‘New Horizons’ Sobrevoa Ultima Thule, a Fronteira do Sistema Solar
Olá leitor!
Segue abaixo uma matéria postada ontem (01/01) no site espanhol
“EL País Brasil” destacando que a sonda espacial ‘New Horizons’ da NASA sobrevoa
finalmente o Ultima Thule, na fronteira do Sistema Solar.
Duda Falcão
EL PAÍS
‘New Horizons’ Sobrevoa Ultima Thule,
a Fronteira do
Sistema Solar
Sonda da NASA deve começar a enviar imagens do pequeno
planeta que fica além de Plutão a partir deste 1 de janeiro
Rafael Clemente*
01 de Janeiro de 2019 - 19:44 CET
Imagem: NASA
Recriação artística de uma possível aparência de Ultima
Thule.
|
A sonda New Horizons da NASA sobrevoou
nesta madrugada (3h30 no horário de Brasília) desta terça-feira o corpo celeste
mais distante a ser estudado, Ultima Thule.
"Vamos, New Horizons!", exclamou o cientista-chefe Alan Stern,
passada a meia-noite nos Estados Unidos, ante a
alegria das pessoas que acompanharam esse marco no Laboratório John Hopkins de
Física Aplicada, em Maryland.
Ultima Thule está a 6,4 bilhões de quilômetros da Terra.
"Nunca antes uma nave explorou algo tão distante", disse Stern. A
câmera da sonda, que sobrevoa o corpo celeste a 3.500 quilômetros, começou a
captar imagens, mas elas demorarão para chegar em razão da enorme distância.
"Agora, é esperar que os dados cheguem. É questão de tempo", disse o
vice-diretor do projeto, John Spencer, à agência AFP.
“Existe a possibilidade
de que Ultima Thule não
seja um só corpo, mas dois,
um girando em torno do outro”
O nome evoca imagens lendárias de naves vikings atravessando as
águas frias do Atlântico Norte e paisagens gélidas nunca antes conhecidas:
Ultima Thule. O território mítico e inatingível que marcava o fim do mundo
conhecido. E para quem cresceu lendo as aventuras do personagem espanhol Capitán
Trueno, o reino de origem de Sigrid, a eterna namorada do protagonista.
Lá se encontra agora a sonda New Horizons,
após visitar, em 2015, outros mundos gelados: Plutão e seu satélite
Caronte. Tendo em vista o sucesso dessa missão e como a nave estava em boas
condições e com combustível suficiente, os cientistas decidiram direcioná-la
para outro alvo ainda mais distante, neste caso, uma das centenas de milhares
de pequenos corpos que giram no cinturão de Kuiper, além da órbita de Netuno.
Imagem: NASA
Primeira imagem de Ultima Thule enviada pelo New
Horizons'
depois de sua máxima aproximação. Nos próximos dias
chegarão mais
fotografias de maior resolução.
|
Ultima Thule é apenas um apelido, escolhido pelo voto
popular. Claro, soa melhor do que seu nome oficial: 2014MU69.
Na verdade, quando a New Horizons decolou, este pequeno planeta
nem sequer tinha sido descoberto. Só apareceu graças a um rastreamento feito
pelo telescópio
Hubble, em busca de algum objetivo para sobrevoar depois de passar em
frente a Plutão.
Durante anos, Ultima Thule não passou de um minúsculo
ponto de luz perdido entre as imagens de outras estrelas e, acima de tudo, no
ruído eletrônico que contamina todas as exibições de imagens de longa duração.
“Provavelmente o corpo celeste
seja umamescla de rocha e gelo”
Está muito longe, tanto que seu ano dura quase trezentos
anos terrestres. A essa distância os sinais de rádio (à velocidade da luz)
levam cerca de seis horas para chegar à Terra. Na manhã deste primeiro de
janeiro espera-se receber dados e fotos de um mundo que ninguém viu ainda em
detalhes.
Tudo o que sabemos sobre Ultima Thule hoje é o resultado
da análise de sua luz. Às vezes, de lugares igualmente exóticos. Em julho de
2017, membros da equipe viajaram para a Patagônia para
acompanhar a passagem do planeta diante de uma estrela remota. Com o tempo de
duração do eclipse cronometrado, foi possível estimar seu tamanho: cerca de 30
quilômetros de diâmetro.
