Entrevista: O 'Mundo de Nárnia' da Piada Espacial Brasileira
Olá
leitores e leitoras do BS!
Segue abaixo
uma entrevista recente do Presidente da nossa piada espacial (AEB), o Sr. Marco
Antonio Chamon (Mister MoU), publicada dia (21/11) no site da 'Revista Pesquisa
FAPESP'.
Pois então
amigos e amigas do BS, trocam-se as datas do texto e a foto que ilustra essas entrevistas, e o discurso é igualzinho do seu sucessor, ou como diz o Prof. Rui Botelho: "Mais de
Mesmo". Essa gente vive verdadeiramente no Mundo de Nárnia, kkkkkkkkkkkk.
Pois é, e aproveitamos para agradecer uma vez mais ao nosso amigo e membro do BS, Eugênio Preza, editor da
revista digital EP.SPACE-BR, pelo envio desta entrevista.
Brazilian
Space
ENGENHARIA -
INOVAÇÃO – TECNOLOGIA
ENTREVISTA
Marco Antonio Chamon: Muitos Planos Para o Espaço
Novo presidente
da Agência Espacial Brasileira prepara o lançamento de foguetes e satélites e
anuncia novos acordos internacionais de cooperação
Por Yuri
Vasconcelos
Revista Pesquisa FAPESP
21 nov 2023
- 09:58
Foto: AEB
Engenheiro
elétrico com mestrado e doutorado em tecnologia espacial, após uma carreira de
quase 40 anos no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Marco
Antonio Chamon assumiu em julho deste ano a presidência da Agência Espacial
Brasileira (AEB), instituição responsável pela coordenação do programa
espacial.
Ele
reconhece que nos últimos 20 anos o país avançou menos do que poderia nessa
área, enquanto China e Índia desenvolveram-se bastante, mas também tem boas
notícias para os próximos anos, como a perspectiva de lançamento, já em 2024,
de dois foguetes suborbitais, que entram e saem da atmosfera terrestre, para
pesquisas em microgravidade, e dois novos satélites construídos em parceria com
a China e a Argentina.
A
construção de foguetes suborbitais deve facilitar o desenvolvimento do Veículo
Lançador de Microssatélites (VLM), outra meta do programa espacial brasileiro.
Nesta entrevista, concedida por plataforma de vídeo, Chamon conta também sobre
o plano de incentivar o uso de dados de satélite e de acordos com outras
agências espaciais, alguns discutidos durante um encontro científico recente na
Europa.
O senhor participou recentemente do Congresso Internacional de
Aeronáutica, no Azerbaijão. O que trouxe na bagagem?
Tivemos uma
semana tomada com encontros. Reunimo-nos com todas as agências espaciais de
relevo, como a norte-americana, a chinesa, a russa e a europeia. O que me
deixou especialmente feliz foi que todo mundo queria conversar com o Brasil.
Havia dois assuntos principais. O primeiro foi a reinserção do país no cenário
internacional. Temos um programa espacial consolidado, ainda que menor que o de
outros países, mas com satélites no ar e acordos internacionais de cooperação
científica e tecnológica. O segundo foi nossa posição como um parceiro experiente,
que faz a ponte com países que estão entrando na área espacial e ainda não têm
programas espaciais consolidados. Para essas nações, como é o caso de Colômbia
ou Ruanda, é mais fácil conversar com o Brasil do que com a Nasa [agência
espacial dos Estados Unidos]. Percebi que somos vistos como um parceiro
confiável. Outro sinal da credibilidade de nosso programa espacial é que fomos
convidados para participar do Encontro dos Líderes da Economia Espacial do G20
[Selm], ocorrido em julho na Índia [o G20 é o grupo das 19 maiores economias
globais mais a União Europeia e a União Africana]. No próximo ano, vamos
organizar a primeira Conferência de Economia Espacial da ONU [Organização das
Nações Unidas].
No Azerbaijão, houve procura por lançamentos no Centro Espacial de
Alcântara (CEA), situado no Maranhão?
O uso de
Alcântara como um centro internacional de lançamento de foguetes não está tão
rápido como gostaríamos. Mas é preciso lembrar que o objetivo original quando
essa base foi criada, há 40 anos, era termos um sítio para lançar nossos
foguetes, de modo a conquistarmos autonomia espacial. Há alguns anos, a Força
Aérea Brasileira [FAB] decidiu que seria interessante usar a posição geográfica
privilegiada do CEA para lançamentos de veículos de outros países. Isso não foi
feito antes porque há 20 anos havia poucos países com programa espacial, mas a
situação mudou. Hoje são muitos, embora só alguns com capacidade de lançamento
de seus próprios satélites e foguetes. Neste ano [2023], uma empresa sul-coreana, a Innospace, fez um teste em Alcântara,
justamente porque queria explorar a vantagem da posição geográfica da base. A
proximidade com o Equador proporciona economia de combustível. Em 2024 deve
haver nova operação da Innospace, provavelmente um lançamento comercial. Também
no próximo ano uma companhia canadense, chamada C6, deve fazer um teste de
motor em Alcântara e decidir se vai ou não utilizar a base. O interesse por
Alcântara crescerá a partir de um primeiro lançamento comercial.
