Não adianta chamar um camelo de águia que ele não vai voar: O caso da não transferência tecnológica do SGDC-1
Olá, leitor!
A campanha de divulgação de meias verdades e de emaranhamento de conceitos sobre a aludida transferência tecnológica do projeto de aquisição do primeiro Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações (SGDC-1) continua sendo ministrada em doses homeopáticas.
Imagem: Estátua do Camelo com a Águia, Astana, Casaquistão (Dreamtime) |
Imagem: Site AEB. |
Essa é mais uma dose de informação "jameada"(desculpem o neologismo com a palavra jammimg) sobre esse nebuloso tema que, juntamente com as demais notícias publicadas anteriormente, formam um conjunto da obra bastante o suficiente pra confundir os menos atentos e desavisado.
As últimas notícias publicadas nesse intuito foram divulgadas pela AEB (antes com data e horário da publicação) nos textos intitulados: "Transferência de Tecnologia Permite Construção de Painéis de Carbono de Alta Estabilidade Dimensional Todo Desenvolvido na Indústria Nacional" (de17/07/2020 - aqui) e "Transferência de Tecnologia Permite o Desenvolvimento na Indústria Nacional de Sistema de Propulsão Para Satélites" (de 01/07/2020 - aqui).
Ambos os texto foram desmascarados e duramente criticados pela editoria do Brazilian Space, que não está aqui para passar pano em nada, justamente por trazerem esse mesmo tipo de informação desencontrada e meias verdades que essa última nota traz, nos seguintes termos:
"Bom leitor, isso é papo furado, não houve em momento algum qualquer tipo de transferência tecnológica da França para o Brasil no protejo deste trambolho espacial francês. Os técnicos que foram a França só participaram da montagem e integração do satélite e de cursos de como operacionalizar o mesmo. Vale dizer que para este satélite fora as partes críticas do mesmo desenvolvidas devido as características únicas deste trambolho, a maior parte delas eram peças de prateleira, ou seja, já desenvolvidas e armazenadas pela THALES. Se a Fibraforte desenvolveu mesmo essa tecnologia (e vale aqui se investigar, pois pode ter sido comprada), ou foi desenvolvimento próprio ou originado de tecnologia desenvolvida na unidade do INPE em Cachoeira Paulista, não tendo nada haver com o projeto deste trambolho espacial francês. Mas"...", o Governo Petralha assinou ou não um documento com essa intenção? Assinou sim leitor, pro-forme, para justificar legalmente essa palhaçada, mas sabia desde o inicio de comum acordo com a Thales que era só uma justificativa legal. Transferência tecnológica leitor só ocorre com desenvolvimento conjunto, aí sim, o parceiro menos tecnológico tem a oportunidade de absorver a tecnologia do seu parceiro, bem como também a sua experiência, e em momento algum isso ocorreu neste projeto do SGDC. Além disso leitor, não precisa ser um entendido para perceber que um sistema de propulsão para microssatélites é bem menos complexo do que um sistema de propulsão para um satélite de mais de seis toneladas. Fake News, e lamento muito que profissionais do setor espacial se submetam a participar de divulgações como essa. Lamentável! Entretanto, independente dessa nota tendenciosa para justificar o projeto deste trambolho espacial sem precedentes na história da astronáutica mundial, vale aqui (por enquanto) parabenizar a Fibraforte pelo feito." (Comentário da editoria do Brazilian Space sobre a nota da AEB "Transferência de Tecnologia Permite o Desenvolvimento na Indústria Nacional de Sistema de Propulsão Para Satélites", de 01/07/2020)
"Isto é MENTIRA e infelizmente leitor não há como se manifestar de outra forma. Apesar de ter sido assinado como eu já disse em meus comentários um acordo proforme para justificar legalmente o contrato deste trambolho espacial, não houve qualquer transferência tecnológica no processo, sequer de um simples parafuso. Veja abaixo o que disse o Eng. Nelson Salgado (na época presidente da VISIONA) em entrevista a própria revista editada pela AEB, ou seja a “Espaço Brasileiro” de Jul – Dez de 2012: “O projeto do SGDC prevê absorção e transferência de tecnologia? R: A absorção de tecnologia é algo que a Visiona vai fazer. Teremos a prerrogativa e o dever de acompanhar passo a passo todo o processo do projeto, a fabricação de componentes, a integração e os testes do satélite. Assim, a