Artigo: Diferenças Ideológicas Deixam China Sem Parcerias no Espaço
Olá leitores e leitoras do BS!
Segue abaixo um interessante artigo postado ontem (31/03) no site “DW”
tendo como destaque o Programa Espacial
Chinês.
Brazilian Space
CIÊNCIA – CHINA
Diferenças Ideológicas Deixam China Sem Parcerias no Espaço
País asiático ressalta convite para missões conjuntas à
sua estação espacial. EUA recusam parceria, e Europa hesita.
Dang Yuan
31 de outubro de 2023
Fonte: Site DW - https://www.dw.com/pt-br
Foto: Li Gang/Xinhua/picture aliance
Na mitologia chinesa, é comum seres humanos
irem para o céu para explorar o universo. O caracter chinês
"céu" (天) baseia-se no caracter "ser humano"
(人).
Numa livre interpretação, isso significa que o cosmos é aquilo que está
acima ou além dos seres humanos. O regime em Pequim faz uso desses motivos
para promover a ideia de que o espaço deveria estar livre de diferenças
políticas e ideológicas.
Porém, desde a corrida espacial entre a antiga União
Soviética e os Estados Unidos, nas décadas de 1950 e 1960, está claro que
viagens espaciais sempre são também um acontecimento político. Em jogo está
a superioridade tecnológica, a capacidade inovativa e o poderio econômico
de uma nação.
Que a China
faz parte das grandes potências espaciais ficou mais uma vez claro na
quinta-feira passada (26/10), quando três taiconautas partiram na "nave
divina" Shenzhou-17 rumo à estação espacial chinesa Tiangong (Palácio
Celestial, em tradução livre). Depois de dez minutos de voo e de seis horas e
meia de manobras de acoplagem, eles chegaram em segurança ao "palácio
celestial".
Depois do sucesso dos projetos antecessores, Tiangong 1
(2011 - 2017) e Tiangong 2 (2016 - 2019), a China deu início em 2021 à
construção de sua própria estação espacial, composta por um núcleo e dois
módulos científicos, que ficou pronta em novembro de 2022. O local tem
capacidade para acoplagem simultânea de três naves espaciais: uma de
abastecimento e duas cápsulas espaciais.
Pequena, Mas Requintada
O "apartamento de três cômodos" chinês, como a
estação espacial está sendo chamada pela imprensa do país, pesa 100 toneladas –
bem menos do que a Estação Espacial Internacional (ISS), com suas 450 toneladas
– e foi concebida para ser utilizada por 15 anos a uma altitude de 450
quilômetros.
Foto: Liu Fang/Xinhua/IMAGO
Recentemente, a China anunciou planos de expandir a
estação, aumentando para seis o número de módulos acoplados. Antes do
lançamento da Shenzhou-17, o vice-diretor do programa espacial tripulado
chinês, Lin Xiqiang, declarou ainda que o país está pronto para levar viajantes
estrangeiros para a Tiangong.
"Gostaríamos de convidar todos os países empenhados
no uso pacífico do espaço para cooperar conosco em missões conjuntas à estação
espacial chinesa", destacou Lin.
O Exército de Libertação Popular supervisiona as viagens
espaciais da China. A escolha e o treinamento dos futuros taiconautas também
envolve diretamente os militares. Dos 18 taiconautas chineses, apenas duas são
mulheres e somente um
é civil. Mas também este professor universitário bateu continência num
gesto de respeito aos militares e à pátria.
Longa Lista de Sucessos
A lista de sucessos e os planos da China para o espaço é
longa: pouso de uma sonda
no lado escuro da Lua em 2019, pouso de um veículo rover na superfície de Marte
em 2021, instalação de um terceiro telescópio espacial até 2024, que será
acoplado à estação espacial para abastecimento, e a primeira missão
tripulada à Lua até 2030.
Foto: Li Zhipeng/picture aliance.
Na corrida pela supremacia espacial, os chineses estão no
encalço de seus rivais americanos da Nasa. Além da estação espacial chinesa,
apenas a ISS está funcionando com tripulação permanente desde 2000. Devido à
recusa dos Estados Unidos, a China não pode participar do projeto
internacional.
Tecnicamente, a ISS pode ser operada até 2030. Aí a
Tiangong poderia se tornar o único posto avançado da humanidade em órbita.
"A China já é uma grande potência espacial e domina
todo o espectro de disciplinas espaciais", avalia o ex-astronauta alemão
Thomas Reiter, da Agência Espacial Europeia (ESA). "Isso coloca o país no
mesmo nível de outras nações espaciais, como os Estados Unidos e a
Rússia."
Ideologia em Órbita
Um novo sucesso no espaço é sempre uma boa oportunidade
para o governo de Pequim acender o orgulho nacional e distrair a população de
problemas como o desempenho ruim da economia ou o alto índice de desemprego
entre jovens. O país e o mundo devem se impressionar com o ambicioso programa.
A emissora estatal CCTV-4, voltada para o exterior,
transmitiu ao vivo o lançamento mais recente. A intenção era alcançar
principalmente os telespectadores americanos devido à rivalidade entre os dois
países. Os EUA proíbem, por lei, a NASA de cooperar com a
agência espacial chinesa.
Foto: NASA/UPI Photo/Newscom/picture alliance
"Em relação ao espaço, a China e os Estados Unidos
não disputam apenas o prestígio nacional e a liderança tecnológica global, mas
também influência geopolítica e poderio militar", afirma Johann C.
Fuhrmann, diretor do escritório de Pequim da Fundação Konrad Adenauer.
Grande adversária da China na Ásia, a Índia também entrou
na corrida
espacial. O país anunciou os planos de construir sua própria estação
espacial até 2035 e de pousar na Lua até 2040.
Europa em Cima do Muro
Na Europa, a ESA descobriu cedo o potencial do ambicioso
programa espacial chinês. Muitos astronautas da agência europeia fizeram cursos
intensivos da língua chinesa. Em 2017, o astronauta alemão Mathias Maurer
participou na China de um treinamento de sobrevivência em alto mar para se
preparar para um eventual pouso no oceano.
"Considero a cooperação com a China muito
importante. O país será uma das grandes nações espaciais no futuro, ao lado dos
Estados Unidos e da Rússia", disse Maurer na época. Ele acabou, porém,
passando 176 dias na ISS entre 2021 e 2022.
Em janeiro deste ano, o diretor-geral da ESA, Josef
Aschbacher, disse que a agência europeia deveria se concentrar, no momento, na
ISS. "Não temos luz verde nem política nem orçamentária para nos envolvermos
numa segunda estação espacial, em outras palavras, na estação espacial
chinesa", ressaltou.
Apesar da declaração, a agência espacial chinesa CNSA e a
ESA têm dez projetos conjuntos. Para Reiter, essa colaboração é positiva.
"O espaço e a ciência deveriam nos ajudar manter os canais de comunicação
abertos em situações como essa. Assim que a poeira baixar, deveríamos retomar
esse diálogo com a China e buscar novos projetos", destaca o astronauta.
As viagens espaciais são planejadas a longo prazo, começando
muitos anos antes da execução da missão. assim, Reiter gostaria que a ESA já
fosse preparando o terreno para enviar astronautas para Tiangong. "Em
órbita há um grande grupo internacional de pesquisadores. Se essa cooperação
internacional puder ser mantida, isso deveria definitivamente ter nosso
apoio".
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