Como avalia a posição do Brasil no cenário espacial?
Há 20 anos,
Brasil, China e Índia estavam no mesmo patamar. China e Índia avançaram muito,
e ficamos para trás, andamos mais lentamente do que deveríamos. Passamos por
épocas de baixo investimento e a continuidade se tornou difícil. Como havia
limitações do orçamento, certas áreas do programa espacial ficaram paradas – e
isso atrapalhou. Nos últimos anos, conseguimos fazer a manutenção das
instalações de Alcântara, mas não expansões ou atualizações. Quando lançamos o
satélite Amazônia-1, em fevereiro de 2021, tivemos de fazer o lançamento da
Índia com foguete deles. Custou quase US$ 26 milhões [ver
Pesquisa FAPESP no 300]. A boa notícia é de que há
indícios de que as coisas podem melhorar, porque o programa espacial é
importante para o governo. O orçamento da AEB continua nos mesmos patamares dos
últimos anos, mas tem sido substancialmente suplementado por outras fontes. Em
2023 ocorreram alguns editais para o setor industrial voltados ao
desenvolvimento de satélites e de veículos lançadores de pequeno porte.
Qual é o orçamento da agência?
Para 2024,
é de R$ 102 milhões, muito próximo ao deste ano. Se quiser uma comparação, o da
NASA é da ordem de US$ 20 bilhões, aproximadamente R$ 100 bilhões ‒ portanto,
1.000 vezes maior. O orçamento da NASA equivale a cerca de US$ 60 por
norte-americano por ano e o da Agência Espacial Francesa (CNES) é de € 35 per
capita por ano. O nosso corresponde a R$ 0,64. O governo brasileiro tem
usado outras fontes para aumentar os investimentos no programa espacial, de
modo que o orçamento real do próximo ano, considerando os aportes extras,
poderá ser até quatro vezes maior, o que permitirá que as coisas avancem.
Espero que o volume de recursos cresça nos próximos anos.
Quais os planos para o próximo ano?
Em 2024, se
o cronograma se mantiver, devemos lançar o foguete VS-50. É um veículo
suborbital, porque não vai para o espaço exterior. Seu voo tem a forma de uma
parábola: ultrapassa o limite teórico da atmosfera terrestre [100 quilômetros
acima do nível do mar] e volta. Ele não consegue, por exemplo, colocar
satélites em órbita, mas durante alguns minutos do voo cria-se no foguete um
ambiente de microgravidade, no qual podem ser realizados vários experimentos
científicos. Além disso, se for bem-sucedido, será um passo importante para a
construção do Veículo Lançador de Microssatélites [VLM], pois ambos usam o
mesmo motor (ver Pesquisa FAPESP no 311). Para
2024, prevemos também o lançamento de outro foguete suborbital, o VS-30, no
Centro de Lançamento da Barreira do Inferno, no Rio Grande do Norte. Também
será importante para pesquisas sobre microgravidade. Um voo suborbital provê um
ambiente de microgravidade de alguns minutos e pode ser utilizado para os
estudos científicos de fenômenos físicos, químicos e biológicos, tais como
crescimento de cristais, aquecimento ou resfriamento de materiais e estresse em
culturas biológicas. A ideia é de que o melhor entendimento desses fenômenos em
condições de microgravidade possa melhorar processos que são desenvolvidos em
terra. As perspectivas são boas e têm o condão de chamar a atenção do público e
mostrar ao próprio governo que nosso programa tem dado frutos.
Considerando que o lançamento do VS-50 seja bem-sucedido, quais os
próximos passos do desenvolvimento do VLM?
Se o
primeiro voo do VS-50 for exitoso, seguramente haverá um segundo, em 2025,
porque é preciso fazer vários testes para garantir que as coisas aconteçam de
maneira segura. Em paralelo, devemos começar a preparar o VLM. O primeiro
lançamento do VLM-1 está previsto para 2026. O VLM-1 é um foguete de propulsão
sólida. Já o VLM-X, uma evolução de nosso lançador, tem dois motores de
propulsão sólida, herdados do VS-50, e um terceiro motor, de propulsão líquida,
que está em desenvolvimento no IAE [Instituto de Aeronáutica e Espaço]. Não há
ainda previsão para o lançamento desse foguete.
