Vida Longa e Próspera ao PEB! (que teima em não querer mudar)
Olá, leitor!
Esta é uma publicação especial de 15.000 postagens realizadas pelo Brazilian Space.
Este é mais um marco deste resiliente veículo de informação sobre o Programa Espacial Brasileiro (PEB) e outros temas ligados às ciências e tecnologias espaciais, nacionais e internacionais.
Obrigado a todos pela fiel audiência e pelo apoio ao BS!
Brazilian Space
Vida Longa e Próspera ao PEB!
(que teima em não querer mudar)
Ainda me adaptando com a dinâmica de atuar como editor de um blog, estava preparando uma nova publicação sobre um tema internacional, quando identifiquei que esta seria a publicação de número 15.000!
Surpreso, me questionei: Por que publicar algo sobre o setor espacial internacional na postagem 15.000, se o nome do blog é BRAZILIAN SPACE?
Logo em seguida, surgiu outro questionamento: o que publicar de relevante nessa postagem marcante, de um canal que sempre se propôs a divulgar as notícias sobre o PEB e tudo que se desenvolve no setor espacial dentro do País?
O que publicar de diferente, se pouca coisa mudou no PEB, efetivamente para melhor, desde a primeira postagem do blog (veja aqui)?
Então pensei em voltar ao início do blog para melhor avaliar o que aconteceu desde a postagem 1 até agora.
Volta ao passado: "um museu de grandes novidades"¹
Antes de tentar responder a pergunta sobre o que mudou, cabe rememorar o texto do conciso editorial de um cara que ousou acreditar, há mais de 11 anos, que o PEB poderia mudar para melhor, com o debate saudável de todos e um pensamento único como nação, como um objetivo de caráter nacional:
"Olá amigos!
Após pensar muito resolvi criar esse blog para estimular o debate saudável entre aqueles que como eu acreditam (apesar das dificuldades) no Programa Espacial Brasileiro. O mundo caminha para o espaço e o Brasil não pode ficar a margem dessa nova fronteira, pois a longo prazo poderá pagar um preço muito alto pela falta de visão de nossos governantes e de nossa sociedade. Uma nação como o Brasil de dimensões continentais não pode deixar de lado tecnologias essenciais para um melhor conhecimento de seu território e das necessidades sociais e econômicas de seu povo. Portanto meus amigos convido a todos a participarem desse blog expondo as suas opiniões sobre as notícias aqui postadas quando assim desejarem. Conto com a participação de todos vocês e
Vida Longa ao PROGRAMA ESPACIAL BRASILEIRODuda Falcão" (grifos nossos) - (BS, 30/04/2009)
Cerca de 3 anos depois dessa postagem inaugural, em fevereiro de 2012, o comentário de um leitor do blog sobre essa primeira postagem, fez essa mesma pergunta que nos fazemos agora:
"É caro Duda, já fazem quase 3 anos que voce começou esse blog, e eu pergunto: Alguma coisa mudou no PEB?" (grifos nossos) - (BS, 30/04/2009; Heverton, 24/02/2012)
Ainda crédulo em uma possível mudança no PEB, o Fundador do BS responde, concordando parcialmente, que pouca coisa havia mudado naquele intervalo de tempo. Ainda esperançoso, ele complementa a resposta apresentando uma lista de possíveis feitos e expectativas (muitas não confirmadas e outras sempre atrasadas) que, ainda que poderiam trazer resultados, mas, em verdade seriam mais voos de galinha ou parcos resultados de um programa não compromissado com a eficiência, que sempre usou a falta de recursos orçamentários como a principal desculpa para a sua baixa efetividade:
"Olá Heverton!
Eu diria muito pouco amigo, mas houve sim alguns avanços."
(omissis) <<lista de futuros feitos>>
Como você mesmo pode vê Heveton, as expectativas são enormes e tudo dependerá na maioria dos casos da liberação de verbas suficientes por parte do governo DILMA. Vamos aguardar.
Abs
Duda Falcão
(Blog Brazilian Space)" (grifos nossos) - (BS, 24/02/2012)
Falando em baixa efetividade, ainda nesse flashback de um "museu de grandes novidades" que se tornou o PEB, um outro leitor comenta sobre a "oportunidade ... na exploração espacial", da necessidade de uma visão nacional sobre esse tema e indaga se nós brasileiros ficaremos fora disso:
"Creio que a nova zona das grandes descobertas se encontram na área espacial. Assim como na antiguidade e na época medieval os descobrimentos marítimos abriam janelas para novos mundos, no século XXI essa oportunidade se encontra na exploração espacial. Se houver discernimento e empreendedorismo por parte dos brasileiros poderemos rumar entre as potencias dianteiras da área.
