Conexões Climáticas e Ambientais
Olá leitor!
Segue abaixo uma matéria publicada na “Revista Pesquisa
FAPESP” (edição 194) destacando que dois
projetos de pesquisa na área de meteorologia, desenvolvidos por pesquisadores
brasileiros trazem novos dados e a possibilidade de entendimento sobre o
microclima local.
Duda Falcão
TECNOLOGIA
Conexões Climáticas e Ambientais
Softwares e sistema de
geossensores para
captar
e analisar dados meteorológicos
EVANILDO DA SILVEIRA
Edição Impressa 194
Abril 2012
Dois
projetos de pesquisa na área de meteorologia, financiados pelo Instituto Microsoft
Research-FAPESP de Pesquisas em Tecnologia da Informação (TI), trazem novos
dados e a possibilidade de entendimento sobre o microclima local, a interação
entre florestas e atmosfera e as consequências das mudanças climáticas para a
agricultura. Em um dos trabalhos, os pesquisadores estão desenvolvendo
geossensores que serão espalhados na floresta amazônica, formando uma rede sem
fio para captar e transmitir dados ambientais localizados, como temperatura e
umidade, por exemplo, de uma fatia tridimensional do ambiente. A outra pesquisa
criou softwares e modelos matemáticos para analisar e prever o clima em
regiões específicas.
O segundo
projeto, conhecido como Agrodatamine, tem como objetivo compreender a
correlação entre os vários parâmetros de análise de clima e agricultura e
aperfeiçoar modelos agroclimáticos, avaliando e cruzando grandes volumes de
dados – da ordem de terabytes – colhidos por sensores instalados no solo,
radares meteorológicos e satélites. “A nossa meta é criar modelos e algoritmos
matemáticos que permitam identificar tendências e estabelecer correlações
nesses grandes volumes de dados para ajudar os agrometeorologistas a fazer
previsões mais precisas e tomar decisões rápidas”, explica Agma Juci Machado
Traina, professora do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da
Universidade de São Paulo (ICMC-USP) em São Carlos, coordenadora do trabalho.
De acordo
com ela, com o avanço da tecnologia de coleta de dados climáticos, a produção
de informações é muito maior que a capacidade existente de analisá-las. Por
isso é necessário desenvolver novas técnicas computacionais para explorar esse
volume de dados e produzir conhecimento para a agrometeorologia. “Nosso projeto
se baseia na premissa de que a procura de associações e de exceções sobre os
dados meteorológicos pode auxiliar a encontrar correlações e identificar
comportamentos sazonais e extremos, permitindo melhor interpretação dos
fenômenos climáticos associados”, diz.
Teoria dos Fractais
A análise de
variações do comportamento dos dados ao longo do tempo também utiliza a teoria
dos fractais, apresentada pelo matemático francês Benoit Mandelbrot, na década
de 1970, que serve para medir ou classificar situações complexas que não estão
baseadas na geometria tradicional. No projeto Agrodatamine, a teoria apoia o
mapeamento da distribuição de grandes volumes de dados. Também ajudará na
identificação de padrões temporais, principalmente quando o interesse está no
monitoramento de múltiplas séries, como a análise integrada da evolução do
comportamento de medidas de chuva e temperaturas mínima e máxima num
determinado período.
Entre os
resultados do trabalho estão três ferramentas computacionais. Uma delas é o
SatImagExplorer, um software que é abastecido com imagens de satélite. A
partir delas, o programa possibilita medir e analisar o que aconteceu com a
região monitorada no período em que as imagens foram coletadas. O ClimFractal
Analyzer é outro software que serve para análises dinâmicas, baseadas na
teoria dos fractais, em dados do clima de estações meteorológicas reais ou
gerados por modelos climáticos. A terceira ferramenta, um programa chamado
TerrainViewer, possibilita apresentar e manipular modelos tridimensionais de
relevo por meio de dados de altimetria e imagens obtidas por sensoriamento
remoto, com diferentes resoluções espaciais.
