Os Sonhos Não Envelhecem

Olá leitor!

Segue abaixo um interessante artigo escrito pelo Dr. José Bezerra Pessoa Filho postado na Edição 85 (outubro de 2019) do Jornal do SindCT, tendo como tema as atividades educacionais da Olimpíada Brasileira de Astronomia (OBA).

Duda Falcão

EDUCAÇÃO

O NOSSO OBRIGADO PELO FOMENTO A CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO ESPECIALMENTE AOS PROFESSORES

Os Sonhos Não Envelhecem

A Olimpíada Brasileira de Astronomia (OBA), desde 1998, contou com a participação de mais de 10 milhões de estudante

Por José Bezerra Pessoa Filho*
Jornal do SindCT
Dezembro de 2019 - Edição 85


Ao final dos anos 1950 um jovem concluiu o curso ginasial como melhor aluno de sua turma, sendo escolhido o seu orador. Por ser negro, não pôde participar do baile de formatura. Filho de empregada doméstica, morta de tuberculose, aos dois anos e meio de idade ele foi adotado por um casal de brancos recém-casado. Em meio a Encontros e Despedidas, esse jovem logrou realizar a Travessia (Maria Dolores, 2017) e se tornou o centro de gravidade do movimento musical conhecido como Clube da Esquina. Ao longo da carreira ele recebeu dezenas de prêmios e reconhecimento planetário. Aos 77 anos a estrela Milton Nascimento (Bituca) continua a iluminar nossas vidas.

O título deste artigo é emprestado do livro de Márcio Borges Os Sonhos não Envelhecem (1996) no qual ele apresenta a história do Clube da Esquina. Nos anos 1960, um grupo de adolescentes se reunia na calçada situada na esquina das ruas Divinópolis e Paraisópolis, em Beagá. Trata-se de uma simples calçada, que deu nome ao movimento no qual seus integrantes decidiram compartilhar sonhos e manter acesa a chama da amizade, da justiça e do amor. Legaram ao mundo o antológico vinil Clube da Esquina (1972) cuja história é descrita no belo livro de Márcio Borges. No cinzento 2019, a leitura de Os Sonhos não Envelhecem nos ajuda a encarar personagens que parecem escapulidos da película cinematográfica Adeus, Lênin (2003).

A história que aqui será contada nada tem de musical, mas tem a ver com sonhos e paixão pelo compartilhamento do conhecimento em prol das futuras gerações. Tudo teve início em 1998 quando Daniel Lavouras, egresso do ITA, teve a idéia de promover a I Olimpíada Brasileira de Astronomia (OBA). Seu sonho era compartilhar o seu conhecimento em Astronomia com alunos e professores de todo o Brasil. Os números da I OBA não são conhecidos, mas da II OBA (1999) participaram 15.481 alunos, pertencentes a 597 escolas. Para realizar seu sonho, Daniel Lavouras empregou recursos próprios. Mas quanto vale um sonho?

Em 2019 foi realizada a XXII OBA, da qual participaram 884.572 estudantes de 9.963 escolas de todos os estados da federação, incluindo o Distrito Federal. Ao longo dos anos outros profissionais foram se incorporando à OBA, que há mais de uma década, gira em torno do campo gravitacional do Prof. Dr. João Batista Garcia Canalle, pertencente ao Instituto de Física da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Em 2005, a temática Astronáutica (foguetes, satélites e aplicações) foi incorporada à OBA, que passou a ser denominada Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica.

As provas da OBA ocorrem anualmente em escolas públicas e privadas do Brasil, divididas em 4 níveis: 

* Nível 1: 1ª, 2ª e 3ª séries do ensino fundamental; 

* Nível 2: 4ª e 5ª séries do ensino fundamental; 

* Nível 3: 6ª a 9ª série do ensino fundamental; e 

* Nível 4: ensino médio.

A OBA é uma realização da Sociedade Astronômica Brasileira (SAB) e da Agência Espacial Brasileira (AEB) e, desde 1998, contou com a participação de mais de 10 milhões de estudantes.

Para auxiliar alunos e professores, o site da OBA, www.oba.org.br, disponibiliza material didático, incluindo a versão digital dos Volumes 11 (Astronomia) e 12 (Astronáutica) da Coleção Explorando o Ensino, publicada pelo Ministério da Educação em 2009, para os quais contribuíram alguns dos integrantes da Comissão Organizadora da OBA. Cada prova contém 7 questões de Astronomia e 3 de Astronáutica, elaboradas por profissionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Observatório Nacional (ON), Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e Visiona Tecnologia Espacial. Cabe aos professores das escolas inscreverem seus alunos, aplicarem e corrigirem as provas (a partir de gabaritos elaborados pela Comissão Organizadora), registrarem as notas de seus alunos no site da OBA e, finalmente, enviarem, via Correios, as melhores provas para a sede da OBA na UERJ. Muito embora não haja qualquer remuneração para essas atividades extras, 62.183 professores participaram da XXII OBA. Após os registros das notas dos alunos no Banco de Dados da OBA, ocorrem as seguintes atividades: 

* Envio de Certificado para todos os participantes; 

* Envio de medalhas nas categorias ouro, prata e bronze para os alunos com as melhores notas em cada Nível. Em 2019 a OBA entregou 50.000 medalhas. 

