Artigo: A Missão Secreta a Rússia Não Tão Secreta

Olá leitores e leitoras do BS! 
 
Bom dia! Vim para passar alguns dias de descanso (até quarta-feira) na casa de praia da família no litoral norte de Salvador, porém apesar disto, como se nota, continuo postando matérias no BS, pois o mesmo não pode ficar parado, né verdade?
 
Pois então entusiastas do BS, acordei agora a pouco com o céu azul nos braços aconchegantes de minha namorada, e logo lembrei de escrever esse artigo sobre um fato histórico e muito relevante ocorrido em uma época onde o nosso ‘Patinho Feio’ era conduzido com seriedade e com um firme propósito de dotar o país de um Veículo Lançador de Satélites, uma época em que o atualmente sucateado ‘Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE)’ era gerenciado competentemente pelo Cel. Av. Tiago da Silva Ribeiro (gestão de 29 de Janeiro de 1993 até 26 de Janeiro de 1996), o militar responsável pela ordem dada naquela epoca a dois servidores civis deste instituto para cumprir (até aquela data), a missão secreta mais importante do Programa Espacial Brasileiro, ou seja, trazer da Rússia as quatro plataformas inerciais do saudoso Veículo Lançador de Satélites (VLS), lembram dele? 
 
Pois então, essa missão super importante para o nosso ‘Patinho Feio’ (estava mais nessa época para um jovem ‘Cisne Branco’ começando a se sujar de lama) que deveria ser secreta, mas que ao final não foi tão secreta assim (os leitores poderão notar o porquê disso pelo histórico relato abaixo), foi de suma importância para permitir os três protótipos produzidos deste veículo e colocados na plataforma durante as atividades das ‘Operações Brasil’, ‘Almenara’ e da desastrosa ‘São Luís’, que resultou no acidente que vitimou os 21 de Alcântara. 
 
Pois então amigos, para contar desde o inicio como foi essa fantástica Missão a Rússia, ninguém melhor do que um desses dois servidores do IAE que participaram desta missão, neste caso o conhecidíssimo Dr. Waldemar Castro Leite Filho, atualmente aposentado do instituto, e CEO da startup espacial e de defesa ‘Castro Leite Consultoria (CLC)’ da área de Sistemas Inerciais, empresa esta membra fundadora da Aliança das Startups Espaciais Brasileiras. Dr. Waldemar nas ultimas semanas postou em seu curiosíssimo blog ‘Memórias de Um Pesquisador’ este relato histórico publicado em quatro partes, que trazemos abaixo na integra para vocês, ao mesmo tempo em que convidamos os nossos entusiastas de colocarem nas suas agendas a visita periódica a este blog fantástico, onde este grande pesquisador brasileiro faz relatos didáticos das suas experiências no PEB, através de histórias deliciosas e que ajudam ao leitor a compreender melhor o porquê de um jovem e promissor ‘Cisne Branco’ veio a se tornar no ‘Patinho Feio’ e sem rumo da atualidade. 
 
Brazilian Space 
 
A.R. Missão Secreta - a Ida 
 
Por: Dr. Waldemar Castro Leite Filho 
Fonte: Blog Memórias de Um Pesquisador - https://memo-pesquisador.blogspot.com 
 
A chegada da plataforma inercial para o VLS, que havia sido comprada da Almaz, foi cercada de sigilo e grandes emoções.  Para contar essa façanha vou dividir em 4 partes pois é muito extensa e cheia de nuances.
 
Na manhã de uma sexta-feira de junho de 1995, recebi um telefonema do diretor do IAE, o então Coronel Ribeiro, me avisando que acabara de chegar uma portaria secreta do Comando da Aeronáutica determinando meu embarque imediato para Moscou para buscar as primeiras plataformas inerciais que haviam ficado prontas.
 
Ficou decidido então que eu e o engenheiro Domingos embarcaríamos naquela mesma noite para Moscou e que eu deveria trazer os equipamentos como bagagem embarcada.  Isso gerava alguns problemas.  O primeiro deles é que, naquela época, o passaporte de serviço precisava ser renovado com um carimbo de autorização para cada nova viagem e não havia tempo para esse procedimento.  Decidiu-se então que iríamos com nossos passaportes pessoais.
 
O segundo problema é que, para aquele tipo de viagem internacional, cada quilo de bagagem extra (além dos 30Kg que cada passagem dava direito) custava 40 dólares.  Nós estávamos imaginando que o equipamento completo pesaria em torno de 200 Kg.  Recebi então 10mil dólares em espécie para pagar o custo extra do embarque.
 