Quais suas prioridades à frente da AEB?
Inicialmente
preciso acalmar meus amigos da indústria e dizer que o programa espacial é um
programa de Estado. Tenho obviamente alguma autonomia, mas existem metas,
diretrizes e compromissos já estabelecidos que serão mantidos. Do ponto de
vista de tecnologia, temos duas linhas, que chamamos de upstream e downstream.
A primeira lida com infraestrutura, as bases de controle de satélites, a
recepção de dados, as grandes antenas. É bastante cara, tem de ser sustentada
pelo governo e inclui instituições como o Inpe e o DCTA [Departamento de
Ciência e Tecnologia Aeroespacial, da FAB], que contratam as empresas para a
construção de satélites e foguetes. A segunda linha, que pretendo fortalecer, é
o uso das informações do espaço, fornecidas por satélites. Empresas privadas
poderiam agregar valor aos dados e vender serviços, para fazendas, empresas e
para o próprio governo. Os dados de nossos satélites são públicos, o que
facilita a entrada de empresas privadas no setor. A ideia seria utilizar os
dados e gerar produtos que possam ser utilizados por terceiros. Por exemplo,
dados meteorológicos e de umidade do solo podem ser processados e transformados
em produtos e serviços para a agricultura. No Brasil, a face mais visível da
aplicação de dados por satélite é o monitoramento de desmatamento, mas as
imagens precisam ser tratadas e interpretadas. Hoje é o Inpe que faz isso, mas
eu gostaria que fosse feito também pelo setor privado, de modo a favorecer a
criação de empresas, de empregos e de renda.
O que tem feito para aumentar a participação do setor privado nessa
área?
Já conversei com os diretores de alguns
parques tecnológicos para que possamos mobilizar principalmente as empresas
pequenas, que tendem a ser mais ágeis e inovadoras. Essas novas oportunidades
de negócios devem se tornar sustentáveis com o tempo, mas no início
provavelmente precisarão de um suporte do governo. Já estamos trabalhando
também nessas possíveis formas de apoio. A Associação das Indústrias
Aeroespaciais do Brasil [Aiab], por exemplo, tem mais empresas do setor upstream
do que do downstream. Precisamos fazer crescer as duas partes, mantendo
a capacidade de fabricar equipamentos e aumentando o uso dos dados. Queremos
ampliar também os acordos internacionais de cooperação. Por meio de acordo com
a China, com quem já trabalhamos há muito tempo, estamos desenvolvendo outro
satélite, o CBERS-6, no âmbito do Programa Sino-brasileiro de Satélites de
Recursos Terrestres. Um entendimento ainda mais recente, com a Argentina,
resultou no projeto do satélite Sabia-Mar.
Quais as diferenças entre eles?
São dois satélites
distintos. O CBERS-6 é um satélite diferente dos que temos feito com a China.
Nesse programa, iniciado há quase 40 anos, fizemos satélites ópticos, que tiram
fotos, e com uma massa da ordem de 2 toneladas [t]. O CBERS-6 é um satélite
radar, vai fazer outro tipo de imagens, usando o que chamamos de tecnologia
radar de abertura sintética. Tem a vantagem de poder “enxergar” através das
nuvens, coisa que o óptico não faz. Ao mesmo tempo, será um satélite menor, com
aproximadamente 700 quilogramas [kg]. Ele será montado sobre a Plataforma
Multimissão [PMM], uma estrutura genérica desenvolvida pelo Inpe nos anos 2000
e que foi empregada na construção do satélite Amazônia-1. Gostaríamos de
desenvolver nossos próprios radares, mas esse dispositivo ainda será fornecido
pela China. A data otimista de lançamento é 2028.
E o Sabia-Mar?
Está
previsto para 2026. Ele vai fornecer informações sobre a qualidade da água das
zonas costeiras e continentais, porque o Brasil tem bacias hidrográficas,
hidrelétricas e açudes grandes o suficiente para serem visíveis com satélite.
Vai mostrar, por exemplo, a quantidade de clorofila na água, importante para
avaliar a absorção de carbono e as mudanças climáticas. Na realidade, são dois
satélites, os argentinos fazem um e nós outro, cada um com cerca de 700 kg. A
ideia é que eles trabalhem juntos para obter o dobro de informação. Outra
diferença é que faremos o satélite inteiro, enquanto no programa com a China
seremos responsáveis pela metade dele. Poderemos também aproveitar a Plataforma
Multimissão para o Sabia-Mar. Já temos 60% da plataforma pronta.
