Dez Anos Após a Tragédia de Alcântara, VLS é Dúvida. Programa Espacial Patina
Olá leitor!
Dando sequência a ‘série especial’ com os artigos e matérias
postadas na edição de nº 25 do “Jornal do SindCT” de setembro de 2013, que
trata do programa do VLS-1 e do trágico acidente com os 21 heróis de Alcântara,
segue abaixo o primeiro dos artigos.
Duda Falcão
Nossa Pauta 1
Dez Anos Após a Tragédia de Alcântara,
VLS é Dúvida. Programa Espacial Patina
Shirley Marciano e Pedro Pomar
Jornal do SindCT
Setembro de 2013
Há dez anos, no dia 22 de agosto, na base de Alcântara, no
litoral do Maranhão, engenheiros e técnicos civis empenhavam-se nos ajustes e
preparativos na Torre Móvel de Integração (TMI) em que seria realizado o teste
de lançamento do Veículo Lançador de Satélites (VLS). Era um dia de expectativa
para todos os envolvidos, pois faltavam apenas três dias para o lançamento do
foguete de 19,5 metros e cerca de 50 toneladas, em torno do qual girava o Programa
Espacial Brasileiro (PEB).
Porém, a ignição inesperada de um dos motores do foguete
provocou uma enorme explosão, que matou os 21 homens que ali trabalhavam,
experientes funcionários do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE). A TMI
transformou-se numa impressionante sucata retorcida. A tragédia, certamente a
maior da história mundial dos programas espaciais em número de mortes, deixou
sequelas de todo tipo.
A TMI demorou uma década para ser reconstruída — foi
oficialmente entregue apenas em 2013. A perda do conhecimento dos funcionários
que faleceram ainda não foi superada, pelo contrário: os números evidenciam uma
redução do quadro de pessoal nas áreas ligadas ao programa VLS.
Por outro lado, persistem a duplicidade e a
descontinuidade de comando na gestão do programa espacial. Outra questão a ser
resolvida diz respeito à indenização das famílias das vítimas. Durante o
velório, o presidente Lula anunciou que enviaria ao Congresso Nacional um
projeto de lei propondo uma indenização de reparação às famílias. Contudo, o
valor pago a cada família pelo governo federal, em 2004, foi de 100 mil reais,
a título de antecipação. Os familiares entendem que têm direito a um valor que
seja mais compatível com o que as vítimas ganhariam ao longo da vida
profissional.
Entraram na Justiça para pleitear esta correção, mas o
processo já dura nove anos e nada foi definido. “Estamos pedindo 3 milhões de
reais por família, que equivale a dois terços da remuneração por mês que
faltava para que a pessoa vitimada completasse 70 anos”, explica José Roberto
Sodero, advogado dos parentes das vítimas. Além das indenizações, as famílias
fazem jus a pensões mensais proporcionais ao salário de cada vítima.
Entretanto, por absurdo que pareça, o governo ameaça descontar 50% do valor das
pensões.
“Já não basta ter perdido meu marido, agora querem
retirar a pensão?”, questiona, indignada, Aparecida Garcia, viúva de Gines
Ananias Garcia. Como ocorre desde 2004, na data da tragédia os familiares
realizaram uma emocionante homenagem às vítimas, no Memorial Aeroespacial
Brasileiro (MAB). Vinte e um tiros de rojão foram desfechados pontualmente às
13h26, horário do acidente. Logo após, viúvas, irmãos e filhos leram textos
escritos há nove e dez anos.
Sem Culpados?
O relatório oficial da investigação, divulgado em
fevereiro de 2004 pela Comissão de Investigação, não atribui responsabilidades
individuais pelo acidente, limitando-se a explicar o conjunto de falhas que
culminou na grande tragédia. Elenca fatores de ordem técnica, meteorológica,
humana e operacional. O então vice-diretor do Centro Técnico Aeroespacial (CTA,
hoje DCTA) e chefe da comissão, brigadeiro Marco Antônio Couto, afirmou à época
que não houve uma causa única para o acidente e sim uma somatória de fatores,
dentre eles o corte de orçamento, a redução dos testes e também do número de
funcionários. A investigação concluiu, por exemplo, que o radar do Centro de
Lançamento de Alcântara (CLA) estava inoperante desde 1989, data em que chegou,
porque não havia um profissional para operá-lo.
O problema é associado a outro fator apontado no
relatório: a falta de recursos financeiros e humanos. Tudo isso, combinado,
teria ocasionado aquilo que a Comissão de Investigação definiu no relatório
final como “diminuição da capacidade de consciência situacional”, ou seja, a
redução das condições de percepção de risco.
Em outras palavras, embora houvesse se instalado um
ambiente de grande vulnerabilidade e alto risco, a equipe operacional do VLS
não se deu conta do perigo que estava correndo. No entender do engenheiro e
professor universitário aposentado Luciano Magno Costalonga Varejão, irmão de
uma das vítimas, César Augusto Varejão, e membro da Comissão de Investigação,
os erros determinantes foram as falhas de segurança: “Com o dispositivo de
ignição (espoleta) já no lugar, as normas de segurança determinavam que apenas
seis pessoas poderiam estar no ambiente da torre de lançamento do VLS, três
para executar as tarefas e outras três para verificar se as executavam segundo
as normas de segurança”, esclareceu.