Nós deveríamos embarcar naquela sexta-feira mesmo e retornar ao Brasil na sexta-feira seguinte.  Fomos para casa logo após o almoço para fazermos apressadamente as malas e estávamos no aeroporto de Guarulhos às 20:00 para o check-in.  Lembro-me de que tive o cuidado de deixar 5000 dólares (dos 10mil) com Domingos para não ter que declarar a saída do país com mais de 10mil dólares.
 
Ao fazer o check-in, a atendente me perguntou onde estava o visto de entrada na Rússia.  Achei estranho aquele pedido, pois já havia estado na Rússia diversas vezes e nunca precisara de um visto.  Ela, então, me explicou que havia um acordo diplomático entre o Brasil e a Rússia para que passaportes de serviço não precisassem de visto.  Entretanto, embora em missão oficial, estávamos com passaportes pessoais.  Não poderíamos embarcar.  Liguei para o diretor e contei o que estava acontecendo.  Ele falou que deveríamos regressar para casa, pois ele iria tomar as providências para agilizar a autorização do passaporte de serviço.
 
Assim, na segunda-feira de madrugada (não havia sequer iniciado o expediente da semana para solicitar uma viatura) peguei meu carro e fui para o Rio de Janeiro junto com o Domingos.  Chegamos por volta das 11:00 na Praça Mauá em um setor da Marinha que emitia passaportes.  Não iríamos emitir passaporte.  Já os tínhamos em mãos.  Precisávamos que nossos passaportes fossem renovados com um carimbo de autorização de saída do país.  Nos dirigimos ao guichê e fomos atendidos por um militar da Marinha que imediatamente nos disse que não poderíamos ser atendidos pois estavam preparando centenas de passaportes para a viagem de formatura dos guardas-marinha.
 
Novamente fui eu ligar para o diretor e contar mais esse óbice.  Ribeiro então me disse:  “Waldemar não saia daí! Vou ligar para Brasília e eles vão receber um telefonema.”  A má vontade daquele pessoal era escancarada.  Então, me encostei na parede e, enquanto esperava o tal telefonema, contei para o Domingos uma piada sobre um leão que se escondeu em um prédio de uma repartição pública e começou a comer um funcionário por semana e ninguém percebia a falta dos mesmos.  Até que ele comeu a pessoa que preparava o cafezinho e sentiram sua falta.  Assim ele foi descoberto.  Domingos se controlou para não rir alto, pois ficou constrangido pelo local onde estava sendo contada a piada.  Se houvesse um desses leões escondido ali, ficaria bem gordo.
 
Quase uma hora depois da nossa chegada, escutei o telefone tocar lá dentro do guichê.  Daí a pouco o tal militar pôs a cara bem feia fora do guichê e bradou:  “quem é Waldemar aí ?”
 
Saímos de lá, com os passaportes renovados, por volta das 13:30 e pegamos a estrada de volta sem almoçar.  Chegamos em São José por volta de 18:00 e às 21:00 estávamos em Guarulhos embarcando para uma viagem de 17 horas.  Chegamos em Moscou num total bagaço e isso era só o começo. 
 
A.R. Missão Secreta - a Estada 
 
Chegamos em Moscou na terça-feira à noite e, dessa vez, fomos para um hotel.  Foi muito providencial por vários motivos mas, naquele momento, estávamos destruídos e só queríamos descansar.  No dia seguinte, pela manhã, fomos direto para a Almaz ver a “encomenda” que deveríamos transportar para o Brasil.
 
Levei um susto enorme ao ver o que deveríamos transportar!!  Os equipamentos estavam embalados em enormes caixas de madeira entremeados de placas de papelão que juntos pesavam quase quinhentos quilos.  Na mesma hora me veio à mente “não tenho como pagar o embarque desse trambolho”.  Mostrei logo minha insatisfação, ao criticar aquelas embalagens.  Porque proteger os equipamentos com papelão e madeira ?  Não conheciam plástico e isopor ?  A desculpa é que eram embalagens próprias para equipamento militar.  Fiquei pensando se havia algum motivo secreto, pois eu continuava achando um tremendo trambolho.
 
Voltamos para o hotel após o almoço, eu com a cabeça a mil.  Como iria proceder o embarque de quase 500 Kg de bagagem ?  O valor que eu trazia comigo pagaria pouco mais de 200 Kg.  Foi quando tive uma sacada.  Nosso bilhete nos dava o direito de embargar gratuitamente para o Brasil 30 Kg cada um.  Mas uma passagem de primeira classe dava direito a 80Kg.  Se mudássemos nossa passagem para primeira classe, já teríamos 160Kg gratuitos e eu ainda deveria dar um jeito de pagar o excesso.
 
