BS analisa informações sobre o satélite de pequeno porte de R$ 200 milhões de reais

Olá, leitora! Olá, leitor!


Desde que o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), a Agência Espacial Brasileira (AEB) e a Financiadora de Estudos e Projetos - Finep tornaram público o resultado do edital de inovação para o desenvolvimento do Satélite de pequeno porte de Observação da Terra (aqui), em 25/11/2022, e a Visiona (Coexecutoras: Fibraforte Engenharia Industria e Comércio Ltda; Opto Tecnologia Optrônica Ltda; Equatorial Sistemas Ltda; ORBITAL ENGENHARIA S.A.;e Kryptus Segurança da Informação S.A.) assinou o acordo/contrato com a FINEP (veja aqui notícia publicada no próprio site da Visiona), além da falta de publicidade das especificações técnicas da proposta vencedora, pouca informação oficial tem sido divulgada sobre esse projeto.

Imagem: Mockup do Satélite de pequeno porte de Observação da Terra exposto no stand da Finep no Congresso Internacional de Inovação da Indústria

No entanto, recentemente, um leitor do Brazilian Space nos encaminhou uma publicação das redes sociais do Sr. Joselito Henriques, Vice-presidente Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação do Grupo Akaer (que participa do projeto através de suas empresa subsidiárias: Opto e Equatorial), apresentando o mockup físico do satélite, o qual estava exposto no estande da FInep no Congresso Internacional de Inovação da Indústria (aqui), realizado em São Paulo nos dias 27 e 28 de setembro de 2023.

Imagem: Postagem do perfil do Sr. Joselito Henriques no LinkedIn.
Fonte: Publicação em rede social do Sr. José Henriques (https://www.linkedin.com/posts/joselitohenriques_innovation-technology-inovacao-activity-7115679815826833408-j0je?utm_source=share&utm_medium=member_desktop)

Apesar das diversas felicitações na postagem do Sr. Joselito e de apelos por mais informações sobre "onde encontrar mais informações das especificações do satélite" e "quais as especificações de espectro e resoluções", nada foi esclarecido por ele e não identificamos nenhum site específico ou página nos sites da Finep, da Visiona ou ainda no site da Akaer, que possam responder às perguntas (nossas e de todos os interessados) sobre as características do satélite.

Mesmo assim, antes de tecermos considerações sobre esse satélite, é preciso esclarecer que o desenvolvimento de pequenos satélites e de constelações de satélites (DSM - Distributed Space Mission | Missão Espacial Distribuída), especialmente para sensoriamento remoto (incluindo satélites radar), é uma tendência no mundo todo, há mais de 20 anos. Logo, considerando que o Brasil é um País sui generis que insiste em desenvolver satélites 2,5 toneladas para essa tarefa (quer saber mais leia aqui), só o fato desse edital ter vingado, parece uma vitória.

Dito isso, com as imagens do mockup apresentadas na postagem já podemos confirmar algumas informações e inferir outras relativas a esse projeto. Dentre as informações passíveis de confirmação, assim como já havíamos anunciado e criticado no BS, o projeto realmente foi direcionado para o desenvolvimento de um satélite de arquitetura monolítica (sem a separação dos sistemas e subsistemas do payload de um módulo de serviço, contendo os sistemas de manutenção e controle operacional do satélite).

Na nossa opinião esse direcionamento é ruim, pois, considerando as necessidades nacionais por satélites ópticos e radar de pequeno porte e considerando o custo de R$ 220.000.000,00 (USD 44,000,000.00) isso nos deixa reféns de uma plataforma proprietária de um grupo de fornecedores específicos, sendo que as demandas governamentais reprimidas (civil e de defesa) carecem de soluções flexíveis e escaláveis que se adequem à inconstância e imprevisibilidade orçamentária que as atividades espaciais estão sujeitas nas últimas décadas no País.

Seria muito melhor para atender as necessidades de mercado e governamentais (civis ou de defesa) que a arquitetura fosse modular, tendo um módulo para o payload e outro para o bus (módulo de serviço) independentes. Mesmo que isso implicasse em um aumento de massa (falaremos sobre esse tópico mais adiante), uma arquitetura modular permitiria a evolução e substituição do instrumento óptico atual por outros em missões futuras, sem a necessidade de refazer o satélite como um todo, além de permitir uma flexibilidade maior para a substituição do instrumento óptico por um radar, fora outras aplicações / missões aderentes às capacidades do projeto módulo de serviço, inclusive com a possibilidade de mesclar fornecedores nacionais (ou mesmo internacionais) com sistemas e subsistemas mais atualizados.