Algumas nações que chegaram tarde ficaram, literalmente, a ver navios. E será que nós somente ficaremos a ver as estrelas passarem ou seremos cosmonautas de uma nova realidade?" (grifos nossos) - (Israel, 16/12/2012)
Eis então que o entusiasta fundador do BS tem o seu primeiro lampejo/choque de da realidade (ou de decepção) e vaticina o que será o Brasil nas décadas seguintes, se as coisas continuarem da mesma forma:
"Olá Israel!
Saibas palavras amigo, mas infelizmente na atual conjuntura, o Brasil está mais para ver as estrelas passarem, e sua sociedade haverá de pagar um alto preço por esse erro nos próximos 30 anos.AbsDuda Falcão(Blog Brazilian Space)" (grifos nossos) - (BS, 24/02/2012)
E é nessas palavras que identifico o começo do processo de desencantamento, pela frustração e desesperança, que afeta boa parte da comunidade espacial e levou o Duda Falcão ao limite da saúde física e mental esse ano de 2020, e, com certeza, muitos outros, em anos anteriores.
Um PEB para o PEB: "Não há interesse do Estado servir ao cidadão"²
Um pouco antes de escrever o presente artigo, e pensar na sua elaboração, vimos um movimento de pessoas que deixaram o governo atual, que nos fez refletir sobre o Programa Espacial. Desse fato, o que mais me marcou e me remeteu ao PEB foi a frase proferida pelo empresário Salim Mattar, ex-secretário do programa de vendas das estatais, que pediu demissão essa semana, depois de constatar e verbalizar que: "Não há interesse do Estado servir ao cidadão." (veja aqui).
Junto com a sua constatação, óbvia para todos nós, mas que poucos tem coragem de dizer, o empresário também afirma categoricamente: "O que mais vi na Esplanada é que o Estado deseja se proteger contra o cidadão.".
O ex-secretário disse mais: "Temos um Leviatã* bem maduro aqui no Brasil" (* o termo Leviatã é uma "metáfora do Estado como soberano absoluto e com poder sobre seus súditos que assim o autorizam através do pacto social")³.
E o que é o PEB se não exatamente isso? Um Programa Espacial dito "Brasileiro" ("Nacional"), mas que se isola e se distancia da sociedade, que pouco ouve e muito determina, unidirecionalmente, sempre pela ótica de interesse de grupos representativos de dentro do próprio aparato estatal ou de grupos de interesses desses grupos intra-governamentais/estatais.
Um PEB onde a sociedade não é ouvida, taí a Carta de Foz do Iguaçu (veja aqui e/ou aqui), um documento apartidário e apolítico, elaborado pela comunidade espacial, que o governo despreza ou ignora.
Um PEB onde quem está a frente finge que os problemas não existem, que vivemos no País das Maravilhas e que temos muito, quando temos muito pouco do que deveríamos já ter em 60 anos de atividades (quem nunca leu os contos de fadas chamados PNAE 2005-2014 ou PNAE 2012-2021?).
Um PEB em que grupos internos estatais se degladiam pelo poder de decidir os seus rumos e pelo poder de usar seu orçamento ao seu bel-prazer, mas que quando fazem lambança, se juntam (rapidinho) para varrer a sujeira para debaixo do tapete (só três letras bastam para um bom entendedor: ACS).
Aproveitando o item acima... Um PEB que vive a choramingar pela falta de recursos, mas que deveria então ser mais criterioso e realista com os poucos que tem, evitando desperdícios ou projetos faraônicos de satélites de 2 toneladas, com imageamento de 10(20)m, que consome 60% dos parcos recursos do Programa e que poderiam ser substituídos por 20 satélites de 150 kg, voando em constelações de 5 satélites, com imageamento de 5 m ou menos (veja aqui ou aqui).
