O Que Resta Para o Final de Ano e Como Será o Novo Ano em Nosso Patinho Feio?

Olá leitor!

Muitos de vocês devem estar se perguntado agora o que deve ocorrer de concreto em nosso “Patinho Feio” até o final desse ano e durante o ano de 2020, né verdade?

Pois então amigo leitor, eu lhe responderia dizendo que haverá movimentação bem maior do que ocorreu nos últimos anos. Na área de satélite temos confirmados (se não houver atrasos) o lançamento dos seguintes satélites brasileiros:

* CBERS-4A: O Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres 4ª é o sexto desenvolvido conjuntamente com a Academia Chinesa de Tecnologia Espacial (CAST) e será lançado da base chinesa de Taiyuan (TSLC) abordo de um foguete Longa-Marcha-4 no dia 17 de dezembro próximo.

* FloripaSat: Um cubeSat de pesquisa e desenvolvimento tecnológico construído pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em parceria com o ‘Programa Uniespaço’ da Agência Espacial Brasileira (AEB) que também será lançado conjuntamente com o CBERS-4A da base chinesa de Taiyuan (TSLC) abordo de um foguete Longa-Marcha-4 no dia 17 de dezembro próximo.

* Amazonia-1: Minisatélite (cerca de 640kg) de sensoriamento remoto (Observação da Terra) desenvolvido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) que deve ser lançado de uma base indiana através de um lançador PSLV em junho de 2020, essa é a expectativa.

* NanosatC-Br2: Nanosatélite 2U de pesquisa e desenvolvimento tecnológico desenvolvido pelo Centro Regional Sul do INPE (CRS-INPE) em parceria com a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), que deve ser lançado de uma base russa abordo de um foguete Soyuz em julho de 2020.

Em outras palavras, se não houver alguma surpresa, essa será a nossa agenda de lançamentos de satélites brasileiros de agora até o final de 2020.

Já na área de lançamentos de foguetes em território nacional, fora as costumeiras operações de foguetes de treinamento realizadas anualmente nos dois centros de lançamento brasileiros (CLA e CLBI) e em outras partes do mundo, a única missão confirmada é a: 

Operação Cruzeiro: Missão para testar em voo o primeiro Motor Aeronáutico Hipersônico Nacional, este ligado ao projeto de desenvolvimento do Veículo Aeroespacial Hipersônico Brasileiro 14-X, operação esta que deverá ocorrer em outubro de 2020 no Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), através de um foguete VSB-30 modificado denominado de Veículo Acelerador Hipersônico (VAH).

Entretanto fala-se também num possível lançamento do novo foguete de sondagem VS50, para assim testar em voo o desempenho do motor S50 (importante etapa para conclusão do VLM-1), mas para tanto a Avibras, empresa contratada para entregar os motores S50, terá de fazer a sua parte, coisa que estou pagando pra ver, e tomara mesmo que eu esteja errado.

Fala-se também leitor em um outro voo sem foguete definido ainda (pelo menos que eu saiba) para se testar em voo algumas tecnologias sensíveis importantes para o nosso “Patinho Feio”, mas se o voo do VS50 é incerto, este é mais ainda.

Na área de política espacial, após a promulgação do Acordo de Salvaguardas Tecnológicas (AST) com os EUA, os esforços do governo deverão girar neste período na tentativa de implementação da ‘segunda fase’ relacionada com a implementação do tão aguardado Centro Espacial de Alcântara (CEA), como aliás vem dizendo o Ministro Marcos Pontes em suas entrevistas, compreendendo com isso na melhoria da infraestrutura física do centro e de seu entorno, bem como também na melhoria da infraestrutura das Comunidades Quilombolas tão necessitadas e até então esquecidas pelo poder público.

Ainda na área política fala-se que o Governo Bolsonaro neste período deve tirar do papel a criação da estatal ALADA (Empresa de Projetos Aeroespaciais do Brasil S.A) um projeto do Ministério da Defesa (MD) anunciado de modo mais assertivo no final de 2015, e que pelo que sabemos, desde 2016 sua proposta de criação encontra-se sob análise do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG) para aprovação ou não.

