Foguete a Caminho
Olá leitor!
Segue abaixo um artigo publicado na nova edição da
revista Carta Capital, dando destaque ao acordo com a Ucrânia que gerou a mal
engenhada empresa binacional Alcântara Cyclone Space (ACS) e suas implicações
negativas para o Programa do VLS-1.
Duda Falcão
Foguete a Caminho
DEFESA Após dez anos, o acordo entre Brasil e Ucrânia na
área espacial avança, mas sob fortes críticas internas
ANDRÉ BARROCAL
As vésperas de completar
dez anos, o acordo entre o Brasil e a Ucrânia para desenvolver, construir e
lançar foguetes entrou na reta final. Com a injeção extra de 420 milhões de
dólares na Alcântara Cyclone Space, os dois países esperam que a empresa
binacional, enfim, termine sua missão e conclua, depois de muito atraso, o
foguete lançador na base de Alcântara, no Maranhão. Diante das revelações da
intensa espionagem cibernética dos Estados Unidos, parece salutar qualquer
passo em áreas relacionadas à soberania e à defesa nacionais.
A ACS nunca foi, porém,
uma ideia bem recebida por pesquisadores e pela Aeronáutica, e o recente
impulso financeiro dado pelo governo ao projeto reacendeu a polemica. A atual
onda de queixas repisa uma visão antiga existente entre entidades participantes
do programa espacial brasileiro. O governo investiria demais em uma iniciativa
sem resultados e que só alimentaria o conhecimento e os negócios no exterior,
pois o foguete é fabricado na Ucrânia com tecnologia daquele país. Esse caminho
prejudicaria as pesquisas empreendidas por brasileiros com o apoio de empresas
locais. Entre 2006, quando a ACS saiu do papel, e 2012, o Brasil gastou 1,2
bilhão de reais no programa espacial. O empreendimento binacional recebeu cerca
de 450 milhões de reais, quase um terço do total.
"O projeto ACS está
vagarosíssimo e não tem nada a ver com defesa nacional ou desenvolvimento da
indústria, ele é puramente comercial. E, mesmo quanto à sua rentabilidade,
somos céticos", diz o presidente da Associação Aeroespacial Brasileira
(AAB), Aydano Barreto Carleial. "A ACS divide esforços e recursos. Por
isso, o programa espacial brasileiro não decola", afirma o vice-presidente
do Sindicato dos Servidores Públicos de Ciência e Tecnologia, Fernando Morais.
Sem a ACS no páreo por
fatias do orçamento federal, o plano de um foguete 100% nacional poderia estar
mais avançado ou até finalizado, apesar da necessidade de submeter o projeto a
uma "revisão profunda" na avaliação de Carleial. O chamado VLS é um
protótipo em desenvolvimento pela Aeronáutica desde a década de 80. Já passou
por três testes, todos fracassados. A última tentativa completou dez anos em
agosto e terminou em tragédia, com a morte de 21 trabalhadores. A próxima está
programada para 2015.
Um funcionário civil
embrenhado no dia a dia do projeto VLS conta nunca ter visto os militares da
Força Aérea tão irritados quanto agora. Enquanto o governo reitera sua
prioridade à ACS com a injeção de capital, o Instituto Aeronáutico e Espacial,
condutor do VLS, sofre com um déficit de pessoal estimado em 600 funcionários.
E o tipo de reclamação que os militares fazem apenas nos bastidores e de forma
anônima.
A própria AAB teve
momentos de timidez. Em 2010, elaborou um documento sobre o programa espacial
de cuja versão final foram excluídas referências contundentes à ACS. A época, o
setor alimentava a expectativa de que, na passagem do governo Lula, responsável
por selar a sociedade com a Ucrânia, para a administração Dilma, pudesse haver
alteração das prioridades. O grupo político à frente do Ministério da Ciência e
Tecnologia e de seus órgãos vinculados realmente mudou em 2011. Saiu o PSB,
entrou o PT. Mas a postura perante a ACS, não.
À reafirmação do
compromisso do governo com o projeto ocorreu depois de uma viagem do então
presidente da Agência Espacial Brasileira, Marco Antonio Raupp, à Ucrânia em
julho de 2011. Historicamente crítico da ACS, Raupp foi conferir a construção
do foguete Cyclone 4. Ficou satisfeito com o que viu e com as possibilidades de
absorção de conhecimento por técnicos brasileiros. Ministro da Ciência,
Tecnologia e Inovação (MCTI) desde janeiro de 2012, virou um defensor do
projeto entre os países.
Se no Brasil a troca de
poder não interferiu nos rumos da empreitada, não se pode dizer o mesmo em
relação às mudanças ocorridas na Ucrânia. De 2005 a 2010, o país teve um
governo de oposição àquele que assinara anteriormente o acordo com Brasília em
outubro de 2003. Esse fato e uma crise econômica interna levaram a modificações
nos rumos e no orçamento do projeto. Os repasses à ACS minguaram e o
desenvolvimento do foguete foi afetado.
No cargo desde fevereiro
de 2010, o atual presidente ucraniano, Viktor Yanukovych, pertence ao mesmo
grupo político responsável pelo acordo com o Brasil. Dias depois da posse da
presidenta Dilma Rousseff, ele telefonou e disse que se empenharia para retomar
os investimentos. E reiterou o compromisso, desta vez publicamente, em uma
visita oficial a Brasília em outubro de 2011.
Com a normalização do
financiamento ucraniano, em 2013 os dois países praticamente igualaram suas
cotas na empreitada, cerca de 250 milhões de dólares cada um. Por isso, e
diante da necessidade de reforçar o caixa para finalizar o projeto, os sócios
decidiram em maio fazer uma capitalização de 420 milhões de dólares na empresa.
