Para o Dr. Othon Winter, Pesquisador da UNESP, Pesquisa Que Sugere Existência de Planeta Desconhecido no 'Cinturão de Kuiper' Traz Indícios Promissores
Olá leitores e leitoras do BS!
Segue abaixo uma matéria publicada ontem (24/10) no
site do ‘Jornal da UNESP’ destacando
que na opinião do Dr. Othon Winter (físico, astrônomo e professor da UNESP
no Campus de Guaratinguetá), a Pesquisa que sugere existência de
Planeta Desconhecido no Cinturão de Kuiper traz Indícios Promissores. Entendam melhor essa
história pela matéria abiaxo.
Brazilian Space
ACONTECE
Para Astrônomo da UNESP, Pesquisa Que Sugere
Existência de Planeta Desconhecido Traz Indícios Promissores
Referência no estudo do Sistema Solar, Othon Winter
elogia estudo liderado por brasileiro residente no Japão que aponta anomalias
em órbitas como possível sinal da presença de um corpo maior do que a Terra na
região do Cinturão de Kuiper. Porém, mais estudos são necessários, e
classificação de objeto espacial como planeta depende de cumprir certos
pré-requisitos.
Por Renato Coelho
24/10/2023, 15h35
Atualizado em: 24/10/2023, 16h12
Fonte: Site do
Jornal da UNESP - https://jornal.unesp.br
Haverá um planeta
ainda desconhecido vagando pelo Sistema Solar? É o que sugere uma pesquisa
conduzida por astrônomos de universidades japonesas que ganhou grande
repercussão, publicada no mês de setembro na revista científica The
Astronomical Journal. Os estudiosos sugerem que um astro de expressivas
dimensões pode existir em uma área situada depois da órbita de Netuno, chamada
Cinturão de Kuiper.
Os pesquisadores
buscaram por perturbações nas órbitas de objetos situados na região do Cinturão
de Kuiper que possam indicar a influência gravitacional de algum corpo de
maiores dimensões. Os cálculos dos astrônomos sugerem a possibilidade da
existência de um objeto com tamanho entre 1,5 e três vezes o da Terra, e
seguindo uma órbita com inclinação de 30 graus em relação ao plano do Sistema
Solar.
Othon Winter,
físico, astrônomo e professor da Unesp no Campus de Guaratinguetá, diz que a
pesquisa se destaca por seu ineditismo, embora a possibilidade de um planeta
desconhecido no Sistema Solar já tenha sido proposta antes.
Ele explica que o
novo estudo se baseia na observação dos chamados objetos transnetunianos. Eles
têm este nome porque estão situados além da órbita de Netuno, que é o planeta
mais distante conhecido. Ao estudarem alguns desses corpos, os estudiosos
observaram a ocorrência de alguns padrões em suas órbitas, incluindo alguns
alinhamentos. A ocorrência desses padrões poderia ser sinal da influência
exercida por algum corpo de dimensões maiores nas proximidades. Segue daí a
proposta dos estudiosos quanto à existência de um planeta desconhecido na
região.
Netuno fica a uma
distância de quase 30 unidades astronômicas – uma unidade astronômica equivale
a aproximadamente 150 milhões de km. Logo após da sua órbita origina-se a
região do Sistema Solar denominada Cinturão de Kuiper. “Um estudo semelhante
foi apresentado há alguns anos, que sugeria a existência de um objeto que foi
chamado de planeta nove. Este planeta nove, porém, ficaria a uma distância
imensa, da ordem de muitas e muitas centenas de unidades astronômicas”, diz
Winter. “Agora, o que está sendo sugerido é a existência de um objeto mais
próximo da região do Cinturão de Kuiper”, explica.
No Cinturão de
Kuiper são encontradas rochas geladas e certos objetos de maior parte, que
chegam a ser classificados como planetas anões. Estão nessa categoria Plutão, Quaoar,
Orcus e Makemake. Todos, porém, são muito menores do que a Terra. Mesmo
Plutão, que já foi classificado como planeta no passado, tem apenas 18% do
tamanho da Terra, ou seja, é menor até do que a Lua.
Descoberta de Netuno Seguiu Roteiro Semelhante
Os principais
autores do novo estudo são Patryk Lykawka, da Universidade Kindai, e Takashi
Ito, do Observatório Astronômico Nacional do Japão. “Acho interessante
salientar que, embora muitas notícias digam que os autores do estudo são todos
japoneses, seu primeiro autor, Patryk Lykawka, é um brasileiro e colega nosso,
ainda que more no Japão há décadas”, diz Winter.