Felizmente, era possível fazer ligação internacional do hotel (não havia celular na época) e eu liguei para o Coronel Ribeiro e expliquei a situação e minha sugestão do IAE mudar a passagem para primeira classe.  Foi aceito imediatamente.  Tínhamos um problema a menos.  Agora talvez tivesse chance de conseguir pagar o excesso de bagagem.
 
Não deu nem tempo de relaxar, o telefone do quarto tocou.  Eu nunca havia recebido um telefonema naquelas bandas.  Quem seria ?  A voz falou em português se identificando como o vice-consul brasileiro (que eu conhecia).  Disse que havia sido procurado por um repórter brasileiro, que estava em Moscou e que sabia da nossa chegada e queria conversar conosco !!!  Como assim ?  A missão não era secreta ?  Como um repórter brasileiro sabia da minha presença lá ?  A essas alturas não adiantava dizer que eu não era eu e não estava onde estava.  Falei que falaria com ele por telefone.  Não iria me encontrar com ele.
 
Passou uma meia hora e o hoje conhecido Willian Waack ligou para nosso quarto.  Perguntou se éramos os engenheiros do IAE e eu confirmei e disse que estávamos ali para cumprimento de um contrato.  Não dei nenhum detalhe sobre o que estávamos fazendo nem mesmo o nome da empresa.  A conversa foi estranhamente curta e eu só entendi o porquê 3 dias depois quando chegamos no Brasil.
 
A partir desse momento começou a bater um certo desespero.  Não havia mas nada de secreto ali.  Se até repórter brasileiro sabia de alguma coisa quem mais sabia ? E qual seria a reação ?  Estaríamos em perigo ?  Liguei para o escritório VARIG em Frankfurt e pedi para falar com o responsável maior.  Contei tudo a ele o que estava acontecendo e pedi ajuda para que ele nos fizesse chegar em segurança ao Brasil, juntamente com a carga.  Esse homem, um verdadeiro brasileiro, se mostrou totalmente solidário e garantiu: “se vocês conseguirem chegar aqui em Frankfurt em coloco vocês no Brasil”.  É importante lembrar que o voo de Moscou-Frankfurt era feito pela Lufhansa e a “bagagem” teria que trocar de aeronave.
 
Após idas e vindas na Lufthansa de Moscou e ligações para a VARIG de Frankfurt, finalmente, na sexta-feira, fomos para o aeroporto com a tão preciosa carga (tenho fotos desse momento memorável).  A primeira batalha era trazer a carga para check-in.  O pessoal que transportava bagagem se recusou a fazê-lo, pois o peso excedia as normas.  Antes que eu pudesse me preocupar com a situação, o engenheiro da Almaz que nos acompanhava disse que cuidaria disso e deve ter molhado as mãos dos transportadores para que o peso passasse a fazer parte da regra.
 
Após o controle de passaporte, que era feito antes do check-in, ficamos por nossa conta.  Estava na hora de iniciar o retorno. 
 
A.R. Missão Secreta - a Volta 
 
Depois de passar por 2 barreiras de controle dentro do aeroporto de Moscou (eram 5 ao todo), agora era a vez do check-in.  A questão ali era quanto eu teria que pagar pelo excesso de bagagem.  Que mágica eu iria fazer para que os 10mil USD fossem suficientes para pagar o excesso de bagagem embarcada ? Tínhamos também algum dinheiro pessoal.
 
Eu havia ficado sabendo uma informação importantíssima.  O custo da bagagem extra de 40USD / Kg valia de Frankfurt para São Paulo.  No trajeto Moscou / Frankfurt era 20USD / Kg.  Ou seja, o custo total do excesso de bagagem deveria ter um valor proporcional à distância percorrida para cada tarifa.  Isso faria uma boa diferença para menos.
 
Fui atendido no guichê por uma russa que falava um inglês razoável mas, pelo jeito, não sabia fazer conta.  Descontado o peso que a primeira classe dava direito ainda sobrava quase 400 Kg.  Se fosse pagar a tarifa cheia de 40USD / Kg nós não teríamos como pagar.  Na ponderação, entretanto, pelas minhas contas daria em torno de 12mil USD.  Ainda assim, não teríamos esse valor e eu estava imaginando como solicitar algum desconto.
 
