Vivemos no País do Plunct-Plact-Zum
Olá leitor!
Segue abaixo um interessante artigo escrito pelo
jornalista Salvador Nogueira e postado hoje (27/07) no seu blog “Mensageiro
Sideral” do site do Jornal Folha de São Paulo, destacando que vivemos no pais
do Plunct-Plact-Zum.
Duda Falcão
Vivemos No País do Plunct-Plact-Zum
POR SALVADOR NOGUEIRA
23/07/14 - 06:07
Em 28 de dezembro de 2010, o
então ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Sergio Rezende, assinou, em nome
do governo brasileiro, o acordo para que o país fizesse parte do ESO
(Observatório Europeu do Sul), a maior organização de pesquisa astronômica do
mundo.
De imediato, os europeus
concederam os privilégios de membro ao Brasil, e cientistas brasileiros puderam
requisitar tempo nos telescópios já construídos nas mesmas condições dos
astrônomos dos outros países-membros.
Para que o Brasil pudesse
cumprir sua parte no acerto, contudo, era preciso que o Congresso Nacional
aprovasse o acordo assinado pelo Executivo. Passou 2011. 2012. 2013. Estamos às
vésperas da eleição em 2014. E o documento ainda não recebeu o selo do
Legislativo para poder entrar em vigor.
Os europeus contavam com esses
recursos para dar continuidade a seu plano de construir um telescópio de
próxima geração, o E-ELT, de 38 metros de diâmetro. O plano está se atrasando
por conta da clássica inércia do Brasil, o país do Plunct-Plact-Zum: aquele que
nunca vai a lugar nenhum.
Durante esse período, Dilma
Rousseff teve três ministros da Ciência, Tecnologia e Inovação: Aloizio
Mercadante (só esquentando a cadeira até ser alçado à mais prestigiosa pasta da
Educação), Marco Antônio Raupp e Clelio Campolina Diniz. Nenhum deles fez força
para buscar apoio no Congresso para o acordo. Os europeus esperam pacientemente,
mas cada vez menos pacientemente. Já discutem internamente excluir o Brasil,
que recebeu tudo a que tinha direito até agora, mas propiciou um calote
camuflado, escondido sob a clássica (e conveniente) morosidade do Congresso
(“sabe como é, teve o carnaval, depois veio a Copa e agora já estamos em ritmo
de eleição, etc.”).
A verdade é que não há
interesse político em empurrar o acordo. Por quê? Porque isso não gera votos. É
preciso espírito de estadista para levar adiante projetos cujo objetivo
imediato não é cativar corações e mentes dos eleitores, mas meramente alavancar
o potencial de uma comunidade de cientistas particularmente pequena.
Muito se discutiu sobre as
vantagens de o Brasil fazer parte do ESO. Há quem diga que o custo é alto demais
para o tamanho da nossa comunidade astronômica e que, da forma como está posto,
o país pagará sem garantia de acesso aos telescópios (os projetos de observação
são julgados pelo mérito por uma comissão). Seria essa a razão dos atrasos?
Falta convicção por parte do governo de uma decisão tomada na gestão anterior?
A essas perguntas se sobrepõe
outra: quanto vale uma assinatura do governo brasileiro num acordo
internacional? Por ora, ele está assinado. Se a atual gestão julga que ele não
tem mérito, que comunique ao ESO sua desistência, e vida que segue. Empurrar
com a barriga e ver no que dá, apesar de ser o clássico modus operandi da
política brasileira, só coloca o nome do país na berlinda em termos
internacionais. Parceiro absolutamente não confiável.
OUTROS CASOS DE
PLUNCT-PLACT-ZUM
Não é novidade. Em 1998, o
Brasil assinou um acordo para fazer parte da Estação Espacial Internacional.
Produziria peças para o complexo orbital em troca da certificação para se
tornar fornecedor em projetos espaciais da NASA, ter tempo de uso na estação e
o treinamento de um astronauta brasileiro. Documento assinado entre dois
presidentes, Fernando Henrique Cardoso e Bill Clinton.
Mas quem se importa com isso?
Em 2001, o Brasil sinalizou à NASA que o custo das peças era superior ao que se
podia gastar. Até aí, tudo bem, a postura foi de transparência, buscando
renegociar os termos do acordo original. A partir de 2003, contudo, mudou o
governo. Saiu FHC, entrou Lula. Aí, tudo que existia antes automaticamente não
prestava — a hilária “herança maldita”. Em vez de comunicar à NASA a
desistência da participação, o governo foi empurrando com a barriga. Os
americanos cumpriram sua parte e treinaram o astronauta brasileiro, mesmo sem
ver a cor das peças. E ficaram sem ver mesmo. Em 2006, não dava mais para a NASA
esperar. O Brasil acabou expulso da estação espacial.
Quer outro caso? Em 2003, um
acidente terrível mata 21 técnicos e engenheiros em Alcântara, durante a
terceira tentativa de lançar o VLS-1 — o Veículo Lançador de Satélites, foguete
capaz de nos dar autonomia de acesso ao espaço. Duas tentativas anteriores de
lançá-lo haviam sido feitas, em 1997 e 1999. Em seguida à tragédia, o
presidente Lula prometeu que uma nova tentativa seria feita até o fim de seu
mandado — 2006, portanto. Passou 2006 e nada. Mas Lula foi reeleito,
ganhando nova chance de cumprir o prometido. Então veio 2007, 2008, 2009, 2010,
2011, 2012, 2013, 2014… e você acredita que esse foguete sai em 2015?
Quer mais um? No mesmo ano do
acidente do VLS, 2003, o governo brasileiro assinou um acordo com a Ucrânia
para lançar de Alcântara os foguetes Cyclone-4. Previsão de primeiro
lançamento: 2006. Atualmente, está marcado para o segundo semestre de 2015.
