Blog Entrevista Coordenador do Projeto CONASAT do CRN/INPE
Olá leitor!
Logo do projeto |
Voltamos hoje a dar sequencia a série “Personalidades do Programa Espacial Brasileiro (PEB)” trazendo
para você uma entrevista com o Eng. Manoel J. M. Carvalho, pesquisador-chefe do “Centro Regional do Nordeste (CRN)” do
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e o responsável pelo importantíssimo
Projeto CONASAT
(Constelação de Nanossatélites Ambientais).
Nesta entrevista o Eng. Manoel Carvalho
nos fala
sobre esse importante projeto brasileiro e seus objetivos a médio e longo prazo,
demonstrando com isso (em nossa visão) a extrema necessidade de continuarmos
investindo em nossos projetos de veículos lançadores de satélites.
Satélites
são feitos para operarem no espaço por diversas razões e precisam de veículos
lançadores para que possam atingir o local no espaço onde operarão. Esta é a
razão da existência desses veículos e projetos como o CONASAT, NanosatC-BR, Ubatubasat, 14-BISat, entre outros, justificam
não só a concretização de projetos como o do VLM-1 e VLS-1, como
também estimulam a criação de novos projetos de nanossatélites através do país, descentralização
esta manifestada pelo próprio Eng. Manoel
Carvalho durante a entrevista abaixo.
O Blog BRAZILIAN SPACE aproveita para agradecer
a cordialidade e a atenção dispensada (desde o nosso primeiro contato) pelo Eng. Manoel Carvalho e pelo Centro Regional do Nordeste (CRN) ao
nosso blog. Muito obrigado a vocês e sucesso sempre.
Duda Falcão
Eng. Manoel J. M. Carvalho (Pesquisador-Chefe do CRN) |
BRAZILIAN SPACE: Eng. Manoel, para aqueles
leitores que não o conhecem e ao seu trabalho, nos fale sobre o senhor, sua
idade, formação, onde nasceu e desde quando está atuando como pesquisador chefe
no Centro Regional do Nordeste (CRN) do Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (INPE)?
ENG.
MANOEL J. M.
CARVALHO: Sou Potiguar, 52 anos, nasci e me
criei na zona rural de Santana do Matos, na região semiárida do RN. Sou engenheiro eletricista com ênfase em
eletrônica pela UFRN (1985) onde também fiz mestrado. Tenho um Mestrado
profissionalizante em Techniques Aéronautiques et Spatiale na École Nationale
Supérieure de l’Aéronautique et de l’Espace, ENSAE, em Toulouse na França.
Sou Servidor Público, Tecnologista Sênior do INPE
onde ingressei como engenheiro de desenvolvimento no ano de 1985. Desde 2003
estou exercendo a Chefia do Centro Regional do Nordeste-CRN que tem
unidades em Natal e Eusébio/CE.
BRAZILIAN SPACE: Eng. Manoel ,como chefe do
CRN/INPE o senhor é o responsável pelo Projeto CONASAT (Constelação de Nanossatélites
Ambientais), projeto este que consideramos muito importante para o setor
espacial do País. Como surgiu à ideia de desenvolver essa constelação de nanossatélites
e ela teve algo haver com o antigo “Projeto ECO-8 System” do INPE da década de
90?
ENG. MANOEL
CARVALHO: O projeto nominado CONASAT nasceu
como “Estudo de uma Missão Espacial para Coleta de Dados Ambientais baseada em
Nano Satélites”, projeto que foi aprovado no Edital MCT/CNPq/AEB 033/2010.
Este projeto
teve sua motivação maior no fato do CRN ser responsável pela operação do
Sistema Brasileiro de Coleta de Dados Ambientais – SBCDA.
Este sistema
de monitoramento ambiental foi concebido nos anos 80 com o objetivo de oferecer
um serviço nacional de coleta de dados autônomo e hoje é usado por mais de 100
instituições nacionais com aplicações diversas, notadamente no monitoramento de
bacias hidrológicas, na previsão meteorológica e climática, no estudo de
correntes oceânicas, no estudo da química da atmosfera, no controle da
poluição, na previsão e mitigação de catástrofes, na avaliação do potencial de
energias renováveis como, a eólica e a solar. Vale registrar que, também, são
fornecidos dados para pesquisas científicas realizadas em diversas instituições.
O uso de
satélites para coletar dados ambientais no Brasil é uma necessidade que vem
sendo suprida pelo Sistema Brasileiro de Coleta de Dados Ambientais (SBCDA)
desde 1993, quando entrou em órbita o satélite SCD-1. Este sistema foi ampliado
em 1997 com o SCD-2. Embora os dois satélites continuem operacionais, ambos já
expiraram o prazo de vida útil. Portanto, para garantir a continuidade do SBCDA
e atender novas demandas de monitoramento ambiental, fornecer novos serviços e melhorar
o desempenho do sistema, é imperativo contar com novos satélites em órbita.