Visiona poderá absorver conhecimentos significativos. A empresa pretende ter uma equipe de engenharia forte e capacitada para absorver conhecimentos e usá-los, em curto prazo, na integração de futuros satélites. Transferência de tecnologia é algo mais complicado. Depende sobretudo do país em que o satélite é comprado. Tecnologia é algo difícil de se transferir. Em breve, o Governo entregará à Visiona um documento que define se há alguma tecnologia que deseja transferir para que a empresa busque viabilizar a transferência. No entanto, após 25 anos de trabalho na Embraer, posso dizer que é muito mais efetivo absorver tecnologia do que buscar transferência” (veja aqui a entrevista na íntegra). Pois então, a própria VISIONA através da palavras colocadas com extremo cuidado pelo seu presidente da época já tinha ciência de que transferência tecnológica só existe quando se desenvolve conjuntamente algo e mesmo a tal absorção tecnológica (kkkkk, conjunto de palavras que significa a mesma coisa) só é possível quando se participa conjuntamente do desenvolvimento de algo, e não foi o que aconteceu com os Engenheiros enviados a França. Eles só participaram da montagem e integração do satélite e de um curso de como operar o mesmo. Grande parte das peças do satélite eram de prateleira (já estavam desenvolvidas pela Thales) e aquelas que foram desenvolvidas para atender as peculiaridades do satélite os engenheiros brasileiros não tiveram acesso ao processo de desenvolvimento. Portanto pura falácia que, eu acredito, esteja sendo realizada agora com o intuito de plantar o caminho para um futuro Trambolho Espacial 2. A Sociedade Brasileira não pode permitir que isso aconteça, existem alternativas muito mais baratas e as pessoas envolvidas já demonstraram que não estão sendo movidas por motivos realmente nobres. Quanto essa tecnologia da CENIC, muito provavelmente a mesma é fruta de algum dos vários projetos financiados pela FINEP ou pelo Programa PIPE da FAPESP, e olha que rolou muito dinheiro nessa história. Outra coisa leitor, é bom que fique bem claro que a empresa ‘AEL Sistemas’ que aparece como uma das empresas beneficiadas por esse acordo proforme de transferência tecnológica, na realidade não é uma empresa brasileira, o que por si só a sua participação já constitui um crime contra a nação brasileira, enquanto a 'CENIC Engenharia', 'Fibraforte', 'Orbital Engenharia', 'Equatorial Sistemas' e a 'Opto S&D' (estas duas ultimas integrantes do 'Grupo AKAER') são empresas genuinamente brasileiras, mas que são participantes ao lado da Avibrás do conhecido e ineficiente “Old Space Brasileiro”. Portanto leitor que fique bem claro para Sociedade Brasileira quanto a este anuncio da AEB e dos próximos que eles pretendem fazer como dito na nota acima, ou seja, qualquer tentativa dessa Agência de Brinquedo de ligar o desenvolvimento tecnológico espacial a esse acordo proforme de transferência tecnológica, não passará de pura e descarada MENTIRA." (Comentário da editoria do Brazilian Space sobre a nota da AEB "Transferência de Tecnologia Permite Construção de Painéis de Carbono de Alta Estabilidade Dimensional Todo Desenvolvido na Indústria Nacional", de 17/07/2020)
Essa política de informações "desencontradas" gera debates e cobranças mil ao próprio BS, como no questionamento abaixo do leitor ANÔNIMO, que respondemos em seguida:
"Anônimo7 de agosto de 2020 15:37É impressionante como é fácil jogar pedra e destruir o que outros fazem, criticar é sempre positivo, porém é necessário que no mínimo se tenha domínio do assunto. O que nas críticas aqui apresentadas está bem longe da realidade. Sugiro estudar melhor o assunto antes de escrever um monte de besteiras e incoerências. Primeiramente Absorção de Tecniologia e Transferência de Tecnologia são processos distintos. A Visiona nada tem a ver com a Transferência de Tecnologia."
Prezado ANÔNIMO (do comentário do dia 07/08/2020,
Independente de quem analisou a matéria PUBLICADA PELA AEB, o blog BS é um ambiente democrático, da crítica e do debate. A crítica feita na matéria é fruto de análise e resgate histórico de notícias (vide: https://brazilianspace.blogspot.com/2012/12/ola-leitor-segueabaixo-uma-entrevista.html).
A matéria que afirma que houve "Transferência de Tecnologia" foi publicada o site oficial da AEB.
