Raios Que Mudam Vidas e Até a História
Olá leitor!
Segue abaixo uma matéria postada hoje (30/09)
no site do jornal “O Estado de São Paulo” destacando que Recorde
brasileiro de incidência de descargas elétricas é mote de documentário do INPE.
Duda Falcão
CIÊNCIA
Raios Que Mudam Vidas e Até a História
Recorde brasileiro
de incidência de descargas
elétricas é mote
de documentário do INPE
Giovana Girardi
O Estado de
S.Paulo
30 de setembro
de 2013 | 2h 02
Entre os moradores mais antigos da zona leste de
São Paulo que têm jazigos no Cemitério da Quarta Parada, por muito tempo rezou
a lenda de que em Dia de Finados era melhor não ir ao cemitério. Vai que um
raio cai na sua cabeça? A probabilidade média de isso acontecer no Brasil é de
1 em 1 milhão, mas no Quarta Parada se dizia que em Finados alguém sempre
acabava atingido.
Talvez um pouco exagerado, o temor - relatado no
documentário Fragmentos da Paixão, que estreia no dia 11 - toma por base um
fato real. No feriado dos mortos de 1959, no meio de um temporal, um grupo de
15 pessoas se abrigou debaixo de uma árvore e foi atingido por um raio. A
descarga, que partiu a árvore ao meio, matou Eva Bierling, de 20 anos, na hora
e feriu outras 11 pessoas.
Esta foi uma das dezenas de histórias reunidas pelo
pesquisador Osmar Pinto Jr., coordenador do Grupo de Eletricidade Atmosférica
(ELAT) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, e por sua filha, Iara
Cardoso, para a composição do filme, escrito e dirigido por ela.
A pesquisa, que durou três anos, levou o geofísico
a uma dramática conclusão: 85% das mortes por raio no País poderiam ser
evitadas. "O problema é que as pessoas se colocam em risco por falta de
informação. A probabilidade média de acidentes do País faz as pessoas
subestimarem o risco de serem atingidas. Mas a chance passa a ser muito maior
num lugar descampado. Sobe para 1 em cem", alerta o pesquisador.
"A situação às vezes fica a pior possível,
como no caso do cemitério. Novembro já é um período de muita tempestade, a zona
leste é a região com maior incidência de raio da capital, aí as pessoas, num
lugar muito aberto, correm para debaixo d'árvore quando começa a chuva. E
depois fica parecendo uma coisa do além", brinca Iara.
O Brasil é recordista mundial em queda de raios,
com 50 milhões por ano e 130 mortes. Para Pinto Jr., esse número só vai
diminuir com mais conscientização - e talvez com um pouquinho de medo.
"Olha, o filme não é dramático, mas serve para alertar. Eu mesmo, que
nunca tive medo de raio, fiquei com um pouquinho depois de conversar com tanta
gente", conta, divertindo-se.
O filme mostra a jornada do pesquisador em busca de
responder uma pergunta: os raios podem mudar a vida de uma pessoa? Para isso,
ele viajou por São Paulo, Rio, Bahia e Rio Grande do Sul atrás de causos
pessoais e fatos históricos do País ligados às descargas elétricas.
O local onde foi fundado São Paulo, por exemplo,
tinha uma pedra, a Itaecerá, que, segundo a mitologia tupi, fora rachada por um
raio. Em relação ao local, os índios tinham um misto de respeito e medo, o que
os afastava de conflitos com jesuítas.
Entre as histórias pessoais, destaca-se a do homem
que foi atingido quando andava de bicicleta sob uma tempestade e acabou se
apaixonando pela mulher que o socorreu. Estar em um veículo aberto, explica
Pinto Jr., é uma das posições mais arriscadas. "A melhor maneira de se
proteger é ficar num carro fechado", aconselha.
E fugir das árvores. Lição que a duras penas
aprendeu Mario Vechio, último sobrevivente do incidente de 1959. Então com 23
anos, diante da chuva, fez o que todo mundo estava fazendo, e foi para debaixo
da árvore. "Um clarão, um estrondo, e de repente tava todo mundo no chão,
alguns se debatendo. Tentei levantar, mas não tinha força e caía de novo. Mas
dei sorte, nada aconteceu. Hoje não tenho medo não, mas não corro mais para
debaixo de árvore."
Fonte: Site do
jornal O Estado de São Paulo - 30/09/2013
Comentários
Postar um comentário