Como Decidir Hoje de Olho no Futuro?
Olá leitor!
Segue abaixo mais um artigo do Sr. José Monserrat Filho
postado dia (01/02) no site da Agência Espacial Brasileira (AEB) dando destaque
ao “Workshop Internacional sobre Cenários” ocorrido recentemente.
Duda Falcão
Como Decidir Hoje de Olho no Futuro?
José Monserrat Filho*
“… a História é um processo
aberto, sendo ingenuidade imaginar que o futuro está cabalmente contido no
passado e no presente.”Celso Furtado, Os
ares do mundo, 1991, p. 63.
Brasília, 1º de fevereiro de 2013 - Inédito
Workshop Internacional sobre Cenários que traçam alternativas futuras a partir
de decisões atuais foi promovido, recentemente, pelo Centro de Gestão e Estudos
Estratégicos (CGEE), organização social ligada ao Ministério da Ciência,
Tecnologia e Inovação (MCTI).
Estabelecer uma ponte segura entre o que resolvemos hoje
com o que pode acontecer num amanhã mais distante assume relevância
estratégica, inclusive e em particular nas atividades espaciais ¨C sempre
complexas, caras, arriscadas e ligadas a grandes interesses públicos ou
privados.
O Workshop Internacional sobre Cenários, segundo o
CGEE, discutiu questões muito úteis e interessantes: 1) a construção e o uso de
cenários, incluindo tipologias; 2) formas de lidar com a complexidade e a
emergência; 3) maneiras de construir narrativas conectando o presente a
distintas possibilidades de futuro; 4) possibilidades de visualização,
comunicação e uso de resultados; e 5) impactos em políticas e decisões empresariais.
O singular evento, iniciativa do Núcleo de Competência
Metodológica do CGEE, propiciou a troca de experiências e conhecimentos entre
os especialistas presentes que trabalham em diversos centros de pesquisas
nacionais e internacionais. “A ideia foi fortalecer a habilidade de todos os
participantes em conectar alternativas de futuro com processos decisórios
atuais, e identificar possíveis parcerias”, explicou Cristiano Cagnin,
organizador do evento.
Sete painéis foram apresentados:
1) O uso de cenários pelo Instituto Austríaco de
Tecnologia (AIT, na sigla em inglês);
2) O uso de modelos para construir cenários e
avaliar distintas opções de políticas públicas no Reino Unido;
3) A disciplina da antecipação e como lidar com
emergências, complexidade e interconectividade;
4) A evolução dos estudos prospectivos no Brasil;
5) O planejamento estratégico da Petrobras do qual a
construção de cenários faz parte;
6) Como a Fundação Dom Cabral utiliza estudos
prospectivos para inovar na construção de cenários para grandes empresas; e
7) Nova forma de construir cenários, criada pelo Núcleo
de Competência Metodológica do CGEE.
Vejamos o que diz a notícia do CGEE sobre cada painel.
1) Susanne Giesecke, pesquisadora visitante do Instituto
Austríaco de Tecnologia (AIT) no CGEE, explicou como o instituto trabalha com
cenários a fim de obter soluções eficientes para os problemas que possam surgir
no futuro. Ela comentou o projeto sobre cenários para pesquisa e Inovação em
2030 e novos caminhos de fazer pesquisa (“Scenarios for Research and Innovation
Futures 2030: Exploring new ways of doing research”), que o AIT realiza em
parceria com vários institutos e universidades. O projeto analisa novas
maneiras de organizar e efetuar pesquisas em universidades, centros de pesquisa,
empresas e na sociedade em geral. Ele explora tendências, opções estratégicas e
padrões emergentes para traçar cenários de 2020 a 2030.
2) Brian MacAulay, do think thank
britânico Nesta, abordou o uso de modelos para construir cenários e avaliar
distintas opções de políticas
públicas. A seu ver, a conexão entre modelos de sistemas complexos com enfoques
qualitativos e relações sociais permite a criação de conhecimento combinado com
a identificação de elementos emergentes. Assim, as vantagens de explorar o
futuro estão na pluralidade e na inclusão, pois permitem o debate de pessoas
com diferentes opiniões e asseguram que todos sejam ouvidos e possam contribuir
na discussão das questões em tela.
3) Riel Miller, da Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), discorreu sobre a disciplina da
antecipação, que oferece, segundo Cristiano Cagnin, “uma maneira robusta e
consistente para o aprendizado e a troca, bem como para se incluir, de forma
sistemática, aspectos transformativos e complexos na construção de narrativas”.
