Anexo do Hospício
Olá leitor!
Pois então, dando sequência com os seus ‘causos’
postados em seu novo "Blog Memórias de Um Pesquisador", o Dr.
Waldemar Castro Leite Filho recentemente postou outro interessantíssimo
artigo que é mais um exemplo dos absurdos que ocorrem no setor público
brasileiro. Conheça um pouco mais sobre essa ‘joça’ chamada BRASIL.
Duda Falcão
Anexo do Hospício
Por Waldemar Castro Leite Filho
31 de Julho de 2020
Um fato me chamou a atenção já nas primeiras semanas como
profissional. O Campo de Provas da
Marambaia tinha um local próprio para almoço – por sinal muito bom. Eu estava na fila do bandejão e estava à
minha frente o Tenente Sena (* nome fictício).
Percebi que o Ten. Sena teve o trabalho de colocar a concha de feijão no
rechaud e coar todo o caldo do feijão e
ficar só com os caroços na concha.
Fiquei pensando que ele devia gostar só dos caroços. Então, ele colocou novamente a concha no
recipiente e, dessa vez, pegou apenas o caldo não permitindo a entrada de
nenhum caroço.
Não me contive diante daquela cena bizarra e perguntei:
porque você está fazendo isso ? Porque está pegando somente caroços e depois
somente caldo e misturando tudo novamente.
Ele respondeu: “É porque gosto de
saber exatamente a quantidade de caldo e de caroços que como”.
Imediatamente, me veio à mente: esse homem não é
normal. Isso se confirmou posteriormente
quando eu soube que ele havia dado carona a um funcionário e quando o carona o
avisou que ele estava tomando o rumo errado, ele parou no meio de um grande
cruzamento, tirou as mãos do volante e pôs na cabeça gritando: “pare de falar,
assim não consigo pensar”. Ou seja, o
sujeito era doido mesmo.
Isso seria apenas um episódio pitoresco se não fosse
recorrente. Não consigo enumerar a
quantidade de gente doida que encontrei ao longo da minha carreira profissional. Alguém que começa a comer apenas alho e
depois de uma semana ninguém podia mais trabalhar perto dele devido ao cheiro
insuportável. Alguém que, quando foi
cobrado por não entregar o equipamento na data prevista, jogou o equipamento
dentro de um lago. Pessoa que, quando
foi proibida de entrar em um prédio, colocou um enorme torno na porta para que
ninguém pudesse entrar ou sair. O motivo
da proibição é que achavam que ele era doido, então tiveram certeza.
O caso mais gritante foi o do Alan Delon (* nome
fictício). Os colegas o chamavam de Alan
Deloko. Sem aviso prévio ou motivo
conhecido, ele entrava em surto psicótico e era internado no hospício. Os dirigentes do instituto solicitaram, mais
de uma vez, a aposentadoria do Alan por incapacidade ao trabalho. Entretanto, o setor de Saúde Mental do
governo não aceitava e indicava que ele deveria retornar ao trabalho pois faria
bem pra ele. Na verdade, estavam
considerando um instituto de pesquisa e desenvolvimento como o anexo do
hospício.
Porque o serviço público tem esse comportamento? Não se importa em manter um ambiente de
trabalho sadio? Será que é porque não há
cobrança de resultados? Será que não se
percebe o quanto desmoraliza e desanima trabalhar em um ambiente onde gente sem
noção interfere e atrapalha?
Perto de me aposentar, um colega da alta gerência do
DCTA, indignado com situações semelhantes, mencionou um antigo adágio: se
cobrir vira circo, se murar vira hospício.
Eu repliquei: quem disse que precisar murar ?
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