A Corrida Pela Melhor Luz
Olá leitor!
Segue abaixo outro interessante artigo publicado na
edição de Julho de 2018 da “Revista Pesquisa FAPESP” tendo como destaque a concorrência
internacional que o fantástico acelerador de partículas “Sirius” de luz
sincrotron brasileiro terá de enfrentar nos próximos anos.
Duda Falcão
CAPA
A Corrida Pela Melhor Luz
Sirius competirá com um
equipamento de quarta geração inaugurado em 2016
na Suécia e outro planejado
para funcionar a partir de 2020 na França
Por Ricardo Zorzetto
Revista Pesquisa FAPESP
Edição 269 - Jul. 2018
Imagem: ESRF
O European Synchrotron Radiation Facility, na França,
que
passará por aprimoramento a partir de 2019.
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Há pressa em concluir o
Sirius, a nova fonte de luz síncrotron brasileira que será uma das mais
avançadas no mundo. A meta é não prorrogar muito o término de sua construção e
montagem, hoje com um atraso modesto de seis meses, aceitável em um projeto
dessa magnitude e complexidade técnica. É que seus competidores já surgem no
horizonte. São equipamentos projetados para apresentar um brilho similar ou até
superior ao da máquina brasileira, que certamente atrairão a atenção de pesquisadores
acadêmicos e de empresas interessados em realizar experimentos que exigem
resoluções espaciais e temporal cada vez maiores.
Por essa razão, em maio
deste ano, enquanto físicos e engenheiros do Laboratório Nacional de Luz
Síncrotron (LNLS) concluíam a instalação e realizavam os testes iniciais do
acelerador linear, operários e engenheiros civis trabalhavam 24 horas por dia
de segunda a sábado nas obras do Sirius. Corriam para finalizar o prédio até
agosto e permitir que as outras partes do acelerador e as estações
experimentais começassem a ser montadas o mais cedo possível. Mesmo que as
instalações estejam prontas logo, a nova fonte de luz não funcionará sem a
conexão entre a rede elétrica de alta tensão, que precisa ser providenciada
pela CPFL Energia, que distribui energia na região de Campinas, e a subestação
que alimentará o Sirius e o resto do campus do Centro Nacional
de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), que, juntos, consumirão a energia
de uma cidade de 40 mil habitantes. “É preciso correr se quisermos ter a fonte
mais brilhante do mundo por um período”, afirma o físico Antônio José Roque da
Silva, diretor do LNLS e responsável pela construção do Sirius.
Hoje existem quase 50
fontes de luz síncrotron em funcionamento em pouco mais de 20 países. Quase
metade delas se concentra em três países: o Japão tem 9 (muitas de pequeno
porte), os Estados Unidos, 7, a Alemanha, 6. Pouco mais de 20 são de terceira
geração, uma anterior à dos equipamentos mais modernos, que estão atingindo o
limite do que é possível construir. O Sirius, de quarta geração, terá dois
competidores diretos: uma fonte de luz já em operação na Suécia e outra que
começará a ser montada em breve na França – além dessas, outras 13 de quarta
geração estão em planejamento.
Imagem: Perry Nordeng
O MAX IV, na Suécia, primeira fonte de luz síncrotron de
quarta geração.
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Instalado em Lund, cidade
de 120 mil habitantes a 500 quilômetros ao sul de Estocolmo, a fonte de luz MAX
IV é a primeira no mundo a ser considerada de quarta geração. Esses
equipamentos são assim classificados por apresentarem uma distribuição
inovadora de magnetos em torno do anel de armazenamento de elétrons, proposta
em 1993 pelo físico alemão Dieter Einfeld e pelo físico esloveno Mark Plesko em
um artigo na revista Proceedings of SPIE. Esse novo desenho da rede
magnética foi adotado pela primeira vez no MAX IV e permite usar anéis de
armazenamento menores para obter feixes de luz síncrotron mais concentrados e
brilhantes.
Construído com componentes
projetados e fabricados na Suécia e em outros países, o MAX IV foi inaugurado
em junho de 2016, em uma cerimônia da qual participou o rei da Suécia, Carl XVI
Gustaf. O equipamento é formado por dois anéis de armazenamento: um contendo
elétrons com energia de 1,5 gigaelétrons-volt (GeV), que alimentam duas
estações experimentais hoje em fase de comissionamento, e outro com elétrons de
3 GeV, que fornecem luz síncrotron para cinco estações, das quais três estão
ativas e duas em testes. “Desde o início das operações, já tivemos 318
usuários”, conta o físico brasileiro-sueco Pedro Fernandes Tavares, diretor de
aceleradores do MAX IV. Segundo Tavares, o anel de maior energia deve fornecer
neste ano luz síncrotron para as estações experimentais a ele conectadas
funcionarem por cerca de 4 mil horas, o equivalente a 167 dias.
Se tudo sair como o
planejado, em pouco tempo, o Sirius e o MAX IV devem enfrentar um concorrente
de peso: a fonte extrabrilhante (EBS) do European Synchrotron Radiation
Facility (ESRF), que fica em Grenoble, cidade de 160 mil habitantes no sudeste
da França, ao pé dos Alpes. Será uma versão aprimorada de sua atual fonte de
luz síncrotron, a primeira de terceira geração a entrar em funcionamento no
mundo, nos anos 1990. O ESRF é operado por um consórcio de 22 países e há três
anos seus técnicos e engenheiros preparam o upgrade que custará € 150 milhões.
Imagem: Renan Picoreti -
Divulgação LNLS/CNPEM
O Sirius, nova fonte de luz síncrotron brasileira, está
em
fase final de construção em Campinas, interior de São Paulo.
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O equipamento atual será
desligado em dezembro deste ano e, nos 18 meses seguintes, seu anel de
armazenamento será desmontado e substituído por um novo, com 844 metros de
circunferência, que manterá elétrons circulando com 6 GeV de energia, o dobro
da do Sirius e do MAX IV. De acordo com a assessoria de comunicação do ESRF, o
projeto está em dia. A previsão é de que o novo equipamento, que terá brilho
100 vezes mais intenso do que o da máquina atual, seja reaberto para os
usuários em 2020 com as linhas de luz abastecendo 44 estações experimentais.
Na opinião do físico Aldo
Craievich, professor aposentado da Universidade de São Paulo (USP) e um dos
líderes da construção da primeira fonte de luz síncrotron brasileira, o UVX, o
Sirius deverá competir em condição de igualdade com o MAX IV e o ESRF-EBS e
atrair colaboradores internacionais. “Estou convencido de que virão até mesmo
pesquisadores de países mais desenvolvidos do hemisfério Norte, porque um bom
número de experimentos avançados só poderá ser realizado aqui”, afirma. “Será
um ambiente de forte estímulo à cooperação internacional, que deve superar o
que ocorreu com o UVX.” A fonte brasileira atual, que deve ser desligada no
final de 2019, tem uma média de 1.200 usuários por ano, cerca de 20% vindos de
outros países da América Latina.
Fonte: Revista Pesquisa FAPESP - Edição 269 – Julho de
2018
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