Falta de Pessoal, Verba e Ambição Atrasam Programa Espacial Brasileiro
Olá leitor!
Segue abaixo um artigo postado hoje (12/08) no site “UOL
Notícias” destacando que falta de pessoal, verba e ambição atrasam o Programa
Espacial Brasileiro.
Duda Falcão
UOL NOTÍCIAS - Ciência e Saúde
Falta de Pessoal, Verba e Ambição
Atrasam Programa Espacial Brasileiro
Por Carlos Madeiro
Colaboração para o UOL, em Maceió
12/08/2018 - 04h00
Foto: Divulgação/INPE
Concepção artística mostra o satélite CBERS 4 em órbita.
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Com quatro décadas de existência, o programa espacial
brasileiro deixou para trás a fama de referência entre países emergentes para
enfrentar uma fase de problemas e ser ultrapassado por outras nações. Segundo
os planos traçados, o Brasil deveria estar no espaço com um novo satélite de
monitoramento, lançado por um foguete nacional --mas ambos os projetos estão
atrasados em seus cronogramas.
Segundo autoridades do setor entrevistadas pelo UOL, os
desafios foram criados pelos cortes de pessoal e de orçamento, ocorridos nos
últimos anos, além de erros estratégicos. Com isso, o Brasil não desenvolveu
tecnologia e atrasou a fabricação de foguetes e satélites.
O cenário atual foi debatido por líderes do programa
espacial durante a reunião anual da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso
da Ciência), ocorrida em julho em Maceió.
Atualmente, há dois importantes satélites brasileiros no
espaço: o novo satélite geoestacionário e o CBERS 4.
O primeiro foi lançado em maio de 2017 e idealizado para
a área de telecomunicações. Tem entre suas possibilidades fornecer banda larga
a hospitais e escolas de todo o país.
Já o CBERS 4 foi feito em cooperação com a China. Ele é usado
para sensoriamento remoto, ou seja, voa baixo para tirar fotos e mandá-las à
Terra. Há ainda satélites mais antigos que ajudam nesse monitoramento e que, mesmo
já tendo expirado sua utilização prevista, continuam em funcionamento.
O próprio CBERS foi estimado para se
"aposentar" no fim do ano passado. Um novo satélite, denominado CBERS
4A, o substituiria. Mas o projeto atrasou e não entrou em órbita.
Em novembro do ano passado, o INPE (Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais) já falava que o lançamento seria em maio de 2019. A nova
previsão diz apenas que acontecerá no segundo semestre do próximo ano. O antigo
modelo continua mandando imagens sem falhas.
A nova "menina dos olhos" da tecnologia
espacial civil brasileira é o satélite Amazônia 1, feito para dar mais
qualidade ao monitoramento da região amazônica --hoje o país não possui um
satélite com esse perfil só para a Amazônia. Mas seu desenvolvimento também
atrasou. Seu envio ao espaço está previsto apenas para 2020.
Foto: Lucas Lacaz Ruiz/A13
INPE faz testes de integração entre os
satélites CBERS 4A
e Amazônia 1.
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Falta Tecnologia
Para colocar um novo satélite em órbita, o Brasil precisa
enviá-lo para um país que possua foguete de lançamento. Não há um equipamento
nacional, o que encarece os projetos.
"Para lançar o Amazônia 1, por exemplo, temos de
fazer a licitação com dois anos e meio de antecedência. Precisamos desse tempo
porque temos que saber quais as características do foguete, a vibração que ele
faz especialmente no lançamento para fazer os testes e saber se
ele resiste à essa vibração. Se tivéssemos nossos próprios foguetes, já
saberíamos isso", afirma Ricardo Galvão, presidente do INPE.
"Estamos muito atrasados no programa."
Parte desse atraso pode ser explicada pela explosão na
base de Alcântara (MA), em 2003.
Foto: Agência Espacial Brasileira via BBC
Centro de Lançamento de Alcântara, no litoral do Maranhão.
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Mas não foi só isso, dizem os entrevistados ouvidos pela
reportagem. Eles também citaram problemas com fluxo de caixa e falta de pessoal
especializado. O primeiro pode ser recomposto no orçamento se houve vontade
política. Já a segunda questão depende acima de tudo de tempo.
"A formação leva cinco anos, e some mais dois anos
para começar a produzir conhecimento", diz o brigadeiro Augusto de Castro
Otero, diretor do IAE (Instituto de Aeronáutica e Espaço).
No INPE, a situação é parecida. O presidente Ricardo
Galvão conta que, desde que entrou no órgão, em 2016, houve 250 pedidos de
aposentadoria, num universo de 800 pessoas trabalhando atualmente.
Isso causa problemas no andamento dos projetos.
"Terceirizados podem fazer várias coisas, mas há outras que só servidores
públicos podem assumir, como ter acesso a certos sistemas", afirma ele.
Falta Estratégia
Sobre a falta de um foguete, o diretor diz que ter esse
equipamento é algo que trata não só de tecnologia. "Faltaram recurso e
pessoal, mas foi um erro de estratégia. Deveria ter concentrado mais [essas
coisas] e ter desenvolvido o nosso lançador", diz o presidente do INPE.
Para ele, isso teve impacto também na soberania nacional.
"Tínhamos um papel de líder na América Latina, e hoje estamos bem atrás,
por exemplo, da Argentina", relata.
