Estudo Liderado Por Pesquisador da UNESP Explica Caráter Atípico de Família de Asteroides do Sistema Solar
Olá leitor!
Segue abaixo uma matéria postada hoje (30/07) no site da
“Agência FAPESP”, destacando que estudo liderado por pesquisador da UNESP explica caráter atípico de Família de Asteroides do Sistema Solar.
Duda Falcão
Especiais
Estudo Explica Caráter Atípico de
Família de Asteroides do Sistema Solar
Por José Tadeu
Arantes
30/07/2014
(Ilustração: NASA)
Trabalho liderado por pesquisadores
da UNESP de
Guaratinguetá foi
comunicado em conferência na
Finlândia e será publicado
em artigo na revista
The Astrophysical Journal.
|
Agência
FAPESP – O caráter
atípico da família de asteroides de Eufrosina – uma das várias situadas entre
os planetas Marte e Júpiter, que durante anos intrigou os astrônomos – acaba de
ser explicado pela equipe liderada por Valerio Carruba, professor da
Universidade Estadual Paulista (UNESP), campus de Guaratinguetá. A explicação,
apresentada na conferência Asteroids, Comets, Meteors 2014, em Helsinque, na
Finlândia, é tema de um artigo que será publicado em breve pela revista The
Astrophysical Journal (ApJ).
O trabalho
faz parte da pesquisa “Famílias de asteroides em ressonâncias seculares”, apoiada
pela FAPESP.
A
peculiaridade dessa família, composta por mais de 2,5 mil objetos, vem do fato
de que – exceto pelo asteroide principal, Eufrosina, que dá nome ao grupo – ela
tem poucos asteroides grandes ou médios, com diâmetros entre 8 e 12 quilômetros.
O Eufrosina concentra 99% da massa da família. Os demais objetos são muito
pequenos.
“Isso faz
com que a linha que descreve a distribuição em tamanho dos objetos seja
extremamente inclinada”, disse Carruba à Agência FAPESP. “A inclinação
dessa curva é indicada por um parâmetro denominado alfa. Um valor de alfa da
ordem de 3,8 caracteriza as famílias de asteroides do mesmo tipo. O valor de
alfa para Eufrosina, porém, é bem maior: da ordem de 4,4”.
Mais de meio
milhão de asteroides fazem parte do chamado “cinturão principal”, situado entre
as órbitas de Marte e Júpiter. Em razão das descobertas, esse número aumenta
constantemente.
Alguns
asteroides são agrupados em famílias, cada uma das quais supostamente originada
a partir de um corpo progenitor, fragmentado após colisões com outros corpos. A
antiga ideia de um corpo único originando todo o cinturão principal está hoje
descartada, até porque a composição química das diversas famílias é bastante
diferente.
“Reconhecemos,
atualmente, dois tipos de formação de famílias. Um, quando o objeto progenitor
é totalmente quebrado. Outro, quando ele é apenas ‘craterizado’ [isto é,
quando crateras são formadas em sua superfície]. A família de Eufrosina
faria parte desse segundo grupo. É muito provável que todos os objetos pequenos
que a compõem tenham se originado do material arrancado de uma cratera
existente na superfície do asteroide principal”, afirmou Carruba.
Mesmo assim,
o fato de a família apresentar bem poucos corpos grandes ou médios era
considerado estranho. “Isso porque, usualmente, as famílias tendem a perder,
com muito mais facilidade, os objetos pequenos, desgarrados do grupo durante
sua evolução dinâmica”, explicou o pesquisador. “Então, uma família com tantos
objetos pequenos, poucos corpos de tamanho médio, e um único objeto grande
constituía, realmente, uma situação bastante original.”
Uma
explicação para isso foi proposta por outros grupos de astrônomos tempos atrás.
“Imaginou-se que o material formador da família havia sido arrancado de
Eufrosina por um impacto tangencial. Em função disso, os objetos maiores teriam
se formado muito perto dela, caindo depois de volta no corpo principal”, disse
Carruba.
O problema
com tal explicação é que esse tipo de impacto, se existiu, constituiria um
evento extremamente raro. Diante disso, Carruba e colegas decidiram buscar uma
explicação alternativa. “O que nos chamou de imediato a atenção foi o fato de
Eufrosina ser a única família de asteroides cruzada no meio pela ressonância
nu6”, comentou o pesquisador.
Uma ressonância
de movimento médio ocorre quando dois corpos que orbitam um terceiro têm seus
períodos orbitais relacionando-se na razão de dois números inteiros pequenos.
“Exemplo
clássico de ressonância é a que existe nas lacunas de Kirkwood, no cinturão de
asteroides. Quando o período de revolução do asteroide [o tempo que leva
para dar uma volta completa ao redor do Sol] é igual a duas vezes o período
de revolução de Júpiter, as perturbações deste planeta sobre o asteroide se
repetem periodicamente, e podem causar aumentos na excentricidade da órbita do
asteroide, levando a instabilidades”, informou Carruba.
Simulação Computacional
O fato de a
família de Eufrosina ser atravessada pela ressonância nu6 influencia fortemente
o movimento de seus objetos.
O pericentro
da órbita de um planeta, cometa ou asteroide é o ponto no qual a trajetória do
corpo mais se aproxima do Sol. O pericentro, porém, não é fixo. Ele muda de
posição periodicamente em razão da perturbação gravitacional causada pelos
demais planetas. Esse movimento periódico é chamado de precessão do pericentro.
“A
ressonância nu6 acontece quando a frequência da precessão dos pericentros dos
asteroides é igual ou bem próxima à frequência da precessão do pericentro do
planeta Saturno”, disse Carruba.
Segundo o
pesquisador, a ressonância nu6 é uma das ressonâncias mais poderosas do Sistema
Solar. “Muitos objetos que interagem com essa ressonância são rapidamente
perdidos, porque ela aumenta a excentricidade de suas órbitas, fazendo com que
se choquem com os planetas ou com o Sol”, afirmou.
Como a
ressonância nu6 atravessa a família de Eufrosina praticamente no meio, a região
central é a que sofre maior influência. E essa região é justamente aquela onde
se encontram os objetos maiores.
“Fizemos uma
simulação computacional da evolução dinâmica da família de Eufrosina. Partimos
de uma família fictícia, com o alfa característico para um grupo do mesmo tipo.
E calculamos a variação desse parâmetro em uma escala de um bilhão de anos”,
relatou o pesquisador.
“Verificamos
que o valor de alfa, que informa a distribuição em tamanho dos objetos da
família, aumenta com o passar do tempo. Em um intervalo de 500 milhões de anos,
ele alcançou o valor atual medido na família da Eufrosina”, disse.
Isso
significa que não é necessário supor um impacto tangencial, extremamente raro,
para explicar a distribuição atípica dos tamanhos dos objetos de Eufrosina.
“Ela pode ter-se formado naturalmente, em função da dinâmica local, adquirindo
a configuração observada”, completou Carruba.
Fonte: Site da Agência FAPESP
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