de 2012). Vale lembrar também que o Brasil desde 1993 possui um outro radiotelescópio em operação que é Rádio-Observatório Espacial
do Nordeste - ROEN (veja aqui), este localizado próximo da cidade de Fortaleza-CE, e que também é gerenciado pelo INPE e pela Universidade Presbiteriana Mackenzie-SP.
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