Será que sai?
Note que não estou debatendo a
questão do mérito de todos esses planos e acordos. O cerne, para mim, é: o
governo brasileiro tem o péssimo hábito de assinar papéis com parceiros
internacionais e não honrar o combinado.
ENTRE MORTOS E FERIDOS
O problema desses atrasos e
tropeços é que perdemos janelas de oportunidade. No caso da ISS, a desistência
não comunicada do governo resultou na nossa vergonhosa expulsão, e tudo que se
pôde salvar foi o voo do astronauta, contratado à parte dos russos. Mas a
possibilidade de se tornar fornecedor internacional da indústria aeroespacial,
assim como a perspectiva de manter um programa forte de microgravidade e voos
tripulados, virou pó.
No caso dos lançadores, o
Brasil perde mercado e acaba com projetos obsoletos diante de tantos atrasos.
(O VLS-1, por exemplo, foi projetado na década de 1970.)
No impasse do ESO, o Brasil
poderia ficar órfão da próxima geração de telescópios, tirando a
competitividade da comunidade astronômica nacional. Há três projetos independentes
que trabalham hoje para desenvolver telescópios gigantes. Um deles é o do ESO,
o ELT (Extremely Large Telescope). Mas há outros dois consórcios
internacionais, o do GMT (Giant Magellan Telescope) e o do TMT (Thirty-Meter
Telescope).
Diante da letargia federal na
adesão ao ESO, o governo paulista, em questão de um ano, articulou sua entrada
no GMT — telescópio rival do ELT que deve começar a operar, com infraestrutura
parcial, em 2021. A participação paulista, bancada pela FAPESP, será de US$ 40
milhões. A ideia da agência de fomento é dividir esse custo mais adiante com o
governo federal, em troca de acesso ao telescópio para pesquisadores de fora de
São Paulo. É um acordo mais modesto que o do ESO, que envolve US$ 371 milhões
em onze anos e permitiu acesso imediato às instalações já existentes, além do
futuro uso do ELT, que deve ficar pronto só em 2024.
Com a iniciativa paulista, pelo
menos sem acesso à próxima geração de telescópios os astrônomos brasileiros não
ficarão. Mas é assumidamente uma conquista muito mais modesta do que as
ambições que poderíamos ter com o ESO. Até quando ainda teremos de viver no
país do Plunct-Plact-Zum?
Fonte: Blog “Mensageiro Sideral“ – http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br
Comentário: Muito interessante esse artigo do jornalista
Salvador Nogueira, especialmente quando o mesmo diz: “A
verdade é que não há interesse político em empurrar o acordo. Por quê? Porque
isso não gera votos.”. Esta me parece ser uma clara evidência de que a mídia
chamada séria desse país começa a acordar de que não vivemos num país sério, e
isso é muito bom, muito bom mesmo leitor e eu parabenizo ao jornalista Salvador
Nogueira pela iniciativa. É isso mesmo, vivemos num país de fantasias
estimuladas por uma classe política formada pela escoria da sociedade, gente
que não vale nada e que tem origem nas diversas classes sociais da sociedade
brasileira, especialmente e infelizmente da classe dominante que em tese deveria
ser a condutora do desenvolvimento do país, mas que na verdade têm outros
interesses o que torna o comportamento dessa classe política conveniente para
eles, quando não, conivente com esses seus próprios interesses. Estamos
na mão de bandidos travestidos de autoridades, tomando decisões inconsequentes,
populistas, estúpidas e motivadas pela impunidade. Em resumo, o Brasil é uma
piada como nação e continuará na mão dessa gente até que seu povo amadureça
definitivamente como cidadãos e lute pelos interesses dessa terra de ninguém
onde impera a impunidade. Aproveitamos para agradecer ao leitor José Ildefonso
por nos ter enviado esse interessante artigo.
ja lhe disse...empurrar o projeto de lancador...porque e missil enrustido!
ResponderExcluirExiste acordo que na america latina ninguem tera!
E ponto final!
Agora...coisas tipo acordo.com a china para satelites...essas coisas eles investem!
O cyclone 4....pode sair porque nao existe transferencia de tecnologua!
O Duda pegou até leve...
ResponderExcluirDo jeito que estamos indo, o Brasil caminha célere para se tornar um "arremedo de nação".
Já não se pode confiar em absolutamente nada que parte desse "governo". Pessoas que a ele se associam, estão passando atestado de adesão a essa pouca vergonha.
Exemplo recente está nas manifestações do porta voz de Israel, que primeiro afirmou de forma muito correta que o Brasil é um "anão diplomático", e em seguida, com a idiotice desse "desgoverno" de afirmar que a ação de Israel na faixa de Gaza estava sendo "desproporcional", ele tentou explicar num nível que os nossos "diplomatas" entendam, afirmando que "desproporcional é 7 a 1", e que num estado de guerra, a contabilização é outra.
O Brasil, diplomaticamente falando, é isso: financia a ditadura cubana, faz acordo espacial com a Ucrânia, se reúne com Putin e diz que ele é "companheiro", diz que o governo americano é satanás mas o Obama é gente boa, assina esse acordo com a Europa (assim como vários outros) sem a menor intenção de cumprir, diz que é "amigo" de Israel e reconhece o "estado" Palestino, acha que tá tudo certo no Irã, e por aí vai.
Se isso não é ser um "anão diplomático", o que seria?
Ainda bem que eu já não vou aos estádios de futebol a um bom tempo. Eu teria MUITA vergonha de nos dias de hoje cantar: "eu sou brasileiro com muito orgulho com muito amor"...
Tá muito difícil.