E Se Um Grande Asteroide Atingir a Terra?
Olá leitor!
Segue abaixo um interessante artigo postado ontem (29/06)
no site do “Olhar Digital” tendo como destaque a possibilidade da Terra
ser atingida por um Asteroide.
Duda Falcão
CIÊNCIA E ESPAÇO
E Se Um Grande Asteroide Atingir a Terra?
Com base em diversos estudos sobre a população desses
corpos no sistema solar, estima-se que existam cerca de 1 milhão de asteroides
com potencial para atingir o nosso planeta
Por Liliane Nakagawa
Olhar Digital
Fonte: Por Marcelo Zurita*
29/06/2020 - 09h15
Toda semana surge nova notícia de algum asteroide que
passará próximo à Terra, mas sem apresentar risco ao planeta. Muitas vezes,
esse "próximo" significa vários milhões de quilômetros de distância,
mas nas redes sociais e em algumas mídias sensacionalistas, essas notícias são
recheadas de teorias conspiratórias e sempre preveem um impacto apocalíptico
que nunca ocorre. Contudo, o que aconteceria se um grande asteroide atingisse a
Terra? Quais as chances disso acontecer um dia?
Créditos: The Mirror/Reprodução
Asteroide se chocando com a Terra.
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Primeiramente, lamento informar que isso certamente vai
ocorrer um dia. Com base em diversos estudos sobre a população desses corpos no
sistema solar, estima-se que existam cerca de 1 milhão de asteroides com
potencial para atingir a Terra. Entretanto, com todos os esforços empenhados
pelos astrônomos nas últimas décadas, apenas 1% desses asteroides são
conhecidos. Algo que comprova esse nosso desconhecimento acerca dos asteroides
é o sistema global de sensores de infrassom administrado pelo governo
norte-americano.
Em 32 anos de operação, esses sensores já detectaram mais
de 800 impactos de pequenos asteroides com a atmosfera terrestre. Destes,
apenas quatro foram detectados ainda no espaço, poucas horas antes de atingir a
Terra. Parece preocupante, não é? E é mesmo. Principalmente quando somamos a
isso o fato de nenhum dos impactos mais energéticos detectados por essa rede
terem sido de asteroides previamente detectados.
Créditos: JPL/NASA
Impactos de asteroides detectados pela rede global de
sensores de infrassom.
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Isso mostra o quanto nosso planeta ainda é suscetível a
um impacto de um grande asteroide sem qualquer aviso prévio. Então, nossa
pergunta agora é outra: o que acontecerá quando um grande asteroide atingir a
Terra?
Energia de Um Impacto
A nossa primeira e mais superficial impressão é que,
quanto maior o asteroide, maior será o estrago. De fato, o tamanho do asteroide
é um fator importante para determinar os efeitos de seu impacto com a Terra.
Mas, para ser mais exato, o principal fator é a energia do impacto.
Da mesma forma como determinamos a capacidade de
destruição de uma bomba a partir da energia que ela libera, com um impacto
acontece a mesma coisa. Só que em uma bomba, a energia é liberada a partir de
uma reação química ou atômica, enquanto que em um meteoro, a única energia
presente no sistema é a energia cinética, ou seja, a energia do movimento do
asteroide no momento em que ele atinge o solo do nosso planeta.
Bom, ninguém precisa procurar um livro de física para
lembrar como se calcula a energia cinética (E=mv²/2). O importante aqui é saber
que ela é diretamente proporcional à massa do objeto e ao quadrado da
velocidade. Isso significa que, se dois asteroides atingirem a Terra com a
mesma velocidade, mas um deles com o dobro da massa do outro, este teria também
o dobro da energia cinética. Entretanto, se os dois tiverem a mesma massa, mas
um com o dobro da velocidade, este teria quatro vezes mais energia cinética.
Desta forma, podemos concluir que a energia de um impacto
vai depender basicamente da massa e principalmente da velocidade com que o
asteroide atingir a Terra.
