Uma Investigação do 'Telescópio Espacial James Webb' Contou Com a Colaboração de Pesquisadores Brasileiros
Olá
leitores e leitoras do BS!
Segue abaixo
uma matéria da semana passada, é verdade, publicada que foi no dia (13/11) e
atualizada ontem (17/11) no site do ‘Jornal da USP’, destacando que uma investigação do Telescópio Espacial James Webb sobre a Morte de Estrela contou com a importante
colaboração de pesquisadores brasileiros.
Para entender melhor essa história, leia a matéria abaixo.
Brazilian
Space
INÍCIO - CIÊNCIAS
Investigação com o Telescópio James Webb Sobre Morte de
Estrela Contou Com a Colaboração de Brasileiros
Pesquisadores do Brasil participaram de grupo
internacional responsável pela análise das primeiras imagens captadas pelo novo
telescópio espacial, identificando estrelas escondidas
Por Ivan Conterno
Arte: Rebeca Fonseca
Publicado: 13/01/2023
Atualizado: 17/01/2023 as 16:10
Fonte: Jornal da USP - Website - https://jornal.usp.br
Imagem: NASA, ESA, CSA e STScI.
Uma das primeiras imagens divulgadas pelo novo telescópio espacial mostra uma das estrelas da nuvem NGC 3132 morrendo, expelindo gás. |
Há alguns milhares de anos, uma estrela
que estava morrendo deu origem à Nebulosa do Anel do Sul (NGC 3132), na
Constelação de Vela. Enquanto agonizava, ela soprou suas camadas exteriores
para o espaço. Isso gerou uma nuvem, que agora é iluminada pelas luzes do que
restou da própria estrela.
O mistério por trás da “cena do crime”
pôde ser melhor investigado através de algumas das primeiras imagens obtidas
pelo Telescópio Espacial James Webb (JWST), lançado em dezembro de 2021. As
lentes do satélite tiveram como alvo a NGC 3132, cujas imagens foram analisadas
recentemente por 69 pesquisadores ao redor do mundo. As fotos do espaço,
reveladas em julho de 2022, permitem inferir o que deu origem à forma da
nebulosa planetária, nome que se dá a esse tipo de estrutura.
A colaboração internacional revelou a
existência de estrelas até então não conhecidas, culminou no artigo que foi capa na revista Nature
Astronomy em dezembro de 2022 e recebeu destaque em
boletins da NASA (Agência Espacial Norte-Americana) e do Instituto de Ciência do Telescópio
Espacial, instituição que gerencia o uso do telescópio. A análise
contou com a participação significativa de cinco pesquisadores brasileiros,
sendo uma professora do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências
Atmosféricas (IAG) da USP e os demais ex-pesquisadores do instituto.
Imagem: NASA, ESA, CSA e STScI.
Imagem: Roger Sinnott e Rick Fienberg/IAU e Sky &
Telescope.
Elementar, Meu Caro James Webb
As imagens do novo telescópio foram
essenciais para identificar os elementos químicos e deduzir a existência de
estrelas ainda não visualizadas. “O trabalho se baseou em dez imagens que o
JWST obteve em diversos comprimentos de ondas bem diferentes e que evidenciam
emissões de diferentes espécies atômicas e moleculares do gás que compõem a
nebulosa”, explica Isabel. O estudo revela que, além das duas estrelas já
conhecidas, a nebulosa pode ser composta de até mais três outros astros não
visíveis.
O JWST captura a luz infravermelha, que
atravessa nuvens de gás e de poeira. Desse modo, ele é complementar ao
telescópio Hubble, sendo uma espécie de sucessor do telescópio Spitzer, lançado
em 2003 e aposentado em 2020, porém com precisão superior. Além disso, o
Telescópio James Webb fornece um detalhamento muito maior sobre a distribuição
de energia nos diferentes comprimentos de onda, decompondo a luz como um
arco-íris.
Diversas teorias e técnicas foram usadas
na análise das imagens, um benefício da diversidade de pesquisadores envolvidos
na colaboração. Para a análise dos dados e modelagem, foram desenvolvidos
códigos computacionais específicos para o estudo. “Em geral, nós astrônomos
temos que desenvolver os softwares que usamos para explicar a ciência por trás
do que observamos”, complementa Isabel. “Neste trabalho, tem desde software que
faz modelagem teórica até tratamento dos dados que vêm do telescópio, porque as
imagens precisam ser manipuladas para extrair resultados”, esclarece Hektor.
Claudia Mendes de Oliveira, professora do
IAG, forneceu os dados que obteve em 2016 com o então aluno de doutorado Bruno
Quint e com o professor Philippe Amram, do Observatório de Marselha, no
Southern Astrophysical Research Telescope (Soar). Para colher essas
informações, os cientistas usaram um novo módulo chamado SAM-FP (Soar Adaptive
Module Fabry-Perot), construído com financiamento da Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Esse instrumento fornece uma maior
nitidez através da correção óptica adaptativa. Os dados e as imagens obtidas
possibilitaram o estudo, entre outras coisas, dos movimentos e da abundância
química de nebulosas planetárias como NGC 3132.