Um PEB que não consegue cumprir com um acordo internacional com o México para trazer de volta ao País a sede de um centro de educação internacional (CRECTEALC), filiado a ONU(OOSA), que em países como a India, China, Nigéria, Tunísia, Jordânia e no próprio México vem permitindo a formação de mão-de-obra e intercambio acadêmico internacional de alto nível para a área de satélites e aplicações (veja aqui ou aqui)
Um PEB que estigmatiza entusiastas do Programa quando estes cobram algo, que é de obrigação do ente público averiguar e responder, e se esconde em canais da transparência e não se dignam a dar uma satisfação mínima, com uma nota de impressa oficial sequer.
Um PEB que não é aberto a opiniões diferentes, quiça divergentes, nem TEM ESPAÇO para quem não é bajulador ou quem não tem poder político ou econômico para impor sua presença nas mesas de discussão sobre políticas, programas, sistemas ou leis.
Um PEB que, apesar de ter alguns dos melhores e mais devotados cientistas/tecnologistas/pesquisadores e centros de pesquisa do mundo, não consegue decolar por falta de gestão e governança eficientes e focadas em resultados, mesmo com poucos recursos (Com dizia o saudoso professor Dr. Moisés Lilenbaum: "O segredo da boa gestão é transformar restrições em oportunidades").
Um PEB que de tão distanciado do cidadão, deveria se chamar PEG (Programa Espacial para Governos) ou PEEE (Programa Espacial para Entes Estatais).
Nessa realidade distópica em que o PEB foi jogado, só não foram impactados aqueles que obtiveram verbas, recursos, comissões, jetons, cargos, promoções, viagens, diárias e outros benefícios, mantendo o PEB sob seus controles e vontades e longe dos interesses do País, fazendo ouvidos moucos para as cobranças da sociedade.
Voltando à pergunta que já vem sendo feita há décadas
Então, o que publicar de diferente, se, desde que foi criado o BS, pouca coisa no PEB mudou efetivamente até então (veja aqui)?
Alguns mais afoitos, deslumbrados ou sem nada melhor para mostrar vão dizer: "Temos o AST! Temos Alcântara!". Como se o AST (Acordo de Salvaguardas Tecnológicas) ou o uso de comercial de Alcântara fossem, respectivamente, a Pedra Filosofal e o Santo Graal. Em síntese, nessas visões simplistas, um AST que rejuvenesce, transforma ferro em ouro ou transmuta em algo pujante, num passe de mágica, um programa espacial doente e esquizofrênico e um CEA que nos purificará e nos salvará de nós mesmo, dessa autossabotagem egoísta e sem fim, onde não se enxerga a importância do nosso futuro na exploração do espaço, deixando-o escorrer pelos nossos dedos, com disputas casuística e mesquinhas.
De novidade mesmo, o que vemos é a roda da vida girar e o controle sobre o PEB mudar de mãos. No entanto, em vez de trazer a esperança de mudanças estruturais amplas e inclusivas, essa nova (velha) visão de PEB se apresenta como um projeto de anulação de outras representatividades, de preponderância de uma única visão e de objetivos próprios sobre outros, inclusive os objetivos nacionais mais abrangentes.
Para ser um programa de Estado em prol de um objetivo nacional permanente (de se fixar e se manter permanentemente na exploração do espaço, como nos fixamos na exploração do continente antártico), como bem sugere a Carta de Foz do Iguaçu (veja aqui), o PEB tem que fortalecer todas as instituições que o compõem, cada uma com sua autonomia (inclusive orçamentária) na sua seara de atuação, mas contribuindo, no que for comum, para o objetivo maior de fortalecer a atuação, civil ou de defesa / segurança, do Brasil no espaço.
Vemos isso acontecer em países de projeção no setor espacial, onde, abaixo do mais alto nível de governança, entidades gestoras independentes, conduzem seus programas espaciais de forma autônoma e com limites de atuação e orçamentos bem definidos, conforme suas missões constitucionais e legais, mas atuando harmonicamente e colaborativamente, para o atingimento dos objetivos e interesses nacionais.
Se isso é feito lá fora e funciona, por que não funcionaria aqui?
Estamos prestes a completar 60 anos de programa espacial, o qual deveria ser um grande projeto mobilizador nacional, não um projeto de divisão nacional. Esse ciclo vicioso que estagna o PEB se retroalimenta da divisão e de decisões baseadas em oportunidades e não em princípios maiores.
É essa visão auto centrada que afasta a sociedade, que desestimula as pessoas, que as frustra e que, muitas vezes as faz adoecer, de corpo e de alma, fazendo-as se distanciarem, ao invés de contribuir e "estimular o debate saudável entre aqueles que...acreditam (apesar das dificuldades) no Programa Espacial Brasileiro".