Como exemplo, vamos lembrar do caso ocorrido em 2013, na
Rússia. Na manhã do dia 15 de fevereiro daquele ano, um asteroide com cerca de
20 metros de diâmetro e aproximadamente 10 mil toneladas de massa atingiu a
atmosfera com velocidade estimada de 18,6 quilômetros por segundo. Ele gerou
uma bola de fogo mais brilhante que o Sol, e explodiu a 23,3 quilômetros de
altitude sobre a cidade de Chelyabinsk, liberando uma energia equivalente a
26,7 bombas atômicas, como a que devastou a cidade de Hiroshima (Japão), no
final da Segunda Guerra.
Fonte: Bramon
Meteoro de Chelyabinsk em 2013.
Apesar da enorme capacidade destrutiva, os danos causados
pelo meteoro de Chelyabinsk não foram grandes. Apenas janelas estilhaçadas e
pequenos desabamentos em mais de sete mil imóveis, e quase duas mil pessoas
feridas. Tudo isso em consequência da onda de choque gerada pela explosão.
Parece muito, mas só não foi bem pior porque o asteroide atingiu a atmosfera em
um ângulo muito raso (cerca de 18° em relação à superfície), permitindo que a
atmosfera tivesse mais tempo para reduzir sua velocidade e consumir parte da
sua massa antes que ele explodisse. Logo, o ângulo de entrada é um fator
importante para se determinar o potencial de estrago que um impacto pode ter.
Ângulo de Entrada
Sim, dependendo do ângulo de entrada, mesmo um grande
asteroide pode retornar ao espaço gerando apenas um belo meteoro, sem oferecer
qualquer risco ao planeta. Isso ocorre porque eles viajam em uma velocidade
muito elevada, então, se um deles atingir a atmosfera "de raspão", as
camadas mais elevadas e rarefeitas não vão oferecer resistência suficiente para
freá-lo. Com isso, após percorrer uma enorme distância, acaba escapando e
retornando ao espaço.
Um dos casos mais espetaculares ocorreu em 9 de fevereiro
de 1913, um evento conhecido como "A Grande Procissão de Meteoros de
1913". Foi um fenômeno meteórico único, relatado a partir de locais em
todo o Canadá, nordeste dos Estados Unidos, Ilhas Bermudas, e de muitos navios
em alto mar, incluindo oito navios brasileiros e totalizando registros em uma
faixa de 11 mil quilômetros de extensão.
Cerca de 100 pessoas que testemunharam esse evento,
relatam uma série de 40 a 60 de bolas de fogo cruzando lentamente o céu de
noroeste para sudeste. Não é possível afirmar se eles retornaram para o espaço
ou terminaram caindo em algum local do Oceano Atlântico, mas certamente
tratava-se de um grande asteroide, que atingiu a atmosfera em um ângulo muito
raso e que possivelmente se fragmentou na aproximação da Terra.
No entanto, se o ângulo de entrada for mais elevado,
próximo a 90° em relação ao solo, o asteroide atinge rapidamente as camadas
mais densas da atmosfera, onde o ar impõe uma enorme força de resistência. A
compressão dos gases à frente do objeto gera um calor tão grande que boa parte
do material é vaporizado em poucos segundos e o resultante pode explodir
gerando uma chuva de meteoritos. Ainda assim, uma boa parte disso pode chegar
ao solo em uma velocidade supersônica, gerando uma enorme explosão e criando
uma cratera.
Algo assim ocorreu há cerca de 50 mil anos no Arizona
(EUA). Algumas teorias apontam que os primeiros homens que habitaram as
Américas chegaram no continente mais ou menos nessa época, o que teria sido uma
enorme falta de sorte estar naquela região quando ocorreu o evento: um grande
asteroide, com cerca de 50 metros atingiu a Terra.
Créditos: Cientec
Pintura concebida pelo artista e astrônomo amador Gustav
Hahn descreve como foi observada 'A Grande Procissão de Meteoros', de 1913,
próximo ao High Park em Toronto.