Ao BS coube alertar que o que a AEB publicou não está correto e, na sua crítica, o blog distingue o termo "Transferência" empregado na matéria do termo "Absorção Tecnológica".
Se houve confusão ou falha no emprego dos termos corretos na notícia original da AEB, qualquer pessoa pode ligar, enviar um email e solicitar uma errata da notícia."" (Comentário e resposta do Brazilian Space sobre a nota da AEB "Transferência de Tecnologia Permite Construção de Painéis de Carbono de Alta Estabilidade Dimensional Todo Desenvolvido na Indústria Nacional", de 17/07/2020)
Agora, a AEB vem com mais uma nota similar que tenta empurrar goela abaixo da sociedade brasileira e da comunidade espacial (ativa e esclarecida), esses conceitos distorcidos e misturados de "Transferência Tecnológica" e "Transferência de Conhecimento" (ou seu eufemismo, "Absorção Tecnológica"), de modo a criar uma zona de indeterminação em que os menos atentos comprem como verdade a ideia da transferência tecnológica, conforme confrontado pelo BS nas citações acima.
Assim, considerando os alertas feitos pelo BS e outros questionamentos da comunidade espacial sobre o tema e a não manifestação expressa da AEB e de outros atores sobre o tema, não nos resta pensar outra coisa sobre essas publicações, senão como uma construção de uma narrativa para, propositalmente, fazer um camelo voar, chamando-o de águia.
O jamming da vez é que a empresa AEL teria completado o desenvolvimento de um produto oriundo da "Transferência Tecnológica" (em verdade, Transferência de Conhecimento) oriunda do SGDC-1, a partir da criação de circuitos e algoritmos para FPGAs e ISACs (veja aqui).
Mais uma vez, como a própria matéria explica, dois técnicos da empresa brasileira foram CAPACITADOS em treinamentos sobre o tema em questão pela Thales Alenia Space (TAS), o que é muito diferente da TAS ter compartilhado e desenvolvido, junto com a empresa brasileira e os seus técnicos os produtos iguais aos produzidos pela empresa européia.
Se isso fosse verdade, o Brasil teria autonomia para produzir FPGAs e ISACs e desenvolver seus algoritmos, o que não é verdade, pois, mesmo desenvolvendo os algoritmos em território nacional, o País não possui domínio tecnológico para produzir os circuitos em questão, dependendo de produção no exterior.
Por outro lado, se o desenvolvimento dos algoritmos, sem a produção de circuitos fossem, em si só, o produto final, como explicar que essa transferência foi inócua, haja visto que a Santa Maria Design House (SMDH) (http://www.smdh.org/) já fez exatamente o mesmo para o Nanosat-C BR1 e a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) já possui domínio para o desenvolvimento de Hardware e Software Rad Hard (resistentes a radiação), inclusive já validados em voo?
Pois é leitor, mais uma vez ficam as perguntas no ar, pois ninguém se digna a tentar explicar o inexplicável, mantendo o comportamento que descrevemos no BS no nosso editorial "Vida Longa e Próspera ao PEB (que teima em não querer mudar)" (aqui)
Finalmente, caso alguém tenha dúvida do que é um processo de Transferência Tecnológica, favor procurar o projeto FX-2 (Gripen) da Força Aérea Brasileira (FAB) e comparar com o projeto do SGDC-1, também da FAB. As diferenças são gritantes.
(Brazilian Space)
Boa Tarde Prof. Rui Botelho!
ResponderExcluirUma vez mais quero parabenizar-lhe pelo excelente artigo acima que comprova uma vez mais o meu acerto em ter lhe escolhido para a continuidade do BS. Continue firme.
Abs
Duda Falcão
Prezado Prof. Rui, mais um exemplo de décadas de desperdícios do dinheiro público. Nada de novo no front. Torcendo para que o governo federal acorde e dê uma martelada de jeito nessa cambada.
ResponderExcluirCaro, Gustavo
ExcluirNo artigo "Vida longa e próspera ao PEB (que teima em não querer mudar)" falamos um pouco disso que despertou o seu comentário indignado acima.
O Brasil não é para noob e o PEB é para os Chuck Norris!
Abraço,
É bom ver que o blog ainda está vivo e bombando com muita energia. Meus parabéns e meu agradecimento ao Duda e ao Prof Rui por manter vivo este espaço incrivelmente útil de divulgação e discussão. Um forte abraço!
ResponderExcluirCaro, Tin
ExcluirObrigado pelo incentivo!
Abraço!