Cada lado entra com metade. No fim de agosto, um decreto do governo federal
liberou uma primeira parcela brasileira, de 33 milhões de reais. Dias depois, o
Parlamento ucraniano incluiu o foguete no seu programa espacial 2013-2017 e
abriu o orçamento para transferir recursos à empresa.
Com o fôlego financeiro
proporcionado pela capitalização, a construção do centro de lançamento em
Alcântara será retomada. A obra começou em 2010, mas está parada desde março,
por falta de pagamentos à empreiteira. A paralisação custou o emprego de 2 mil
operários. A expectativa oficial é de que a obra fique pronta em 2015. E quando
o presidente da AEB, José Raimundo Braga Coelho, estima que o foguete vá
decolar. "O Cylone 4 está muito avançado. E não prejudica outros programas
em curso", diz, em referência ao VLS.
O foguete permitirá à
ACS colocar em órbita satélites de médio porte do Brasil, da Ucrânia ou de
estrangeiros dispostos a pagar pelo serviço, a ser prestado a partir da base
com a melhor localização do planeta. Com mais e maiores satélites, um país
pode, entre outras estratégias, refinar a previsão do tempo e o controle do
desmatamento, com ganhos para a agricultura e o meio ambiente. Ou aprimorar
suas comunicações e a vigilância de suas fronteiras, tornando-se um pouco mais
preparado para encarar a espionagem planetária dos EUA.
Responsável pela
assinatura brasileira no tratado firmado com a Ucrânia e primeiro presidente da
ACS, Roberto Amaral, ex-ministro da Ciência e Tecnologia, não vê a hora de o
foguete decolar. A empresa, diz ele, levou o Brasil a "pular etapas"
no programa espacial.
O País teria conseguido,
com rapidez, uma tecnologia disponível, de eficácia comprovada e capaz de
atender às necessidades brasileiras. Segundo Amaral, o VLS da Aeronáutica pode
até ser 100% nacional, mas não gerou resultados em 30 anos e está apto a
carregar somente satélites pequenos. "O programa espacial brasileiro só tem
uma alternativa, a ACS. O VLS não é viável."
Essa
"alternativa" única tem ido adiante, apesar do boicote dos Estados
Unidos. Washington é contra a ideia de o Brasil manter um programa espacial,
foguetes e tecnologia fornecida pela Ucrânia, herdeira de conhecimento da
antiga União Soviética, Documentos divulgados pelo WikiLeaks em 2011 mostram
que os americanos enviaram telegramas à embaixada do país no Brasil para tentar
forçar o fim da parceria.
A revelação não
surpreendeu as autoridades brasileiras. Antes do WikiLeaks, Brasília tinha
recebido do governo ucraniano a cópia de uma carta escrita por Washington com o
mesmo teor. A sabotagem americana remonta às primeiras negociações para se
criar uma parceria na área, nos anos 90. A Itália, que também seria sócia na
empresa, desistiu. Motivo: ameaças dos EUA, que invocaram um tratado
internacional de controle de tecnologia de mísseis do qual os italianos eram
signatários.
Por causa da resistência
dos EUA à conquista de conhecimento espacial pelo Brasil, o tratado de 2003 com
a Ucrânia não cita a transferência de tecnologia para brasileiros, uma omissão
frequentemente apontada por críticas do acordo. Essa transferência ocorre,
porém, de uma forma até certo ponto clandestina, por meio do contato entre
técnicos dos dois países e pelo envio à Ucrânia de estudantes brasileiros de
cursos de mestrado.
O mesmo tipo de solução
deverá ser usado em uma parceria com a França na área de satélites. Até o fim
de setembro, o governo vai assinar um contrato de 650 milhões de dólares com os
franceses. O satélite ficará encarregado das comunicações das Forças Armadas e
das principais redes federais, e também da expansão da internet de banda larga.
Entrará em órbita entre 2015 e 2016. O Brasil deixará assim de se expor à
bisbilhotice alheia, pois hoje aluga equipamento de terceiros. "Nossas
comunicações passarão a ser totalmente controladas pelo governo e serão
invioláveis" diz o presidente da Telebrás, Caio Cezar Bonilha.
O contrato principal
será acompanhado de um segundo. O objetivo do documento adicional será permitir
ao Brasil absorver a tecnologia francesa e, depois do um tempo, produzir um
equipamento do mesmo porte no País. O documento terá de ser redigido de um modo
que contorne as restrições que os EUA, a partir de tratados internacionais,
certamente tentarão impor.
Fonte: Revista Carta Capital via NOTIM da FAB
Comentário: Pois é leitor, já estou cansado de falar
desse assunto e a coisa é infinitamente pior do que pinta esse artigo, tenha
certeza disso. Temos uma campanha contra esse desatino e contamos com a sua colaboração
e divulgação. Assinem a Petição da ACS que pode ser acessada na coluna da esquerda
no blog (piscando em vermelho).
Noticia sobre satélite gaúcho ...
ResponderExcluirhttp://www.diariodecanoas.com.br/tecnologia/473071/primeiro-microsatelite-militar-gaucho-comeca-a-ganhar-forma.html
Abraços
bom,..esse tal de Amaral deve estar mesmo caduco.....só fala besteira....
ResponderExcluiro programa espacial brasileiro nunca teve como foco primordial a comercialização de lançamento de satélites e sim o dominio da tecnologia de acesso ao espaço visando, em primeiro plano, a SOBERANIA da nação.....
dizer que a única alternativa do programa espacial brasileiro é ACS demonstra bem quão brasileiro é esse senhor Amaral...