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Em alguns segundos, depois de uma dramática passagem
atmosférica, o objeto chegou ao solo a uma velocidade de cerca de 10
quilômetros por segundo liberando uma energia equivalente a 600 bombas de
Hiroshima. O impacto gerou uma cratera chamada de Barringer, com cerca de 200
metros de profundidade e mais de 1.200 metros de diâmetro que, graças ao clima
desértico da região, permanece preservada até hoje. Restos desse asteroide
ainda estão enterrados sob a cratera e alguns fragmentos recuperados são
chamados de meteoritos Canyon del Diablo.
Créditos: USGS/D. Roddy
Cratera Barringer, Arizona, EUA.
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Um fator determinante para que esse asteroide chegasse
com tanta energia ao solo foi sua composição basicamente de ferro e níquel, o
que garantiu uma enorme densidade e resistência mecânica, fazendo com que
metade de sua massa original chegasse ao solo. A composição do asteroide
é então mais um fator que precisamos considerar.
Composição
Praticamente 95,6% dos meteoritos que chegam à Terra são
rochosos, ou seja, dão origem a asteroides rochosos, que tem uma densidade
média ligeiramente maior que uma rocha terrestre. Foi esse o tipo de asteroide
que atingiu Chelyabinsk em 2013, e por ser menos denso, eles estão mais
propícios a se despedaçarem antes mesmo de atingirem o solo.
Meteoritos metálicos são bem mais raros, cerca de 3,8%.
Entretanto, sua densidade é bem maior e, com isso, resiste mais à passagem
atmosférica, como foi o caso do asteroide que gerou a Cratera de Barringer.
Outros 2,5% dos meteoritos compõem uma classe ainda mais rara - os carbonáceos.
A maioria deles tem baixa densidade e baixa resistência mecânica, e são
facilmente destruídos e consumidos pela atmosfera.
Um caso bastante curioso e que até hoje não foi completamente
explicado ocorreu em 30 de junho 1908, na região siberiana de Tunguska. Um
asteroide medindo algo entre 50 a 100 metros, atingiu a atmosfera e explodiu a
cerca de 10 quilômetros de altitude. O clarão gerado pela explosão foi tão
intenso que as pessoas não conseguiam enxergar, e a radiação térmica aqueceu
instantaneamente tudo que estava num raio de 100 quilômetros do local. Alguns
minutos depois, a onda de choque lançou as pessoas pra trás.
A explosão liberou uma energia equivalente a mil bombas
de Hiroshima e abaixo do local onde explodiu o meteoro. Mais de dois mil
quilômetros quadrados de floresta foram completamente devastadas, derrubadas e
incendiadas. Felizmente, Tunguska era uma das regiões mais remotas do planeta e
não houve vítimas fatais, apenas alguns feridos em aldeias próximas.
Créditos: Wiki Commons
Árvores derrubadas e queimadas pela explosão em Tunguska
- Kulik, 1927.
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Algo intrigante nesse caso, é que mesmo após diversas
expedições ao local, até hoje não foram encontrados meteoritos resultantes
desse impacto. Com isso, não é possível afirmar qual seria a composição do
asteroide e nem o seu tamanho aproximado. Provavelmente, o asteroide possuía
baixa resistência mecânica e foi completamente destruído na explosão.
Entretanto, há também quem acredite que a Terra foi atingida por um cometa
naquele dia. Uma enorme pedra de gelo que foi completamente vaporizada na
atmosfera.
Resumidamente, quanto maior a densidade do asteroide,
maior o estrago causado por ele. Mas, como vimos no caso de Tunguska, o local
onde ele cai também é determinante.
Local da Queda
Felizmente, 71 % da superfície do planeta é coberta por
oceanos, e o restante ainda conta com enormes regiões completamente
desabitadas. Então, as chances que uma queda de um grande asteroide provoque
vítimas fatais ainda é pequena. Por outro lado, imaginar um evento como o de
Tunguska ocorrendo sobre uma grande metrópole é de arrepiar. Milhões de vidas
poderiam ser perdidas instantaneamente.