Segundo Galvão, o primeiro satélite argentino foi testado
no INPE, mas hoje o país vizinho "nos superou na capacidade de fazer satélites
e foguetes lançadores".
O programa espacial brasileiro é dividido em duas
frentes: uma civil, coordenada pelo INPE, que fabrica os satélites; e outra
militar, comandada pelo IAE. Cabe à Aeronáutica produzir os foguetes e fazer os
lançamentos.
O diretor do instituto, engenheiro e brigadeiro Augusto
de Castro Otero, reconhece o atraso na produção do chamado VLM (Veículo
Lançador de Microssatélite) --que deveria ter sido lançado em 2015, segundo
planejamento inicial--, mas fala que não houve atraso estratégico. Hoje, esse
foguete é desenvolvido em parceria com a Alemanha.
"O Brasil nunca atrasou a ideia [de ter o lançador].
Ela sempre foi tempestiva [tinha prazo definido para ocorrer], iria ser feita
no momento certo. O que aconteceu foi que tivemos contingenciamentos
históricos, o fluxo de caixa foi diferente do que fora inicialmente
planejado", afirma. "Quando se reduz o recurso, você alonga o projeto
em tempo e sofre diversos problemas, como envelhecimento da tecnologia, da
equipe de projeto."
Segundo o brigadeiro, para 2018 e 2019 estão garantidos
recursos que devem permitir o cumprimento do cronograma --que prevê um primeiro
lançamento de teste em 2019. Já o primeiro lançamento em órbita de um satélite
brasileiro deve ocorrer apenas em 2021.
Falta Dinheiro
Um dos grandes desafios para a continuidade do programa
espacial brasileiro é a redução de verbas e de mão de obra qualificada nos
últimos anos.
Em 2014, por exemplo, o IAE tinha orçamento de R$ 58
milhões. Em 2017, esse valor caiu para R$ 27,3 milhões (ou 53% a menos). Com
isso, o número de projetos desenvolvidos baixou de 53 para 16.
De acordo com o brigadeiro, outro problema
"grave" é que o IAE possui hoje apenas 558 cargos ocupados, enquanto
607 estão vagos.
"A redução das pessoas causa impacto em todos os
projetos, seja de tempo, custo, descontinuidade", diz.
Sobre a queda de recursos, Galvão afirma que o INPE sofre
com essa redução desde o começo do século. "Desde 2000 os recursos tem
diminuído gradativamente", revela, citando que em 2018 o Ministério
da Ciência e Tecnologia reduziu o corte do orçamento da área. "Conversamos
com o ministro [Gilberto] Kassab e ele recompôs [a verba]."
O investimento brasileiro estimado para os primeiros
lançamentos do foguete é de R$ 150 milhões. A outra parte do recurso é bancada
pelo governo alemão, que entrou no projeto em 2014, quando o IAE percebeu que
não conseguiria fazer sozinho o projeto. A parceria com a Alemanha já existia
para outras áreas, mas foi crucial não só do ponto de vista financeiro como
tecnológico.
"Não é um valor alto e, se houver fluxo, o projeto
será feito com êxito. Mais que recursos, há barreiras tecnológicas que precisam
ser superadas, e algumas delas empurram o projeto um pouco mais para a frente
porque precisamos dar soluções", explica
Falta Ambição
Para Othon Winter, pesquisador do Grupo de Dinâmica
Orbital e Planetologia da Unesp (Universidade Estadual Paulista), o programa
espacial teve uma série de avanços conquistados ao longo desse período, como o
desenvolvimento e colo cação em órbita do satélite geoestacionário, os
laboratórios científicos e a base de Alcântara.
Apesar disso, ele cita que essas foram "pequenas
coisas" e afirma que o Brasil deixou de fazer outras mais importantes.
"O Brasil é um país continental, não estamos falando
de um pequeno país. A gente precisa ter satélite, controlar fronteiras. Temos
muita coisinha que seria legal para um país como o Chile, por exemplo, mas para
o Brasil é muito pouco. A Índia, que é muito similar ao Brasil em território,
tem seu próprio lançador, mandou satélite à Lua, é um país que tem
autonomia nesse campo. O que temos é muito pouco pela nossa extensão.
Poderíamos estar muito avançado nesse cenário", explica.
Para Winter, a falta de recursos não pode ser apontada
como causa só do problema. "Falta algo um pouco mais arrojado. Falta
dinheiro, mas não é só. Já tivemos dinheiro em alguns momentos e não soubemos
gastar", diz.
O pesquisador ainda ressalta que o domínio da tecnologia
espacial precisa ser tratado como questão de soberania nacional.
"A área especial, assim como a nuclear, têm de ser
de Estado, tem de ser prioridade. Lógico que em época de crise você reduz [o
dinheiro investido], mas tem de ter um plano perene, de médio a longo prazo,
para dizer o que é que você quer fazer. Isso tem de ser pensado inclusive sem
depender de troca de governo", afirma.
Fonte: Site UOL Notícias – https://noticias.uol.com.br
Comentário: Pois é leitor, aproveitamos para agradecer
aos nossos leitores Edvaldo Coqueiro e Mariana Amorim Fraga pelo envio deste
artigo.
E o VLX alguém tem notícia?
ResponderExcluirOlá Blog Luiz!
ExcluirEspero que em breve teremos notícias concretas sobre o projeto do VLX!
Abs
Duda Falcão
(Blog Brazilian Space)