Riel Miller também falou sobre como capacitar equipes para lidar com
emergências, complexidade e interconectividade.
4) Cláudio Porto, da Macroplan , empresa brasileira de
consultoria em cenários prospectivos e administração estratégica, descreveu a
evolução dos estudos prospectivos no Brasil em quatro grandes estágios de
maturidade. Destacou cinco casos de construção de cenários no país: Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Eletrobras, Petrobras,
Governo de Minas Gerais e Projeto Brasil em Transição 2011-2022. Para Cláudio
Porto, o Brasil ainda é frágil na construção de estratégias de longo prazo,
embora tenha progredido muito nos últimos 30 anos.
5) Renata Nascimento Szczerbacki, da Petrobras, enfatizou
o processo de planejamento estratégico da empresa e como a construção de
cenários faz parte desse processo. Apontou que essa combinação é fundamental
para direcionar a empresa em todos seus seguimentos, para períodos de 20 anos.
Discorreu ainda sobre o último trabalho realizado em 2010 com horizonte 2030 e
cortes em 2020, 2015 e 2011. O uso de cenários é importante para definir os
investimentos que a empresa fará, pois o retorno é de longo prazo.
6) Lia Krucken, da Fundação Dom Cabral, mostrou como a
entidade se vale de estudos prospectivos para inovar na construção de cenários
para grandes empresas. Cenários são utilizados para dar suporte ao
desenvolvimento de estratégias, entender holisticamente o problema em análise,
antecipar desafios e construir um processo de aprendizado organizacional
adaptativo. Nesse processo, a captura de sinais emergentes é essencial para a
identificação antecipada de oportunidades e ameaças, bem como o desenvolvimento
de estratégias para antecipar tais desafios.
7) Lélio Fellows, do CGEE, apresentou a nova forma de
construir cenários, desenvolvida pelo NCM do Centro, dividida em passos
simplificados: identificar cenários (globais e conectados ao contexto sob
observação) a serem analisados; desenvolver um modelo de documento específico
para captar drivers (forças vetoras),
incertezas, sinais fracos, surpresas e outras variáveis a serem organizadas
segundo critérios relevantes para o contexto sob análise; identificar as
variáveis independentes mais relevantes; e desenvolver cenários na forma de um
quebra-cabeças. Lélio Fellows não acha que “trabalhar com cenários é caro e
demorado”. A seu ver, “a nossa capacidade de exigir soluções e de solucionar
problemas é que fará as coisas acontecerem concretamente”.
Conclusões de Cristiano Cagnin sobre as principais ideias
surgidas no workshop: “Uma análise mais profunda de elementos como cenários
transformativos, ferramentas interativas para a visualização e a prototipação
de resultados, o uso de enfoques robustos para construção de futuros
alternativos mais criativos e capazes de abraçar a espontaneidade, a
experimentação e a complexidade, a capacidade de fazer sentido de conhecimento
coletivo distribuído, bem como a habilidade de comunicar melhor os resultados e
de conectar o processo de cenários ao ciclo de tomada de decisão, entre outros,
são essenciais para o fortalecimento da capacidade institucional de subsidiar
políticas públicas conectando alternativas de futuro ao presente.”
O Workshop Internacional sobre Cenários também estimulou
parcerias entre o CGEE e a UNESCO em 2013 e fortaleceu a cooperação entre o
CGEE e o Instituto Austríaco de Tecnologia.
Basta ler com atenção o novo Programa Nacional de
Atividades Espaciais 2012-2021 (PNAE) ¨C especialmente as páginas 18 e 19 ¨C
para constatar o quanto é imperioso o uso de cenários futuros para conectar com
o máximo de acerto possível as decisões de 2012 com o que ocorrerá nos próximos
anos até 2021. O desafio é aperfeiçoar continuamente esse processo. Não por
acaso, prudentemente, o Presidente da Agência Espacial Brasileira, José
Raimundo Braga Coelho, dispõe-se a realizar revisões anuais do PNAE. A intenção
final é clara e sensata: manter viva, forte e convincente a indispensável
conexão entre o presente que decidimos e o futuro que queremos,
* Chefe da Assessoria de
Cooperação Internacional da AEB.
Fonte: Agência Espacial Brasileira
(AEB)
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