Fonte: Columbia University
Mapa de densidade demográfica - áreas mais escuras são as
mais povoadas.
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Não podemos esquecer também que, se o asteroide for
suficientemente grande, poderia provocar efeitos devastadores independente de
onde caia. Acredita-se que asteroides com tamanho acima de 140 metros poderiam
afetar países inteiros. Já um pouco maiores, poderiam lançar na atmosfera uma
quantidade tão grande de partículas que poderiam interferir no clima de todo o
planeta, provocando o chamado inverno de impacto.
A parte boa é que, se o asteroide cair no oceano, as
chances de gerar um tsunami é bem menor do que se imaginava. Estudos recentes
indicam que quanto maior a profundidade das águas, mais facilmente o impacto
será absorvido e dissipado pelo oceano. Evidentemente que nas proximidades do
local do impacto vão ocorrer ondas gigantescas. Mas, à medida que se deslocam,
sua energia é dissipada e a onda perde força. Isso significa que as cidades
litorâneas só correm risco se o impacto for próximo à costa - cerca de 50 a 60
quilômetros de distância.
Algo assim aconteceu recentemente, em 18 de dezembro de
2018. Um asteroide com cerca de 10 metros atingiu a Terra sobre o Mar de
Bering, entre a Rússia e o Alasca. Ele explodiu a 25 quilômetros de altitude,
com energia equivalente a 12 bombas de Hiroshima. Foi o segundo maior evento de
impacto detectado pela rede global de sensores de infrassom. Entretanto,
nenhuma das cidades litorâneas mais próximas, a 500 quilômetros de distância,
sentiu qualquer alteração nas ondas. Ou seja, o risco que um impacto no oceano
cause um tsunami é muito pequeno. A não ser que o asteroide seja
verdadeiramente grande, como o que extinguiu os dinossauros e grande parte das
espécies há 65 milhões de anos.
Créditos: LANL
Simulação em 3D do impacto de um asteroide no oceano.
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Dia do Asteroide
Estar ciente que eventos de impacto podem ocorrer a
qualquer momento e conhecendo o tipo de estrago que podem causar, um pequeno
grupo de cientistas e personalidades propuseram a criação de uma mobilização
global para conscientização da população e das autoridades sobre a ameaça de um
fato catastrófico de um asteroide.
A Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu o dia
30 de junho como Dia Internacional do Asteroide ou simplesmente Asteroid Day. A
data foi escolhida em alusão ao evento de Tunguska, o maior evento de impacto
da história recente da humanidade.
Aumentar a nossa capacidade de descobrir e rastrear os
asteroides potencialmente perigosos para a Terra é um dos principais objetivos
do Asteroid Day, que
promove eventos e atividades em todo o mundo, visando aumentar o conhecimento e
interesse da população acerca deste tema.
Ainda não sabemos qual será o próximo asteroide a atingir
a Terra e nem quando isso ocorrerá, mas sabemos que grandes impactos são
comuns, mesmo na história recente do nosso planeta. Então, se quisermos evitar
que isso ocorra, ou ao menos, reduzir os danos que isso possa causar,
precisamos estudar mais esses corpos celestes.
Antes de tudo, precisamos descobrir e monitorar os
asteroides que possam representar algum risco para nós. Além disso, é preciso
discutir estratégias, planejar ações de contenção, unindo esforços no
desenvolvimento de tecnologias que nos permitam mitigar essas ameaças,
garantindo assim o futuro da humanidade nesse planeta.
* Marcelo Zurita é presidente da Associação
Paraibana de Astronomia - APA; membro da SAB - Sociedade Astronômica
Brasileira; diretor técnico da Bramon - Rede Brasileira de Observação de
Meteoros - e coordenador regional (Nordeste) do Asteroid Day Brasil.
Fonte: Site Olhar Digital - https://olhardigital.com.br
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