Pelo que se sabe inicialmente a tal da ALADA seria vinculada ao MD por meio do Comando da Aeronáutica (COMAER) tendo como objetivo participar de projetos inseridos no vergonhoso PNAE, em especial, no desenvolvimento de veículos lançadores de satélites e microssatélites, bem como também estimular e apoiar técnica e financeiramente as atividades de pesquisa e de desenvolvimento científico, tecnológico e de inovação do setor aeroespacial ou de setores correlatos ao seu objeto social, inclusive com prestação de serviços, em busca assim de prover o país com a sua autossuficiência nas áreas espacial e aeronáutica.

Acontece leitor que de lá para cá com a criação do ‘Comitê de Desenvolvimento do Programa Espacial Brasileiro (CDPEB)’ pelo Governo do Michel Temer, através do ‘Decreto 9.279’ de 6 de fevereiro de 2018, nove grupos técnicos foram criados para atacar várias áreas problemáticas do PEB, foram eles:

G1 - Governança
G2 - Acordos de Salvaguardas Tecnológicas (AST)
G3 - Empresa Binacional Alcântara Cyclone Space (ACS)
G4 - Empresa pública
G5 - Projeto Mobilizador
G6 - Veículo Lançador VL-X
G7 - Questão Fundiária e Patrimonial do CLA
G8 - Plano de Marketing
G9 - Recursos Humanos

Pois então leitor, enquanto os Grupos 2 e 3 já atingiram os seus objetivos com a recente aprovação do AST e na liquidação definitiva da ACS (espera-se ainda uma reclamação ucraniana envolvendo um júri internacional), o Grupo 4 teve como objetivo a elaboração de uma proposta de criação de empresa pública destinada a explorar diretamente atividades relacionadas ao desenvolvimento de projetos e equipamentos aeroespaciais e à realização de projetos e atividades de apoio ao controle do espaço aéreo e áreas correlatas, ou seja, a criação da ALADA ou algo semelhante, mas apesar da proposta ter sido concluída pelo seu Grupo técnico até onde sabemos essa iniciativa não se concretizou ainda.

Bom leitor, sinceramente não creio que o caminho seja por aí. Concordo até que seja criada uma empresa, mas não uma empresa estatal que certamente será ineficiente e pode acabar servindo como cabide de emprego, e sim uma parceria pública/privada, leve (com poucos funcionários qualificados), e com gestão privada, além de veto presidencial quando envolver questões de segurança nacional.

Recentemente foi realizado no Parque Tecnológico de São José dos Campos o primeiro Fórum da Indústria Espacial Brasileira após a aprovação do histórico Acordo de Salvaguardas Tecnológicas (AST) com os EUA, um evento que considerei como um ‘divisor de águas’ para os próximos anos do PEB, e que no final das contas foi decepcionante, pois segundo fui informado sequer contou com a presença do Ministro Marcos Pontes, presença essa crucial diante das ‘raposas do caos’ que militaram por lá em prol de seus objetivos, todos aliados com o ‘Lobby do Mal’ e da ‘ineficiência’, realmente muito triste. Diante disto leitor, até que me provem do contrario (frase que repito desde 2014) tudo continuará como antes no quartel de Abrantes, e assim o caminho será um só, ou seja, mais uma década perdida.

No entanto leitor, como vem dizendo os otimistas de plantão, 2020 será o ano da retomada do crescimento do país, coisa que eu até concordo, já que há bons sinais para isso, mas sinceramente não creio que esse seja o mesmo caminho do PEB, especialmente no que diz respeito ao nosso tão sonhado e esperado veículo lançador de satélites que, pelo rumo que essa história parece tomar, continuará patinando sabe-se lá por mais quanto tempo, mesmo tendo gente qualificada no país para em pouco mais de 3 anos entregar um veículo competitivo a sociedade brasileira, fazer o que?

Duda Falcão

Comentários

  1. Muito pouco ambicioso, certo? Se dependesse fundamentalmente de dinheiro a Coréia do Norte ou o Irã nunca teriam lançados poderosos foguetes. Falta ambição, vontade, e ação. Eu me pergunto, com os mais de mil funcionários do DCTA, incluindo IAE, eu acredito, o que farão nas horas vagas?

