Brasileiro Lidera Projetos da NASA Para Exploração de Marte
Olá leitor!
Segue abaixo uma interessante matéria postada no
finalzinho do ano passado, em (29/12), no site da "Revista GALILEU" tendo como
destaque o livro do físico brasileiro que lidera projetos da NASA para exploração
de Marte.
Duda Falcão
REVISTA – PAPO-CABEÇA - IVAIR GONTIJO
Brasileiro Lidera Projetos da
NASA Para Exploração de
Marte
De Minas para o Planeta Vermelho: físico Ivair Gontijo
conta em livro
sua participação no desenvolvimento da sonda Curiosity
Por Edison Veiga
Design: May Tanferri
29/12/2018 – 11h55
Atualizado 11h55
(Foto: Arquivo Pessoal)
O físico Ivair Gontijo.
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Da pequena cidade mineira de Moema, às margens do Rio São
Francisco, Ivair Gontijo já foi até Marte. Não pessoalmente, é claro. Mas foi graças ao
seu trabalho que o veículo Curiosity pousou no Planeta Vermelho em agosto de
2012.
O físico brasileiro é um dos pesquisadores do Jet
Propulsion Laboratory (JPL), da NASA, e conta sua história no livro A
Caminho de Marte — A Incrível Jornada de um Cientista Brasileiro até a NASA (Editora
Sextante). Sua trajetória também será tema de palestra na 12ª Campus Party, que acontece de 12 a
17 de fevereiro em São Paulo.
O Curiosity é o mais sofisticado veículo já construído
pelo homem para ser enviado a outro planeta. O projeto custou, no total, US$
2,5 bilhões. Se os radares projetados por Gontijo não funcionassem, tudo isso
seria perdido: o Curiosity se espatifaria no solo marciano e não saciaria nossa
curiosidade de receber informações sobre nosso vizinho planetário. Com o
sucesso da missão, até hoje o veículo manda dados para a Terra diariamente, além de ter
ajudado a comprovar, por exemplo, que existia água líquida em Marte.
A trajetória de Gontijo é bastante peculiar. Isso porque,
até decidir cursar Física na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), ele
trabalhava em uma fazenda. O caminho até a NASA teve ainda doutorado e
pós-doutorado, na Escócia e nos Estados Unidos.
No livro, o cientista conta como foi difícil conseguir o
emprego na agência espacial. Após diversas tentativas frustradas, finalmente
conseguiu uma chance no laboratório do JPL. Agora, depois do sucesso da
empreitada com o Curiosity, ele está às voltas com uma nova missão, a Mars2020.
Mais uma oportunidade para Gontijo cravar a bandeira mineira em Marte. Confira
a entrevista completa a seguir.
Uma pergunta que provavelmente sempre fazem a você:
qual foi a trajetória do sujeito que saiu do interior de Minas Gerais e chegou
até a NASA?
Para chegar a ser um engenheiro ou cientista da NASA é
preciso começar em algum lugar, e, na verdade, não importa muito onde a
caminhada começa. Tenho colegas de trabalho do mundo inteiro, inclusive dos
Estados Unidos, é claro, mas também pessoas de México, Argentina, Guatemala,
França, Dinamarca, Alemanha, Itália, Filipinas, Romênia, Austrália, Rússia,
China...
Meu caso é parecido com o de muitos dos meus colegas.
Quando a gente é jovem, quase tudo é possível se a gente formular um plano de
longo prazo e tiver paciência e foco para perseguir aquele objetivo. Costumo
dizer aos estudantes brasileiros: o que fazemos entre os 10 e os 25 anos de
idade determinará como viveremos os próximos 50 anos de nossas vidas.
Desde criança era fascinado por ciência, mas trabalhar
para a NASA não era um objetivo naquela época. Ninguém havia nos dito que
poderíamos ter sonhos assim! Se meu caso serve de exemplo, precisamos tentar de
tudo quando estamos no início da carreira. Alguma coisa vai dar certo e, em
geral, aquelas oportunidades pequenas acabam sendo as melhores. Precisamos
aceitar riscos e não ficar acomodados. Não podemos sempre escolher o caminho
mais fácil e seguro na vida. Sempre tentei assumir a responsabilidade pelo meu
futuro, e chegar até a NASA aconteceu mais ou menos como consequência disso.
