Exploração da Lua: Se a Superfície Lunar Virar Um Campo de Mineração, Quem Será Seu Dono?
Olá leitor!
Segue um interessantíssimo artigo postado ontem (27/01) no
“Portal TERRA” tendo como tema a questão de como vai ficar o Direito Espacial nessa nova
corrida internacional para a Exploração da LUA.
Duda Falcão
CIÊNCIA
Exploração da Lua: Se a Superfície Lunar
Virar Um Campo
de Mineração,
Quem Será Seu Dono?
Empresas e países já estão de olho para participar de uma
futura
exploração da superfície lunar, em busca de metais
preciosos.
Por Justin Parkinson
Da BBC News
27 Jan 2019 - 13h14
Atualizado às 19h21
Faz quase 50 anos que o astronauta americano Neil
Armstrong se tornou o primeiro homem a andar na superfície da Lua. "Um
pequeno passo para o homem, um grande passo para a humanidade", disse ele
na ocasião.
Foto: NASA / BBC News Brasil
Buzz Aldrin na Lua em 1969: 'uma desolação
magnífica',
disse ele.
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Pouco depois, foi a vez do seu colega Buzz Aldrin dar uma
volta pelo Mar da Tranquilidade, uma região lunar localizada na face visível da
Lua, e constatar: "uma desolação magnífica".
Desde aquela missão da Apollo 11, em julho de 1969, a Lua
se manteve praticamente intocada - ninguém pousa lá desde 1972. Mas isso pode
mudar em breve: há diversas empresas e nações interessadas em explorá-la e,
possivelmente, minerar suas superfícies em busca de recursos como ouro, platina
e minerais de terras raras muito usados em eletrônicos.
Nesse caso, quais seriam as regras que guiarão a
exploração e a posse desses elementos? Há alguma salvaguarda da preservação da
paisagem lunar, ou será que o satélite da Terra poderá ser alvo de uma corrida
por recursos, sob interesses comerciais e políticos?
No início deste mês, a China conseguiu fazer pousar na
Lua a sonda Chang'e-4, que, pela primeira vez na história, fez brotar uma
semente de algodão na superfície lunar - um passo significativo. Pequim talbém
almeja montar ali uma base de pesquisas.
Foto: BBC News Brasil
Exploração lunar. |
Já a empresa japonesa iSpace quer construir uma
"plataforma de transporte entre a Terra e a Lua" e fazer uma
"exploração aquática" por ali.
A posse em potencial de corpos celestiais está em
discussão desde que a exploração espacial começou, durante a Guerra Fria.
Enquanto a Nasa planejava suas primeiras missões lunares, a ONU elaborou um
Tratado do Espaço Sideral, assinado em 1967 por países como EUA, a então União
Soviética (hoje Federação Russa), Reino Unido e Brasil.
O tratado atesta que "o espaço sideral, incluindo a
Lua e outros corpos celestiais, não devem ser sujeitos a apropriação nacional
por reivindicação de soberania, por meios de ocupação ou uso ou por nenhum
outro meio".
Também afirma que "a exploração e o uso do espaço
sideral devem ser conduzidos para o benefício e pelos interesses de todos os
países e devem ser de propriedade de toda a Humanidade"; "a Lua e
outros corpos celestiais devem ser usados para propósitos exclusivamente
pacíficos".
Joanne Wheeler, diretora da empresa especializada em
temas espaciais Alden Advisers, descreve o tratado como a "Carta Magna do
espaço". O texto, diz ela, torna o ato de fincar uma bandeira na Lua -
como fizeram Armstrong e seus sucessores - na prática "sem sentido",
por não conferir "nenhum direito vinculante" a indivíduos, empresas
ou países.
A posse e os direitos de mineração da Lua não importavam
muito em 1969. Mas, com os avanços tecnológicos, a exploração dos recursos
lunares com fins comerciais se tornou uma possibilidade mais real, embora ainda
um pouco distante.