* Convite para os alunos com os melhores desempenhos nas provas de Nível 4 e Nível 3 (alunos do último ano do ensino fundamental), para participarem do processo seletivo nacional da equipe que representa o Brasil nas Olimpíadas Internacionais de Astronomia: Olimpíada Internacional de Astronomia e Astrofísica (IOAA, em inglês) e Olimpíada Latino Americana de Astronomia e Astronáutica (OLAA); e 

* Convite aos alunos com as melhores notas nas questões de Astronáutica (Nível 4) para participarem da Jornada Espacial que, desde 2005, ocorrem São José dos Campos, SP. Desde 2005, mais de 1.500 alunos e professores participaram da Jornada Espacial.


Sendo a Astronomia uma ciência distante dos professores do ensino fundamental médio, a OBA promove Encontros Regionais de Ensino de Astronomia (EREA), voltados a professores. Cabe à comunidade interessada prover a infraestrutura necessária à sua realização, que inclui atividades teóricas e práticas. Desde 2009 foram realizados 78 EREAs capacitando cerca de 7.800 professores.

Outra iniciativa pioneira da OBA é a Mostra Brasileira de Foguetes (MOBFOG), que consiste no lançamento de foguetes de garrafa PET em milhares de escolas. Participaram da 13ª MOBFOG, realizada em 2019, 154.311 alunos distribuídos por 2.787 escolas. No ensino médio, o agente propulsivo utilizado é uma mistura de bicarbonato de sódio e ácido acético (vinagre). No ensino fundamental, o agente propulsivo é composto de água e ar comprimido. Os grupos de alunos com os melhores desempenhos na MOBFOG são convidados a participar da Jornada de Foguetes, que ocorre anualmente em Barra do Piraí, RJ. Em 2019 foram realizadas 8 Jornadas de Foguetes, envolvendo 1.340 alunos e professores. Durante o evento, os alunos apresentam os seus projetos e realizam os lançamentos dos seus foguetes, com o propósito de repetir o desempenho obtido em suas escolas. São realizadas duas sessões de lançamentos, sendo as melhores equipes premiadas com troféus. Todos os participantes recebem certificados e medalhas de ouro, prata e bronze são distribuídas aos integrantes das melhores equipes.

A inclusão da temática Astronáutica na OBA em 2005 levou à criação da Jornada Espacial, que já teve 14 edições em São José dos Campos, SP, e 2 em Parnamirim, RN, nas dependências do Centro de Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI). Participam da Jornada Espacial os alunos do ensino médio (Nível 4) com as melhores notas nas questões de Astronáutica da OBA. Esses alunos são acompanhados dos professores representantes da OBA em suas escolas. Alunos dos últimos anos do ensino fundamental (Nível 3) da Secretaria de Educação e Cidadania de São José dos Campos também participam do evento. A XVII Jornada Espacial ocorrerá entre 1° e 7 de dezembro e contará com 104 alunos e 61 professores, provenientes de 47 municípios de 20 estados brasileiros, mais o Distrito Federal. Os participantes arcam com os custos de transporte, hospedagem e alimentação. Durante a Jornada Espacial alunos e professores conhecem o polo aeroespacial brasileiro e interagem com especialistas do INPE, IAE, ITA DCTA, AEB, IEA/USP, Visiona, TV Vanguarda, NASA, Secretaria de Educação e Cidadania de São José dos Campos e UERJ. Para além das organizações que apoiam a OBA, colaboram com a Jornada Espacial a TV Vanguarda e a Prefeitura Municipal de São José dos Campos, por intermédio da Secretaria de Educação e Cidadania. Na Jornada Espacial, os participantes adquirem uma ampla visão do que o Brasil já fez, faz e fará em termos de desenvolvimento de atividades espaciais. Como um dos resultados, muitos alunos decidem seguir carreiras científicas que os levarão, como profissionais, às atividades espaciais brasileiras.

A Comissão Organizadora da OBA, sediada na UERJ, trabalha interruptamente de janeiro a dezembro e conta com recursos financeiros, de cerca de um milhão de reais, oriundos do CNPq, AEB e UNIP, escolas e OBA Eventos, além de uma competente equipe de alunos de graduação e colaboradores.

A OBA pode ser compreendida como uma árvore cujo sistema radicular alcança os mais distantes rincões do Brasil. Dessa forma, milhões de alunos conhecem novos mundos e estabelecem perspectivas profissionais. O Encontro Regional de Ensino da Astronomia (EREA), a Mostra Brasileira de Foguetes (MOBFOG), a Jornada de Foguetes e a Jornada Espacial são frutos dessa árvore, cujo ciclo, tal qual a natureza, se repete em estações ao longo dos anos. Constitui experiência singular participar desse espetáculo e constatar que os alunos de ontem são os colegas de hoje. Juntos, compartilhamos nossos conhecimentos e renovamos nossos sonhos, pois estes nunca envelhecem.

* José Bezerra é servidor da Carreira de C&Te filiado ao SindCT.


Fonte: Site do Jornal do SindCT - http://www.sindct.org.br/jornaldosindct

Comentário: Pois é leitor, parabenizo ao Dr. José Bezerra pela iniciativa de escrever esse interessante artigo fazendo uma descrição deste grande trabalho que vem sendo realizado desde 1998 pela OBA. E se você leitor é professor, orientador ou mesmo diretor de escola, e ainda não conhece a OBA, procure se informar e possibilite aos seus alunos terem contato como esse fascinante mundo da Astronomia e da Astronáutica e boa sorte a todos.

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