As pessoas próximas o incentivavam ou procuravam
demovê-lo da ideia de tentar trabalhar na NASA?
Essa ideia surgiu bastante tarde, já que minha primeira
carreira foi como técnico agrícola e administrador de fazenda. Fiz o segundo
grau em uma escola agrotécnica e parei de estudar por três anos entre o segundo
grau e a universidade. Administrei a fazenda Água Branca, que fica no norte de
Minas Gerais — a cidade mais próxima está a 100 quilômetros de distância. Eu
tinha 18 anos quando comecei a trabalhar lá e fiquei impressionado com as
noites, que eram muito escuras e tinham um céu espetacular. Acho que foi lá que
aprendi a gostar de astronomia.
Quando disse ao pessoal da fazenda que iria pedir
demissão e fazer vestibular para Física, eles acharam aquilo engraçado e me
disseram que, em primeiro lugar, eu não passaria no vestibular, e em segundo,
seria um grande desperdício, pois eu já havia acumulado bastante conhecimento
em agropecuária. Eles tinham razão nos dois casos. Por isso, tratei de me
preparar bem para passar no vestibular. Mais tarde, quando estava cursando
Física na UFMG, fiz uma iniciação científica em Astronomia e aprendi muito sobre
essa área.
(Foto: NASA/JPL-Caltech/MSSS)
Um auto-retrato feito pelo Curiosity, da NASA, em 15
de
junho de 2018, em Marte. Na foto, é possível ver
como o planeta ficou após a
tempestade de areia.
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E você já gostava dos assuntos ligados à astronomia
desde criança?
Minha infância foi uma época muito difícil, não olho para
o passado com saudades. Meu pai faleceu quando eu tinha 5 anos e minha mãe
ficou com nove filhos para criar e educar. O dinheiro era pouco, e as
preocupações, muitas. A gente cresce e amadurece rápido em uma situação assim.
Era óbvio que não teríamos chance alguma na vida se não inventássemos nós
mesmos nosso próprio futuro.
Sempre fui fascinado pela matemática e pelas ciências em
geral. Eu e alguns colegas estudávamos geometria fazendo desenhos na areia, na
pequena cidade de Moema, no centro-oeste de Minas. No entanto, não aprendi nada
sobre astronomia durante a infância. Não era uma coisa que fazia parte do meu
dia a dia nas décadas de 1960 e 1970. Hoje, fico impressionado com o nível de
sofisticação de crianças de 8 ou 10 anos. Muitas delas, no Brasil e nos Estados
Unidos, me fazem perguntas que demonstram um nível de informação e conhecimento
invejáveis sobre astronomia.
Em sua opinião, o que falta para que o brasileiro dê
valor à ciência?
Os brasileiros em geral gostam muito de tecnologia e de
ciência. O acesso à ciência e às ideias científicas ainda é bastante restrito,
por isso acredito que nós, cientistas, engenheiros e tecnólogos precisamos
divulgar a ciência de uma forma clara e fácil de entender. Quando as pessoas
entendem, elas se entusiasmam com ciência e tecnologia.
Descrevo no livro, por exemplo, os dramas que vivemos
quando as coisas não dão certo, quando o tempo é curto demais e mesmo assim
temos de continuar a procurar soluções para problemas complexos. Descrevo
também a sensação de gol em final de Copa do Mundo quando as coisas dão certo,
como na chegada do Curiosity em Marte. Um dos momentos mais emocionantes para
mim no projeto do Curiosity foi quando ouvi meu colega na sala de controle do
JPL dizendo que o radar que ajudei a construir tinha encontrado o solo marciano
e estava controlando o pouso do Curiosity em Marte.
Muitos meios de comunicação no Brasil têm dado mais
espaço à ciência — o que é ótimo. Mesmo assim, há muito espaço para
crescimento: existem tantas coisas acontecendo em ciência e tecnologia, mas que
acabam recebendo somente uma pequena menção...
Você já era fascinado por Marte antes de integrar a
equipe do Curiosity?
Desde que comecei a estudar astronomia, entendi que Marte
representa um desafio gigantesco para nós, mas ainda assim é um desafio de bom
tamanho para a humanidade. Marte tem atmosfera, mas ela é muito diferente da
nossa. O planeta fica longe da Terra, mas não longe demais.
