Como Alcântara Pode Ajudar o Brasil
Olá leitor!
Segue abaixo um interessante
artigo opinião escrito pelo Tenente Brigadeiro do Ar Nivaldo Luiz Rossato (Comandante
da Aeronáutica) e publicado dia (11/08) no site do jornal “O Estado de São
Paulo”, tendo como tema o uso comercial da Base de Alcântara.
Duda Falcão
OPINIÃO
Como Alcântara
Pode Ajudar o Brasil
Temos pela
frente uma excelente oportunidade para
nos
posicionarmos no mercado espacial
Por Ten. Brig. Nivaldo
Luiz Rossato*
O Estado de
S.Paulo
11 Agosto 2018 |
03h00
Há décadas, o
Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), localizado no Maranhão, tem sido alvo
de polêmicas baseadas, em boa parte, na desinformação sobre sua relevância para
o Brasil. O País precisa saber que Alcântara não está à venda, não será
arrendada e que tampouco haverá cessão de área ou qualquer outra ação que afete
a soberania brasileira.
Na verdade, o que
se pretende é viabilizar o uso comercial do CLA. Feito isso, Alcântara vai
oferecer a possibilidade de empresas privadas efetuarem lançamentos de engenhos
espaciais a partir das suas instalações, proporcionando uma nova e
significativa fonte de recursos financeiros para o Programa Espacial Brasileiro
e seus importantes projetos.
A Estratégia
Nacional de Defesa, já em 2008, designou o Comando da Aeronáutica como o
responsável pelo setor espacial brasileiro, entretanto, como não há programa
espacial exclusivamente militar, é imprescindível que toda a sociedade
brasileira conheça a importância de Alcântara.
Nosso país tem o
tamanho de um continente. São praticamente 200 milhões de habitantes que usam
diariamente serviços providos por satélites, sem nem sequer notar que o fazem.
Essas tecnologias estão em nossos telefones celulares, no GPS, na previsão
meteorológica, no levantamento de imagens para diversas finalidades – como as
usadas para previsão de safras agrícolas e monitoramento de desmatamentos –
dentre inúmeros outros serviços. Diante da relevância de tantas possibilidades
de uso do espaço, a questão que se impõe é: queremos ter essa indústria aqui,
no Brasil, gerando empregos e desenvolvimento, ou vamos seguir sendo
ultrapassados por outros países na corrida espacial?
Infelizmente,
hoje o Brasil está praticamente fora do mercado espacial mundial. Estamos
falando de um volume de negócios estimado em mais de US$ 300 bilhões por ano.
E, como não temos empresas nacionais explorando profundamente esse segmento,
nossos profissionais altamente capacitados acabam sendo absorvidos por empresas
de outros países, pondo em risco um legado de décadas de trabalho no Brasil.
Atualmente,
países que iniciaram seus programas espaciais junto com o Brasil, por volta da
década de 1960, já se valem de uma considerável autonomia. Diferentemente do
que acontece aqui, mesmo tendo em nosso território um dos melhores locais do
mundo para lançamento de satélites. Situado a apenas 250 km ao sul da Linha do
Equador, nosso centro em Alcântara propicia uma economia de combustível de pelo
menos 30% nos lançamentos. Além disso, sua posição estratégica apresenta
meteorologia favorável e saída para o mar, fatores igualmente importantes para
um centro espacial.
Para minimizar
os danos da estagnação do programa espacial, algumas ações de alta relevância
têm sido tomadas em prol do setor espacial brasileiro. Prova disso é o
recém-assinado Programa Estratégico de Sistemas Espaciais (Pese) – parte do
Programa Nacional de Atividades Espaciais –, que tem uma concepção dual,
englobando ações de defesa e de ciência e tecnologia. Com essa formatação, o
Pese oferece possibilidades de serviços de satélites não só para as Forças
Armadas, mas também para atendimento a necessidades governamentais em diversas
áreas em prol da sociedade, notadamente no fornecimento de internet de banda
larga a regiões mais remotas.