O relatório também registrou que no CLA havia problemas
de ordem operacional, que impediram um gerenciamento de risco mais criterioso e
maior aperfeiçoamento na gestão de qualidade, mas não identificou culpados.
“Algumas perguntas ainda estão sem respostas”, afirma a Associação dos
Familiares das Vítimas em artigo publicado nesta edição: “Por que tantos
funcionários trabalhando ao mesmo tempo e, pior, com os dispositivos [de
ignição dos motores] instalados? Por que os dirigentes da missão não receberam
punição?” O então diretor do CTA, major-brigadeiro Tiago da Silva Ribeiro, não
foi encontrado pelo Jornal do SindCT para comentar as críticas.
“IAE é Competente”
Além das vidas perdidas, o Programa Espacial Brasileiro
sofreu um impacto significativo, pois não houve um novo lançamento, embora o
então presidente Lula tenha se comprometido a lançar a versão 4 do VLS até
2006. De lá para cá, surgiram apenas novidades preocupantes, como a criação da
binacional Alcantara Cyclone Space (ACS), fruto de um acordo com a Ucrânia,
destinada a lançar satélites comerciais. Como explicar tudo isso? “Em 2010,
visitei o IAE, que havia sofrido o trauma do acidente.
A organização da pesquisa me pareceu completamente
recuperada. É uma instituição de pesquisa competente, apesar do nocivo
isolamento em que é colocada. Do ponto de vista técnico, não me parece haver
problema algum. No INPE, também não. Os erros foram bastante bem equacionados,
descritos no relatório da comissão de investigação”, diz o professor Paulo
Murilo, do Instituto de Física da Universidade Federal Fluminense.
“O problema do Programa Espacial Brasileiro não está em
São José dos Campos (IAE e INPE) nem em Alcântara. Mora em Brasília. A falha é
do gerenciamento, este não foi corrigido”, avalia Murilo, que representou a
comunidade científica na Comissão de Investigação. “Até a primeira providência
de estabelecer um comando único do programa como um todo, que deveria ter sido
tomada há muito tempo para permitir a correção dos problemas específicos, não
foi efetivada até hoje”.
“Revisão Crítica Completa”
Visão oposta defende o tenente- coronel Alberto Walter da
Silva Mello Junior, atual gerente do Projeto VLS-1 e coordenador de Projetos
Espaciais do IAE. No tocante à segurança, ele garante que houve “uma revisão
crítica completa e passou-se a adotar a cultura de certificação, melhorando a
garantia da qualidade dos produtos”.
Engenheiro aeronáutico, doutor em Engenharia Aeroespacial
pela Universidade do Texas, o oficial mostra otimismo com o programa espacial:
“De 2003 até hoje, houve 24 lançamentos de veículos suborbitais, todos com
sucesso. Exporta-se VSB-30 para a Europa.
O VS-40, composto pela parte alta do VLS-1, também será
utilizado por parceiro internacional. Todo esse trabalho já coloca o Brasil
entre os países mais desenvolvidos na área espacial. O Veículo Lançador de
Microssatélites-1 (VLM-1), concebido nesse período, será um projeto conjunto
entre Brasil e Alemanha”.
Quanto ao cronograma do projeto, ele informa que em 2014
haverá duas operações: Santa Bárbara, para testes dos sistemas embarcados, e a
de lançamento do VSisnav, ou Veículo Lançador do Sisnav, Sistema de Navegação
do VLS-1. O PEB remonta aos anos 1980. A etapa de produção de satélites e o seu
controle em solo já foi alcançada pelo INPE nos anos 1990.
Contudo, para que os objetivos iniciais do programa sejam
plenamente atingidos, falta ainda o lançamento com sucesso do VLS, levando ao
espaço um satélite de fabricação nacional. As tentativas de lançamento de
protótipos do VLS realizadas em 1997 e 1999 foram mal sucedidas. A de 2003
resultou na tragédia que trouxe imensa dor e deixou cicatrizes nas instituições
envolvidas e nos projetos em curso.
Fonte: Jornal do SindCT - Edição 25ª - Setembro de 2013
Pelo fato de eu ser habilitado em Engenharia Mecânica (ITA 77), ter concluído Extensão Universitária em Engenharia de Armamento Aéreo (ITA 84) e habilitado em Engenharia de Segurança do Trabalho (FEI 95), eu criei a página da Internet cuja URL é: < http://dallapiazza.wordpress.com >, para orientar os atuais e futuros engenheiros aeroespaciais, formados ou não pelo ITA, sobre os riscos e medidas preventivas que devem ser adotadas no projeto do circuito de segurança e atuação dos foguetes de sondagem e lançadores de satélite.
ResponderExcluirAtenciosamente
Eng Emiliano