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  2. Bom dia Duda!

    Não sei se você viu essa parte durante o fórum da indústria, porém uma das perguntas feitas ao Carlos Moura (presidente da AEB) seria quando o Brasil iria ter um veículo "brasileiro" (ênfase minha) de lançamento de satélites. Ele respondeu isso no palco com um sumário "de 2 até 3 anos", que não veio com uma explicação suficiente antes da próxima pergunta.

    Sabe de alguma sobre isso? Achei que ficou faltando no post sobre o fórum, pois fiquei bem surpreso com a afirmativa. Eu não sei se ele respondeu isso tendo em mente o VLM ou com outro plano em mente (Áquila?), mas tenho certeza da resposta dele.

    Outra coisa, ele também enfatizou que o ministro quer utilizar "Espaçoporto" para Alcântara, um nome muito melhor para o que querem fazer.

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    1. Olá Yuri!

      Boa noite, olha o único projeto de veículo lançador de satélites em curso no país atualmente é o projeto do VLM-1 e esse está diretamente atrelado ao motor S50 em desenvolvimento pela Avibrás. Portanto Yuri ele só pode está se referindo a essa iniciativa, e como eu disse anteriormente o VLM-1 é um 'projeto conceito' que não terá fins comerciais e só poderá realizar o seu primeiro voo em 2021, isto caso a Avibras entregue até o final de 2020 o motor qualificado em voo. Diante disto o nosso veículo lançador comercial além de não está ainda em desenvolvimento sequer tem uma previsão realista de quando poderá ficar pronto, há não ser que o MCTIC/MD tenham na carta na manga que ainda não divulgou. Na minha opinião a solução seria a criação de um programa semelhante ao criado pela NASA para escolher empresas que desenvolvessem naves tripuladas visando atender as necessidades americanas na estação Espacial Internacional e que no Brasil seria para desenvolver um veículo lançador de pequenos satélites barato, competitivo num menor prazo possível se utilizando da infraestrutura já disponível dentro do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE) quando assim fosse necessário. Já quanto ao uso do nome de espaçoporto, não tenho essa informação, porém particularmente prefiro o nome de Centro Espacial de Alcântara (CEA), pois o que se pretende fazer lá está mais para um cento espacial (como o Centro Espacial Kennedy na Flórida-EUA) do que um simples espaçoporto.

      Abs

      Duda Falcão
      (Blog Brazilian Space)

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    2. Olá Duda! (sou o que citou o Churchill outro dia)

      Desculpe atravessar aqui na pergunta do amigo acima. Mas nosso lançador, para fins comerciais, não estaria inviabilizado caso a SpaceX viesse lançar em alcântara? Acho durante um tempo o VLM estará mais para nossa autonomia no espaço e avanços na defesa. Comercialmente ficou difícil até para quem já está há mais tempo no jogo. Segue uma comparação no link abaixo:

      https://www.bloomberg.com/graphics/2018-rocket-cost/

      Abs

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    3. Olá Dan JR.!

      Não exatamente por isso e sim pelo preço do VLM-1 que não é competitivo comercialmente. O Falcon 9 é um foguete que não é da mesma categoria do VLM-1, ou seja, os satélites lançados por esse foguete são bem maiores do que os que o VLM-1 pode lançar, e quando o Falcon 9 lança cubes e nanosats são de carona, sempre atrelados a alguma missão satelital mais significativa. tá ok?

      Abs

      Duda Falcão
      (Blog Brazilian Space)

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    4. Entendi! Então, um concorrente natural seria o Rocket Lab's neh? Existe algum valor estimado, um chute inicial, dos custos para lançar um VLM-1?

      muito obrigado!

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    5. Olá Dan JR!

      Se quisermos um foguete competitivo sim, este seria um dos concorrentes que teríamos de enfrentar. Porem esqueça o VLM, como disse ele é apenas um projeto conceito, não comercial, terá de ser um outro e por agora tá dificil diante do rumo tomado.