Depois de algum tempo em que a atendente não conseguia fazer as contas necessárias, formou-se uma fila atrás de mim.  Ela, então, começou a ficar nervosa e levantou a voz comigo.  Tive que confrontá-la dizendo que ela estava sendo grosseira.  O clima foi ficando cada vez mais tenso e eu pensando: “a situação já é delicada e só me faltava essa - uma atendente que não sabe uma simples soma ponderada”.
 
Hoje penso ser a ação divina para dar um final feliz à situação.  Logo apareceu o gerente da Lufthansa.  Um alemão grandão chamado Müller.  Tanto eu quanto ela, tentamos explicar a situação, na maior tensão.  Ele ouviu com um semblante sério e tomou atitude imediata:  “Faça tudo por 20USD /Kg”.  Verdadeiro milagre!!!  Ficou tudo por 8mil dólares.  Deu para pagar tudo e ainda sobrou 2mil dólares.
 
Hoje quando lembro do episódio penso naquela piada em que o chefe diz para a secretária: marque uma reunião para sexta-feira.  A secretária pergunta:  sexta é com x ou com s ?  Marque para quinta, responde o chefe...
 
Na sequencia tirei um bolo de 80 notas de 100 dólares e coloquei em cima do balcão.  A atendente arregalou o olho.  Acho que ela nunca havia visto tanto dinheiro.  Finalmente, pegamos nosso boarding-pass e nos dirigimos para a portão de embarque.  O voo para Frankfurt ocorreu sem problemas.  A primeira etapa da missão estava resolvida, porém estávamos apreensivos.
 
A troca de avião em Frankfurt era motivo de preocupação pois aquele aeroporto, na época, era uma grande base da OTAN.  O que poderia acontecer ao se transportar secretamente uma bagagem não autorizada ?  As plataformas seriam apreendidas ?  Poderíamos ser presos ?  Poderíamos desaparecer ?
 
O avião da Lufthansa pousou em Frankfurt e taxiou até o gate.  Quando chegamos à porta do avião, havia 2 homens de jaleco vermelho bem em frente à porta com um cartaz com nossos nomes escritos nele.  A taquicardia só passou quando eles se identificaram serem funcionários da VARIG.  Eles nos conduziram a uma sala VIP e ficamos lá aguardando o embarque no avião da VARIG.  Estávamos sós naquele lugar que, se não fosse chic, lembraria uma cela.
 
Finalmente, o responsável da VARIG, com quem eu havia conversado por telefone dias antes, apareceu.  Sem muito rodeio, ele deixou claro que só embarcaríamos depois que nossa bagagem estivesse segura à bordo.  Foram minutos intermináveis até o embarque no avião.
 
Já estávamos acomodados dentro do avião, quando recebemos a mensagem: sua bagagem está à bordo.  Restava tentar relaxar nas próximas 11 horas de voo até São Paulo.  Ainda bem que estávamos na primeira classe - foi a única vez que viajei assim em toda a minha vida.
 
Eu não tinha a mínima idéia como passaria na alfândega com uma bagagem secreta que pesava meia tonelada.  Mas isso seria o menor dos problemas.  A plataforma estaria em solo brasileiro.  Isso era o que importava. A missão estava quase no fim. 
 
A.R. Missão Secreta - a Chegada 
 
O avião tocou o solo em Guarulhos por volta das 6:00hs de sábado.  O alívio era grande, mesmo após uma noite mal dormida.  A próxima dificuldade a ser enfrentada seria a alfândega.  Entretanto, não foi necessário.  Ao sair do avião havia um oficial, que trabalhava conosco, nos esperando.  Ele nos disse que estava com uma viatura do CTA que iria transportar as plataformas e seus acessórios para São José dos Campos.
 
De fato, nem vimos o desembarque do material.  Apenas pegamos nossa bagagem pessoal e passamos por todo processo de chegada sem nenhum problema.  Não tenho a mínima idéia do que teria sido combinado, mas a viatura encostou ao lado do avião e pegou a carga.  Além da viatura de transporte, o diretor do IAE mandou seu próprio carro funcional para nos transportar para casa.  Uma honraria a essas alturas.
 
Tudo parecia um final feliz quando pegamos a rodovia Airton Senna (que na época se chamava Trabalhadores) até que próximo à entrada de Mogi das Cruzes, surgiu um nevoeiro intenso (visibilidade próxima de zero).  O carro que ia à frente da viatura, parou repentinamente com medo da situação.  Claro que isso obrigou a viatura a uma freada brusca e inesperada.  Nosso carro (o do diretor) colidiu com a viatura e assim sucessivamente.
 
