Como Encontrar a Melhor Solução Para Um Problema?
Olá leitor!
Segue abaixo um interessante artigo escrito pelo aluno da
Universidade de Brasília (UnB), Pedro Luiz Kaled da Cás (um dos 10 alunos que foram a Ucrânia recentemente para realizar parte de seus Mestrados na Área Espacial), postado
hoje (27/06) no site da Agência Espacial Brasileira (AEB), dando destaque a sua
tese de mestrado que esclarece um processo que poderá beneficiar muitas
áreas e atividades, inclusive espaciais. Vale a pena conferir.
Duda Falcão
Como Encontrar a Melhor Solução
Para Um Problema?
Pedro Luiz Kaled da Cás*
Minha tese mestrado na Universidade de Brasília (UnB)
tenta esclarecer um processo de nome complicado – “Otimização Multidisciplinar
de Projeto” -, mas que poderá beneficiar muitas áreas e atividades, inclusive
espaciais.
Em inglês, o título da tese é “Multidisciplinary Design
Optimization” (MDO), que pode ser traduzido como Otimização Multidisciplinar de
Projeto. Basicamente, MDO é o processo de considerar todas as informações
possíveis de serem obtidas em um projeto e, com isso, encontrar a melhor
solução possível. A técnica MDO considera todos os aspectos e, não apenas, uma
parte ou componente para tentar modelar e otimizar o problema.
Por exemplo, ao pensar em um carro, a otimização
tradicional tentará fabricar o motor mais potente ou eficiente possível. A MDO,
não. Ela buscará desenvolver um motor com mais potência necessária para o uso
diário de uma família brasileira, levando em conta emissões, tecnologias
diferentes e o custo total.
Origem Espacial da MDO – Interessei-me
pelas pesquisas sobre a MDO de foguetes híbridos quando estagiei no Instituto
de Aeronáutica e Espaço (IAE). Na época, o IAE trabalhava na qualificação do
foguete SD-2, e uma das partes mais demoradas da qualificação consistia no
aperfeiçoamento do projeto aerodinâmico do foguete. Para isso, desenhávamos em
empenas (asinhas) do foguete e calculávamos a massa de todas elas. Então,
enviávamos tudo ao especialista em aerodinâmica do IAE para que ele calculasse
a nova configuração e, depois, enviávamos ao especialista em trajetória para
que ele calculasse o voo do foguete. Quando descobríamos que o projeto não
estava bom o bastante, fazíamos tudo novamente.
Assim, conseguíamos testar apenas três configurações de
empenas por dia. Ao voltar para Brasília e projetar um novo foguete, sentimos a
necessidade urgente de uma metodologia de projeto. Deparei-me, então, com a
solução dos problemas que descobrimos no IAE: a equipe Draco Volans de Aerodesign
da Universidade de Brasília (UnB) já usava a MDO para resolver problemas tão
complexos quanto o SD-2, como o projeto de um avião.
Após participar por ano como membro da equipe Draco, meu
colega Cristiano Vilanova e eu decidimos aplicar, pela primeira vez, a técnica
de MDO para otimizar uma foguete híbrido e fizemos isso utilizando algoritmos
genéticos. A ideia foi totalmente nossa.
Então, decidimos resolver um problema tanto simples
quanto útil: projetar o motor de reentrada do satélite do satélite SARA, em
desenvolvimento no IAE com o apoio da Agência Espacial Brasileira (AEB). O
ambiente era facilmente previsível – nada de atmosfera, resistência do ar ou
estruturas complexas -, e o motor do SARA era só o motor e seus tanques de
propelente. Usamos tecnologias inovadoras, diferentes materiais e propelentes,
soluções de prateleira, até que chegamos a uma configuração leve e otimizada.
Porém, ainda não estávamos satisfeitos. O SARA só levava em conta uma estrutura
simples e o funcionamento do motor, e a metodologia MDO permitia muito mais.
Por isso, resolvemos aumentar aos poucos a complexidade
da nossa MDO. Como próximo passo, incluímos a aerodinâmica. Nosso foguete agora
poderia voar dentro da atmosfera. Para isso, otimizamos o tipo de foguete que
mais sofre com a atmosfera, o foguete de sondagem. A AEB promove o lançamento
de vários foguetes de sondagem todos os anos. Sabíamos, então, que nossa
otimização seria muito útil. Assim, escolhemos otimizar o VS-30, foguete agora
pouco usado e “pai” do VSB-30, a estrela da frota da AEB. O motor híbrido
resultante se mostrou muito bem projetado e similar ao do VS-30, um foguete
mais bem desenvolvido.
Após incluirmos a atmosfera, era preciso melhorar os
cálculos da estrutura do foguete para sermos capazes de projetá-lo inteiro e
não só o motor de um veículo. Então, o passo seguinte foi otimizar o último
estágio do Veículo Lançador de Microssatélites (VLM). Nessa etapa, não buscamos
apenas atender às missões do VLM como foguete híbrido, mas também melhorar o
desempenho e aumentar sua carga útil. Com isso conseguimos fazer com que o
lançador otimizado tivesse um estágio a menos, o que representa quase meia
tonelada a menos e permite lançar satélites em uma órbita bem mais alta. Mesmo
com esses avanços, ainda tínhamos o desafio de projetar um veículo lançador de
satélites completo. Nessa otimização, consideramos todas as variáveis, desde a
situação do mercado de lançamentos até os sistemas de controle de voo do
veículo O maior impacto do uso da MDO no projeto de qualquer coisa está na
formação do projetista. Um projetista experiente conhece o impacto de suas
decisões sobre o projeto como um todo, de modo que o acúmulo de experiências
sempre faz a diferença.
Portanto, o uso da MDO pode gerar soluções ótimas para
cada uma das alternativas, e é necessário compará-las para escolher a melhor. O
processo leva mais tempo, porém permite chegar mais perto do que um projetista
experiente faz com muita facilidade.
* Engenheiro Mecânico e mestre em Ciências Mecânicas
Fonte: Agência Espacial Brasileira
(AEB)
Interessante.
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