Astrofísica Brasileira Lidera Primeira Simulação de Um Buraco Negro Com Uso de Inteligência Artificial
Olá leitores e leitoras do BS!
Segue matéria publicada dia (16/03) no site do ‘Jornal da USP’ tento como destaque uma
Astrofísica Brasileira que liderou a
primeira Simulação de um Buraco
Negro com uso de Inteligência Artificial.
Sensacional, mais
uma jovem astrônoma brasileira que se destaca internacionalmente, demonstrando mais
uma vez a qualidade do trabalho astronômico realizado no país por esta pequena, porém extremamente eficiente ‘Comunidade Astronômica Brasileira’, e o
BS parabeniza a jovem Roberta Duarte Pereira pelo seu reconhecimento
internacional. Avante Roberta.
Brazilian Space
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Astrofísica Brasileira Lidera Primeira Simulação de Um
Buraco Negro Com Uso de Inteligência Artificial
Uso pioneiro de
métodos computacionais automatizados para simular buracos negros acelera as
pesquisas sobre o fenômeno e é fundamental devido à alta complexidade dos dados
astronômicos
Por Gabriel Gama
Para o Jornal da
USP
Publicado:
16/03/2022
Arte: Adrielly
Kilryann/Jornal da USP
Pela primeira vez na história, o comportamento de um
buraco negro foi simulado com o uso de Inteligência Artificial (IA) e
aprendizado de máquina. Os cálculos envolvidos no fenômeno astronômico foram
realizados de maneira automatizada e programada, um grande avanço para o estudo
dos buracos negros e que possibilita novas descobertas em diversas áreas da
ciência.
O feito inédito é o resultado da dissertação de mestrado
de, formada em Física pelo Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da USP e
atualmente doutoranda no Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências
Atmosféricas (IAG) da USP, sob orientação de Rodrigo Nemmen. O projeto,
desenvolvido desde 2018, resultou em um artigo sobre o tema, aceito
para publicação na revista científica Monthly Notices of the Royal
Astronomical Society, uma das mais reconhecidas na área da astronomia.
A pesquisadora explica ao Jornal da USP que o
estudo dos buracos negros demanda cálculos extremamente complexos e envolve uma
quantidade gigantesca de dados para serem processados, a exemplo da união de
esforços internacionais que permitiu a realização da primeira imagem de um
buraco negro em 2019.
Além disso, não há capacidade humana de processamento que
consiga resolver equações tão complexas como aquelas dos fenômenos astronômicos
em questão. “Para compreender os buracos negros, é preciso usar simulações
computadorizadas de cálculos numéricos muito avançados, que geralmente envolvem
os parâmetros de densidade, pressão e velocidade para cada ponto de análise”,
explica Roberta Duarte.
Segundo a astrônoma, a cada adição de complexidade nos
dados inseridos nos programas computacionais, como melhor qualidade de imagem e
campo magnético do astro, o tempo necessário para a resolução dos cálculos
aumenta consideravelmente, o que pode atrasar as pesquisas ou até mesmo
inviabilizar o estudo — a chamada barreira computacional ou tecnológica.
“É necessário um novo método para acelerar esse tipo de
simulação, e o aprendizado de máquina, uma das técnicas de Inteligência
Artificial, mostrava bons indícios de uma possível aplicação na área”, diz a
especialista.
De início, ela testou o modelo com uma simulação simples
de um buraco negro e, aos poucos, acrescentou dados mais complexos. O êxito foi
tão grande que levou a pesquisadora a ousar algo ainda mais ambicioso: usar a
Inteligência Artificial para calcular um buraco negro totalmente desconhecido
para a máquina.
E o resultado foi positivo. “É um grande passo para
mostrar que essas técnicas conseguem simular eventos inéditos e otimizar o
estudos desses astros”, comenta. Foi a primeira vez na história em que um
buraco negro foi simulado com o uso de Inteligência Artificial.