BRAZILIAN SPACE: Eng.
Manoel, quais são os objetivos para o desenvolvimento dessa constelação de
nanossatélites?
ENG. MANOEL CARVALHO: O projeto CONASAT objetiva oferecer
uma opção tecnologicamente atualizada, incorporando avanços recentes da
microeletrônica e telecomunicações, e a custos reduzidos, baseada no conceito “acesso
rápido e barato ao espaço”, tendo como referência o padrão CubeSat, para
garantir a continuidade do SBCDA, através de uma constelação de nano satélites,
que possibilite melhorias na qualidade do serviço, no que diz respeito à
capacidade, abrangência geográfica e tempos de revisita.
Podemos
sintetizar os principais objetivos do projeto CONASAT na lista abaixo:
* Garantir a
continuidade do SBCDA por meio de uma constelação de nano satélites.
* Possibilitar
a ampliação da capacidade e melhorias do serviço de coleta de dados do SBCDA.
* Formar
especialistas no setor espacial brasileiro no segmento de desenvolvimento de
nano satélites.
* Desenvolver
uma missão espacial de baixo custo.
* Contribuir
para a indução do desenvolvimento tecnológico local.
* Gerar uma
demanda com escala para a indústria nacional.
BRAZILIAN SPACE: Eng. Manoel, quantos pesquisadores
estão envolvidos com esse projeto?
ENG. MANOEL
CARVALHO: Temos duas respostas para essa
pergunta. Se
considerarmos somente os pesquisadores que estão dedicados ao projeto a
resposta seria: Temos uma equipe flutuante de 3 a 5 bolsistas sob minha
orientação. Por outro lado, se considerarmos os
colaboradores, teremos mais de uma dúzia de pesquisadores envolvidos com o
projeto.
Destaco aqui
o apoio e o envolvimento de diversos pesquisadores do INPE. É preciso dizer que o fator Recursos Humanos é o maior
risco do projeto. Não temos, ainda, uma equipe como canonicamente deveria
ser. RH, seguido do financiamento, são os
dois fatores de maior risco do projeto.
BRAZILIAN SPACE: Eng.
Manoel, além do CRN/INPE existe atualmente participação de alguma outra
instituição no desenvolvimento desse projeto?
ENG:
MANOEL CARVALHO: Ao longo do projeto temos contado com alguns colaboradores de
outras instituições, como por exemplo alguns professores da UFRN que indicam e
orientam alunos da própria UFRN bolsistas do projeto. Podemos contabilizar ao longo do projeto uma
gama de instituições envolvidas com o CONASAT, direta ou indiretamente, a exemplo das seguintes instituições: AEB;
INPE; UFRN; CLBI; UFC; IFRN; ITA; USP-LSITEC.
BRAZILIAN SPACE: Eng. Manoel, quais são as
dimensões de cada um desses nanossatélites, suas cargas úteis e quantos serão
construídos para esta constelação?
ENG:
MANOEL CARVALHO: Ao longo
do desenvolvimento do projeto CONASAT algumas concepções foram pensadas para a
plataforma a ser adotada para o segmento espacial. Sempre tendo como referencia
o padrão CubeSat. A proposta que temos hoje é uma abordagem incremental.
Nesse sentido, deveremos ter uma
plataforma mínima 2U (20cm x 10 cm x 10 cm) para ser usada como prova de
conceito. E a plataforma final, que seria operacional com redundância plena e
outros melhoramentos para atender novas demandas de coleta de dados, deverá ser
uma plataforma 8U (um cubo de 20cm de aresta).
BRAZILIAN SPACE: Eng.
Manoel já existe uma previsão para o lançamento do primeiro nanosatélite desta
constelação?
ENG:
MANOEL CARVALHO: No nosso
cronograma o satélite estará disponível para lançamento no segundo semestre de
2016. Entretanto, não temos ainda, recursos alocados para isso.
BRAZILIAN SPACE: Eng. Manoel, quando o primeiro nanosatélite dessa constelação
estiver em órbita a “Comunidade Brasileira de Radiomadores” também terá acesso
a ele como já acontece com o cubesat NanosatC-Br1?
ENG:
MANOEL CARVALHO: Pela experiência do NanosatC-Br1,
a participação da Comunidade Brasileira de Radiomadores é bem vinda e desejada.
BRAZILIAN SPACE: Eng.
Manoel, com o desenvolvimento dessa tecnologia de nanossatélites nos centros
regionais do INPE, existe a pretensão do CRN de explorar esse conhecimento no
desenvolvimento de projetos ainda mais significativos, como por exemplo, uma
missão em Órbita Lunar ou até mesmo uma missão de espaço profundo, aí quem sabe
com a participação da UFRN?