Precisamos continuar insistindo para entendermos como o
planeta se formou e por que sua evolução tomou um caminho tão diferente da
evolução da Terra. Não sabemos ainda se, no passado, alguma vida se formou em
Marte ou não. Se o desafio é grande, ele não é grande demais. Quem não gosta de
um desafio assim, de bom tamanho?
Você poderia descrever seu trabalho no desenvolvimento
do Curiosity?
Liderei o grupo que construiu os transmissores,
receptores e o conversor de frequências do radar que controlou os últimos 8
quilômetros da descida do Curiosity em Marte. Esses componentes são o “coração”
do radar, porque geram o sinal utilizado para medir a distância entre o veículo
e o solo marciano, além da velocidade de descida.
Essas duas informações — altitude e velocidade — eram
passadas para o computador de bordo, que controlava retrofoguetes para diminuir
a velocidade do veículo de forma que ele pudesse tocar o solo com suas rodas,
sem danificar nada. A equipe que construiu esses componentes do radar contava
com umas 40 pessoas.
(Foto: Divulgação/NASA)
Reprodução da chegada da sonda Curiosity
ao planeta
vermelho.
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Qual é a maior descoberta do Curiosity, em sua
opinião? O jipinho já cumpriu sua missão no Planeta Vermelho?
Depois do Curiosity, podemos dizer com certeza que houve
na cratera Gale um lago estável que durou milhões de anos e formou muitas
rochas sedimentares hidratadas. Já sabíamos que houve água líquida correndo na superfície
de Marte, mas não sabíamos se teria sido somente um episódio passageiro.
Por exemplo, sabemos que “pedra líquida” ou “granito
líquido” existe no planeta Terra, na forma de lava de vulcão, mas isso é uma
ocorrência que não dura muito tempo. A descoberta de um lago estável que durou
milhões de anos em Marte é simplesmente espetacular! Para existir um lago
estável é preciso todo um ciclo hidrológico, com nuvens, chuva, neve e rios
abastecendo esse lago.
Além disso, a atmosfera de Marte com certeza era muito
mais densa do que é hoje. No presente, a densidade da atmosfera marciana é
menos de 1% da densidade da atmosfera terrestre. Isso corresponde à quantidade
de ar que existe na Terra a 30 quilômetros de altura. Portanto, agora
confirmamos que Marte era muito parecido com a Terra em sua infância, mas
seguiu um caminho completamente diferente.
O Curiosity foi projetado para durar por um ano marciano
— 687 dias terrestres. Sua missão principal era descobrir pelo menos um
ambiente “habitável”, ou seja, com as condições necessárias para formação de
vida. Então, essa missão já foi cumprida, pois logo no início de sua carreira
em Marte ele encontrou um ambiente onde no passado havia água, materiais
orgânicos e uma fonte de energia química que poderia ter mantido vida
incipiente se esta tivesse se formado em Marte. Ainda assim, o veículo continua
funcionando e transmitindo dados para a Terra todos os dias.
Você está envolvido no projeto Mars2020. Qual é o
objetivo dessa nova empreitada da NASA?
Eu sou o engenheiro responsável pelas interfaces entre o
instrumento SuperCam e o veículo Mars2020, que irá para Marte em 2020. Isso
quer dizer que é minha responsabilidade garantir que haverá espaço suficiente
para montar o instrumento no veículo, que o peso do instrumento não será
excessivo, que haverá eletricidade para operar o instrumento em Marte, que o
software no instrumento vai funcionar junto com o software do veículo, além de
uma infinidade de outros detalhes.
O instrumento SuperCam está sendo construído por um grupo
de Toulouse, na França, e outro grupo de Los Alamos, no estado do Novo México,
nos Estados Unidos. Alvos de calibração serão fornecidos pela Universidad de
Valladolid, na Espanha. Desde 2015, tenho viajado tanto para a França quanto
para Los Alamos com frequência para reuniões com nossos colegas. Fazemos
teleconferências toda semana e desde o ano passado temos reuniões trimestrais
na França e em Los Alamos.
O objetivo da Missão Mars2020 é estudar as rochas
marcianas e coletar amostras daquelas que tenham algum tipo de material
orgânico que possa ter sido “carbono vivente” no passado. Essas amostras serão
deixadas em Marte para serem coletadas por uma missão seguinte e, então,
trazidas à Terra. Assim, poderemos estudar esses materiais com todas as técnicas
e equipamentos que temos nos laboratórios terrestres e que não conseguimos
mandar para Marte por serem muito grandes e pesados.
