Com Participação Brasileira Cientistas Simulam Buraco Negro em Tanque de Água
Olá leitor!
Segue abaixo uma notícia publicada dia (16/01) no site da
Agência FAPESP, destacando que com participação brasileira cientistas simularam
um “Buraco Negro” em um Tanque de Água.
Duda Falcão
Notícias
Cientistas Simulam Buraco Negro
em Tanque de Água
Por José Tadeu Arantes
Agência FAPESP
16 de janeiro de 2019
Trabalho com participação de pesquisador brasileiro
reproduz padrões de oscilação de ondas gravitacionais.
Estudo foi divulgado
na Physical Review Letters.
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Certos fenômenos que ocorrem em buracos negros, mas não
podem ser observados diretamente nas investigações astronômicas, podem ser
estudados por meio de simulações em laboratório. Isso se deve a uma analogia
peculiar entre processos característicos de buracos negros e processos
hidrodinâmicos. O denominador comum de uns e outros é o fato de as propagações
de ondas se darem de forma bastante similar.
Essa possibilidade é explorada em um novo artigo
publicado na Physical Review Letters. O físico Maurício
Richartz, professor da Universidade Federal do ABC (UFABC), é um dos
autores do artigo, produzido pelo grupo de Silke Weinfurtner, da School of
Mathematical Sciences da University of Nottingham, no Reino Unido. O trabalho
teve apoio da FAPESP por meio do Projeto Temático “Física e geometria do espaço-tempo”, coordenado
por Alberto Vazquez Saa.
“Embora este estudo seja inteiramente teórico, temos
feito também simulações experimentais no laboratório de Weinfurtner. O
equipamento é, basicamente, um grande tanque de água, com dimensões de 3 metros
por 1,5 metro. O tanque dispõe de um ralo no centro e de um aparato de
bombeamento, que reintroduz a água que escoa. Isso possibilita que o sistema
atinja um ponto de equilíbrio, no qual a quantidade de água que entra iguala a
quantidade de água que sai. Dessa forma, conseguimos simular um buraco negro”,
disse Richartz à Agência FAPESP.
O pesquisador explicou como isso é possível. “A água
ganha velocidade à medida que escoa. Quanto mais próxima do ralo, mais
rapidamente ela flui. Então, quando produzimos ondas na superfície da água,
passamos a ter duas velocidades importantes: a velocidade de propagação das
ondas na água e a velocidade de escoamento da água como um todo”, disse.
“Longe do ralo a velocidade das ondas é muito maior do
que a velocidade do fluido. Por isso, as ondas podem se propagar em qualquer
direção. Perto do ralo, porém, a situação muda: a velocidade do fluido torna-se
muito maior do que a velocidade das ondas. E isso faz com que a onda seja
arrastada pelo fluido, mesmo que ela se propague em sentido contrário. Dessa
forma, é possível produzir, em laboratório, um simulacro do buraco negro”,
prosseguiu.
No buraco negro astrofísico real, a atração gravitacional
captura a matéria e impede o escape de qualquer tipo de onda – mesmo das ondas
luminosas. No simulacro hidrodinâmico, são as ondas na superfície do fluido que
não conseguem escapar do vórtice que se forma.
Em 1981, o físico canadense William Unruh descobriu que a
similaridade dos dois processos, o do buraco negro e o hidrodinâmico, constitui
mais do que uma simples analogia. De fato, feitas algumas simplificações, as
equações que descrevem a propagação de uma onda nas vizinhanças do buraco negro
tornam-se rigorosamente iguais às equações que descrevem a propagação da onda
na água que escoa pelo ralo.
É isso que legitima investigar, no processo
hidrodinâmico, fenômenos característicos de buracos negros. No novo estudo,
Richartz e colaboradores estudaram o relaxamento de um simulacro de buraco
negro hidrodinâmico fora do equilíbrio, levando em conta fatores que haviam
sido ignorados até então. O fenômeno estudado é, em alguns aspectos, semelhante
ao processo de relaxamento de um buraco negro astrofísico real que emite ondas
gravitacionais após ser criado pela colisão de dois outros buracos negros.
“Uma análise cuidadosa do espectro das ondas revela as
propriedades do buraco negro, como o momento angular e a massa. Em sistemas
gravitacionais mais complexos, o espectro pode depender de mais parâmetros”,
descreve o artigo publicado em Physical Review Letters.
(Imagens produzidas pelos pesquisadores)
Vorticidade
Um parâmetro geralmente ignorado nos modelos mais simples – e que foi
considerado no estudo – é a vorticidade. Trata-se de uma grandeza empregada em
mecânica dos fluidos para quantificar a rotação de regiões específicas do
fluido em movimento.
Se a vorticidade é nula, a região simplesmente acompanha
o movimento do fluido. Porém, se a vorticidade não é nula, além de acompanhar o
fluxo, ela também rotaciona em torno de seu próprio centro de massa.
“Nos modelos mais simples, geralmente se assume que a
vorticidade no fluido seja igual a zero. Isso é uma boa aproximação para
regiões do fluido situadas longe do vórtice. Mas, para regiões próximas do
ralo, já não é uma aproximação tão boa, porque, neste caso, a vorticidade se
torna cada vez mais importante. Então, uma das coisas que fizemos em nosso
estudo foi incorporar a vorticidade”, disse Richartz.
Os pesquisadores buscaram entender como a vorticidade
influencia o amortecimento das ondas durante a propagação. Quando um buraco
negro real é perturbado, ele emite ondas gravitacionais que oscilam com uma
certa frequência. A amplitude das ondas decai exponencialmente com o tempo. O
conjunto de ressonâncias amortecidas que descreve como o sistema excitado é
levado de volta ao equilíbrio é caracterizado, tecnicamente, por um espectro de
modos quase-normais de oscilação.
“Em nosso trabalho, investigamos como a vorticidade
influencia os modos quase-normais no análogo hidrodinâmico do buraco negro. E
nosso principal resultado foi o fato de termos encontrado algumas oscilações
que decaem muito lentamente, isto é, que permanecem ativas por muito tempo, e
que ficam localizadas espacialmente nas proximidades do ralo. Essas oscilações
já não constituem modos quase-normais, mas um outro padrão denominado estados
quase-ligados”, disse Richartz.
Um desenvolvimento futuro da pesquisa é produzir
experimentalmente esses estados quase-ligados em laboratório.
O artigo Black Hole Quasibound States from a
Draining Bathtub Vortex Flow (doi:
https://doi.org/10.1103/PhysRevLett.121.061101), de Sam Patrick, Antonin
Coutant, Maurício Richartz e Silke Weinfurtner, está publicado em: https://journals.aps.org/prl/abstract/10.1103/PhysRevLett.121.061101.
O texto também pode ser lido em https://arxiv.org/pdf/1801.08473v2.pdf.
Fonte: Site da Agência FAPESP
Comentário: Pois é leitor, a engenhosidade humana é fantástica,
e às vezes se vale de ideias simples para solucionar problemas complexos. Além
disso, a comunidade científica começar a aceitar a ideia de que os processos
naturais parecem se repetir em diversas escalas e complexidade, seja na física,
na química, na biologia e até mesmo no comportamento de certos seres vivos, sendo
assim um caminho para talvez tentar solucionar mais facilmente os mistérios do universo em que
vivemos, e até desenvolver novas tecnologias inovadoras. Parabéns aos pesquisadores deste estudo, simplesmente fantástico.
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