Sem boas novidades reais, vultosas e impactantes, ciente do cenário desfavorável, mas ainda com a boa esperança do brasileiro que "não desiste nunca", rogo aos céus e repito o brado proferido a 14.999 postagens atrás:
(Que teima em não querer mudar)
Rui Botelho
(Brazilian Space)
Nota do autor: Em homenagem a todos aqueles que acordam todos os dias buscando estímulo para acreditar no PEB e no futuro do Brasil no espaço.
¹ Trecho da música "O tempo não pára!" (Cazuza, 1988)
² Entrevista de Salim Mattar no site InfoMoney. Em: https://www.infomoney.com.br/politica/nao-querem-privatizar-para-manter-toma-la-da-ca-afirma-salim-mattar/
³ Comentário feito pela reportagem. Em: https://www.infomoney.com.br/politica/nao-querem-privatizar-para-manter-toma-la-da-ca-afirma-salim-mattar/
Olá Prof. Rui Botelho!
ResponderExcluirParabéns pelo artigo. Sua visão busca com sapiência e conhecimento mostrar aos seus leitores e a Sociedade Brasileira a insatisfação da Comunidade Espacial do país com os rumos do nosso Patinho Feio. Gostaria eu nesse momento de compartilhar contigo a mesma esperança que ainda o senhor tem com o PEB, mas sinceramente e infelizmente não tenho como compartilhar dessa crença. Quiçá venha estar errado ao final dessa década. Sucesso a todos vcs.
Abs
Duda Falcão
Como ciudadano argentino común, felicito a Espacio Brasileño y a su directora por el encendido patriotismo de su prédica. La UE tardó muchísimo en limar sus asperezas internas, pero hoy se exhibe al mundo con una pujanza total, que sirve para frenar ambiciones de liderazgo indebido por parte de aquellas naciones malamente dominantes que todos conocemos. Creo que llegará el momento inexorable en donde las fuerzas directrices de Brasil y Argentina limen sus absurdas diferencias, y sirvan al ciudadano común del Mercosur, mediante la acción conjunta en el Espacio Exterior, bajo los auspicios gloriosos del legado de Tiradentes y San Martín. ¡¡Viva la Base Espacial Brasileña de Alcántara. ¡¡Viva la Base Argentina de Punta Indio!!! ¡¡Vivan Brasil y Argentina unidos!!!
ResponderExcluirBom dia, essa é minha primeira postagem no blog e começo com a seguinte pergunta: O que pensa a AEB sobre a missão dos Emirados Árabes Unidos, que fundaram sua agência espacial em 2014, lançar uma missão para Marte, enquanto nós não conseguimos nem lançar um satélite ?
ResponderExcluirAlgo precisa mudar, com certeza.
Olá Diego!
ExcluirSeja bem vindo ao Brazilian Space!
É meu caro, a sua pergunta é a pergunta que todos nós nos fazemos.
Mas não espere uma resposta da AEB porque pode demorar um pouquinho.
E quanto a mudança, nós devemos promovê-la! Primeiro, insistindo para sermos ouvidos (e aqui está o BS para isso) e, segundo, sem deixar que esse senhores saibam que estamos de olho.
Abraço
Provavelmente a AEB, caso fosse responder a essa pergunta iria responder com a resposta padrão desse país, falta de verba. Más sabemos a verdadeira resposta, falta de liderança e interesse.
ExcluirÉ isso ai Nickson! Apertou um pouquinho mais e eles chamam logo da manga a carta especial: Falta de Recursos!
ExcluirAbraço,
E enquanto esses senhores vivem posando em recepções inúteis com farta troca-troca de honrarias, nós, brasileiros carentes de progresso tentamos digerir um amargo dor de cotovelo a cada avanço estrangeiro rumo ao espaço e além.
ResponderExcluirPois é roberto! Tem muita gente que não está nem ai para o PEB. Só enxerga os seus interesses ou dos seus grupos.
ExcluirAbraço,
Desejo a vocês tudo de bom e que possam continuar este grande trabalho, e que um dia cheguemos à lua
ResponderExcluirCaro Talio,
ExcluirObrigado pelos votos de sucesso!
Quanto a chegar na lua, podemos pensar em missões como a Garatea-L ou, quem sabe, pegar uma carona na Artemis....
Abraço