Plano Brasileiro de Lançar Foguete Enfrenta Atraso


Olá leitor!

Segue abaixo uma matéria publicada hoje (02/01) no site “Folha Online” do “Jornal Folha de São Paulo” destacando que o plano brasileiro de lançar os foguetes VLS-1 e Cyclone-4 estão enfrentando atrasos. A matéria trata também de outros assuntos relacionados com o PEB e com a Alcântara Cyclone Space.

Duda Falcão

Plano Brasileiro de Lançar Foguete Enfrenta Atraso

RAFAEL GARCIA
da Folha de S.Paulo
02/01/2010 - 8h29


O Programa Espacial Brasileiro entrou em seu último ano sob o governo Lula com dificuldades para cumprir uma promessa feita pelo presidente: colocar um foguete em órbita.

Os dois projetos que podem conseguir isso provavelmente só terão vôos de qualificação após o mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, e alguns especialistas dizem que as duas empreitadas acabarão competindo uma com a outra.

Quando o VLS (Veículo Lançador de Satélites) explodiu em 2003, matando 21 pessoas no CLA (Centro de Lançamento de Alcântara), no Maranhão, Lula afirmou que ajudaria o projeto da Aeronáutica a se recuperar a tempo de lançar o foguete no ano seguinte. Não foi tão rápido. O VLS --que pretende colocar satélites de até 400 kg em órbita baixa (cerca de 800 km)-- foi retomado, mas só terá um primeiro lançamento experimental em 2011.

Consórcio

O outro foguete a ser lançado do Maranhão é o Cyclone-4, projetado pela binacional ACS (Alcântara Cyclone Space), criada pelos governos de Brasil e Ucrânia. O projeto --capaz de levar 1.600 kg a órbitas de 35 mil km de altitude-- mantém o cronograma com lançamento em 2010, mas está com dificuldades de financiamento.

As empresas ucranianas do consórcio que constrói o veículo reconheceram que precisam de US$ 200 milhões para finalizá-lo. Até o Natal, não anunciaram ter conseguido o dinheiro.
Especialistas ouvidos pela Folha que não estão envolvidos nos projetos, porém, afirmam que os problemas de curto prazo são os menos graves.

"Não será possível o país manter o foco em veículos com a capacidade do VLS, pois não existe nicho [de mercado] de satélites de pequeno porte", afirma José Nivaldo Hinckel, engenheiro do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) especialista em satélites. "Se o Brasil quiser contar com um programa autônomo, ele vai ter de fazer um veículo que competirá com o Cyclone-4."

A AEB (Agência Espacial Brasileira), encarregada de dar unidade às ações fragmentadas que hoje compõem o programa espacial brasileiro, rejeita essa visão. O presidente da agência, Carlos Ganem, porém, já escreveu, em um artigo para o jornal "Correio Braziliense", que o uso do Cyclone-4 em Alcântara é "uma solução intermediária".

Ganem, contudo, disse à Folha que se tinha se expressado mal. "Não estudei semiologia, e o português é uma língua rica", disse. "Falei intermediário porque temos com eles [ucranianos] uma relação de grande expectativa e, até que ela se efetive, será intermediária."

Ainda que o discurso oficial da AEB e da ACS seja de cordialidade, a relação entre as duas entidades já mostrou sinais de desgaste. Em agosto, uma reunião com autoridades do programa espacial acabou em briga, após uma discussão entre Roberto Amaral, diretor da ACS, e o major-brigadeiro Antonio Hugo Chaves, que representava a AEB no encontro.

Uma versão do caso, publicada pelo jornal "O Globo", descrevia cena na qual Amaral teria esmurrado a mesa e arremessado um copo na direção de Chaves. Em carta pública, o diretor da ACS negou o ataque.

Amaral, porém, reconhece que houve discussão sobre o cronograma de obras em Alcântara. A Folha apurou que a Aeronáutica estava resistindo à pressão para empreender recursos na reforma de uma pista de pouso em Alcântara, obra que é essencial para a ACS.

O presidente da AEB não revela o teor do encontro que acabou em discussão, mas afastou Chaves de seu cargo na agência. Ganem diz que "a Aeronáutica tinha se comprometido a realizar essa obra, mas só pôde terminá-la depois de uma incisiva cobrança" de sua parte.
Hoje, enquanto Brasil e Ucrânia pretendem investir US$ 485 milhões para capitalizar a ACS, o projeto VLS, exclusivamente brasileiro, tenta avançar com um orçamento de cerca de R$ 35 milhões/ano.

Apesar da diferença, o coronel Francisco Pantoja, diretor do IAE (Instituto de Aeronáutica e Espaço), que desenvolve o VLS, evita críticas. "Com o que recebemos, dá para trabalhar dentro do cronograma."

Justificativas

O volume maior de verba destinado ao Cyclone-4 se justifica, em parte, por se tratar de um foguete de porte mais competitivo no mercado de lançamento. Mas a política adotada tem críticos. "A justificativa para o desenvolvimento de um veículo [foguete lançador] próprio é de caráter estratégico, o que exclui algo produzido por uma parceria oportunista e sujeita a restrições", diz Hinckel.

Outro engenheiro do setor aeroespacial, que conversou com a Folha sob a condição de anonimato, disse ter dúvidas sobre a viabilidade da ACS.

"É complicado pensar um projeto de longo prazo desses sem apoio forte dos militares", diz. "Mesmo que você tenha todo o apoio do governo, o presidente alguma hora vai embora, mas os militares ficam."


Fonte: Site Folha Online - 02/01/2010

Comentário: Boa matéria do Jornal Folha de São Paulo com diversas opiniões tanto sobe o “programa VLS” quanto a o programa do Cyclone-4. A ACS é uma piada de mau gosto e o leitor conhece a minha opinião sobre esse tema, agora, quanto ao VLS-1, apesar do mesmo não ter a configuração dos sonhos de parte dos engenheiros aeronáuticos brasileiros (o que concordo) o mesmo é importante sim e discordo frontalmente quanto ao que diz o engenheiro José Nivaldo Hinckel de que não exista nicho nesse mercado. Parece que o citado engenheiro ainda está vivendo uma realidade de 20 a 25 anos atrás e não se atualizou com o que esta sendo feito ao redor do mundo, tanto na área de propulsão de foguetes, quanto na área de nanotecnologia para satélites. O mercado para esse tipo de satélites já é bem significativo (vários satélites de diversos tamanhos estão atualmente sendo produzidos por empresas, universidades e institutos governamentais ao redor do mundo) e tende a crescer ainda mais nos próximos anos e não é por acaso que vem surgindo projetos de foguetes para lançamentos desses tipos de satélites (mini, micro, nano e picosatelites), inclusive no Brasil (picosatélites - Grupo Edge Of Space). Quanto ao desentendimento do diretor da ACS, o senhor Roberto Amaral e o major-brigadeiro Antonio Hugo Chaves, infelizmente a corda arrebentou do lado competente privilegiando uma vez mais a incompetência e fazendo com que o PEB acabasse como o único prejudicado em toda essa história.

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