O docente da
Unesp diz que a descoberta de Netuno, o último planeta localizado no Sistema
Solar, em 1846, seguiu um roteiro mais ou menos parecido com o que está sendo
proposto pelo novo artigo. “Os astrônomos do século 19 observavam a órbita de
Urano, que era o último planeta conhecido, mais distante, e constatavam um
comportamento um pouco estranho. A forma para explicar esse comportamento
foi assumir que existisse um planeta depois de Urano perturbando sua órbita”,
conta.
A partir dessa
previsão, os astrônomos observacionais passaram a buscar por observações do
hipotético oitavo planeta em seus telescópios. Assim Netuno foi finalmente
encontrado. “Por essa abordagem primeiro, se produz a teoria e depois vem a
procura do objeto. Se esse corpo realmente existir e for encontrado, seria uma
repercussão gigantesca. Afinal, os planetas que a gente conhece foram
descobertos há mais de um século”.
Winter diz que,
embora o estudo seja preliminar, apresenta resultados bastante fortes, que
servem como indícios. Porém, é preciso desenvolver muitos outros trabalhos
teóricos e aperfeiçoar o que se sabe até agora. “Em paralelo a esse
trabalho teórico, é provável também que o pessoal de observação comece
a ampliar a procura nessa região, buscando aperfeiçoar os dados. Esse
aperfeiçoamento permite restringir a região onde se irá procurar o objeto.
Devido as imprecisões que este estudo apresenta, não é fácil fazer esta busca”,
diz.
O Debate Sobre o Conceito de Planeta
Em 2006, por
decisão tomada durante a Assembleia Geral da União Astronômica Internacional
(IAU), realizada na República Tcheca, Plutão, que até então era contabilizado
como o nono planeta do Sistema Solar, perdeu este status. O motivo foi a
elaboração de uma nova definição do termo planeta aprovada pela IAU, que
resultou no reconhecimento de apenas oito planetas em nossas vizinhanças.
Othon Winter
explica as causas para o que ficou conhecido como “rebaixamento”, de Plutão.
“Após a descoberta de Netuno, posteriormente foram observadas certas
perturbações em sua órbita, e sugeriu-se que poderiam indicar a existência de
outro planeta. Só que os cálculos estavam errados; na verdade, não havia
nenhuma perturbação significativa na órbita de Netuno. Mas, mesmo assim,
os astrônomos começaram a procurar outro planeta e encontraram Plutão. Foi o primeiro
corpo que se observou além da órbita de Netuno”, relata. Porém, com o tempo
ficou claro que Plutão é bem menor do que os demais planetas. Suas dimensões o
aproximam mais da Lua do que da Terra. “Mas era o corpo mais distante
conhecido, e foi considerado planeta”, diz o docente.
No entanto, em
1992, foi descoberto o primeiro objeto na região do Cinturão de Kuiper, situado
além de Netuno – e também além de Plutão. Estes objetos são uma espécie
de material remanescente do período de formação do Sistema Solar, que foi
ejetado para uma região um pouco mais distante e periférica. Hoje
conhecemos uma centena de objetos no Cinturão de Kuiper. Vários possuem tamanho
comparável ao de Plutão. Esse acúmulo de descobertas ensejou o processo de
revisão do conceito de planeta. “Não fazia sentido definir todos como planeta.
Então, organizou-se uma convenção da União Astronômica Internacional para
discutir o tema e propor uma nova definição”, diz Winter.
Ele explica que,
para que um corpo seja classificado como planeta, precisa atender a três
requisitos. “Primeiro, o corpo precisa estar em órbita o Sol, pois
estamos falando do Sistema Solar. Segundo, precisa ser grande o suficiente para
adquirir um formato que seja aproximadamente esférico. Corpos pequenos,
como asteroides, em geral não têm formato esférico, são bem irregulares. E
Plutão atende esses dois quesitos”, diz Winter. Foi a exigência do terceiro
quesito que tirou Plutão da lista planetária. Ela estipula que a região do
espaço onde se situa a órbita de um corpo “deve ser dominada por ele”.
“Ele não pode
estar numa região onde existam muitos outros corpos de tamanho semelhante. E
foram encontrados vários outros corpos em órbitas parecidas com a de Plutão”,
diz Winter. Os astrônomos instituíram então a categoria de planeta anão,
destinadas aos corpos que preenchem dois dos três requisitos para a
classificação como planeta. Por exemplo, o asteroide Ceres, que fica entre as
órbitas de Marte e de Júpiter, é grande o suficiente para possuir formato
esférico. E também orbita o Sol. Mas, não é dominante na região onde está. “Por
isso, Ceres é considerado um planeta anão, assim como Plutão e vários outros
objetos que estão na região do Cinturão de Kuiper “, diz o docente.
Ouça abaixo a
íntegra da entrevista ao Podcast UNESP.
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