Além disso,
acompanhando o surgimento de novas ondas como a nanotecnologia, e sua
decorrente miniaturização de produtos espaciais, o Programa Espacial Brasileiro
tem focado atualmente na viabilização do desenvolvimento do Veículo Lançador de
Microssatélites (VLM). Trata-se de um novo nicho muito explorado por companhias
privadas. As filas de espera nos centros de lançamento de artefatos desse tipo
ao redor do globo estão em torno de três anos, o que corrobora a carência
dessas instalações no mercado e reforça a oportunidade que surge para
recuperarmos o tempo perdido.
Porém, para que
satélites estrangeiros possam ser lançados do território brasileiro são
necessárias proteções legais, conhecidas no mercado aeroespacial como Acordo de
Salvaguardas Tecnológicas, ou AST, um contrato recíproco de proteção legal de
tecnologias.
Com o acordo, os
países estabelecem um compromisso mútuo de proteção das tecnologias e patentes
contra uso ou cópia não autorizados. Esses acordos são praxe no setor espacial
e não representam ameaça alguma à soberania brasileira. Infelizmente, este tema
tem sido distorcido com alguma regularidade, gerando uma falsa ideia de que o
AST seria prejudicial para o País. E isso não é verdade.
No momento, o
Brasil se encontra em plena negociação de um AST com os Estados Unidos. Após
sua conclusão, teremos condições legais de atuar conjuntamente não só com a
nação que domina simplesmente cerca de 80% do mercado espacial e suas
tecnologias, mas também com qualquer outro país que tenha produtos espaciais
desenvolvidos com componentes de empresas americanas. Por outro lado, caso o
Brasil não permita a formalização desta parceria com os norte-americanos,
estaremos impondo ao País óbices extremamente duros para a continuidade do
nosso programa espacial.
Temos pela
frente uma excelente oportunidade para finalmente nos posicionarmos no mercado
espacial mundial, com um protagonismo compatível com a grandeza do Brasil. E o
Centro de Lançamento de Alcântara é peça fundamental neste processo. Por isso
precisamos incentivar seu uso comercial, o que certamente trará consequências
benéficas para o Programa Espacial Brasileiro. Trata-se de um assunto que não
pode ficar restrito ao Comando da Aeronáutica ou a apenas um governo. A área
espacial sempre foi e continua sendo estratégica para o País, mas, para
avançarmos rumo ao seu desenvolvimento, ela deve ser tratada como tal por todos
os brasileiros.
*O Tenente -
Brigadeiro-do-Ar é Comandante da Aeronáutica
Fonte: Site do
jornal O Estado de São Paulo - 11/08/2018
Comentário: Pois é leitor, tá ao a visão do Comandante da
Aeronáutica e creio que vale a pena o debate sobre o que ele colocou aqui.
Fiquem a vontade.
Olha, todos sabem que existem diferentes visões dentro do INPE, IAE, aeronáutica, AEB. Anos atras, 20 anos, 30 anos atras, era difícil ver dentro dos comandos essa passividade a acordos, principalmente aqueles que envolviam parceria com outros países em relação a Alcântara, acreditando que era possível nos desenvolvermos no setor sem a necessidade de 'ceder' a base. Depois de anos de sucateamento, parece que a visão mudou. Sinceramente, é óbvio que é necessário justificar comercialmente Alcântara. Porém, que legitimidade tem esse governo para fazer isso? Nao é questão aqui de ideologia nao, pfv. Acho que está pacificado a ideia de que esse governo só tem feito mal ao país. Caros, o eua nos boicotam desde sempre, desde sempre. O que mudou? Portanto, acho que somente um governo legitimado pelo voto, como logo será, deveria tocar esse projeto, seja pelo sim ou pelo não, mas ao menos teria respaldo pelo voto.
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