Foto: Léo
Ramos Chaves / Revista Pesquisa FAPESP
Ao assumir a presidência da AEB, o senhor comentou que o programa
espacial brasileiro pode ajudar a diminuir a desigualdade social no país. De
que maneira?
Temos
buscado os caminhos. Uma das formas é reduzir a concentração de empresas do
setor espacial em São José dos Campos [SP] e promover a criação ou o crescimento
de outras, em outras regiões. Com esse propósito, estamos buscando parcerias
com universidades, parques tecnológicos, federação de indústrias e governos
estaduais e municipais para promover atividades espaciais localmente. Isso pode
ser feito por meio da construção de pequenos satélites. Para satélites grandes,
a infraestrutura necessária também é grande, mas os pequenos promovem o
desenvolvimento de empresas e a formação de pessoal especializado. O uso de
dados de satélites sobre desmatamento, por exemplo, pode ser feito localmente
por empresas privadas. É preciso, claro, um plano de negócios, mas o
investimento não é alto, essencialmente em computadores, programas e pessoal. É
bom lembrar que adotamos uma política de dados aberta, ou seja, as imagens de
satélites e as informações sobre o clima são gratuitas ou de custo baixo. Esse
tipo de serviço movimenta a economia local e pode amenizar as desigualdades
regionais.
Como está a participação brasileira no Artemis? Mandaremos outro
astronauta brasileiro para o espaço ou para a Lua?
Nosso
objetivo no projeto Artemis [programa de voo espacial tripulado da Nasa] não é
enviar um astronauta brasileiro à Lua, embora certamente vamos colocar outro
astronauta no espaço, talvez ainda nesta década. Isso gera visibilidade, mas
não é a coisa mais importante do programa espacial brasileiro. Seu objetivo
primordial, desde o início, é gerar benefícios para a sociedade. Como outros
países, assinamos apenas a parte mais genérica dos chamados Acordos Artemis,
que são declarações de princípio sobre o uso pacífico do espaço, a preservação
da sustentabilidade do espaço, a troca de dados etc. Nossa pretensão no Artemis
é dupla. A primeira é fazer ciência utilizando a Lua como plataforma. Com apoio
do Inpe, o ITA [Instituto Tecnológico de Aeronáutica] está projetando um
satélite pequeno, de 10 ou 20 kg, para ser colocado na órbita da Lua. Ele fará
medidas científicas sobre como o Sol se comporta e incide sobre a Lua e,
eventualmente, sobre a própria Terra. A segunda área na qual pretendemos
trabalhar – e a Nasa já mostrou interesse – é a chamada space farming,
para produção de alimentos no espaço. Já temos um acordo assinado com a Embrapa
[Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária] e agora estamos buscando os
recursos.
Sua carreira de pesquisador está lhe ajudando a exercer agora um cargo
executivo?
Meus quase
40 anos no Inpe facilitam bastante o trânsito na área espacial, que ainda é
pequena no país, mas está crescendo. Ao assumir a AEB, já conhecia boa parte do
pessoal do Inpe, do ITA, da Força Aérea, das empresas e das universidades. Não
concordo com todo mundo nem todos concordam comigo, mas nossas discussões têm
sempre um caráter técnico, nunca um caráter pessoal, de modo que mantemos as
relações de amizade e profissionalismo. Geralmente conseguimos conversar e
estabelecer uma linguagem e objetivos comuns, e assim as coisas andam mais
rapidamente.
Nárnia, embora de ilusão, tem mais valor que nosso patinho feio.
ResponderExcluirHá 20 anos Índia, Brasil e China não estavam no mesmo patamar, naquele ano a China lançou taikonautas, o Brasil caiu muito, o que já era fraco, despencou.A verdade que temos um grande passado pela frente........
ResponderExcluirNa atual República Federativa do Brasil
ResponderExcluirNada de novo, os velhos e ruins costumes continuam sento aplicado dentro da tal AUTARQUIA "AEB", só mudando de figurinha.
O senhor presidente da "AEB" Dr. Marco Antonio Chamon, está demostrando muito bem o seu papel dentro da "AEB" igualzinho o ex-presidente da "AEB" Sr. (Mister M). Que vivem no "Mundo de Nárnia", não querem viver no Mundo da REALIDADE. Só sabem assinar MoUs, viajar no território nacional e internacional, super diárias e etc.
Literalmente Mesmo do Mesmo. Este é o cenário do Programa Espacial Brasileiro, só "ELEs" são beneficiados deixando a população de fora.
Parabéns "AEB" uma GRANDE VERGONHA NACIONAL.