Havíamos nos envolvido num enorme engavetamento com cerca de 50 viaturas.  Meu companheiro de viagem, o engenheiro Domingos, se feriu levemente batendo o rosto contra o console do carro.  O carro do diretor teve seu capô dobrado.  No momento do acidente, ao sentirmos os impactos sucessivos dos carros, saímos imediatamente do nosso e pulamos a proteção da pista para fora.  Havia o risco de esmagamento ou mesmo incêndio.
 
Passado os primeiros momentos de susto, o próximo pensamento foi: e a plataforma ??!!  Felizmente, nada sofreu.  A própria viatura que a transportava só teve um leve amassão no traseiro.  Alguém ligou para o Coronel Ribeiro, que aguardava ansioso, para informar a “novidade”.  A orientação foi : se o carro estiver em condições de rodar, venham imediatamente.  Assim completamos a viagem até São José, sempre com um pensamento: o que falta mais acontecer ?  Poderíamos ser detidos pela polícia rodoviária, por estar trafegando com um carro visivelmente acidentado.
 
Ao chegarmos no IAE, além da bronca de Ribeiro que teve seu carro arregaçado, ficamos sabendo que, no dia anterior, a revista Veja estava nas bancas com uma reportagem enorme, com chamado na capa, intitulada: MISSÃO EM MOSCOU !  Ou seja, o repórter Willian Waack já havia publicado sobre nossa estada lá antes mesmo de termos chegado ao Brasil.  E olha que só havíamos passado 3 noites em Moscou.
 
A reportagem não travava do que conversamos (que foi quase nada).  Ele já sabia de tudo: a natureza do contrato, a empresa onde íamos e o que iríamos fazer e até o número de viajantes (que eu não havia dito pra ele).  Ou seja, ele entrou em contato comigo apenas para confirmar a minha presença, pois ele já dispunha de todas as informações que deveriam ser secretas.
 
Isso trouxe um tremendo mal estar para mim.  Na semana seguinte tive que preencher um relatório de inteligência para que se averiguasse como aconteceu o vazamento de informações.  Algum tempo depois, ficamos sabendo de que as informações vieram da própria DUMA (o congresso russo).  Isso tirou total responsabilidade dos meus ombros.
 
Entretanto, trouxe outra preocupação.  As pessoas que vazaram a informação não o fizeram para um repórter brasileiro (na época um desconhecido).  Certamente foram pagos por algum serviço de inteligência estrangeiro e a reportagem foi um jeito de dizer: Viu ? sabemos o que vocês estão fazendo !
 
Apesar de todas as dificuldades da missão, desde seu início até o desdobramento do fim, tivemos sucesso em trazer o equipamento para o Brasil.  Ele não apenas eram essencial para o lançamento do VLS mas também trouxe conhecimento e maturidade na área de navegação inercial.
 
O mais incrível de toda essa epopeia é que ela não seria possível hoje.  A mentalidade e legislação mudaram tanto que nada do que foi feito seria permitido hoje.  Até o contrato com a Almaz não teria sido feito, muito menos uma missão como essa.  Em vez de atos de bravura, seriam considerados como uma série de ilegalidades.
 
A quantidade de dificuldades inesperadas e resolvidas me deu muita maturidade e segurança profissional.  Tenho orgulho de ter participado de tal missão e a cumprido. Ainda que, se fosse hoje, eu seria considerado um malfeitor.

Comentários

  1. O Dr. Waldemar é mais um dos heróis do programa espacial brasileiro. E a respeito do Willian Waack, esse senhor sempre me pareceu suspeito de agir contra os interesses nacionais.

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  2. o Willian Waack , é apenas um empregado da Rede Lixo " GLOBO " , que sempre encontra meios nocivos para destruir a sociedade brasileiras , sem falar das 6 novelas da Globo exibidas de segunda à sexta , que mostra tudo de negativo que existe na humanidade , a Globo retirou os programas infantins e também o Tele-Curso 1º e 2º Grau que eram positivos a sociedade , tudo aconteceu depois que o fundador Roberto Marinho , deixou a liderança da emissora.

    a Globo entrou no CLA , área militar e mostrou mulas passeando em áreas militares , tendo acesso livre onde só militares podem entrar, isso é uma prova que o nosso PEB sempre foi e é Sabotado por brasileiros e com a ajuda de governos internacionais , entra governo e sai governo, e essa situação não muda

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