Previsão de Clima Espacial - O que Temos a Ver com Isso?


Olá leitor!

Segue abaixo um artigo opinião escrito pelo pesquisador do INPE, Dr. Clezio Marcos Denardini e publicado na revista “Espaço Brasileiro” (Out., Nov. e Dez. de 2009) destacando o que temos a ver com a previsão do Clima Espacial.

Duda Falcão

Opinião

Previsão do Clima Espacial:
O Que Temos a Ver com Isso?

Dr. Clezio Marcos Denardini*

Se você já ligou no canal do tempo para decidir se deve ou não levar o guarda-chuva, você é uma pessoa prevenida. Neste caso, imagine-se usando um aparelho de navegação por satélite (GPS) para chegar numa rua desconhecida, na capital, São Paulo. Agora desligue seu aparelho. Socorro! Meu mapa se foi! Atualmente existem muitas pessoas preocupadas com a lo­calização das coisas.

Não é querer comparar a popularidade dos equipamentos de orientação por satélites com o chimarrão gaúcho, ou com o acarajé baiano, mas este equi­pamento parece estar cada vez mais entranhado no dia-a-dia. Basta tomar um avião na ponte aérea Rio - São Paulo, abastecer o carro com a gasolina nacional, ou simplesmente comprar um pão na padaria da esquina para constatar a presença de tal tecnologia.

Hoje em dia, os carros mais modernos no Brasil possuem sistema de navegação por satélite. Propagandas na TV insistem que este é um item indispensável nas viagens e nas grandes cidades. Aviões usam esta técnica para mostrar aos pas­sageiros onde estão num determinado momento do vôo. E algumas autorida­des já estão discutindo a navegação por satélite como a principal ferramenta de orientação nas rotas aéreas.

As plataformas de petróleo de águas profundas não são ancoradas ao assoalho marítimo. Elas estão ancoradas a rebocadores que as mantêm ativamente posicionadas. Mas como estes rebocadores são coorde­nados para manterem a plataforma na posição correta quando há tempestade ou ventos fortes? Todos eles usam o sistema de navegação por satélite.

Na agricultura é importante não só ter o clima adequado (chuvoso ou seco) nas horas adequadas para que a colheita seja farta, mas também é importan­te que se possa colher tudo no menor tempo possível quando o tempo está seco. Para isso existem as colheita­deiras agrícolas que custam centenas de milhares de reais e que são posicio­nadas por sistema de navegação por satélite, controladas a distância e que trabalham dia e noite.


Então, como saber se estes sistemas de orientação por satélites estão funcio­nando adequadamente? E como saber se eles estarão corretos dentro das próximas horas ou dias? A resposta para essas perguntas é simples: pesquisa científica e modelos capazes de prever fenômenos espaciais que afetem o ambiente onde os satélites estão locali­zados. Felizmente, a pesquisa científica começou há mais de 45 anos no Brasil e, recentemente, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), locali­zado em São José dos Campos (SP), desenvolveu um programa de estudo e monitoramento do clima espacial.

As pesquisas já revelaram que contínuas mudanças dos fenômenos solares (atividade solar) são capazes de afetar o ambiente espacial em torno da Terra. Es­pecialmente, as explosões solares que injetam grande quantidade da massa e energia no meio interplanetário e que, ao alcançarem a Terra, podem provocar tempestades geomagnéticas ou alterar sensivelmente a natureza ionizada da atmosfera. Como os sinais entre os satélites e os equipamentos aqui na Terra passam pela atmosfera, a comunicação pode ficar comprometida. Além disso, as pesquisas científicas revelaram que existem bolhas da porção ionizada da atmosfera que são capazes de impedir que as comunicações ocorram.

Todos estes fenômenos fazem parte do clima espacial e, agora, começam a ser monitorados de forma sistemática para que todos possam compreender e informar o que está ocorrendo num deter­minado momento, inclusive, estimando o erro nos sistemas de navegação por satélite. No portal “Clima Espacial” do INPE (http://www.inpe.br/climaespacial/) todas essas informações estão dispo­níveis. Em um futuro breve poderemos, quem sabe, prever os erros. Então diremos para os nossos filhos: “levem o casaco e não esqueçam de acertar o GPS porque hoje o sol está ativo”.

* Doutor em Geofísica Espacial e pes­quisador no INPE


Fonte: Revista Espaço Brasileiro - núm 07 - Ano 2 - Out., Nov. e Dez. de 2009 - Pág. 18

Comentário: As observações do pesquisador do INPE são pertinentes e o trabalho que o mesmo está envolvido no instituto mais ainda. Em 2001, os russos propuseram ao INPE um projeto de cooperação com o Brasil relacionado como o clima espacial visando o desenvolvimento e lançamento da primeira sonda brasileira de espaço profundo que ficaria conhecida posteriormente como satélite MCE (Monitor de Clima Espacial). Infelizmente devido aos “Cabecinhas de Panetone” que militam desastradamente nos bastidores do PEB e não conseguem enxergar um palmo diante do nariz, o projeto foi descartado (veja aqui a matéria Brasil pode ter primeira sonda espacial publicada pelo jornal “Folha de São Paulo” em 29/12/2001) perdendo assim o país não só a possibilidade de pesquisar in loco o clima espacial como também a ter acesso a tecnologias extremamente estratégicas para a pesquisa espacial. Lamentável!

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