      Abs

      Duda Falcão
      (Blog Brazilian Space)

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  3. Caro Duda,
    Essa empresa em mãos do Estado, dada a criticidade do negócio pode ser até interessante, contanto que conte com parcerias e contratações privadas, tal como a NASA sempre fez.
    boa oportunidade também para: unificar essa empresa com a AEB e o INPE, pode chamar até de agência, contanto que seja operativa, ao contrário do conceito furado de agência herdado do governo FHC: agência peido de rosas, e na hora do vamos ver a diretoria vai para convescotes e congressos no exterior. Acho que esse tempo era das gestões anteriores.
    AEB = Inpe como um departamento: projetando satélites e pesquisas, outro departamento projetando os veículos e naves. Criativos, produtivos e com projetos bem definidos, contato intenso com a iniciativa privada, sem licitações demoradas: sem bananas, aspones, e síndico-anarquistas por perto.
    Acima dos interesses nobres da aeronáutica está o da nação, e que colaborem para uma organização forte, agil e nacional, longe de nichos ou arremates ideológicos ou crenças positivistas, corporativas e bolorentas de qualquer natureza.

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    1. Olá Gustavo!

      Vamos lá:

      "Essa empresa em mãos do Estado, dada a criticidade do negócio pode ser até interessante, contanto que conte com parcerias e contratações privadas, tal como a NASA sempre fez".

      Olha já pensei como você, mas hoje no Brasil já tá mais que provado que este modelo não funciona e o melhor seria como eu disse uma parceria publico privada que criasse uma empresa leve com poucos funcionários e sob gestão privada que coordenasse todo esse processo, mas que tivesse veto presidencial em questões que envolvesse a segurança nacional.

      "AEB = Inpe como um departamento: projetando satélites e pesquisas, outro departamento projetando os veículos e naves. Criativos, produtivos e com projetos bem definidos, contato intenso com a iniciativa privada, sem licitações demoradas: sem bananas, aspones, e síndico-anarquistas por perto. Acima dos interesses nobres da aeronáutica está o da nação, e que colaborem para uma organização forte, agil e nacional, longe de nichos ou arremates ideológicos ou crenças positivistas, corporativas e bolorentas de qualquer natureza".

      Essa união no momento não é exequível, talvez no futuro, porem só seria funcional e eficiente se o governo separasse o PEB em dois, ou seja, um programa civil e o outro programa militar, cada um com orçamento e infraestrutura única (não necessariamente os centros de lançamentos) e sob visão e condução política de estado, só assim poderíamos juntar a AEB e o INPE com alguma eficiência, no momento não. Valeu?

      Abs

      Duda Falcão
      (Blog Brazilian Space)

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  4. Caro Duda, o que me incomoda no PEB mesmo é a total descoordenação de propósitos, cada um cuidando de seu quadrado. Estou lendo agora a biografia do Neil Armstrong e qual a minha surpresa ao ver que no grupo de astronautas do projeto Apolo havia dois civis, e das forças armadas três eram da Marinha, quatro da força aérea e dois civis, inclusive o Neil, que servira na Marinha, na guerra da Coreia. No projeto mercury eram três da força aérea, três da Marinha e um fuzileiro naval! Uma edição antiga da tecnodefesa conta como surgiu a NACA e depois a NASA, juntando os esforços da Marinha e Aeronáutica deles. Aí o programa deslanchou. Porque os esforços de projeto de foguetes tem que se concentrar exclusivamente só na aeronáutica? Admiro a competência deles, mas tenho a impressão de que é um caminho oneroso, lento e improdutivo.

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    1. Olá Gustavo!

      Acontece que no Brasil a Marinha e o Exército tem os seus o próprios problemas e interesses, e estes só são convergentes com os da Aeronáutica nas questões relacionadas com satélites de comunicações e monitoramento. Além do que o exemplo citado por você está relacionado com voos tripulados, ou seja, na formação de um Corpo de Astronautas, coisa ainda há anos luz de distancia no Brasil, talvez um dia.

      Abs

      Duda Falcão
      (Blog Brazilian Space)

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    2. Verdade Duda! Anos luz!
      Um abraço.

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