ENG:
MANOEL CARVALHO: Não, missões desse tipo ( órbita lunar e espaço profundo) não estão
na nossa agenda. No CRN, o quadro de pessoal é insuficiente para atender satisfatoriamente
as nossas demandas. No meu entendimento, o Sistema Brasileiro de Coleta de
Dados Ambiental (SBCDA) tem um potencial a ser explorado e nossos esforços
deverão ser carreados nessa direção. Na nossa abordagem, o segmento espacial
para atender o SBCDA exigirá um contínuo aprimoramento dos satélites CONASAT,
por exemplo, incluir arranjo de antenas em versões futuras, formatar um arranjo
de satélites, prover comunicação entre satélites, .... Ou seja, se o projeto
CONASAT tiver continuidade, teremos
muito trabalho pela frente. O SBCDA deve ser o nosso foco.
BRAZILIAN SPACE: Eng.
Manoel, como o senhor avaliaria o estágio de desenvolvimento atual do Programa
Espacial Brasileiro?
ENG:
MANOEL CARVALHO: A minha avaliação pessoal é que precisamos melhorar.
Diferente de muitos, avalio que os recursos públicos disponíveis não são
negligenciáveis, entretanto, a burocracia é uma barreira que impede iniciativas
mais arrojadas no âmbito das instituições públicas que fazem o Programa Espacial
Brasileiro - PEB. De outra parte, temos uma indústria que não têm uma tradição
em inovar. Também vejo como problema a ser superado a exagerada concentração
das atividades de P&D do PEB em São José dos Campos/SP. Algumas ações como o Edital MCT/CNPq/AEB 033/2010,
que financiou o projeto CONASAT, ajudam, mesmo que infimamente, a combater essa
concentração danosa ao desenvolvimento do PEB.
BRAZILIAN SPACE: Finalizando
Eng. Manoel, o senhor teria algo a mais a dizer para os nossos leitores?
ENG:
MANOEL CARVALHO: Finalizo
agradecendo este espaço que o Blog abriu para apresentarmos um pouco do nosso
trabalho. Também gostaria de dizer aos leitores do BRAZILIAN SPACE que estamos a disposição para apresentar e
discutir o Projeto CONASAT, bem como, o Sistema Brasileira de Coleta de Dados
Ambientais (SBCDA) e suas potencialidades para o PEB. Para isso, deixo aqui o
nosso e-mail de contato: conasat@crn.inpe.br.
CONASAT, um rápido resumo:
ResponderExcluir"aprovado no Edital MCT/CNPq/AEB 033/2010."
Dar continuidade ao "Sistema Brasileiro de Coleta de Dados Ambientais – SBCDA, por meio de uma constelação de nano satélites."
"desde 1993, quando entrou em órbita o satélite SCD-1."
"foi ampliado em 1997 com o SCD-2."
"ambos já expiraram o prazo de vida útil."
"Temos uma equipe flutuante de 3 a 5 bolsistas sob minha orientação."
"se considerarmos os colaboradores, teremos mais de uma dúzia de pesquisadores."
Cada nano satélite: "deverá ser uma plataforma 8U (um cubo de 20cm de aresta)."
"No nosso cronograma (de 2014) o satélite estará disponível para lançamento no segundo semestre de 2016. Entretanto, não temos ainda, recursos alocados para isso."
"existe a pretensão do CRN de explorar esse conhecimento no desenvolvimento de projetos ainda mais significativos, como por exemplo, uma missão em Órbita Lunar ou até mesmo uma missão de espaço profundo? - Não."
E aqui acredito a maior contribuição do Eng, Manoel Carvalho durante a entrevista, com o que não concordo em parte e acredito que merece outras opiniões de quem está "dentro do PEB":
Sobre o PEB: "A minha avaliação pessoal é que precisamos melhorar. Diferente de muitos, avalio que os recursos públicos disponíveis não são negligenciáveis, entretanto, a burocracia é uma barreira que impede iniciativas mais arrojadas no âmbito das instituições públicas que fazem o Programa Espacial Brasileiro - PEB. De outra parte, temos uma indústria que não têm uma tradição em inovar. Também vejo como problema a ser superado a exagerada concentração das atividades de P&D do PEB em São José dos Campos/SP. Algumas ações como o Edital MCT/CNPq/AEB 033/2010, que financiou o projeto CONASAT, ajudam, mesmo que infimamente, a combater essa concentração danosa ao desenvolvimento do PEB."
Avaliando tudo isso, vamos torcer para que o Eng. Manoel Carvalho consiga ver esse projeto sair do papel antes de se aposentar...