Rubens Barbosa - O Brasil e o Mercado Espacial Global
Olá leitor!
Segue abaixo um interessante artigo escrito pelo
Embaixador Rubens Barbosa publicado no jornal ‘O Estado de São Paulo’ e postado
dia (03/12) no site da “Defesanet.com”, tendo como tem o Brasil e o Mercado
Espacial Global.
Duda Falcão
COBERTURA ESPECIAL - ESPECIAL ESPAÇO – TECNOLOGIA
Rubens Barbosa - O Brasil e o Mercado Espacial Global
Por Embaixador Rubens Barbosa
Presidente do Instituto de Relações Internacionais e
Comércio Exterior (IRICE)
Via Estadão
03 de Dezembro, 2019 - 09:00 (Brasília)
A ratificação pelo Congresso Nacional do Acordo de
Salvaguardas Tecnológicas com os Estados Unidos torna possível o uso comercial
do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão. Com isso se tornam
viáveis significativas perspectivas comerciais para o Brasil entrar num mercado
anual de mais de US$ 12 bilhões, em especial o de satélites de pequeno porte.
O interesse brasileiro é tornar possível um centro de
lançamentos competitivo, o que permitirá a entrada do País no nicho de mercado
de satélites de telecomunicações e de meteorologia.
Com a entrada em vigor do acordo, o grande desafio agora
será tornar o centro operativo para lançamento de satélites no prazo mais curto
possível. Para tanto serão necessárias medidas de caráter político para abrir
ao Brasil as portas do importante mercado global espacial. A partir de agora,
espera-se que o governo federal acelere e complete as mudanças na governança do
setor e defina uma estratégia de longo prazo que dê previsibilidade às
eventuais empresas interessadas, não só dos EUA, mas de outros países, como
França, Israel e Japão.
Os setores competentes do governo estão trabalhando para
acelerar os entendimentos internos e externos para aprovação de propostas que
permitam a negociação de contratos comerciais com as empresas externas
interessadas. O grande desafio será superar os trâmites burocráticos – que
ainda dificultam a tomada de decisões – com a rapidez que atenda aos interesses
do País.
Dentre as negociações e decisões decorrentes da entrada
em vigor do Acordo de Salvaguardas Tecnológicas, cabe mencionar as seguintes.
Lei Geral do Espaço – Definição do papel das ações
civis e militares, bem como das atividades comerciais no espaço, tal como a
mitigação de detritos espaciais, entre outros. É relevante ressaltar a
importância de consultas com as empresas potenciais parceiras de lançamento
para que possam compartilhar suas ideias sobre medidas que fariam do Brasil um
lugar atrativo para investimento em relação a outras opções – Cazaquistão,
Açores, etc. Na legislação deveria estar incluída regulamentação do uso privado
de recursos recolhidos no espaço (exemplo: mineração da Lua), como fizeram
nossos concorrentes. EUA, China, Luxemburgo, Nova Zelândia e Emirados Árabes
Unidos criaram regras para exploração privada de recursos achados no espaço,
com uma clara posição de favorecimento de negócios.
Atualização das regras de lançamento espacial – Para
facilitar e acelerar os contratos deveria ser permitida a covalidação de
licenças. O reconhecimento mútuo permitiria que empresas que já tiraram licença
com a agência (FAA) dos EUA tivessem essa sua licença aceita no Brasil,
reduzindo muito a carga burocrática.
Modelo de negócios para uso de Alcântara para lançamento
comercial – Uma das definições mais urgentes se refere à negociação dos
contratos comerciais para uso do centro. Quem os firmará com as empresas
estrangeiras? As regras atuais, inadequadas para o tipo de negociação com
parceiro comerciais externos, desaconselham a prática de licitação prevista
para qualquer outro contrato. De natureza completamente distinta, se não for
encontrada uma fórmula mais desburocratizada, ágil e com segurança jurídica,
haverá um grande desincentivo para investidores. Existem algumas opções em
discussão, mas o importante seria que os contratos pudessem ser negociados
diretamente com as empresas, sem necessidade de licitação.
Infraestrutura – Serão necessários investimentos
para que não só lançamentos pequenos, mas também pesados possam ser feitos no
CLA. Isso significa a construção de um porto de porte adequado para acomodar
foguetes de qualquer tamanho e de uma nova estrada, inteiramente dentro do
centro, conectando os vários setores, a ampliação da pista e a construção de um
aeródromo maior e moderno. Para tudo isso terá de ser resolvida definitivamente
a questão fundiária, com negociação com as famílias de quilombolas que vivem em
parte do território do centro.
Facilitação de Comércio – A conclusão das
negociações sobre acordo de Pesquisa, Desenvolvimento, Teste e Avaliação
(RDT&E, em inglês) com o governo de Washington, para permitir que os dois
governos e as empresas de defesa de ambos os lados trabalhem em projetos de
P&D conjuntos para produtos militares e controlados, como satélites.
Existem mais de US$ 100 milhões do lado americano aguardando a conclusão das
negociações e a assinatura para poderem ser utilizados em projetos conjuntos.
Além disso, deveria ser proposto ao lado norte-americano um acordo semelhante
ao já existente com a Índia, para permitir o rápido acesso de empresas
brasileiras a equipamentos de uso dual, em particular na área espacial.
Deveriam também ser exploradas possibilidades de cooperação e mesmo de
propostas de projetos conjuntos no contexto da nova situação do Brasil como
aliado preferencial dos EUA extra-Otan. A adesão do Brasil aos acordos
multilaterais de controle dos Grupos da Austrália (armas químicas) e de
Wassenaar (tecnologia de uso dual) também facilitaria o acesso a produtos e a
tecnologias sensíveis na área da defesa.
Na semana passada esteve no Brasil missão comercial
integrada por seis empresas norte-americanas interessadas na utilização de
Alcântara. Depois de visita ao Centro de Lançamento, as empresas mantiveram
encontros com autoridades brasileiras em São José dos Campos e reuniões com
empresas nacionais para examinarem possibilidades de cooperação.
Depois de 20 anos de atraso, governo e setor privado
deveriam superar problemas burocráticos menores e acelerar as decisões para que
o Brasil possa competir com sucesso no mercado global especial. A atual janela
de oportunidade tem de ser aproveitada, antes que as tensões EUA-China
transbordem para a área de inteligência e defesa, pondo em risco a cooperação
com empresas norte-americanas
Fonte: Artigo do Estadão via Site Defesanet - http://www.defesanet.com.br
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