Isabel contribuiu com a interpretação das
imagens que mostram a emissão de gás de hidrogênio molecular, assim como de
modelos computacionais que ajudaram a entender quais átomos e moléculas eram
responsáveis pela emissão vista em cada imagem. Hektor desenvolveu um modelo
tridimensional para explicar a emissão observada e determinar a composição
química e a verdadeira distribuição de matéria da nebulosa. “Para este modelo
foram essenciais os dados na faixa espectral visível obtidos com o Soar”,
destaca a professora Claudia. O trabalho também teve contribuição da professora
Denise Gonçalves, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Foto: Reprodução/LinkedIn
Foto: IAG/USP
Foto: Reprodução/Facebook
Grandes Detalhes
Apenas duas estrelas que compõem o sistema estelar no
centro da nebulosa são visíveis nas imagens do JWST. A novidade, a existência
de mais estrelas, foi revelada pela análise e pelos modelos feitos no estudo.
Para reconstruir os eventos que levaram à morte da estrela e que deram origem à
estrutura, os astrônomos investigaram os vestígios deixados na “cena do crime”.
A equipe reconstituiu os fatos do passado com base no comportamento já
conhecido de outros grupos de estrelas e no formato das nuvens de gás e de
poeira do sistema.
Antes de morrer, a estrela principal “dançou” com as
estrelas companheiras mais próximas. Teria sido nesse momento que esses astros
lançaram pares de jatos opostos, cujos rastros podem ser observados nas bordas
da nebulosa ionizada. As estrelas não visíveis podem estar escondidas atrás do
brilho da estrela central ou podem ter se fundido a ela.
Isabel é didática: “O gás da nebulosa não é esfericamente
simétrico, não é distribuído uniformemente. Se fosse só uma estrela,
imaginaria-se que tudo fosse ejetado com simetria esférica. O sistema tem um
anel brilhante que é irregular. A região do gás central mais ionizado tem bicos
simetricamente opostos, como se fossem produzidos por jatos. Na parte externa,
há estruturas em forma de arcos e espinhos”.
Imagens: NASA, ESA, CSA e E. Wheatley (STScl).
Simulação de campo mais amplo com as estrelas 1,2 e 5. A estrela 5 orbita a estrela 1 muito mais firmemente do que a estrela 2. |
Ampliação da cena e aparição de duas outras estrelas (3 e 4), na qual a estrela 3 emite jatos. |
A estrela 1 se expande à medida que envelhece, enquanto as estrelas 3 e 4 enviaram uma série de jatos. |
Detalhe da luz e dos ventos estelares esculpindo uma cavidade semelhante a uma bolha. A estrela 1 é cercada por um disco empoeirado. |
A estrela 5 está interage com o gás e a poeira ejetados, gerando o sistema de grande anéis vistos na nebulosa externa. |
A cena como a observamos hoje. |
A proximidade real das duas estrelas observáveis foi
determinada pelo telescópio espacial Gaia, da Agência Espacial Europeia (ESA),
lançado em 2013. As massas determinadas para essas estrelas já indicavam que a
estabilidade do sistema dependia da existência de outras estrelas não
identificadas.
As pistas coletadas pelo JWST foram a presença de um disco
empoeirado em torno da estrela central que gerou a nuvem de gás ionizado. Isso
que indica uma interação com alguma estrela próxima ainda não observada. Com a
reconstrução tridimensional da nuvem de gás, foi possível identificar múltiplos
jatos de gases ionizados. Além disso, a forma como os jatos se apresentam só
pode ser explicada se houver uma quarta estrela, também próxima à estrela
central. Inclusive a possibilidade de uma quinta estrela foi apontada, através
da separação entre os finos arcos de matéria externas ao anel principal, que na
verdade são espirais.
Operação Internacional
O projeto para investigar as imagens trazidas pelo James
Webb começou na Comissão de Nebulosas Planetárias da União Astronômica
Internacional (IAU) quando as primeiras imagens do telescópio foram divulgadas.
Ao todo, 69 cientistas do mundo todo se juntaram ao trabalho. A NGC 3132 foi um
dos cinco primeiros objetos cujas imagens foram reveladas oficialmente pelo
JWST em julho de 2022.
Ao invés de competirem por uma interpretação das imagens
apresentadas, astrônomos do mundo todo ingressaram no projeto para analisar os
dados de maneira colaborativa, como conta Isabel: “Todos estavam tão empolgados
que o trabalho entrava no final de semana e noite adentro. As discussões foram
extremamente ricas, com pesquisadores contribuindo com suas diferentes
especialidades”.
De acordo com ela, os avanços na astronomia ajudam a
entender o nosso lugar no Universo e saber como ele funciona: “Entendemos
melhor a física atômica ao estudar esse tipo de sistema com condições físicas
tão diferentes, por exemplo. As densidades nas nebulosas planetárias podem ser
muito menores do que podemos reproduzir em laboratórios na Terra”.
Hektor conta que trabalha em um novo artigo, a ser
publicado ainda em 2023, trazendo mais detalhes sobre a estrutura 3D e as
propriedades físicas e químicas do sistema. Ele pretende apresentar dados
atualizados desse estudo no Simpósio de Nebulosas Planetárias da IAU em
setembro. As constatações partirão do modelo feito com os dados do Soar. Isabel
trabalha continuamente com o JWST, participando de grupos que estudam nebulosas
através de observações desse telescópio.
Mais informações: e-mail bebel.aleman@gmail.com, com
Isabel Aleman, e-mail hektor.monteiro@gmail.com, com Hektor Monteiro, e e-mail
claudia.oliveira@iag.usp.br, com Claudia de Oliveira
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