As Voltas Que o Mundo Dá
Olá leitor!
Segue um interessante artigo opinião postado hoje (16/09)
no site do jornal “O Estado de São Paulo” destacando as voltas
que o mundo dá. Leia.
Duda Falcão
OPINIÃO
As Voltas Que o
Mundo Dá
O Estado de
S.Paulo
16 de setembro
de 2013 | 2h 15
Passados dez anos da explosão na
torre de lançamento do Veículo Lançador de Satélites, na Base de Alcântara
(MA), o programa espacial brasileiro permanece onde sempre esteve: no chão. A
tragédia, ocorrida em 22 de agosto de 2003, que matou 21 engenheiros e
técnicos, evidenciou o atraso do País nessa área crucial. Agora, como a provar
que o mundo gira, o governo petista negocia com os Estados Unidos a utilização
da Base de Alcântara - em 2001, quando estavam na oposição, os petistas
ajudaram a bombardear um acordo semelhante, sob a alegação de que se tratava de
um atentado à soberania nacional.
Esse nacionalismo juvenil - capitalizado pelo então
candidato a presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que disse que o Brasil não
era "quintal para experiências" dos americanos - ajudou a retardar
ainda mais a entrada do Brasil na lucrativa área de lançamento de satélites.
Uma vez eleito, porém, Lula firmou com a Ucrânia, em 2003, um acordo muito
parecido com aquele que fora fechado com os Estados Unidos pelo governo de
Fernando Henrique Cardoso - e que foi qualificado de "entreguista"
pelos petistas.
A negociação com os americanos, concluída em
fevereiro de 2000, tinha como base uma série de salvaguardas tecnológicas - uma
exigência óbvia, dado que 85% dos satélites de comunicação são feitos pelos
Estados Unidos. Essa garantia, portanto, viabilizaria todas as demais cláusulas
para a utilização do centro de lançamentos. Além disso, o acordo com os
americanos impedia explicitamente que o Brasil aplicasse, em seus programas de
desenvolvimento de veículos lançadores, os recursos obtidos com a utilização da
base.
Os petistas alegam que os acordos são diferentes
porque, no contrato com os ucranianos, não há proibição expressa para o uso do
dinheiro para o desenvolvimento de veículos lançadores por parte dos
brasileiros. Mas não é bem assim: no tratado, a questão está enquadrada nos
termos do Regime de Controle de Tecnologia de Mísseis (MTCR), que impede a
proliferação de mísseis. Além disso, ao aceitar o veto explícito ao uso do
dinheiro, o governo de Fernando Henrique tinha em mente aplicar recursos
próprios no programa espacial, sem ter de se submeter às exigências de
financiadores externos.
Outra feroz crítica petista ao acordo com os
americanos foi a restrição à presença de brasileiros na área de lançamento. Mas
o acordo com os ucranianos, celebrado por Lula, prevê, em seu artigo VI, que o
acesso à área de lançamento "será controlado exclusivamente pelo governo
da Ucrânia".
Ademais, ao contrário da retórica antiamericana dos
petistas, o acordo com os ucranianos não difere daquele celebrado com os
americanos por uma razão muito simples: eles respeitam o mesmo modelo, aplicado
no mundo todo, que visa à proteção de tecnologias. Tratados nesses termos foram
assinados pelos Estados Unidos com China, Rússia e a própria Ucrânia sem que
ninguém se incomodasse com as cláusulas de salvaguardas.
Seja como for, o acordo com a Ucrânia não decolou.
As obras da Alcântara Cyclone Space (ACS), empresa binacional criada para tocar
a parceria, estão paradas, os funcionários foram demitidos e as máquinas foram
devolvidas. O Brasil decidiu suspender seu investimento depois que a Ucrânia
deixou de pagar sua parte.
Diante do prejuízo, o governo petista resolveu
esquecer o passado e retomar as negociações com os Estados Unidos, mas sem
perder a pose. O Planalto diz que desta vez as cláusulas serão diferentes, isto
é, não haverá exclusividade de uso da base de lançamento para os americanos nem
veto à entrada de brasileiros. Se os americanos irão aceitar essas exigências,
são outros quinhentos.
Enquanto isso, a Agência Espacial Brasileira luta
para retomar o projeto do Veículo Lançador de Satélites e, a despeito das
dificuldades, diz ter a tecnologia necessária para fazê-lo funcionar. No
entanto, o histórico do programa espacial - um misto de penúria econômica e
arroubos nacionalistas - não autoriza nenhum otimismo.
Fonte: Site do
jornal O Estado de São Paulo - 16/09/2013
Parece que esse jornalista fez o trabalho de casa. No entanto tenho que fazer uma crítica somente a esta parte:
ResponderExcluir"Além disso, ao aceitar o veto explícito ao uso do dinheiro, o governo de Fernando Henrique tinha em mente aplicar recursos próprios no programa espacial, sem ter de se submeter às exigências de financiadores externos."
O FHC, além de quase ter entregado nossas bases aos americanos, ainda contribuiu para a penúria do nosso PEB com limitadíssimos recursos (algo que, com certeza, colaborou com os 3 insucessos do lançamento do VLS). Então elogiar FHC aqui é um pouco descabido, ainda por cima dizendo que ele "tinha em mente aplicar recursos próprios no programa espacial, sem ter de se submeter às exigências de financiadores externos". Na realidade sabemos que isso parece estar longe da verdade.