“Todas essas
informações podem ser utilizadas para apoio aos especialistas em
agrometeorologia e climatologia, tornando possível realizar análises de modo
mais rápido e preciso”, diz Agma. As pesquisas foram realizadas em parceria com
a Embrapa Informática Agropecuária, a Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp), o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e as
universidades federais de São Carlos e do ABC.
O
desenvolvimento e a instalação de redes de geossensores para monitoramento
ambiental na floresta amazônica são o objetivo do outro projeto, coordenado
pelo meteorologista Celso Von Randow, do INPE. “Nosso trabalho poderá
contribuir para a melhor compreensão de como a floresta interage com a
atmosfera e como ela influencia o microclima e, de outro lado, como o
microclima afeta a floresta e o ecossistema.
Os Projetos
1. Agrodatamine:
desenvolvimento de
métodos de técnicas
de mineração de
dados para apoiar
pesquisa em
mudanças
climáticas, com
ênfase em
agrometeorologia -
2. Desenvolvimento
e aplicação de rede
de geossensores
para monitoramento
ambiental -
Modalidade
1 e 2 Auxilio Regular
a Projeto de
Pesquisa
Coordenadores
1. Agma Juci Machado Traina - USP
2. Celso Von Randow - INPE
Investimento
1. R$ 178.631,48 (FAPESP)
2. R$ 216.957,00 (FAPESP)
O projeto
busca desenvolver ferramentas computacionais de mineração e análise de dados
ambientais, além de estudos de transmissão de informações em redes sem fio. Na
área de ciências ambientais, a meta é o entendimento de aspectos do microclima
da floresta. Para colocar em prática esses objetivos, os pesquisadores montaram
no Parque Estadual da Serra do Mar, próximo a São Luís do Paraitinga (SP), uma
rede de geossensores – pequenas caixas, com uma placa eletrônica de coleta de
dados e antena, em que são acoplados sensores. No experimento foram usados
quatro em cada caixa, três de temperatura e um de umidade. “Eles foram
desenvolvidos na Universidade Johns Hopkins, dos Estados Unidos, parceira no
projeto”, conta Randow. “Agora estamos desenvolvendo no INPE similares
nacionais, mas de cerâmica, mais resistentes que os existentes no mercado.”
Para o
projeto-piloto foram fincadas na mata atlântica seis torres, uma central e
cinco em volta dela, com altura de 10 metros superior à copa das árvores. Esses
postes são interligados por cabos, que funcionam como varais para pendurar
algumas das caixas. Outras foram colocadas em árvores, com as mais baixas a um
metro do solo e as demais em alturas variáveis até o dossel da mata. No total,
foram instaladas 52 caixas, o que somou 208 sensores, cobrindo uma área de 10
mil metros quadrados.
“As placas
gravam os dados e transmitem de uma para outra, em rede sem fio”, explica
Randow. “Com isso é possível praticamente fazer uma fotografia tridimensional
das condições ambientais da área, mostrando como varia, por exemplo, a
temperatura ou umidade do ar de um ponto para outro e de uma altura para
outra.”
Uma
tecnologia para economizar as baterias dos geossensores foi outra inovação
desenvolvida durante o projeto. Eles ficam desligados e só “acordam” de minuto
em minuto para ver se há algum contato com os notebooks dos
pesquisadores, que de tempos em tempos vão colher os dados armazenados nas
placas. “Agora a ideia é instalar um projeto-piloto numa área maior, de um
quilômetro quadrado, na floresta amazônica”, revela Randow. “Nesse experimento
vamos testar os sensores que estamos desenvolvendo.”
Artigo Científico
GONÇALVES,
R.R. et al. Analysis of NDVI time series using cross-correlation and
forecasting methods for monitoring sugar cane fields in Brazil. International
Journal of Remote Sensing. v. 33, n. 15, p. 4.653-72. 2012.
Fonte: Revista Pesquisa FAPESP - Edição 194 - Abril 2012
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