Astrônomos do IAG-USP Estudam Química Estelar em Busca de Exoplanetas
Olá leitores e leitoras do BS!
Segue abaixo uma matéria publicada ontem (10/11) no
site da ‘Agência FAPESP’ destacando
que Astrônomos do Instituto de Astronomia, Geofísica e
Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP) estudaram uma
amostra de 192
estrelas parecidas com o Sol e encontraram uma correlação entre a
presença de planetas e um baixo conteúdo de lítio nas suas estrelas
hospedeiras. Entendam melhor essa história pela matéria abaixo.
Brazilian Space
ASTRONOMIA
Astrônomos Estudam Química Estelar em Busca de Exoplanetas
Pesquisa feita
na USP revela que a baixa abundância de lítio na estrela-mãe pode indicar a
presença de planetas em sua órbita. Dados foram divulgados ontem na revista Monthly
Notices of the Royal Astronomical Society
10 de novembro de 2023
Fonte: Agência FAPESP - https://agencia.fapesp.br
(Crédito: Lynette Cook/NASA/Fuse)
Agência FAPESP – Pesquisadores do Instituto de
Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo
(IAG-USP) estudaram uma amostra de 192 estrelas parecidas com o Sol e
encontraram uma correlação entre a presença de planetas e um baixo conteúdo de
lítio nas suas estrelas hospedeiras. Essa correlação pode ajudar a explicar por
que o Sol possui uma abundância de lítio anormalmente baixa em comparação com
suas estrelas “gêmeas”. A descoberta, que utilizou dados do telescópio de 3,6
metros do Observatório Europeu do Sul (ESO), também pode ajudar a identificar
estrelas que possuem planetas em suas órbitas a partir da análise de sua
composição química. Os dados foram divulgados ontem (09/11) na revista Monthly Notices
of the Royal Astronomical Society.
O Sol é apenas uma dentre bilhões de estrelas em nossa
galáxia, mas a única encontrada até o momento que hospeda seres vivos. Isso
leva os astrônomos a acreditar que a vida é algo extremamente raro no Universo.
Além disso, as condições necessárias para o desenvolvimento da vida – como, por
exemplo, água em estado líquido – ainda não são completamente conhecidas.
Assim, os astrônomos voltam sua atenção ao único exemplo conhecido com vida.
Especificamente, querem saber qual aspecto torna o Sol tão único. Quão parecido
ou diferente é o Sol em comparação às outras estrelas do Universo? Diversos
estudos conduzidos com “gêmeas solares” (estrelas com massa, temperatura e
composição química muito parecidas com as do Sol) revelaram uma peculiaridade
em nossa estrela hospedeira: ela possui um conteúdo de lítio muito mais baixo
do que suas gêmeas de mesma idade.
Essa característica pode ser resultado do processo de
formação do Sistema Solar. “Todo sistema planetário – composto tanto pela
estrela quanto por seus planetas – é formado a partir de uma mesma nuvem de gás
e poeira. Portanto, eles têm os mesmos elementos químicos disponíveis para a
sua formação. Elementos que não são facilmente condensados a altas temperaturas
[como o hidrogênio ou o nitrogênio] são encontrados geralmente em forma gasosa
e são usados para compor a estrela e os planetas gasosos”, explicou à
Assessoria de Imprensa do IAG-USP a astrônoma Anne Rathsam, autora principal do estudo e bolsista de doutorado da FAPESP.
“Por outro lado, elementos que se condensam com
facilidade [por exemplo, o lítio e o ferro] formam sólidos, como os planetas
rochosos. Sendo assim, é possível que o lítio seja ‘roubado’ da nuvem-mãe
durante a formação dos sistemas planetários para compor os planetas, deixando a
estrela hospedeira empobrecida em lítio”, acrescentou.
A pesquisa foi conduzida com dados do espectrógrafo
High-Accuracy Radial velocity Planet Searcher (HARPS) do ESO para 36 estrelas
que possuem planetas e 156 estrelas sem planetas detectados. O espectrógrafo,
que age como um prisma, decompõe a luz da estrela nas diferentes frequências e
revela assinaturas que refletem a composição química da estrela. Seguindo esse
princípio os pesquisadores puderam determinar o conteúdo de lítio das estrelas
estudadas, comparando as com e sem planetas em busca de possíveis correlações.
Fazer essa comparação não é uma tarefa tão simples quanto
parece: “O lítio é um elemento químico muito frágil. Ele é facilmente destruído
no interior quente de estrelas e sua abundância tende a diminuir conforme elas
envelhecem. Além disso, a quantidade de lítio que é destruída depende também da
massa e do conteúdo de metais da estrela – quanto menor a massa ou maior a
presença de metais, maior será a quantidade de lítio destruída. Assim, estrelas
diferentes possuem conteúdos de lítio diferentes”, explicou Rathsam.
Dessa forma, a equipe selecionou para comparação apenas
estrelas sem planetas com massas, idades e abundâncias de metais próximas às de
estrelas com planetas. “Diversos estudos anteriores compararam a abundância de
lítio de estrelas com e sem planetas sem selecionar estrelas de comparação
parecidas com as hospedeiras de planetas, o que pode introduzir um viés na
análise devido a todos os fatores que influenciam na abundância de lítio de uma
estrela. Além disso, o problema costuma ser abordado de forma apenas
qualitativa, sem uma tentativa de quantificar os efeitos da presença de
planetas na abundância química da estrela.Assim, apesar da possível conexão entre lítio e a
presença de planetas ser estudada há anos, os resultados de estudos anteriores
eram inconclusivos”, completou a astrônoma.
Os resultados encontrados revelam que estrelas sem
planetas conservam aproximadamente o dobro do conteúdo de lítio de estrelas com
planetas. Os testes estatísticos feitos pelos pesquisadores indicam que é
improvável que esse resultado seja obtido ao acaso, ou seja, a probabilidade de
que ele reflete o comportamento real das estrelas é alta (cerca de 99%).
“Encontramos mais um argumento em favor da hipótese de
que o Sol possui composição química diferente de suas estrelas gêmeas devido,
ao menos parcialmente, à presença de planetas”, afirmou Rathsam. “Não apenas
isso, mas agora podemos buscar por estrelas que possuem planetas a partir do
estudo de suas abundâncias químicas. Quando identificarmos uma estrela com
conteúdo de lítio anormalmente baixo, como no caso do Sol, teremos um
indicativo de que ela pode ter planetas ainda não detectados em sua órbita.”
Elemento-Chave
Em um contexto mais amplo, o estudo do lítio em diversos
tipos de estrelas tem relevância fundamental na astronomia. Segundo o professor
do IAG-USP que orientou a pesquisa, Jorge Meléndez, “o lítio é um elemento fascinante. A
abundância desse elemento nas estrelas mais antigas da galáxia nos fornece
informações cruciais sobre os primeiros minutos do Universo. Embora não seja
possível enxergar diretamente o interior estelar, o lítio é importante, pois é
sensível às condições de temperatura no interior das estrelas, o que permite
avaliar modelos de evolução das estrelas. E, como mostrado em nosso estudo,
esse elemento também parece ser chave para identificar estrelas que possuem
planetas”.
Além da Bolsa de Doutorado Direto concedida a Rathsam, os
pesquisadores receberam financiamento da FAPESP por meio de outros três
projetos (18/04055-8, 19/19208-7 e 20/15789-2). E também recursos da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
O artigo Lithium depletion in solar analogs: age and
mass effects está disponível em: https://academic.oup.com/mnras/article-abstract/525/3/4642/7257564?redirectedFrom=fulltext.
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