Fora o tópico arquitetural da solução apresentada, com as imagens divulgadas, podemos inferir e/ou estimar algumas características do projeto, quais sejam:

- Dimensões
    - Lançamento (Painéis solares recolhidos): ~ 120 x 100 x 85 cm (altura x frente x profundidade)
    - Operação: ~ 120 x 220 x 125 cm (altura x frente x profundidade)

- Massa: ~110 a 125 kg;

- Resolução: ~ 0,75 m a 1,5 m (Nadir);

- Swatch: ~ 17 a 28 km;

- Órbita: Polar Heliossíncrona (SSO);

- Altitude: ~ 500 a 600 km;

- Cobertura: ~158 dias (swatch de 17 km) / ~ 95 dias (swatch de 28 km); 

- Revisita: ~4 ou 5 dias, usando visada lateral com inclinação de 30° (pode chegar a um swatch total de ~ 650 e 690 km);

De posse das informações que temos e as que inferimos / estimamos sobre esse esse projeto, não podemos deixar de comparar, em termos de custo e arquitetura com os satélites da constelação RapidEye (aqui), mesmo que estes tivessem uma resolução de ~5 a 6,5 m.

Imagem: Concepção artística de um dos satélites RapidEye.

O custo total da constelação RapidEye foi de USD 143,000,000.00 (valor atualizado desde 2008, quando a constelação foi lançada com o valor de USD 100,000,000.00), o que resulta em um custo atual por satélite da ordem de USD 28,600,000 (R$ 143.000.000,00), ou seja, 35% menos que o Satélite de Pequeno Porte (SDPP), o que é muito, mesmo considerando a economia de escala da produção de 5 unidades idênticas do satélite RapidEye.

É importante destacar, também, que os satélites RapidEye foram construídos usando a plataforma (bus) SSTL-150 (aqui e aqui), separando assim o instrumento ótico (imageador) dos sistemas / subsistemas de controle do satélite (bus). Por se valer de um módulo de serviço separado do payload, essa plataforma foi usada em diversos projetos / missões distintas de satélites encomendados à Surrey Satellite Technologies Limited (SSTL), tais como: CFESat (Validador Tecnológico), China-DMC+4 (Sensoriamento Remoto), KazEOSat 2 (DZZ-MR) (Sensoriamento Remoto), OTB 1 (Validador Tecnológico - Relógio Atômico NASA), Sapphire (Defesa / Vigilância de Lançamentos Balísticos - Orbitais), TechDemoSat 1 (TDS 1) (Validador Tecnológico de 8 sistemas independentes entre si) e TopSat 1 (Defesa - Imageamento 2,5 m de resolução).

Imagem: Foto e características da plataforma SSTL-150

Assim, ainda que a separação do módulo de serviço do payload implicasse no aumento da massa do satélite em cerca 25%, a massa total do mesmo ficaria na faixa dos 150 a 160 kg, o que é muito bom comparando com os 750 kg do Amazônia 1, por exemplo, sem nem comentarmos nada sobre os CBERS.

Por fim, os satélites RapidEye foram projetados para durar 7 anos e operaram por mais de 11, enquanto o SDPP está na casa dos 3 anos. Ainda que a tendência mundial indique uma diminuição da vida útil dos pequenos satélites para 3 anos, acreditamos que por não se enquadrar como um microssatélite (entre 10 e 100 kg), uma vida útil de 5 anos seria interessante.

No mais, vamos continuar aguardando informações oficiais para falarmos mais sobre o projeto.

Em tempo, agradecemos ao nosso leitor Antonio Caldeira pelo envio na postagem.


Rui Botelho
Brazilian Space

Comentários

  1. O INPE fez um cubesat no valor de 400 mil reais em 2015, que por sinal não funcionou, um cubesat universitário é coisa de 10 mil dólares, como aquele da BROWN University, citado neste blog.SGDC, CBERS,podemos esperar superfaturamento sempre.

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    1. Exatamente Jacinto!

      Nanossatélite brasileiro de R$ 400 mil é declarado inoperante após falha.
      Falha na abertura da antena de telemetria impediu funcionamento do satélite.
      Cubesat foi feito por equipes do Inpe e do ITA, em São José dos Campos.
      04/03/2015
      Fonte da matéria abaixo:

      https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2015/03/nanossatelite-brasileiro-de-r-400-mil-e-declarado-inoperante-apos-falha.html

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    2. República Federativa do Brasil
      1° Nanossatélite brasileiro de R$ 400 mil!!!

      Agora,

      2° O satélite de pequeno porte de R$ 200 milhões de reais???

      Brasil....

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  2. é inaceitável um set de antenas tão pequeno para um satélite desse porte. deviam colocar uma antena maior.

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