A arquitetura digital escolhida para as simulações foi a
chamada U-Net, inicialmente desenvolvida para exames neurológicos de
imagem. Como esclarece a pesquisadora, esse tipo de programação conecta a
entrada e a saída de cada um dos dados inseridos, compatível com a necessidade
de que cada informação sobre o buraco negro interfira nas demais.
Durante a simulação no IAG, o sistema enfrentou alguns
erros na modelagem do astro, pois, como se trata da previsão de eventos, as
falhas se somam umas às outras. Roberta Duarte explica que era esperado que o
erro crescesse linearmente, mas o crescimento real se deu de forma exponencial,
devido à quantidade de dados. “Mas logo o programa aprendeu a lidar com a taxa
do erro e conseguiu controlar as falhas”, comenta a pesquisadora.
Reprodução/MNRAS
Reprodução/MNRAS
Um Avanço Leva a Outro: Aplicações da Descoberta
A prova de que é possível simular objetos tão complexos e
desafiadores como os buracos negros com Inteligência Artificial é importante
por diversos motivos, mas há dois aspectos fundamentais para medir a relevância
da descoberta.
O primeiro deles se refere à astrofísica. Roberta Duarte
explica que a barreira tecnológica para a compreensão dos buracos negros ocorre
no mundo inteiro, não apenas no Brasil. “Ainda há muitas coisas sobre esses
astros que nós desconhecemos, pois não há poder computacional para simular
ambientes mais complexos usando os métodos tradicionais. Então, introduzir uma
nova forma de realizar essas pesquisas é fundamental.”
A especialista também menciona a necessidade de absorver
a enorme quantidade de dados obtidos por novos equipamentos, como o telescópio
James Webb recém-lançado pela Nasa, e destaca que o processamento dessas
informações poderia ser agilizado e otimizado com o uso do aprendizado de
máquina.
E o outro aspecto é o da Inteligência Artificial. A
pesquisadora comenta que, uma vez provada a possibilidade de usar esse tipo de
tecnologia em objetos extremos como os buracos negros, é possível encontrar os
limites da própria IA. “Ao testar a Inteligência Artificial além do que seria
esperado, podemos reconhecer onde ela precisa ser melhorada e como repensar
alguns procedimentos.”
E como essa descoberta da astronomia impacta a vida
cotidiana e a produção científica em outras áreas?
Roberta Duarte explica que a teoria da relatividade
geral, usada na simulação dos buracos negros, está presente em diversas partes
da nossa vida. “O GPS, por exemplo, é influenciado pelo campo gravitacional da
Terra e sofre correções relativísticas, o que permite que ele saiba se você
está em São Paulo ou no meio do Oceano Pacífico.” Ela acrescenta que a melhor
forma de comprovar o funcionamento da relatividade é experimentando-a em uma
situação extrema, como os buracos negros.
“Na área da Inteligência Artificial e do aprendizado de
máquina, vemos que muitas tecnologias são reutilizadas e reaproveitadas para
novas descobertas, como a arquitetura de programação que foi inicialmente
desenhada para analisar cérebros e acabou sendo utilizada por nós em um estudo
de astronomia. Um avanço é útil para outro e isso abre portas para novos usos
dessa tecnologia.”
Além disso, segundo ela, há muita resistência ao uso de
Inteligência Artificial na astrofísica, e a comprovação de sua viabilidade deve
preparar o terreno para futuras descobertas.
“Conseguimos plantar a semente de que IA aplicada tem seu
valor, não basta se resumir na teoria e na formulação de algoritmos para
entender os fenômenos do mundo real.”
Atualmente no doutorado, a pesquisadora está testando o
modelo com dados mais complexos para verificar como o programa se comporta
diante dessa situação. “Fico muito feliz que meu estudo tenha sido o primeiro
com o uso de IA, espero que mais cientistas trabalhem na área da simulação e
reconheçam que é possível unir a Inteligência Artificial e a
astrofísica.”
O artigo Black
Hole Weather Forecasting with Deep Learning: A Pilot Study tem autoria
de Roberta Duarte, Rodrigo Nemmen, João Paulo Navarro.
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