Você acredita na possibilidade da existência de vida
extraterrestre em algum lugar do universo?
Acreditar não tem muita importância. Acreditar é chegar a
uma conclusão sobre algo, quando não temos evidência suficiente que nos leve a
tal conclusão. Ou seja, é o que chamamos no Brasil de “um chute”. Por isso
prefiro pensar em probabilidades, pois é um processo mais científico. Conforme
falo no livro, pode ser que sejamos os primeiros seres vivos inteligentes em
nossa galáxia, a Via Láctea. Afinal de contas, a vida teria de começar em algum
local, algum planeta. Não sabemos se isso é verdade ou se, ao contrário, a
galáxia está cheia de vida, possivelmente muito mais inteligente do que nós.
As evidências científicas que temos hoje nos mostram que
a Terra possui uma relação especial com sua estrela, o Sol: estamos a uma
distância perfeita do Sol, o que nos permite ter água liquida estável na
superfície. Outros planetas podem ter condições parecidas. Então, no momento,
não há informações suficientes para decidir, de uma forma ou de outra, se
existe vida em outros planetas. É possível que, entre incontáveis estrelas,
existam muitas com sistemas solares e planetas parecidos com o nosso.
Precisamos de mais estudos antes de concluir se existe vida em outros planetas;
porém, se continuarmos insistindo, um dia vamos responder definitivamente a
essa pergunta.
É possível definir quando um humano finalmente chegará
a Marte?
Possivelmente, daqui a algumas décadas. É difícil
dar uma resposta mais precisa porque isso depende do que a humanidade, em
geral, e os governos, em particular, consideram prioritário. Ainda existem
desafios técnicos imensos; entretanto, se houver apoio, eles serão superados e
os problemas serão resolvidos. Se continuarmos insistindo, com certeza
teremos viagens tripuladas para Marte no futuro. E, se quisermos mesmo, o planeta
se tornará a segunda morada da espécie humana.
"Precisamos tentar de
tudo quando estamos
no início da carreira.
Não podemos sempre
escolher o caminho
mais fácil e seguro”
O Longevo Curiosity
Inicialmente, a missão do jipe no Planeta Vermelho duraria
687 dias. Lançado em 2012, ele ainda envia informações à Terra
(Foto: NASA JPL — Caltech)
Marte. |
"É possível que, entre
incontáveis estrelas,
existam muitas com
sistemas solares e
planetas parecidos
com o nosso”
(Foto: NASA JPL — Caltech)
Livro 'A Caminho
de Marte' (foto: A Caminho de Marte:
A Incrível Jornada de Um Cientista
Brasileiro Até a NASA
| Ivair Gontijo, Editora Sextante, 288 páginas, r$ 29,80).
|
Fonte: Site da Revista Galileu - 29/12/2018 - http://revistagalileu.globo.com
Comentário: Pois é, o trabalho executado pelo Dr. Ivan
Gontijo comprova que podemos sim fazer a diferença no Espaço, basta para isso
que tenhamos em mente este proposito, e que deixemos de lado o egocentrismo que
infelizmente é ainda muito forte no Brasil, para que assim possamos aprender a
trabalhar em equipe em prol de todos, do bem comum, pois é este o modelo que dá
certo. Dividir para conquistar é a ideologia de esquerdopatas que só gera
profissionais egocêntricos e preocupados com o seu próprio umbigo, estabelecendo
com isso o caos que a sua classe dominante de vagabundos e marginais precisa
para se manter no poder, e dificultando o verdadeiro desenvolvimento do país,
do seu povo, de sua cultura e da cidadania, esta a base de qualquer sociedade
desenvolvida e respeitada. Entretanto, Dr. Ivan Gontijo, gostaria de vê-lo dando
a sua colaboração para Sociedade Brasileira envolvendo-se como uma missão espacial
nacional, se não para o Planeta Marte, para um outro objeto astronômico em
nosso Sistema Solar, como por exemplo, o curioso e misterioso Planeta Anão
CERES, ainda pouco conhecido e muito ainda a ser pesquisado.
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