Foto: Getty Images / BBC News Brasil
Uma 'escritura de posse da Lua' de 1955; presença de
minérios valiosos deve despertar corrida de países e
empresas ao corpo celeste.
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Em 1979, a ONU estabeleceu um Acordo de Governança das
Atividades dos Países na Lua e em Outros Corpos Celestiais, mais conhecido como
Acordo da Lua. Ele estipulava novamente que o uso lunar deve ser apenas
pacífico e que a ONU deve ser avisada onde e por que, caso alguma organização
decidisse construir uma estação espacial ali.
"A Lua e seus recursos naturais são patrimônio comum
da Humanidade", diz o texto, atestando que normas internacionais devem ser
estabelecidas para "governar a exploração de tais recursos quando esse
tipo de exploração estiver prestes a se tornar factível".
O problema com o Acordo da Lua, porém, é que apenas 11
países o ratificaram. E os principais agentes da exploração espacial - EUA,
China e Rússia - não estão entre eles.
De qualquer modo, diz Wheeler, "não é tão
fácil" pôr em prática as determinações desses tratados, uma vez que se
depende da incorporação dos documentos internacionais às legislações dos países
signatários, para que se possam obrigar pessoas e empresas a obedecê-los.
A professora Joanne Irene Gabrynowicz, ex-editora-chefe
do Journal of Space Law (Diário da Lei Espacial, em tradução livre), concorda
que tratados internacionais "não oferecem qualquer garantia". Para
pôr em práticas, as normas determinadas por eles é necessária "uma mistura
complexa de política, economia e opinião pública", diz ela.
Além disso, os tratados existentes, que rejeitam a posse
individual de corpos celestiais, ganharam um desafio a mais nos últimos anos.
Em 2015, os EUA aprovaram a Lei de Competitividade
Comercial do Espaço, reconhecendo o direito de seus cidadãos a possuir
quaisquer recursos que eles minerassem de asteroides. A lei não se aplica à
Lua, mas seu princípio pode ser facilmente estendido ao satélite.
Foto: CLEP / BBC News Brasil
O broto germinado pela China na Lua evidencia interesse
dos países em explorar esse corpo celestial.
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Eric Anderson, cofundador da empresa exploratória
espacial Planetary Resources, descreve a legislação americana como "o
maior reconhecimento de direitos proprietários da história".
Em 2017, Luxemburgo aprovou uma lei própria, dando os
mesmos direitos de posse a recursos encontrados no espaço. À época, o
vice-premiê Etienne Schneider disse que tal medida transformaria o pequeno país
"um líder e pioneiro europeu nesse setor".
O anseio de explorar e comercializar existe, e países têm
aparentado estar cada vez mais dispostos a ajudar suas empresas a
concretizá-lo.
"A mineração, seja com a intenção de trazer
materiais à Terra ou armazená-los e processá-los na Lua, evidentemente é o
oposto de não causar nenhum dano (como preveem os tratados
internacionais)", opina Helen Ntabeni, advogada do Naledi Space Law and
Policy, um escritório de advocacia britânico especializado em temas espaciais.
Ela acrescenta, ainda, que é possível argumentar que os
EUA e Luxemburgo "coagiram" sua própria saída das normas estipuladas
pelo Tratado do Espaço Sideral. "Sou muito cética (da ideia) de que serão
preservadas as noções altamente morais de o mundo explorar conjuntamente o
espaço, como nações igualitárias", opina ela.
Foto: Getty Images / BBC News Brasil
Tratados estipulam limites 'pacíficos e coletivos' à
exploração
lunar, mas alguns países já se moveram para fazer
leis próprias a
respeito.
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Fonte: Portal Terra - 27/01/2019 - https://www.terra.com.br
Comentário: Pois é leitor, essa vai ser uma séria discussão que
terá de ser resolvida no âmbito da ONU e em minha opinião já deveria está em pauta
nesta organização. Agradecemos ao nosso leitor Rui Botelho pelo envio desse interessante artigo.
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