Ou menos. Existe também a possibilidade de que Ultima
Thule não seja um corpo único, mas dois, um girando ao redor do outro a uma
distância muito próxima. Nesse caso, podemos descobrir que seus respectivos
diâmetros não chegam a dez quilômetros. Imagine um par de montanhas flutuantes
circulando uma ao redor da outra e você terá uma imagem bastante aproximada do
que aquele pequeno planeta pode ser.
Outra análise feita dezenas de vezes nos últimos meses é
a da "curva de luz". É só ver como o brilho de Ultima Thule varia ao
longo dos dias. Isso deve indicar se tem regiões mais escuras do que outras,
algo como uma estimativa grosseira de sua geografia. Mas o estranho é que quase
nenhuma variação foi observada nessa curva.
“A essas distâncias, o Sol é
apenas uma estrela muito
brilhante que parece um disco”
Várias explicações foram sugeridas. A primeira, que seu
eixo de rotação está apontando diretamente para nós, de modo que sempre
veríamos a mesma região. É possível, mas seria um acaso extraordinário.
Outras hipóteses sugerem que ela é cercada por uma nuvem
de poeira ou gelo que desfoca as variações de brilho. Ou talvez um enxame de
rochas com aspecto muito anguloso e que refletem a luz de modo aleatório. Se
assim for, seria a primeira vez que se descobre um mundo assim.
Provavelmente, Ultima Thule é uma mistura de rocha e
gelo. Mas também se pensava que Plutão era assim e a realidade mostrou um
planeta de geografia surpreendentemente variada: montanhas, ravinas, planícies
de gelo que parecem ter migrado como um todo, um oceano subterrâneo, enterrado
a centenas de quilômetros de profundidade.
A cor do Ultima Thule pelo menos em parte da sua
superfície – é avermelhada. Menos que Plutão, mas avermelhada. E as
câmeras da New Horizons terão que trabalhar duro para
captá-la. A essas distâncias, o Sol é apenas uma estrela muito brilhante que só
parece com um disco. Sua luz é 2.000 vezes menos intensa que na Terra. É ótimo
que as câmeras a bordo sejam capazes de capturar algo em tais condições de
noite fechada.
Que qualidade pode ser esperada das fotos? Espera-se
apreciar detalhes de uma distância de cerca de 150 metros, com uma
possibilidade remota de atingir 33 metros. Mas não é certo. A apenas 3.500
quilômetros de altura, a sonda passará diante de seu alvo como um respiro. A
câmera está fixa em uma lateral da nave e não pode se mover com agilidade,
então provavelmente não poderá acompanhá-la e talvez alguma imagem fique
tremida.
No total, câmeras e instrumentos a bordo coletarão cerca
de sete gigabytes de informação durante toda a fase do encontro. Eles vão
armazená-las em sua memória para enviá-las pouco a pouco para a Terra. Nessas
distâncias, a velocidade de transmissão é de cerca de 1.000 bits por segundo.
Então teremos que esperar vinte meses até que tudo chegue à Terra. É possível
que, até lá, o equipamento da New Horizons já tenha localizado
outra meta para explorar, ainda mais remota que Ultima Thule.
*Rafael Clemente é
engenheiro industrial e foi o fundador e primeiro diretor do Museu da Ciência
de Barcelona (agora CosmoCaixa). Ele é o autor de Um Pequeño Paso para [un] Hombre (Libros Cúpula).
Fonte: Site El País Brasil - https://brasil.elpais.com
Comentário: Bom leitor, é simplesmente fantástico observar como a engenhosidade humana é capaz de realizar feitos como este, quando se há seriedade, competência e comprometimento, e seja como for o certo é que a União Astronômica Internacional (UAI) terá de rever a classificação de 'Planeta Anão' concedida a este objeto, pois está claro que ele está bem longe de ser isto e mais próximo de ser um Asteroide ou até mesmo um Asteroide duplo.
Comentários
Postar um comentário